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sábado, maio 21, 2011

O que os jornais e as televisões não mostram

Primeiro temos o espaço físico: uma vasta construção cúbica, subdividida em várias secções, aparentemente fria e desinteressante, dado o seu despojamento decorativo exterior. Perfeitamente enquadrada no espaço museológico que a acolheu, este mesmo um imponente edifício de sabor austeramente industrial, onde a máquina subjuga completamente o Ser Humano dentro de um cenário onde as sólidas e escuras paredes de tijolo alojam um sem número de formas possíveis que o aço pôde adquirir às mãos do Homem, entrecortadas pelos números de diversos mostradores, através dos quais as tentaculares e agressivas máquinas comunicam com ele, que as concebeu, desenhou e montou. Exteriormente o espaço expositivo parece esteticamente silencioso, mas é, na verdade, um aviso para o que no seu interior nos é dado a observar. Há que estar preparado!


De seguida, somos acolhidos no seu interior, também ele desprovido de qualquer elemento decorativo, mas que, até certo ponto, nos faz lembrar a entrada para os bastidores de um qualquer teatro ou cinema imaginário. O espectáculo ou filme a que vamos assistir está ali, fragmentado nas diversas fotografias, para onde uma sinalética bem conseguida, ainda que subtil, nos direcciona.


Todo o fundo é preto, dominado pela sombra, como que a integrar-nos na dureza e, por vezes, na crueza das imagens que se nos apresentam. As luzes que aqui e ali vão surgindo, orientam o nosso olhar para os diversos retratos, uns mais gerais, outros mais em detalhe, de toda uma realidade que nos escapa no nosso quotidiano. As fotografias são, na sua base, de carácter documental. Mas têm em si um elemento artístico, difícil de definir, que muitas vezes só é captável numa fracção de segundo. Cada fotógrafo profissional tem de ter a intuição de saber apanhar esses breves momentos irrepetíveis. Um segundo antes ou depois e a imagem já não é a mesma. Por vezes, a escolha da ou das imagens a seleccionar pode ser feita à posteriori, por entre um conjunto quase infinito de instantâneos e aqui, também, é posta à prova a sensibilidade do ou dos fotógrafos que se entregam a essa tarefa, igualmente tão complicada, embora menos arriscada do que a sua eventual captação in loco. Quantos fotógrafos já não perderam a vida a tentar encontrar o instantâneo ideal?


Em concreto, o visitante é levado a conhecer de perto alguns dos factos mais recentes ocorridos em diversas partes do mundo, bem como a ser confrontado com algumas facetas de realidades que há muito se vão sucedendo e que, em geral, causam espanto a quem não conviva com essas realidades. Cada um de nós vê o outro lado daquilo que, muitas vezes as televisões e os jornais só referem de uma forma superficial e, quase sempre, filtrada. Talvez… para não chocar tanto os espíritos mais sensíveis… Ali o visitante observa fragmentos da realidade tal como ela é. Por vezes, a sensibilidade, no sentido negativo do termo, ou seja, enquanto fragilidade e falta de resistência e força de carácter, é perpetuada pela constante e obstinada fuga às imagens das verdadeiras da realidade deste Mundo. Tantas vezes o espírito precisa de ser sujeito a estas provas ocasionais, para ganhar um pouco mais de resistência, perder um pouco da fragilizadora ingenuidade e, assim, aprender a crescer mais um pouco.


Ao mesmo tempo, o visitante é levado a visualizar a beleza, por vezes macabra, que consegue, mesmo assim, ser captada em situações supostamente trágicas e desprovidas de qualquer beleza. Eis, talvez, porque esta exposição fotográfica, organizada anualmente em várias partes do mundo, apesar de não ser, em si, muito grande em extensão, é considerada “a maior exposição fotográfica do mundo”. Poucas fotografias conseguem, unitariamente, aglomerar em si a força de centenas, milhares ou milhões juntas.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Fotógrafos ou fotografadores?

Nos tempos que correm, em que a imagem, quer no seu sentido restrito, quer no seu sentido mais alargado, se encontra muito democratizada, o acto de obter fotografias é um gesto perfeitamente espontâneo e automático.
Uma fotografia desperta sempre um rol de sensações no seu observador. Este poderá sentir espanto ao tomar o primeiro contacto com realidades que ignorava até então; alegria por poder relembrar o que já tinha esquecido; o choque perante uma imagem impressionante; saudade e nostalgia ao recordar um tempo que passou; prazer ao observar uma paisagem de rara beleza; curiosidade perante uma imagem algo enigmática. Isto só para referir alguns exemplos.
Uma máquina fotográfica tem sido um dos objectos mais cobiçados pelo comum dos mortais, pois permite reter o que não se pode guardar, combatendo a volatilidade do tempo. A fotografia é uma verdadeira janela para o passado, o qual pode ser, em parte, revivido no presente.
Apesar de todo o entusiasmo, que existe à volta deste hoje banal bem de consumo, tal no entanto não encontra correspondência no que respeita ao seu valor patrimonial. Há uma ansiedade em se conseguir sempre o último grito em máquinas fotográficas digitais, em programas de computador para trabalhar a imagem e mesmo impressoras que permitam a cada um conseguir fazer as suas fotos em casa. Já para não falar no muito cobiçado telemóvel de última geração que possa substituir a necessidade adicional de ter uma verdadeira máquina fotográfica.
Pode-se afirmar que há quem tire fotografias sem nunca ter tido a oportunidade de ter nas mãos uma verdadeira máquina fotográfica e o mesmo se pode aplicar à realização de filmes. O fenómeno do “YouTube” é bem a prova disso: muitos dos filmes que por lá se encontram resultam de captações de muito baixa resolução (para não falar da qualidade) feitas em simples telemóveis.
O Mundo está cheio de pretensos fotógrafos que se vangloriam de acumular, sem critério, sucessivas imagens, muitas delas versões diferentes de um mesmo motivo, graças aos cartões de memória multi-gigabaitescos, que, apesar de tudo, permitiram acabar com o pesadelo limitativo do “fim-do-rolo”. Mas, na realidade, pouco ou nada sabem do que é, de facto, fazer fotografia. É verdade, reconheça-se, que a grande maioria do dito público fotografador, não tem interesse em saber sequer os meros rudimentos da arte de bem fotografar. Desde que tenham um simples gadget onde possam captar, ver e, porque não, enviar a outros fotografias virtuais, nada mais lhes interessa, para além de ter o cartão de memória com maior capacidade de armazenamento.
Há depois aqueles, sempre em minoria, a quem interessa, de facto, “fazer” fotografia e elevarem-se acima daqueles que captam imagens como quem escreve mensagens telegráficas de telemóvel. Este livro vem, precisamente, ao encontro destes. Nunca é demais relembrar que, para além do que já foi dito, existe um desinteresse quase total, da parte do público em geral, relativamente a tudo o que diga respeito às técnicas fotográficas mais antigas, quer no que respeita às fotos em si, quer no que respeita aos utensílios fotográficos. Tudo o que é antigo neste campo é visto exactamente como obsoleto e dispensável. Muita gente só preserva em casa fotografias antigas, devido mais às memórias de pessoas e lugares que, directa ou indirectamente, lhes sejam familiares.
A fotografia, como um mensageiro das imagens e das memórias do passado é, exactamente por isso um documento vivo. Através da sua imagem, vê-se o que já não se pode voltar a ver. Mas a fotografia, é muito mais do que uma imagem parada no tempo.
A ideia de que a fotografia, mais do que captar imagens do real, também acaba por ser uma nova perspectiva desse mesmo real, acaba por ser uma das ideias-chave desta obra, ao fazer lembrar aos leitores o muito que existe para lá da realidade quotidiana, feita de meros automatismos simplistas, a que se encontra reduzida a grande maioria dos fotógrafos de ocasião que pululam à nossa volta.

domingo, outubro 07, 2007

Coimbra - em transformação



Nestas duas fotografias temos dois exemplos muito expressivos das grandes transformações que Coimbra foi sofrendo ao longo dos anos. Estas duas imagens, em concreto, reportam-se à primeira metade dos anos 50, um dos períodos em que a cidade foi sujeita a profundas obras que em muito contribuiriam para a sua fisionomia atuais. É certo que, tanto na época em questão, como na atualidade, estas não foram consensuais. As duas fotografias que aqui surgem, documentam duas operações de "modernização" da cidade, que se realizaram quase em simultâneo. A primeira mostra-nos como era a zona do Largo das Ameias, num dos extremos da Avenida Fernão de Magalhães, até 1953. Nesse ano são demolidos os dois blocos de edifícios, visíveis no centro da imagem, de forma a ampliar o Largo das Ameias, e superar o estrangulamento do trânsito crescente nesta entrada para a Avenida Fernão de Magalhães. Apesar de tudo, as fachadas dos dois edifícios mais altos (à direita), davam um aspecto mais harmonioso ao Largo das Ameias. A sua demolição colocaria um grave problema estético neste local, que ainda hoje se tenta resolver à custa de "cosmética publicitária", pois tornou o ponto mais em destaque do Largo das Ameias num recanto "sem rosto". Ali ficou, para sempre, a memória de uma obra feita a pensar exclusivamente na funcionalidade daquele espaço, à revelia de qualquer consciência patrimonial, a qual, pretendendo ser apenas um "melhoramento" em função das exigências de uma época específica, acabou por se concretizar numa amputação pura e simples, cujas consequências, até hoje, ninguém soube resolver devidamente.
Já a segunda fotografia, retrata a primeira fase das obras de alargamento e reposicionamento da Avenida João das Regras, realizadas mais ou menos no mesmo período das atrás referidas no Largo das Ameias. As profundas alterações da Avenida João das Regras encontravam-se inseridas num conjunto mais vasto de obras, realizadas em simultâneo, onde se incluíam a construção da "nova" Ponte de Santa Clara, inaugurada em 1954, o que levaria à consequente demolição da antiga (datada de 1875) no final desse ano, e também a completa remodelação do Largo da Portagem, que lhe daria muito da sua actual fisionomia. Aliás, estas três obras também podem ser referidas como uma única obra, visto que o decurso e a progressão de cada uma delas, dependia muito diretamente das outras. Os edifícios visíveis no lado direito desapareceriam no decurso das obras, tornando mais visível o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. O lado esquerdo manter-se-ia quase inalterável até hoje (2007). Devido ao facto da "ponte nova" de Santa Clara ter sido construída à direita da antiga de 1875, obrigou a que se construísse uma outra via, mais larga, ao lado da original. Para dar concretização a esta obra, para além de se demolir todas as casas do lado direito da antiga via, houve que "roubar" um pouco da área do Choupalinho, mais ou menos onde se localizava a antiga entrada para a Feira Popular. A antiga via, que ia dar à velha ponte, ainda por lá se encontra, como um acesso alternativo.