Em Janeiro de 1968, era editado o álbum “Horizontal” dos Bee Gees. Na carreira deste grupo, este disco é geralmente considerado o segundo, depois de um que teve precisamente o título “Bee Gees’ First” ou simplesmente “First”. Esta informação não é totalmente correcta e tem induzido muita gente em erro. Na verdade, os dois álbuns referidos são simplesmente os dois primeiros da sua fase britânica ou carreira na Europa Ocidental, que, em virtude do sucesso obtido, se prolongou, como uma linha contínua, terminada na primeira década deste século, devido à morte de Maurice Gibb em Janeiro de 2003, com alguns interregnos e fases menos bem sucedidas pelo meio. Robin Gibb, depois de ter uma carreira paralela a solo, mais bem sucedida do que a dos outros irmãos, faleceria em 2012.
Na verdade, a sua carreira não se iniciou só em 1967. Tendo nascido em Inglaterra, de um casal de músicos, os irmãos Barry, Robin and Maurice Gibb, haviam emigrado, no ano de 1958, para a Austrália. De referir que, por volta desta altura, nasceria um quarto irmão, Andy Gibb, que nunca fez parte do grupo musical “Bee Gees” e que morreria, prematuramente, aos 30 anos, em 1988, depois de uma carreira a solo muito instável.
Desde muito novos, revelaram um talento inato para a música, tendo começado, desde logo, a cantar e a tocar. No começo da década de 60, ganharam, por mais do que uma vez, concursos locais de novos talentos. Do seu repertório faziam parte diversos êxitos então muito em voga. Aliás, existem diversos documentos filmados de algumas das suas actuações ao vivo, inclusive, transmitidas na televisão australiana.
The Bee Gees - "Hilly-Billy-Ding-Dong-Choo-Choo"(1963).
Apesar de ainda adolescentes, não deixaram de despertar interesse nas editoras discográficas locais. O irmão mais velho, Barry Gibb, começaria, desde logo, a escrever canções e foi a partir daqui que eles obtiveram o seu primeiro contrato discográfico, em 1963, com a editora “Festival”. Daí que, em rigor, se pode afirmar que a sua carreira musical começou neste preciso ano, pelo menos a nível discográfico.
Bee Gees - "Timber!" (1963).
Bee Gees - "Take Hold Of That Star" (1963).
Bee Gees - "Peace Of Mind" (1964).
Bee Gees - "Turn Around Look At Me" (1964).
Bee Gees - "Theme From Jaimie McPheeters" (1964).
Bee Gees - "Wine & Women" (1965). O seu primeiro hit australiano.
Bee Gees - "Follow The Wind" (1965). Influência óbvia do tema "Blowing In The Wind" de Bob Dylan.
Bee Gees - "IWas A Lover, A Leader Of Men" (1965).
Bee Gees - "How Love Was True" (1965).
Bee Gees - "I Don't Know Why I Bother With Myself" (1966).
Bee Gees - "Tint Of Blue" (1966).
Bee Gees - "Glass House" (1966).
Bee Gees - "All By Myself" (1966). Uma das primeiras canções assinadas pelo irmão Maurice Gibb (1949-2003).
Bee Gees - "Coalman" (1966).
Bee Gees - "I Am The World" (1966).
Bee Gees - "Second Hand People" (1966).
Bee Gees - "In The Morning" (1965-1966).
Gravariam, até 1966, toda uma série de canções, na sua esmagadora maioria escritas pelo irmão Barry Gibb, distribuídas por mais de uma dezena de singles e dois LPs, o que não deixa de ser notável. Foi nesta fase crucial que eles desenvolveram o estilo vocal e de composição musical que caracterizaria muita da sua vasta carreira futura. Acontece que, durante estes quase quatro anos, eles eram praticamente só conhecidos a nível local e correriam o risco de não ser mais do que uma das muitas bandas que tentavam, nessa época, singrar no mundo da música, quase sem sucesso, se não fosse a sua decisão ousada de regressar ao seu país de origem.
Desembarcariam nas Ilhas Britânicas, no começo de 1967, trazendo na bagagem as muitas gravações editadas até então. Nessa fase tinham como grande referência musical os “Beatles”. Aliás, o próprio Maurice Gibb afirmaria, mais tarde, que, na sua fase australiana, eles se caracterizavam como um grupo de jovens músicos tentando ser como os seus ídolos. De facto, se se reparar nos temas gravados em 1965 e 1966, é quase possível considerá-los uma espécie de “Beatles australianos”. Estando já, decerto, previamente informados de que o manager dos “Beatles” era Brian Epstein, vai ser precisamente à porta deste que eles irão bater.
A sua intenção era, sem dúvida, apostar numa carreira no mercado discográfico anglo-americano, que já era muito poderoso nessa época. Pode-se afirmar que muitos dos cantores e grupos musicais cuja obra não circulasse neste vastíssimo e dominante mercado editorial, acabavam por ser como que “virtualmente inexistentes” ou apenas localmente divulgados.
Após escutar muitas das suas gravações da fase australiana, Brian Epstein reconheceu-lhes uma grande qualidade e potencial sucesso. Acabou por encaminhá-los para um seu amigo, também produtor, Robert Stigwood, o qual também os reconheceu como um grupo de grande valor, em todos os aspectos. Este Robert Stigwood seria, a partir de então e por muitos anos, o seu produtor por excelência. Curiosamente, Stigwood era australiano de nascença.
Paralelamente, os irmãos Gibb haviam tomado conhecimento com dois outros músicos australianos e, como eles, a viver em Inglaterra, embora de nacionalidade efectivamente australiana. Eles eram Vince Melouney, guitarrista, e Colin Petersen, baterista, ambos já com alguma experiência musical noutros grupos.
Segundo documentam algumas fotos promocionais, durante um breve período, nos meses imediatamente subsequentes à sua chegada à Inglaterra, os Bee Gees, muito à maneira dos seus ídolos "Beatles", surgem como um quarteto, com Colin Petersen na bateria. Nesta breve fase, já com contrato assegurado, estavam ainda a promover o seu "tema-passaporte" "Spicks And Specks", já lançado no ano anterior (1966) na Austrália.
Bee Gees - "Spicks And Specks" (1966/1967). Na capa desta coletânea os Bee Gees surgem como um quarteto com Colin Petersen à direita.
De qualquer forma, já tinham, entre o seu seu círculo de relações, um certo Vince Melouney, guitarrista e cantor australiano, também já com uma carreira no seu país de origem, sob o nome de "Vince Maloney". Logo que este decidiu retomar o seu apelido de origem, ingressou, oficialmente, nos Bee Gees.
Bee Gees - "All Around My Clock" (1967).
Bee Gees - "Gilbert Green" (1967).
Desde logo, começam a escrever e a gravar as canções que iriam constituir o material incluído no seu LP“Bee Gees’ First”, o qual não era, em rigor, o seu primeiro. Acontece que os “Bee Gees” agora moviam-se dentro de um outro circuito discográfico, que os daria a conhecer a um público mais vasto e a promovê-los devidamente, através de, nomeadamente, um maior número de actuações ao vivo mais frequentes. Numa certa perspectiva, pode-se afirmar que a sua carreira levaria o impulso necessário a partir do momento em que as suas canções começam a ser gravadas e editadas no mercado anglo-americano, porque foi aqui que os “Bee Gees” começaram a ser, efectivamente, famosos. Aliás, a sua fase australiana só ganhou importância posterior, em virtude do sucesso mundial obtido logo a partir de 1967.
Bee Gees - "Turn Of The Century" (1967).
Bee Gees - "Holiday" (1967).
Bee Gees - "One Minute Woman" (1967).
Bee Gees - "Craise Finton Kirk Royal Academy Of Arts" (1967).
Como se veio a verificar, o seu LP"Bee Gees' First" tornou-se num sucesso à escala mundial. Não só devido à qualidade das canções, mas também devido a uma eficiente campanha de divulgação, que incluía espectáculos ao vivo e na televisão. O efeito da "novidade" também teve aqui o seu papel importante. Mesmo assim há que compreender que, quando um grupo musical grava o seu primeiro disco ou, como aqui acontecia, relançava a sua carreira num contexto e em moldes diferentes, era sempre um "tiro no escuro". A capa deste discofoi concebida e desenhada porKlaus Voormann, o tal grande amigo dos Beatles, que estes conheceram na sua fase de espetáculos em Hamburgo (por volta de 1961) e cuja namorada de então, Astrid, foi responsável pela sua mudança de penteado, que tanto impacto haveria de causar no Mundo. De referir que esta namorada foi, segundo se diz, "roubada" a Klaus por um certo "5º Beatle" e baixista Stuart ("Stu") Sutcliffe, que acabaria por morrer em Hamburgo, pouco tempo depois de iniciar uma muito breve carreira de pintor e desenhador...
Bee Gees - "New York Mining Disaster" (1967). Este foi, de facto, o primeiro grande êxito dos Bee Gees...
Bee Gees - "To Love Somebody" (1967). ...logo seguido por este.
Bee Gees - "I Can't See Nobody" (1967). A cantora Nina Simone (1933-2003) lançaria, em 1969, uma das mais bem conseguidas covers deste tema.
Bee Gees - "Close Another Door" (1967).
A sua experiência de gravação em estúdio era, de igual modo, bastante superior à de muitos cantores e músicos da sua faixa etária. Ao contrário do que muitos, ainda hoje, julgam, o "Bee Gees' First" foi, de facto, o seu terceiro LP gravado. Acontece que, no universo das reedições em CD, este "primeiro" trabalho surge como o mais antigo que se conhece dos Bee Gees, o que tem continuado a induzir muita gente, incluindo fãs, em erro. Desta forma, "Horizontal", o disco que se lhe seguiu, foi, na verdade, o seu quarto LP.
Bee Gees - "And The Sun Will Shine" (1967-1968).
Bee Gees - "Lemons Never Forget" (1967-1968).
Bee Gees - "Birdie Told Me" (1967-1968).
Bee Gees - "Massachusetts" (1967-1968).
Bee Gees - "Day Time Girl" (1967-1968).
Bee Gees - "Horizontal" (1967-1968).
O "Horizontal", gravado nos últimos meses de 1967, e editado em Janeiro de1968, foi já criado num contexto de êxito confirmado e foi a sua verdadeira primeira consagração mundial. Essa crescente confiança em si mesmos, reflectiu-se no próprio LP, mais conciso e ambicioso do que o anterior. Quase todos os seus temas, talvez exceptuando "Harry Braff" e, de certa forma, "The Earnest Of Being George", merecem destaque pela qualidade e elaboração, tanto em termos de música como de letras. No entanto, mesmo os dois fillers atrás referidos, conseguem a sua "tábua de salvação" nos sólidos arranjos instrumentais.
Bee Gees - "Out Of Line" (1967-2006). Este tema poderia muito bem ser o único êxito de outro qualquer grupo. Mesmo tratando-se de, provavelmente, uma demo, mesmo aqui, os Bee Gees são bons... Conseguem ter a qualidade de temas finais!
Bee Gees - "Words" (1967).
Bee Gees - "Sir Geoffrey Saved The World" (1967). O lado B do single "World".Não ficava nada mal como lado A ou integrando algum LP.
Bee Gees - "Mrs. Gillespie's Refrigerator" (1967-2006). Trata-se apenas de uma demo, cuja a letra é, na melhor das hipóteses, surrealista, senão mesmo algo bacoca e a roçar o ridículo. Todavia, mesmo aqui, os Bee Gees mostram a sua excelência. Até 2006, a única versão deste tema que existia era de um grupo, quase desconhecido, chamado "The Sands", lançada em 1967. Aliás, pensa-se que este tema foi escrito precisamente a pensar nesse grupo psicadélico britânico que se estava a lançar... e que não passou daí... A versão desses "The Sands" é completamente "metida no chinelo" ao ouvir-se a demo original dos Bee Gees!
The Sands - "Mrs. Gillespie's Refrigerator" (1967). No encerramento desta versão, ouvem-se "ecos" de um outro tema, lançado no ano anterior (1966), por um certo Lee Mallory (1945-2005): "That's The Way Its Gonna Be". Este tema teve, por sua vez, a autoria de um outro nome muito injustamente esquecido: Phil Ochs (1940-1976). Todavia, quem o interpretaria, em "demo", durante as sessões de gravação do single do já referido Lee Mallory e que serviria como "guide vocal" deste, seria o genial e também muito injustamente esquecido Curt Boettcher (1944-1987).
The Sands por volta de 1967.
Bee Gees - "God's Good Grace" (1970/1971). Eis um exemplo de tema inédito dos Bee Gees que já era tempo de ter um lançamento oficial. Muitas vezes, é entre os temas inéditos que se encontram os melhores... Por sinal, este tema vem mesmo a calhar para o período que atualmente (2021) nós vivemos. Ventos de guerra soam aqui e ali em diversas partes do mundo... Tal como a letra diz: "And Tough I Was Not Born/ To Fight In World War 2/All I Know In My Mind/We Don't Want Another Like That To Pursue". A voz em destaque neste tema é, como no vídeo se faz questão de salientar, é Robin Gibb (1949-2012). Muitos consideram-no a melhor e mais original voz dos Bee Gees.
Eis a letra:
Thank God’s good grace we’re beginning Thank God’s good grace I’m alive Thank God’s good grace we are winning Our will to survive
And though I was not born To fight in World War II All I know in my mind We don’t want another like that to pursue We don’t want another like that to pursue
Thank God’s good grace that we’re seeing The terrible mess we are in Thank God’s good grace we are leading Our course to begin
And they can’t make films As good as you see on the street If you want to do some good It will take a lifetime It will take a lifetime
Thank God’s good grace we’re beginning Thank God’s good grace I’m alive Thank God’s good grace we are winning Our will to survive
Thank God’s good grace Thank God’s good grace Thank God’s good grace Thank God’s good grace
Os Zombies foram um dos grupos mais importantes da “invasão britânica” que se seguiu ao aparecimento e êxito dos Beatles, a partir de 1963. No entanto, não oficialmente, o grupo já se havia formado em 1961, a partir da reunião de alguns estudantes da zona de St. Albans, com gostos musicais próximos. O grupo, na sua formação definitiva, era constituído por Colin Blunstone na voz principal, Rod Argent nos teclados e coros, Chris White no baixo, viola acústica e coros, Paul Atkinson nas guitarras e Hugh Grundy na bateria e percussão.
Só se afirmariam discograficamente a partir de 1964, quando lançam o tema “She’s not there”, que é êxito em vários países. Tiveram, nos anos seguintes alguns outros êxitos, ainda que gradualmente menores, mas foi sobretudo devido àquela canção que eles são relembrados por muitos. De qualquer forma, os “Zombies” arriscar-se-iam a não ser mais do que um entre muitos outros seus contemporâneos, que não tiveram mais do que um ou outro êxito assinalável, se não fosse um álbum que eles gravaram quando a sua separação já era mais do que certa.
O nome desse álbum era “Odessey And Oracle”, saído em Março de 1968. Era o segundo álbum deste grupo e fora gravado durante os últimos meses de 1967. Apesar de, no momento do seu lançamento, não ter vendido muito, este disco acabaria por inscrever, posteriormente o nome dos “Zombies” entre os grandes grupos da década de 60. O álbum “Odessey And Oracle” não causou grande impacto nessa Primavera de 1968, em grande parte porque o grupo já se havia dissolvido, não havendo a promoção necessária. Só os anos que se seguiriam acabariam por trazer o devido reconhecimento a esta obra discográfica.
Pode-se afirmar que todo o interesse à volta dos “Zombies”, só cresceu verdadeiramente quando estes já tinham acabado. De facto, a partir de 1968, os elementos do grupo dispersaram-se por projetos de vida muito diferentes. Colin Blunstone iniciou uma carreira a solo, com êxito muito moderado, mantendo-se um cantor de primeiro nível, apesar de não devidamente reconhecido. Rod Argent, apoiado por Chris White, formou o seu próprio grupo, “Argent”, que teria algum sucesso durante os anos 70. Chris White, tornar-se-ia produtor de diversas bandas e cantores, participando, muito casualmente, em gravações de estúdio de alguns deles. Paul Atkinson trabalharia com computadores, antes de, tal como Chris White, enveredar pela produção de cantores e grupos, entre os quais os “ABBA”, participando, ocasionalmente, como músico de estúdio. Hugh Grundy também exerceria, durante algum tempo, atividades inseridas em estúdios de gravação e editoras discográficas passaria a viver para a sua família, participando em diversos negócios, nomeadamente a gestão de um bar local, só muito ocasionalmente retomando a bateria.
Como aconteceu com muitos dos grupos extintos ao longo das últimas décadas, a comunicação social e o público, com destaque para os fãs, têm vindo a alimentar o sonho, muitas vezes utópico, de ver os “Zombies” reunificados, nem que seja por uma breve ocasião, sempre longamente recordada. Devido às diversas atividades absorventes, fora ou dentro da indústria musical, dos seus antigos membros, sem esquecer as eventuais mudanças de país de residência, tal situação esteve, durante muitos anos, longe de estar sequer prometida. Outro argumento para a recusa em se voltarem a reunir, corroborado por outros, residia no facto de poderem ser considerados anacrónicos e, desta forma, poder não contribuir muito positivamente para a respectiva imagem mediática. No entanto, uma reunião em estúdio já poderia ser mais consensual.
Foi o que aconteceu em 1990 quando, por iniciativa de Chris White, decidiram voltar a gravar canções em mais de vinte anos de separação. Uma das razões para esta súbita tentativa de reavivar da chama dos “Zombies”, residia, segundo Chris White, no facto de, desde a sua separação, em 1968, terem surgido diversas bandas como mesmo nome.
Não é uma situação muito usual, mas no caso dos “Zombies”, houve, em terras britânicas e norte-americanas, bandas que tentaram capitalizar o seu sucesso, assumindo-se como os“verdadeiros Zombies”. Eram situações de usurpação de nome, que foram sendo mais ou menos resolvidas judicialmente.
O problema era o facto de serem algo recorrentes. Movido por este momentâneo desejo de legitimação, Chris White entra em contacto com outros produtores seus conhecidos, numa forma de obter apoio financeiro para pôr em marcha o seu projeto de gravar um novo trabalho discográfico.
Logo de seguida, entrou em contacto com os outros seus antigos colegas de grupo. Obteve imediata aceitação por parte do baterista Hugh Grundy (em cima), logo seguida da total disponibilidade do antigo vocalista Colin Blunstone. Já não foi tão bem sucedido com os outros dois elementos. Paul Atkinson estava a viver e a trabalhar em full-time numa editora discográfica nos Estados Unidos e Rod Argent estava submerso em diversas atividades de estúdio, para além de, mais uma vez, ter argumentado não fazer sentido reviver um grupo musical muito datado.
Uma vez que os teclados de Rod Argent eram uma peça fundamental no som dos “Zombies”, Chris White teve de procurar um músico específico que reunisse as qualidades necessárias para ocupar um lugar quase insubstituível. Esse músico foi encontrado na pessoa de Sebastian Santa Maria (em cima), músico chileno nascido em 1959, e um verdadeiro mago dos teclados. Na realidade, os teclados eram apenas um dos diversos tipos de instrumentos musicais em que ele era exímio.
A partir daqui, estavam reunidas todas as condições para se iniciarem as gravações dos temas que iriam constituir o primeiro álbum dos verdadeiros “Zombies”, gravado, com mais de duas décadas de distância, desde a obra-prima “Odessey And Oracle”. O seu título inicial era "The Return Of The Zombies", mas acabou por ser escolhido o título de uma das suas canções: "New World". Ao contrário do que, inicialmente se pretendia, o álbum não foi editado nos Estados Unidos. Tendo sido, primeiro, lançado na Alemanha.
Contrariamente ao que muitos poderão pensar, não se trata de um disco revivalista, pelo menos no que respeita à música em si. O seu som é muito actual (para a época em que foi lançado), apontando, por isso, para novas direções. Muito deste som "mais contemporâneo", deve-se, sem dúvida, à proeminência dos teclados de Sebastian Santa Maria, o que faz deste disco uma demonstração muito expressiva do talento deste músico e, talvez, uma iniciação no seu vasto e muito peculiar mundo musical. Para além de "novo Zombie", Sebastian revelou também um pouco do seu talento de compositor em alguns dos temas deste álbum, com especial destaque para "I Can't Be Wrong" e "Moonday Morning Dance".
Neste dois temas, somos levados a reconhecer o à-vontade de Sebastian tanto nas baladas como em temas mais uptempo e a destapar um pouco do véu sobre o seu ecletismo e versatilidade. Com a sua morte prematura em 1996, vítima de uma rara doença genética, este disco acabou, de certa forma, por ser um muito expressivo tributo a Sebastian Santa Maria, músico, cantor e compositor.
O vocalista Colin Blunstone (em baixo) surge, mais uma vez, no seu melhor, revelando-se perfeitamente adaptado a novas correntes musicais, não desiludindo quem se habituou a considerá-lo uma das melhores vozes da música contemporânea.
Uma feliz surpresa para muitos fãs de longa data dos "Zombies", foram as duas participações, como músicos convidados, dos antigos membros-fundadores originais Rod Argent e Paul Atkinson. Cada um deles participou num tema diferente.
Rod Argent (em cima) havia, pouco antes, regravado uma série de êxitos do seu antigo grupo. Um desses temas era "Time Of The Season", que ele aceitou ver incluído no alinhamento de "New World". De facto, Rod Argent não havia participado, diretamente, nas gravações deste novo disco dos "Zombies", mas teve a oportunidade de assistir a algumas delas, tendo ficado bem impressionado com a qualidade das canções interpretadas.
Paul Atkinson (em cima), pelo contrário, teve a rápida oportunidade de participar no tema principal do disco "New World", enquanto um dos guitarristas, apesar de não ser possível distinguir qual o som da sua guitarra no meio dos outros. Decerto, acabaria esta por ser uma das suas últimas raras participações como músico em gravações de estúdio, antes da sua morte prematura em 1 de Abril de 2004, aos 58 anos, na sequência de complicações derivadas do cancro.
Em 1971, tendo verificado que a sua primeira aposta de estúdio, o álbum Back In The USA, não havia causado grande impressão, pelo menos a nível de êxitos de vendas, os MC5 decidem lançar uma nova cartada, mais ousada e exigente, sob a forma do álbum High Time.
Trata-se de um álbum mais maduro, com letras mais profundas. Uma das temáticas mais em destaque, em especial no longo tema Future/Now, é precisamente o futuro, nos seus mais variáveis aspectos. De alguma forma, isto soa um tanto quanto irónico para uma banda que não teve qualquer futuro, em termos de existência, pois apenas pouco mais de um ano depois, os MC5 dissolveram-se.
MC5 - "Future/Now" (1971).
Mais uma vez, a voz de Rob Tyner surge proeminente em praticamente todos os temas, em harmonia ou não com a de um ou mais elementos do resto do grupo. Por outro lado, a autoria de cada um dos temas, surge perfeitamente descriminada, contrariamente ao que acontecera nos álbuns anteriores onde a autoria era creditada ao grupo no seu todo. Talvez premonição da fragmentação que ocorreria daí a algum tempo depois. A autoria das canções encontra-se mais ou menos equilibrada entre os três elementos que constituem o centro da banda, mais concretamente, Rob Tyner, Fred "Sonic" Smith e Wayne Kramer. Excepção deve ser feita para um único tema, da autoria do baterista Dennis Thompson, que constitui a sua primeira feliz estreia na composição. A presença de Mike Davis também se faz notar nos coros de alguns dos temas, onde o seu timbre peculiar encaixa na perfeição e dá uma força adicional à mensagem que se pretende transmitir. Para além disto há, pela primeira vez, o recurso a músicos convidados, nomeadamente da área do Jazz, o que, decerto, terá contribuído para aproximar os MC5 de muitas das características de um grupo de “fusão”, termo que Wayne Kramer rejeita ser aplicável ao seu grupo. Este prefere antes reconhecer alguma (vaga) aproximação ao “Free Jazz”.
Segundo a minha opinião, este disco contém, a partir do tema 3 até ao tema 7, uma das melhores sequências de canções alguma vez conseguida em toda a história da música rock do Século XX. Bem no seu centro, o tema que eu considero verdadeiramente central neste disco: "Future/Now".
MC5 - "Miss X" (1971).
MC5 - "Gotta Keep Movin" (1971). O único tema "oficial" conhecido da autoria do genial baterista Dennis "Machine-Gun" Thompson.
MC5 - "Poison" (1971).
MC5 - "Over And Over" (1971).
As "balizas" dessa sequência perfeita.
É, para mim, esta sequência de temas que justifica, quase plenamente, quer a audição, quer a obtenção deste álbum e o torna eternamente referencial.
A própria parte gráfica da capa é muito mais complexa, inventiva e, por isso, interessante do que a do anterior disco de estúdio Back In The USA. Aliás, a própria contracapa, onde a fotografia, o desenho e a colagem se encontram numa harmonia, tanto perfeita como, então, inédita, surge creditada a um estranho nome, onde muitos não mais reconhecem do que um pseudónimo, nunca verdadeiramente confirmado nem desmentido, do próprio Rob Tyner. Este talvez preferisse falar num alter-ego artístico.
No ano do seu lançamento, 1971, o disco foi um flop, ainda maior do que o anterior, de tal forma que o grupo se viu logo rejeitado pela sua editora de então, a Atlântic. A partir daqui, foi uma inglória e deprimente contagem decrescente até à dissolução dos MC5. O tempo que depois se seguiria, acabou por lhe fazer alguma justiça e, agora, o álbum é considerado uma referência para muitos músicos de todo o mundo, digno de emparceirar com outras obras de outros grupos como os Beatles, os Pink Floyd e mesmo os U2.