segunda-feira, janeiro 28, 2008

A cultura material como património

Uma escultura grega, um vaso romano, uma roda de oleiro, um capote alentejano, uma rede de pesca, uma foice, uma sanfona. São estes alguns exemplos daquilo que constitui a cultura material. Constituem também património histórico e cultural, pois a eles está associado todo um conjunto de atividades artísticas e económicas, que tiveram a sua época de expressão num dado momento da história da Humanidade. São o que fica da memória de outros tempos.
Para além de todos os valores que representam, cada um destes objetos traz consigo também uma outra memória, imperceptível à primeira vista. São um testemunho da inspiração e da capacidade criativa daqueles que os fabricaram. Cidadãos anónimos, que o tempo de uma vida não bastou para serem devidamente famosos, para que o seu rosto ficasse impresso nos anais da história.
Ficam, no entanto, estas peças, artesanais ou mais aperfeiçoadas, como um prolongamento da sua mão, do seu génio, que os seus olhos viram formar-se aos poucos na forja da sua oficina ou foram inventados em noites sem dormir.
A necessidade de terem de ganhar o seu sustento, compeliu-os a enveredar por uma atividade económica onde a dureza das condições não tolheu a força das suas mãos. Daí que, para além de quem os criou, estas peças representam igualmente todos aqueles, que, de uma forma ou de outra as terão usado.
Dessa forma, todos estes objetos são antes de mais, património humano, antes de serem acolhidos sob a vasta designação de património cultural. De referir ainda que este tipo de património físico é do que mais sofre com a passagem do tempo, não só pela deterioração dos objetos, onde se inclui o seu eventual uso diário, bem como pelo progressivo desaparecimento de diversas atividades económicas que, por um lado, justifiquem a sua existência e lhes dêem utilidade e, por outro, são essenciais para o seu fabrico.

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