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domingo, janeiro 13, 2008

O Arco do Castelo - Coimbra

Este arco não existia originalmente como pertencente à antiga muralha. Fora construído na sequência do grande terramoto de 1755, cujos efeitos se fizeram sentir em diversos edifícios espalhados pelo país. A igreja do Colégio de S. Jerónimo apresentava sinais de fragilidade e temeu-se que a sua fachada lateral pudesse ruir, devido também ao declive acentuado que existia na parte superior da Ladeira do Castelo. Foi colocado no lado direito interior do arco um interessante painel de azulejos onde se representava o grande feito de Martim de Freitas. Na sequência disto, a Ladeira do Castelo também passou a ser conhecida por Calçada Martim de Freitas, nome que ostenta atualmente. Durante a profunda reforma dos Hospitais da Universidade de Coimbra, promovida pelo Doutor Costa Simões no final da segunda metade de oitocentos, no intuito de modernizar as respectivas instalações, foram efetuadas duas obras de monta, que iriam afetar a forma original do Arco do Castelo. Do lado esquerdo, existindo já o antigo Colégio dos Militares convertido em Hospital dos Lázaros, decidiu-se dar utilidade ao único piso erigido do projetado Observatório da Reforma Pombalina. Ficou aqui instalada, durante mais ou menos meio século, a lavandaria dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Do lado direito, a antiga igreja do Colégio de S. Jerónimo foi sujeita a um curioso e profundo processo de remodelação exterior e interior, a ponto de se converter num edifício de natureza completamente diferente da original, dotado de vários pisos e de uma traça arquitetónica que e o destaca, ainda hoje, do resto do edifício hospitalar. Quem não conhecesse esta secção do Hospital, tal como era antes, não conseguiria vislumbrar, na sua arquitetura totalmente civil, nada que pudesse supor que ali tivesse existido um edifício religioso. Entre outras coisas, aqui ficariam instalados os alojamentos do pessoal hospitalar. Na sequência destas importantes obras de optimização dos Hospitais da Universidade, decide-se escavar uma passagem na parte superior do Arco do Castelo, de forma a permitir uma ligação mais direta entre as várias secções entretanto criadas. Na parte do lateral do Hospital, onde o Arco do Castelo se inseria, é aberta uma porta de serviço, através da qual se transportavam as roupas para a lavandaria e desinfecção, antes de retornarem pelo mesmo trajeto. No lado contrário, foi construído um lanço de degraus em ângulo recto, que penetrava literalmente neste extremo do arco. Foi assim que este arco ficou durante várias décadas até ao seu fim abrupto. 


Este chegaria, infelizmente, no ano de 1947, quando as obras de demolição da Velha Alta já decorriam em plena força. Nesta altura, já havia sido arrasada a parte esquerda do cimo da Ladeira do Castelo, onde estava a lavandaria, juntamente com os vestígios restantes das principais secções do castelo de Coimbra. Conta-se que, quando deitaram abaixo o Arco do Castelo, descobriu-se uma das principais linhas de água interiores que abasteciam grande parte da Alta coimbrã, provocando, durante vários dias, falta de água em muitos locais.
O que resta hoje do antigo Arco do Castelo, nada mais é do que um pedaço de parede inserido num dos cunhais da secção mais à esquerda do antigo Hospital da Universidade, onde se conserva o azulejo que homenageia Martim de Freitas. A porta que antes ali existia foi, após a demolição, reconvertida em janela, nada fazendo suspeitar da sua anterior função.

segunda-feira, dezembro 31, 2007

A Leitaria Académica - Alta de Coimbra

Entre as muitas “vítimas” das demolições da Velha Alta de Coimbra, uma das mais simbólicas e lamentadas pela academia coimbrã, foi a Leitaria Académica, mais conhecida pelo nome do seu fundador e proprietário, Joaquim Inácio, vulgo Joaquim “Pirata”. Figura sempre lembrada pelos estudantes que passaram por Coimbra nas décadas de 1920, 1930, 1940 e mesmo 1950, este Joaquim “Pirata”, tinha o seu estabelecimento bem na desaparecida Rua Larga, a fazer esquina para a Rua de S. João, esta última (ainda?) hoje existente, mas numa versão que nada tem a ver com a original. A origem da alcunha do seu proprietário, é desconhecida, mas era este o nome por que todos os estudantes lembravam esse homem de figura muito peculiar, sempre envergando um impecável casaco branco. Este estabelecimento era um espaço algo exíguo, só ocupando duas portas que davam para a Rua Larga, tanto que em dias de festa, os seus frequentadores tinham de ir consumir para a rua, não havendo, para mais, esplanada. Mais frequentemente, era utilizado pelos estudantes quando iam tomar o pequeno-almoço, apressadamente, antes de irem para as aulas. Era precisamente na relação deste Joaquim “Pirata” com os seus clientes, que residia um dos seus aspectos mais peculiares, e que se revelou uma estratégia de negócio algo bem sucedida. O cliente entrava, consumia, mas não era obrigado a pagar a pronto. No entanto, tinha de deixar o seu nome num de dois ou três grossos livros, sebosos pelo uso, que existiam bem à vista no balcão. Estes livros eram conhecidos pelos “canis”, derivado da expressão “ferrar o cão”, sinónimo de ficar a dever, não pagar a conta. Esta sua atitude aparentemente permissiva conquistou a simpatia da sua clientela, predominantemente estudante, que muito frequentava este espaço. O senhor sabia que, mais cedo ou mais tarde, as dívidas iam ser saldadas, o que quase sempre acontecia. Muitas vezes, o antigo estudante, num rebate de consciência, só lá regressava alguns anos depois do fim da sua licenciatura e, finalmente, o seu nome era riscado. Não raras vezes, esta dívida era motivo de celebrações bem regadas à porta do estabelecimento. A Leitaria Académica, aberta desde por volta de 1923, tinha como outra característica distintiva um grande azulejo com o símbolo da Associação Académica de Coimbra, colocado entre as suas duas portas de entrada. Terá sido um dos primeiros estabelecimentos de Coimbra a ter esse símbolo, criado pelo então jovem estudante Fernando Pimentel, no ano de 1927. Entretanto, em Maio de 1944, com o inexorável avanço das demolições, iniciadas no ano anterior, para a construção da nova “Cidade Universitária”, o “Pirata” vê-se obrigado a encerrar as portas.
Transferiu-se para a Rua dos Estudos, onde permaneceria até Outubro de 1949, na sequência do desmoronamento do edifício onde se localizava, incidente a que não foram alheias as demolições que decorriam já nas suas imediações. Na sequência disto, é obrigado a nova mudança, desta vez para um prédio situado junto aos Arcos do Jardim, o primeiro à esquerda, que seria demolido em Outubro de 1959. A partir daqui, não mais se soube do paradeiro do espólio que dentro dele existia.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

A "Bastilha" e a "Tomada da Bastilha"

A "Bastilha", por volta de 1935.

Um dos acontecimentos mais marcantes da história de Coimbra e da sua Academia é a “Tomada da Bastilha”. É ainda hoje festejado pelos estudantes, todos os anos, a 25 de Novembro. Foi na madrugada deste preciso dia, no já distante ano de 1920, que, pela primeira vez desde havia mais de três décadas, os estudantes de Coimbra conquistariam para a sua Associação Académica uma sede digna desse nome. 

Depois de ter sido forçada a abandonar o edifício do antigo Colégio Real, vulgo Teatro Académico, demolido em 1889, a sede da Associação Académica esteve instalada em diversos locais, entre estes o Colégio da Trindade, nem sempre nas melhores condições. Em 1913, a sede da A.A.C. acabou por se fixar no andar térreo de um grande edifício localizado na Rua Larga, por decisão do Senado Universitário. No andar nobre deste edifício, incluindo a mansarda, estava instalado o Instituto de Coimbra, vulgarmente designado por “Clube dos Lentes”. Durante anos, os estudantes viram-se confrontados com instalações acanhadas e com fracas condições de higiene e comodidade, para além das relações nem sempre pacíficas com os vizinhos de cima.

Por fim, na madrugada do dia 25 de Novembro de 1920, um grupo de estudantes decide tomar de assalto as instalações do referido instituto. A partir de então, todo o edifício ficou destinado para a Associação Académica de Coimbra, e passou a ser designado por “Bastilha”, em memória daquela demonstração de ousadia e arrojo por parte da Academia. Originalmente, este edifício fora construído para albergar o Colégio de São Paulo, o Eremita, fundado em 1779, também designado por Colégio dos Paulistas. Tinha um portal nobre encimado por uma igualmente majestosa varanda e a particularidade da sua construção nunca ter sido definitivamente concluída, por não ter sido edificada a parte a nascente, daí a sua entrada aparecer à esquerda. Mesmo assim, tinha frente para três ruas diferentes, a Rua Larga, onde estava a sua entrada principal, a Rua do Borralho e a Rua do Guedes, onde ficavam as traseiras. 

Com a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, este edifício foi entregue à Universidade. Foi destinado a diversas funções ao longo dos mais de cem anos que se seguiriam, tendo nos seus últimos anos de existência albergado, como já foi referido atrás, a sede da A.A.C.. Por fim, em Agosto de 1949, a Academia é obrigada a deixar definitivamente a sua velha sede da Rua Larga, devido às implacáveis demolições para a “Cidade Universitária” que, então, já haviam destruído muito da Velha Alta. O fim deste antigo Colégio dos Paulistas já havia sido anunciado pelo Reitor em Março de 1948. Logo antes de se iniciar a sua demolição, que decorreria de Setembro a Dezembro de 1949, os estudantes fizeram uma récita de despedida à sua “Bastilha”.

Museu Nacional da Ciência e da Técnica - Um cadáver adiado?



O Museu Nacional da Ciência e da Técnica, criado em 1971, mas só oficialmente inaugurado em 1976, constituía, na época uma instituição quase pioneira em terras portuguesas. Resultou do amor pela divulgação científica e do génio empreendedor do Professor Mário Silva e foi o corolário de toda uma vida de dedicação à Ciência, tantas vezes dificultada por razões de natureza política. Basta recordar que o Professor Mário Silva, tendo nascido em 1901, viveu os seus anos intelectualmente mais produtivos, ou seja, a maior parte da sua vida, debaixo do jugo ditatorial do Estado Novo. Devido ao seu espírito inconformista e interventivo, nomeadamente ao participar ativamente nos movimentos políticos de oposição que se seguiram a 1945, seria alvo, mais do que uma vez, de detenções por parte da PIDE, tendo sido a primeira em 1946. Na sequência desta situação, encabeçou, no ano de 1947, uma vasta lista nacional de professores expulsos ou “aposentados compulsivamente” do ensino universitário. Só seria integrado em 1976, quase dois anos depois do 25 de Abril. Seria então, nesse ano de 1976, que, após cinco longos anos de trabalhos de investigação e escolha criteriosa de peças a expor, se inauguraria o Museu Nacional da Ciência e da Técnica, cuja sede e edifício principal ficaria, a partir daí, instalada no Palácio Saccadura Botte, sito na Rua dos Coutinhos, em Coimbra. Mário Silva seria o seu primeiro director, mas só teria pouco mais de um ano para exercer o seu cargo, pois faleceria em Julho de 1977. Pretendia-se ainda que este Museu tivesse, em diversos pontos do país, várias secções, destinadas à realização de diferentes exposições. Tal não se chegou a concretizar, tendo os poucos espaços adicionais conseguidos, ficado destinados a armazenar, com as condições possíveis, as reservas do Museu.
Como forma de aumentar os espaços expositivos disponíveis, foi cedido, a partir de 1993, uma série de divisões de um piso do antigo Hospital do Colégio das Artes, onde, atualmente, se encontra o grosso do espólio do agora designado Museu Nacional da Ciência e da Técnica Mário Silva. No entanto, parece que desde o falecimento do seu criador e primeiro director, a instituição entrou num estado de progressiva letargia, quebrado, de quando em quando, por alguma iniciativa temporária e sem a divulgação devida.
Numa tentativa de revitalizar o Museu Nacional da Ciência e da Técnica, foi criado, em 1999, o Instituto de História da Ciência e da Técnica, instituição pública e diretamente financiada pelo Ministério da Ciência. Aliás o MNCT, e este instituto público estiveram, na prática, fundidos num só. O seu director, durante este infelizmente muito curto período, foi o Professor Doutor Paulo Trincão, que exerceu o seu cargo com a dedicação máxima e como uma das maiores missões da sua vida. Muitas expectativas foram criadas para este novo período que então se iniciava, nomeadamente a nível de projetos de investigação, muitos deles diretamente financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). O Museu, sob a alçada do promissor Instituto de História da Ciência e da Técnica, pareceu entrar numa fase há muito esperada de dinamização. Entre as medidas de maior monta, estavam a informatização de todo aquele espaço, associada à sua pretendida inserção na Rede Portuguesa de Museus (RPM), bem como (finalmente) uma cuidadosa inventariação e tratamento das peças que constituem o seu vasto e multifacetado espólio. No entanto, devido em grande parte a questões de financiamento, o processo de constituição de um museu científico segundo os moldes mais atuais e praticados noutros países, não foi correndo com a celeridade pretendida. De qualquer forma, as expectativas mantinham-se altas.
Esta pretendida nova fase, encontraria o seu fim prematuro na sequência de uma imprevista mudança de Governo, ocorrida em 2002. O recém-criado Ministério da Ciência e do Ensino Superior, sob o pretexto de uma necessidade de contenção de gastos para reduzir o já tão falado “défice”, decidiu-se por suspender o financiamento de uma série de institutos públicos, muitos deles criados nas imediatamente anteriores legislaturas, considerados “supérfluos”. Sem financiamento, acabava-se o oxigénio que lhes permitiria viver ou, apenas, sobreviver. Entre estes institutos, acabou por se ver, incompreensivelmente, incluído o Instituto de História da Ciência e da Técnica, sob a alçada do qual estava o Museu Nacional da Ciência e da Técnica. Em Maio de 2002, começa o processo de extinção daquele instituto de investigação público e o seu director, Paulo Renato Trincão, decide apresentar a sua demissão.
Na sequência disto, para além do respectivo pessoal trabalhador e diversos bolseiros com investigação em curso ou acabada de iniciar, temeu-se pela sorte do Museu criado pelo Professor Mário Silva. Chegou a ser sugerida a sua transferência para outra localidade, em alternativa à irremediável perda que constituiria a sua quase previsível extinção. Muitos pugnaram, com sucesso, até ver, pela permanência deste Museu Nacional em Coimbra. Apenas se conseguiu isto, o que já não foi nada mau, mas a sua situação tem continuado, até agora, sem um rumo definido. Considerado como “salvo” da má sina e sob os auspícios de uma nova direção, decidiu-se renomear a instituição como Museu Nacional da Ciência e da Técnica Mário Silva, destinado a ser integrado num projeto futuro, mais vasto e abrangente, designado como “Museu do Conhecimento”, que pretende englobar as instituições museológicas da Universidade de Coimbra. Foi no sentido de se concretizar esta ambiciosa rede museológica, que foi projetado e construído, ao longo de vários anos, o actual Museu da Ciência, inaugurado a 5 de Dezembro de 2006, no antigo Laboratório Químico da época pombalina e que constituiu uma obra notável.
Não se pode considerar o Museu da Ciência um verdadeiro sucessor do quase extinto Museu Nacional da Ciência e da Técnica. São duas instituições criadas autonomamente e que foram concebidas em contextos diferentes. Devido à sua localização muito próxima relativamente ao MNCT, o Museu da Ciência, numa situação ideal, seria uma extensão daquele, ou melhor dizendo, o “cartão de visita” através do qual aquele (MNCT) melhor se apresentaria ao público e o corolário de todas as atividades aí desenvolvidas. Não sendo o que na presente situação acontece, o Museu da Ciência poderá talvez ser uma forma de todos, inclusive os sucessivos Governos, terem sempre presente o valor da outra instituição que ali existe e que corre sérios riscos de morrer de esquecimento. Em suma, o novo Museu da Ciência deveria ser a tábua de salvação de uma instituição carregada de História e construída ao longo de anos com o suor e o empenho de tantos e que contribuiria, verdadeiramente, para recolocar a cidade de Coimbra no mapa das instituições de investigação científica mundiais.

sábado, dezembro 08, 2007

O Museu da Ciência (Coimbra)

Fez no dia 5 de Dezembro de 2007 um ano que o Museu da Ciência foi oficialmente inaugurado em Coimbra. Neste espaço de tempo, este museu revelou-se uma instituição que há muito tempo fazia falta nesta cidade. Trata-se verdadeiramente de um museu dos novos tempos, pelo menos no que se refere aos requisitos hoje que devem ser atribuídos a uma instituição museológica científica. 

Na sua grande sala de exposições o visitante observa de perto e quase que vive algumas das múltiplas facetas do vasto mundo da investigação científica, desde os mistérios da Natureza desvendados ao longo de séculos de investigação até aos produtos dessa mesma investigação e o impacto que terão exercido nos progressos da Humanidade, sem esquecer as “ferramentas” a que foi necessário recorrer para executar essa investigação e ser (mais ou menos) bem sucedido. Neste último aspecto, entra também uma outra faceta desta instituição, onde o elemento museológico é reforçado. Trata-se do vasto espólio de materiais de laboratório e de experimentação, alguns deles com vários séculos de História e de diversas proveniências. 

Associado a isto, vale a pena referir que, apesar da grande tónica colocada na experimentação, o elemento teórico que ajuda o visitante a compreender melhor o que tem à sua frente, não foi descurado, como é bem visível na informação detalhada mas sucinta que é possível obter junto aos diversos elementos em exposição. Por outro lado, é preciso não esquecer o espaço em que se insere este Museu da Ciência. O próprio edifício é um elemento museológico. É um dos não muitos frequentes exemplos de situação de espaço que não se construiu de raiz para o efeito, mas que surge plenamente vocacionado para as novas funções. Trata-se do antigo Laboratório Químico da Universidade de Coimbra da Reforma Pombalina, cujo edifício foi desenhado por William Elsden, arquitecto inglês muito cotado na época. Foi construído de raiz sob o espaço antes ocupado pelas cozinhas e refeitório do antigo Colégio das Onze Mil Virgens, pertencente aos Jesuítas que haviam então sido despojados dos seus bens por iniciativa do Marquês de Pombal

Durante os seus mais de 200 anos de utilização, este edifício foi sujeito aqui e ali a alguns acrescentos, tanto a nível do espaço circundante como do seu interior. No entanto, o essencial do Laboratório, permaneceu sempre fiel à sua construção original. Devido ao seu crescente estado de degradação, o velho Laboratório Químico, foi encerrado há uns anos atrás, tendo ficado mais ou menos ao abandono, até ser posto em prática o projecto de o converter no actual Museu da Ciência

Durante os mais de dois anos em que decorreram as obras, foram feitas algumas descobertas curiosas provenientes do período anterior à construção do Laboratório, as quais, de alguma forma, protelaram a conclusão prevista do projecto e obrigaram mesmo a reformulações do projecto inicial. Entre estas, destacam-se vestígios dos subterrâneos de antigas secções do antigo Colégio dos Jesuítas, nomeadamente as cozinhas e o refeitório, e elementos arquitectónicos que foram integrados no novo edifício, sobretudo paredes, sem esquecer os restos de utensílios e louças, muito provavelmente antes pertencentes ao espólio da desaparecida instituição religiosa. 

Desta forma, para além dos objectos científicos, o visitante é presenteado com uma outra exposição permanente relativa à história tanto do Laboratório Químico, como daquilo que o antecedeu neste local, complementada por diversas fotografias e desenhos relativos às várias fases da sua conversão em Museu da Ciência. Estes elementos, reunidos e estudados ao pormenor, reforçam o valor patrimonial de todo este espaço e colocam questões e enigmas que não são mais do que o ponto de partida para novas investigações acerca da história deste espaço.

domingo, dezembro 02, 2007

Universidade - Património da Humanidade





Nos dias 29 e 30 de Novembro realizou-se no Auditório do Edifício Central da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, localizado seu no Pólo II, o Seminário “Univer(s)cidade – desafios e propostas de uma Candidatura a Património da Humanidade”. Trata-se de uma ideia já defendida desde há largos anos e por um número crescente de defensores. Este evento permitiu desenhar um quadro acerca das ações que será necessário desenvolver no futuro de forma a tentar resolver ou pelo menos minimizar, toda uma série de problemas, muitos deles de longa data, como o mau estado de conservação de diversos edifícios da zona antiga da Alta coimbrã, bem como a progressiva desertificação habitacional do seu centro histórico, muitas vezes maioritariamente habitado por uma decrescente população idosa. Ao falar-se no valor patrimonial da Universidade de Coimbra, é impossível ficar-se confinado a este núcleo de edifícios, dissociando-os da área urbana envolvente. Por outras palavras, a própria cidade de Coimbra no seu todo e as pessoas que nela habitam, ou simplesmente lhe dão vida, estão envolvidas nesta temática, ainda que não sejam diretamente mencionadas.
A pretexto disto, são feitas comparações com outras localidades, tanto em Portugal como no estrangeiro, onde foram ou estão a ser postas em prática políticas concertadas de salvaguarda do seu respectivo património, com especial destaque para a componente arquitetónica mas sem excluir outros elementos envolvidos, fazendo-se uma análise dos resultados entretanto obtidos, com maior ou menor sucesso, e os obstáculos que ainda existirão para ser ultrapassados. Foram referidos exemplos mais ou menos bem sucedidos de reabilitação urbana, nomeadamente nas cidades de Santiago de Compostela e Guimarães, bem como a forma como o desenvolvimento urbano das cidades pode ter alguns efeitos mais ou menos perniciosos para os respectivos centros históricos, tal como tem acontecido em Salvador da Bahia, no Brasil.

O Governo Civil (desaparecido) - Alta de Coimbra

Um dos maiores e mais emblemáticos edifícios a ser sacrificado à lepra destruidora que o plano das obras da nova “Cidade Universitária”, semeou como praga no coração da Alta de Coimbra foi o antigo Colégio de S. João Evangelista, mais conhecido como o Colégio dos Lóios, devido à cor azul do vestuário dos religiosos que, em tempos remotos, nele residiram. De construção quinhentista, este vasto edifício ficou devoluto e entregue à Universidade de Coimbra, como aconteceu com outros, após a extinção das Ordens Religiosas regulares, por decreto de 1834. Após a venda do seu recheio em hasta pública, onde se incluiria decerto a sua biblioteca que, como tantas outras, desapareceria com a dispersão das suas obras pelos mais variados destinos, acabou por ser destinado a edifício de natureza civil. Graças ao seu generoso espaço interior, este edifício acabaria por ser ocupado por diversos serviços públicos, umas em períodos diferentes, outras em simultâneo, nomeadamente o Banco de Portugal, a sede da Junta da Província da Beira Litoral, Direção de Finanças, Posto da PSP, Correios, Inspeção Escolar, Bombeiros e, claro, Governo Civil. Aliás, era sob este prosaico nome que muitos conheceram este grande edifício, que tinha frente para três ruas distintas. 
A sua fachada principal e emblemática era fronteira à Sé Nova, no Largo da Feira, sendo encimada por uma curiosa estátua em plinto do patrono S. João Evangelista com a auréola raiada; o seu lateral assimétrico ocupava todo um dos lados da Rua dos Lóios, via hoje desaparecida e a partir da qual era possível olhar a Sé Nova de frente; e a sua fachada posterior, menos interessante do ponto de vista arquitetónico, era visível na Rua Larga, mesmo em frente ao edifício onde se alojaria a Associação Académica, sendo por aqui que o público acedia aos serviços disponibilizados no seu interior. Todo o edifício era uma construção assimétrica, como consequência do declive do terreno em que se implantara, dado que na fachada principal eram visíveis cinco pisos, enquanto na posterior, eram apenas dois. Após a extinção do Colégio dos Lóios, o seu edifício terá sido sujeito, aqui e ali, a algumas obras de adaptação, mas muito do que existia originalmente, terá permanecido até ao fim, mais ou menos fiel ao original. Entre estes elementos arquitetónicos, vale a pena salientar o seu claustro, onde era visível uma cisterna.

Numa tarde de finais de Novembro de 1943, o edifício do Governo Civil é atingido por um violento incêndio que, obviamente, causou pânico nas redondezas, principalmente por se estar em plena Segunda Guerra Mundial e ainda haver o receio de ataques aéreos. Viveram-se momentos de aflição, por se temer que o fogo alastrasse às casas vizinhas, o que, com grande aparato, acabou por ser evitado. Tentou-se salvar o que podia do seu recheio mas aqui, muita coisa se perdeu, principalmente a nível de documentação de diversa natureza. Os militares também terão dado uma ajuda preciosa, na tentativa de minorar os estragos. Como solução desesperada, grandes volumes de documentação são atirados pelas janelas do edifício em chamas. Nunca se apuraram as verdadeiras causas deste incidente, embora a tese oficial tivesse sido a de provável acidente, devido ao visível estado de degradação do imóvel e à abundância de materiais inflamáveis no seu interior. Há quem fale em ter sido propositado e ter tido relação direta com as obras da Cidade Universitária, que se haviam já iniciado na Primavera desse ano de 1943.
No começo de 1944, o edifício do Governo Civil vê a sua demolição muito antecipada, tornando-se, desta forma, no primeiro edifício a desaparecer da Rua Larga. A grande estátua de S. João Evangelista que encimava a sua fachada nobre é hoje a sua única recordação existente e encontra-se atualmente no centro de um largo (Largo de S. João) situado num núcleo habitacional próximo de Celas, construído para albergar muitos dos desalojados em consequência das demolições da Velha Alta.

segunda-feira, novembro 26, 2007

O primeiro Teatro Académico de Coimbra - o berço da A.A.C.

Um grupo de estudantes dissidentes da Academia Dramática, cujos estatutos haviam sido aprovados em 1837, decide criar, no ano seguinte (1838), a Nova Academia Dramática, a qual, desde logo, ficará instalada no edifício do antigo Colégio de S. Paulo, o Apóstolo. Este grande edifício, encontrava-se instalado no mesmo espaço onde, mais tarde se construirá a Faculdade de Letras, tendo esta, por sua vez, dado lugar à actual Biblioteca Geral da Universidade. O Colégio Real de S. Paulo, o Apóstolo, fora inaugurado em 1563, tendo sofrido os efeitos do terramoto de 1755, e foi extinto por decreto em 1834, para ser, em 1836, entregue à Universidade

Não existem, atualmente, muitas fotografias deste antigo colégio universitário, mas sabe-se que, já quando a Nova Academia Dramática nele se instalou, o edifício se apresentava num estado de degradação algo notório. De qualquer forma, a nova localização oferecia grandes vantagens logísticas, dado que foi possível construir no pátio do antigo colégio o Teatro Académico, que foi fundado por José de Serpa em 1838 e teve, no ano seguinte, a 24 de Junho de 1839, as duas primeiras representações inaugurais. No entanto, o usufruto pleno das novas instalações, só foi concedido em 15 de Setembro de 1841, tendo a sua posse oficial ocorrido a 8 de Março de 1842. Esta sala de espetáculos teve, durante o quase meio século seguinte, uma grande influência na vida cultural universitária de então. Entre outros aspectos, basta referir que se havia tornado praxe realizar as récitas de despedida no Teatro Académico e que, quando aí havia espetáculo, não ser formavam trupes para perseguir caloiros. Vale a pena referir que, até 1857, só haviam representado estudantes neste teatro, tendo, neste preciso ano, a situação mudado para sempre, ao ser aí permitida a atuação de artistas profissionais. O primeiro destes foi um então muito popular actor, Francisco Alves da Silva, mais conhecido como Taborda. Aí regressaria mais vezes. O próprio rei D. Pedro V chegou a assistir a espetáculos do Teatro Académico mais do que uma vez. Em 1859, os estatutos da Academia Dramática de Coimbra foram alterados, de forma a permitir de igual modo a atuação de artistas e companhias tanto nacionais como estrangeiras. Foi neste Teatro Académico que o Orfeon Académico de Coimbra deu, no dia 7 de Dezembro de 1880, a sua primeira representação pública, na sequência das Comemorações do Tricentenário da Morte de Luís de Camões.
Foi então que, no ano de 1887, na sequência de uma nova reforma de estatutos, a Academia Dramática passar-se-á a designar de Associação Académica de Coimbra, tendo obtido alvará em 3 de Novembro desse ano. O seu primeiro presidente foi o Doutor António Luís Gomes (na foto de cima), então estudante de Direito, e que permanecerá no cargo até 1890, ano da sua formatura. De referir que este mesmo antigo estudante seria Reitor da Universidade de Coimbra entre 1921 e 1924. Foi durante ainda a presidência de António Luís Gomes que a sede da A.A.C., se viu obrigada a ser transferida para o antigo Colégio da Trindade, devido ao facto de o Teatro Académico ter sido encerrado, para posteriormente ser demolido, nesse ano de 1889. A razão para esta súbita mudança, deveu-se ao facto do velho edifício se encontrar perigosamente degradado e poder pôr em risco a vida de quem aí se encontrasse, apesar de já terem sido efetuadas algumas obras de manutenção poucos anos antes. A demolição do velho Teatro Académico foi particularmente lesiva para a Academia de Coimbra, pois representou o quase total apagamento das atividades culturais estudantis, dado que as novas instalações do Colégio da Trindade não eram propícias à realização de espetáculos, os quais, nesse tempo, seriam a sua principal fonte de receitas. Chegou a prometer-se a posterior edificação de um novo teatro no mesmo local, o que tal nunca veio a acontecer. Acabaria por aqui se construir, de raiz, um edifício de traça neoclássica (foto de baixo), destinado à Faculdade de Letras.

domingo, novembro 25, 2007

Igreja de S. Bento - Alta de Coimbra

A Igreja do Colégio de S. Bento, fundado por Fr. Diogo de Murça em 1555 constituía no conjunto de todas as outras antes associadas aos edifícios das Ordens Religiosas uma das mais interessantes. Os seus trabalhos de construção iniciaram-se em 1575 e a sua sagração veio a ter lugar em 19 de Março de 1634. A sua localização era à esquerda de quem hoje sobe a Calçada Martim de Freitas, estando quase encostada a fachada mais visível do Colégio de S. Bento, do lado onde se encontra atualmente a entrada para o Museu de Antropologia. A fachada da Igreja ficava mesmo em frente ao penúltimo (hoje último) arco do Aqueduto de S. Sebastião. À sua direita, começava, algo entalada, entre um gradeamento, instalado já no século XX, e um longo muro que terá pertencido à antiga muralha de Coimbra, a antiga Rua do Arco da Traição, então empedrada e com uma só via possível de circulação. Após a extinção das Ordens Religiosas, em 1834, o Colégio de S. Bento e a sua Igreja, foram entregues à Universidade de Coimbra, tendo-se perdido muitos dos seus bens, inclusive a sua grande biblioteca. Este edifício, apesar da sua crescente degradação tivera, ao longo de quase 100 anos, várias utilizações interessantes. De assinalar o facto de ter sido utilizada como sala de ensaios do Orfeon Académico e como sala de ginástica dos alunos do Liceu José Falcão, onde dava aulas um certo professor Costa Martins, distinto bibliófilo. Esta igreja fora ainda referenciada em diversas publicações de arte, como é exemplo a Arquitetura da Renascença em Portugal, onde é salientada sua interessante abóbada, pejada de elementos quadrangulares. A sua demolição, já prevista havia algum tempo, iniciou-se em Janeiro de 1932, constituindo-se, segundo a opinião crescente de muitos, um grave atentado ao património de Coimbra, devido ao seu estilo arquitetónico único. Muitos elementos das suas paredes e cantarias, andariam dispersas por vários locais da cidade, tendo sido o último dos quais a cerca do Liceu D. João III. Acabou também por se revelar uma situação premonitória de outra de maior vastidão, a demolição do centro da Velha Alta, cujas destruições começariam daí a 11 anos, na Primavera de 1943. Já em 1932, a eliminação da Igreja de S. Bento, havia levantado vozes de protesto, que foram, aos poucos silenciadas pelas autoridades vigentes, apesar de muitos afirmarem que isso dotaria o Liceu José Falcão, então instalado no Colégio de S. Bento, de uma fachada mais grandiosa e de mais salas bem iluminadas. Apesar de ser uma situação irreversível, a discussão foi-se mantendo acesa a nível de bastidores, nos anos que se seguiriam, tendo levado um novo impulso com as obras da “Cidade Universitária”.

segunda-feira, novembro 19, 2007

O Hospital dos Lázaros - Alta de Coimbra




Localizado no lado Sul do desaparecido Largo do Castelo, onde se iniciava a Rua de Alvaiázere, que se prolongava depois pela Couraça de Lisboa e junto ao Castelo de Coimbra, foi criado o Colégio das Ordens Militares de S. Tiago e S. Bento de Avis, cuja primeira pedra foi assente a 25 de Julho de 1615
Um aspeto do desaparecido Largo do Castelo, entre 1935-1944.

Na sequência disto, a Rua de Alvaiázere passou a ser definitivamente conhecida como Rua dos Militares. No entanto, tal como acontecera com a generalidade dos colégios universitários religiosos, a instituição do Colégio dos Militares foi extinta na sequência do decreto de 1834 que determinou a dissolução das Ordens Religiosas, ficando este edifício devoluto e à disposição da Universidade de Coimbra. A partir daqui, seria alvo de sucessivas obras que descaracterizarão muito do seu aspecto original. Havia ainda um conjunto de edificações, por trás da Rua dos Militares, logo abaixo do edifício principal, cujas traseiras eram visíveis da Rua do Arco da Traição





















Esta rua era então uma via exterior à Alta de Coimbra, nela se entrava por um arco do Aqueduto que já não existe e seguia rente a um muro rebocado, que terá pertencido ao antigo Castelo de Coimbra. Estas casas haviam sido residências dos religiosos do Colégio dos Militares. Depois da extinção do Colégio foram destinadas a moradias particulares. A partir de Dezembro de 1853, o edifício do antigo Colégio das Ordens Militares, seria destinado a alojar os antigos doentes do extinto Hospital de S. Lázaro, depois destes terem permanecido no edifício do Colégio de S. José dos Marianos, actual Hospital Militar, e depois no de S. Jerónimo. Com vista a melhor cumprir a sua nova função clínica, o edifício seria sujeito a profundas obras de remodelação, tanto a nível externo como interno. A partir daqui, adquiriria o nome de Hospital dos Lázaros, em virtude da sua nova função de gafaria, muito embora, na prática, viesse a alojar futuramente vários serviços em simultâneo, com a gradual diminuição do flagelo da lepra. Seria, apesar de tudo, uma secção permanentemente vocacionada para o tratamento de doenças infecto-contagiosas. Devido a necessidades de melhor ventilação, as janelas são aumentadas em tamanho, perdendo completamente o seu aspecto original com empenas, sobretudo no alçado sudeste, cuja fachada principal ficaria dentro do mesmo estilo da do edifício de S. Jerónimo, que se pode, atualmente, ainda observar. 

Nesta fachada, só o desenho dos arcos se manterá intacto. Para melhor organização do funcionamento das enfermarias, muitas das suas divisões seriam ainda alargadas. Na década de 1930, o edifício do antigo Colégio dos Militares sofrerá mais uma e profunda modificação, que lhe dará o aspecto definitivo. Será demolido todo o conjunto irregular de anexos ainda existentes, tornando-se, assim visíveis os elementos arquitetónicos originais que ainda restavam, de certa forma, no lado nascente da ala defronte do Largo do Castelo

Em compensação pela demolição dos anexos, será acrescentado aqui um novo corpo, que levará a um alargamento da fachada do começo da Rua dos Militares

Na outra ala, em complemento das galerias originais, será construída uma nova galeria em betão


De notar ainda a remoção dos envidraçados que antes tapavam as antigas galerias do desaparecido claustro, o que tornará visíveis os frisos de azulejos que as preenchiam a todo o comprimento, para além de contribuir para um aspecto mais arejado e saudável do edifício. Como complemento, a nova galeria de betão da outra ala, será, nos dois últimos andares, revestida de frisos de azulejos. O novo espaço conseguido com a demolição dos anexos, foi convertido em jardim, para além de se fazer, junto à lavandaria, uma rampa que permitiria a entrada de veículos de todo o tipo, com vista a um melhor e mais rápido abastecimento do hospital, bem como facilitar o transporte dos doentes. Para além disto, foi colocado um gradeamento em ferro forjado, que se prolongava desde o Largo do Castelo até ao inicio da Rua dos Militares e que seria, decerto a melhor obra aí executada durante este período, para além de embelezar todo um recanto antes menosprezado. 

Por esta altura, este edifício passará a ser designado oficialmente como Hospital do Castelo, apesar de a população em geral o continuar a designar por Hospital dos Lázaros. A ala mais afastada permanecia destinada às doenças infecto-contagiosas. Nos andares superiores, encontravam-se internados os doentes infecto-contagiosos, incluindo os casos de lepra, embora estes tivessem vindo a diminuir ao longo dos anos. Com a criação do Hospital-Colónia de Rovisco Pais, perto da Tocha, os últimos “lázaros” que ainda permaneciam no Hospital do Castelo foram transferidos e os novos casos que aí chegavam eram imediatamente encaminhados para a nova e moderna instituição. No piso inferior, como complemento das enfermarias de internamento, funcionavam dois dispensários: de um lado um anti-sifilítico e do outro um anti-tuberculoso. Entre outros aspectos, os doentes com tuberculose, que para aqui se dirigiam, ficavam temporariamente internados antes de serem encaminhados para um sanatório.


 Na outra ala, direcionada para montante, ficava toda uma série de serviços de consulta externa, incluindo o de Oftalmologia e um serviço de despistagem de doenças do foro venéreo. Por ironia do destino, este edifício acabou por ser condenado ao camartelo no princípio dos anos 60, na sequência das polémicas obras da Cidade Universitária que, já desde 1943, vinham delapidando muito do património da Alta coimbrã

Detalhe das referidas "Obras da Cidade Universitária" numa fase já muito avançada (c.a. 1957).

Antigo Observatório Astronómico que antes existia no Pátio das Escolas e que foi demolido em 1951. A estátua do D. João III havia sido ali instalada no ano anterior, 1950.


Um aspeto da desaparecida Rua Larga, onde existia, para além de muitos outros estabelecimentos emblemáticos, a por muitos recordada "Leitaria Académica", do também saudoso Joaquim Pirata. Ei-lo aqui à porta do seu estabelecimento.


Edifício do consultório do Doutor Bissaya Barreto que, originalmente, se localizava junto ao antigo Hospital da Universidade. Foi o último edifício desta zona a ser demolido, após passar longos anos isolado, à espera que se tomasse uma decisão quanto ao seu "destino".

No seu lugar encontra-se, atualmente, o edifício do Departamento de Matemática. Felizmente, um dos seus elementos arquitetónicos mais relevantes, o seu magnífico gradeamento de ferro forjado, foi parcialmente conservado. Uma parte foi utilizada no arranjo de um pequeno muro junto à portaria do antigo Hospital da Universidade. Hoje, apesar de tudo, poucos lhe prestam a devida atenção e já apresenta sinais muito visíveis de degradação. A outra parte conhecida e mais importante, o seu portão onde se pode ler “Hospitaes da Universidade”, encontra-se junto à escola de Medicina Dentária, na Avenida Bissaya Barreto, do lado oposto a uma das entradas do Hospital Novo.