segunda-feira, janeiro 21, 2008

A salvaguarda do património edificado





Não constitui tarefa fácil decidir o que se há-de considerar digno de ser preservado, em termos de edifícios e terrenos. É um problema que se coloca a todos aqueles que investigam estas questões e, também às entidades responsáveis pela gestão dos bens públicos existentes nas várias zonas de um país, nomeadamente as autarquias.
O avançar dos anos é implacável no que respeita a tudo aquilo que as sucessivas gerações humanas vão legando ao Mundo. O tempo de vida humana é limitado, mas os edifícios também têm o seu tempo de vida útil. Muitos vão-se degradando, pondo a nu todos seus defeitos e limitações, perdendo igualmente a sua utilidade e funções originais, face às vagas do progresso humano.
Em consequência disto, há uma permanente tentação em eliminar tudo o que é antigo, para dar lugar a novas construções, muitas vezes desprovidas do eventual significado histórico das antigas. Por outro lado, todos os dias são demolidos edifícios cuja arquitetura é francamente mais interessante do que aqueles que lhes sucedem ou então são descaracterizados em muitos dos seus pormenores mais representativos, a pretexto de obras de manutenção e melhoramento.
Muitos proprietários, por falta de informação e mesmo fraca cultura cívica, autorizam medidas lamentáveis como o colocar portas e janelas de alumínio, persianas de plástico, acrescentar andares, sem terem a preocupação de os integrar na estética dos edifícios e destruir alguma das suas partes para conseguir um aspecto mais moderno. Tudo isto da forma mais simples possível e com menores gastos monetários. Não raras vezes, as próprias autarquias autorizam e até incentivam estas intervenções. São muitas vezes invocadas razões de segurança e isolamento térmico, bem como a necessidade de se optimizar os espaços.
Noutras situações, quando a autarquia ou o Estado detém a propriedade dos edifícios, os respectivos terrenos são vendidos como uma forma de se obterem mais fundos essenciais. Nestes casos, é essencial ter um conhecimento prévio dos projetos elaborados, pelos futuros novos detentores, para esses espaços, de forma a evitar o aparecimento de obras descontextualizadas do espaço circundante, ainda que funcionais para o fim a que se destinam.
Apesar de tudo, o processo de seleção de imóveis a salvaguardar prioritariamente, implica toda uma série de critérios específicos. A sua antiguidade e o facto de serem os únicos exemplos sobreviventes de um conjunto arquitetónico, que o tempo foi delapidando, é logo um factor que os faz sobressair entre os demais. Há também o seu aspecto exterior, esteticamente peculiar ou agradável à observação, o que desde logo os pode tornar num factor de atração turística, para além de serem representativos de períodos e acontecimentos históricos marcantes para a zona em que se situem.
Regra geral existe uma maior apetência pelos edifícios públicos e religiosos, derivado, sem dúvida, da superior qualidade de construção e maior durabilidade destes, relativamente ao restante tecido urbano, demasiado volátil e geralmente constituído por obras consideradas menores. É uma perspectiva redutora e facilitista, todavia muito praticada em diversos países incluindo Portugal. Dá-se a primazia a uma igreja ou catedral, esquecendo os outros edifícios que lhe são próximos.
Oxford.

É preciso não esquecer que um edifício vê o seu valor patrimonial reforçado, se for preservado o essencial do núcleo urbano onde ele se integra. Claro que esta regra, muito em voga nos dias que correm, não deve ser vista com total linearidade. Se neste caso, os edifícios circundantes ou anexos a um monumento, já forem um resultado da eliminação ou descaracterização dos originais, é certo que a sua preservação já é menos consensual. Ainda mais, se esses edifícios não forem representativos de um estilo esteticamente notável.
Rothenburg-ob-der-Tauber, Alemanha.

No entanto, vale a pena referir situações de grande sucesso, quer do ponto de vista da recuperação mais ou menos fiel ao original. Em Portugal, pode-se mencionar o caso das cidades de Évora, Guimarães, Óbidos e Valença do Minho, entre outros. No estrangeiro, há os exemplos das cidades de Bruges, Salamanca, Oxford, Praga, Pequim e Rothenburg-ob-der-Tauber, cujos centros urbanos são verdadeiras viagens ao passado.

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