segunda-feira, novembro 19, 2007

O Hospital dos Lázaros - Alta de Coimbra




Localizado no lado Sul do desaparecido Largo do Castelo, onde se iniciava a Rua de Alvaiázere, que se prolongava depois pela Couraça de Lisboa e junto ao Castelo de Coimbra, foi criado o Colégio das Ordens Militares de S. Tiago e S. Bento de Avis, cuja primeira pedra foi assente a 25 de Julho de 1615
Um aspeto do desaparecido Largo do Castelo, entre 1935-1944.

Na sequência disto, a Rua de Alvaiázere passou a ser definitivamente conhecida como Rua dos Militares. No entanto, tal como acontecera com a generalidade dos colégios universitários religiosos, a instituição do Colégio dos Militares foi extinta na sequência do decreto de 1834 que determinou a dissolução das Ordens Religiosas, ficando este edifício devoluto e à disposição da Universidade de Coimbra. A partir daqui, seria alvo de sucessivas obras que descaracterizarão muito do seu aspecto original. Havia ainda um conjunto de edificações, por trás da Rua dos Militares, logo abaixo do edifício principal, cujas traseiras eram visíveis da Rua do Arco da Traição





















Esta rua era então uma via exterior à Alta de Coimbra, nela se entrava por um arco do Aqueduto que já não existe e seguia rente a um muro rebocado, que terá pertencido ao antigo Castelo de Coimbra. Estas casas haviam sido residências dos religiosos do Colégio dos Militares. Depois da extinção do Colégio foram destinadas a moradias particulares. A partir de Dezembro de 1853, o edifício do antigo Colégio das Ordens Militares, seria destinado a alojar os antigos doentes do extinto Hospital de S. Lázaro, depois destes terem permanecido no edifício do Colégio de S. José dos Marianos, actual Hospital Militar, e depois no de S. Jerónimo. Com vista a melhor cumprir a sua nova função clínica, o edifício seria sujeito a profundas obras de remodelação, tanto a nível externo como interno. A partir daqui, adquiriria o nome de Hospital dos Lázaros, em virtude da sua nova função de gafaria, muito embora, na prática, viesse a alojar futuramente vários serviços em simultâneo, com a gradual diminuição do flagelo da lepra. Seria, apesar de tudo, uma secção permanentemente vocacionada para o tratamento de doenças infecto-contagiosas. Devido a necessidades de melhor ventilação, as janelas são aumentadas em tamanho, perdendo completamente o seu aspecto original com empenas, sobretudo no alçado sudeste, cuja fachada principal ficaria dentro do mesmo estilo da do edifício de S. Jerónimo, que se pode, atualmente, ainda observar. 

Nesta fachada, só o desenho dos arcos se manterá intacto. Para melhor organização do funcionamento das enfermarias, muitas das suas divisões seriam ainda alargadas. Na década de 1930, o edifício do antigo Colégio dos Militares sofrerá mais uma e profunda modificação, que lhe dará o aspecto definitivo. Será demolido todo o conjunto irregular de anexos ainda existentes, tornando-se, assim visíveis os elementos arquitetónicos originais que ainda restavam, de certa forma, no lado nascente da ala defronte do Largo do Castelo

Em compensação pela demolição dos anexos, será acrescentado aqui um novo corpo, que levará a um alargamento da fachada do começo da Rua dos Militares

Na outra ala, em complemento das galerias originais, será construída uma nova galeria em betão


De notar ainda a remoção dos envidraçados que antes tapavam as antigas galerias do desaparecido claustro, o que tornará visíveis os frisos de azulejos que as preenchiam a todo o comprimento, para além de contribuir para um aspecto mais arejado e saudável do edifício. Como complemento, a nova galeria de betão da outra ala, será, nos dois últimos andares, revestida de frisos de azulejos. O novo espaço conseguido com a demolição dos anexos, foi convertido em jardim, para além de se fazer, junto à lavandaria, uma rampa que permitiria a entrada de veículos de todo o tipo, com vista a um melhor e mais rápido abastecimento do hospital, bem como facilitar o transporte dos doentes. Para além disto, foi colocado um gradeamento em ferro forjado, que se prolongava desde o Largo do Castelo até ao inicio da Rua dos Militares e que seria, decerto a melhor obra aí executada durante este período, para além de embelezar todo um recanto antes menosprezado. 

Por esta altura, este edifício passará a ser designado oficialmente como Hospital do Castelo, apesar de a população em geral o continuar a designar por Hospital dos Lázaros. A ala mais afastada permanecia destinada às doenças infecto-contagiosas. Nos andares superiores, encontravam-se internados os doentes infecto-contagiosos, incluindo os casos de lepra, embora estes tivessem vindo a diminuir ao longo dos anos. Com a criação do Hospital-Colónia de Rovisco Pais, perto da Tocha, os últimos “lázaros” que ainda permaneciam no Hospital do Castelo foram transferidos e os novos casos que aí chegavam eram imediatamente encaminhados para a nova e moderna instituição. No piso inferior, como complemento das enfermarias de internamento, funcionavam dois dispensários: de um lado um anti-sifilítico e do outro um anti-tuberculoso. Entre outros aspectos, os doentes com tuberculose, que para aqui se dirigiam, ficavam temporariamente internados antes de serem encaminhados para um sanatório.


 Na outra ala, direcionada para montante, ficava toda uma série de serviços de consulta externa, incluindo o de Oftalmologia e um serviço de despistagem de doenças do foro venéreo. Por ironia do destino, este edifício acabou por ser condenado ao camartelo no princípio dos anos 60, na sequência das polémicas obras da Cidade Universitária que, já desde 1943, vinham delapidando muito do património da Alta coimbrã

Detalhe das referidas "Obras da Cidade Universitária" numa fase já muito avançada (c.a. 1957).

Antigo Observatório Astronómico que antes existia no Pátio das Escolas e que foi demolido em 1951. A estátua do D. João III havia sido ali instalada no ano anterior, 1950.


Um aspeto da desaparecida Rua Larga, onde existia, para além de muitos outros estabelecimentos emblemáticos, a por muitos recordada "Leitaria Académica", do também saudoso Joaquim Pirata. Ei-lo aqui à porta do seu estabelecimento.


Edifício do consultório do Doutor Bissaya Barreto que, originalmente, se localizava junto ao antigo Hospital da Universidade. Foi o último edifício desta zona a ser demolido, após passar longos anos isolado, à espera que se tomasse uma decisão quanto ao seu "destino".

No seu lugar encontra-se, atualmente, o edifício do Departamento de Matemática. Felizmente, um dos seus elementos arquitetónicos mais relevantes, o seu magnífico gradeamento de ferro forjado, foi parcialmente conservado. Uma parte foi utilizada no arranjo de um pequeno muro junto à portaria do antigo Hospital da Universidade. Hoje, apesar de tudo, poucos lhe prestam a devida atenção e já apresenta sinais muito visíveis de degradação. A outra parte conhecida e mais importante, o seu portão onde se pode ler “Hospitaes da Universidade”, encontra-se junto à escola de Medicina Dentária, na Avenida Bissaya Barreto, do lado oposto a uma das entradas do Hospital Novo.

2 comentários:

Tozé Franco disse...

Ora viva.
Vim até aqui a conselho do nosso amigo do Tiromante e não me arrependo.
Vejo que nos une o interesse por Coimbra.
Vou passar, seguramente, mais vezes.

aminhapele disse...

O teu trabalho está óptimo.
Tomei a liberdade de o recomendar,no PÉ DE CABRA.
Um abraço.