sábado, novembro 10, 2007

O Hospital de S. Lázaro - primeiro hospital de Coimbra






A localização precisa e a extensão do espaço ocupado pela antiga gafaria de Coimbra sempre foi algo envolta num certo mistério. Sabia-se que, como era hábito em estabelecimentos desta ordem, estaria localizada fora da cidade aí permanecendo durante séculos, até que o crescimento urbano durante o século XIX, levou o casario a se estender para lá da zona da Rua da Sofia, tornando esse local demasiado exposto. Por outro lado, a criação de unidades fabris próximas desse local terá sido um dos factores que terá contribuído para a desocupação desse lugar. É natural que este espaço tivesse sofrido diversas modificações estruturais no que respeita às construções e edifícios que o formavam, pois o processo de degradação dos mesmos era cíclico. No entanto, uma planta elaborada no principio do século XIX, vem ajudar a compreender qual a organização deste espaço tão pouco convidativo a estudiosos. A planta permite que se tenha uma ideia do local preciso do Hospital de S. Lázaro, da sua dimensão e do estado de conservação dos edifícios que o integravam. O estado de degradação de muitos era notório. Não raras vezes cabia aos próprios doentes a manutenção deste espaço. De referir que, apesar da tutela da Universidade, eles cultivavam muitas vezes os seus alimentos. Alguns dados cronológicos acerca do Hospital de S. Lázaro de Coimbra : 1209 - No seu testamento, D Sancho I lega a quantia de 10.000 morabitinos para que se fizesse uma gafaria em Coimbra. O abade de Alcobaça fica como o principal responsável pelo cumprimento desta ordem real. D. Sancho I decidiu ainda legar todo o seu espólio aos leprosos conimbricenses. 1210 - Institui-se a gafaria de Coimbra. 1329 - Regulamentação da gafaria de Coimbra. 1452 - Elevação da gafaria de Coimbra a “Hospital”, a partir de uma “declaração” de Afonso V. 1774 - O Hospital de S. Lázaro é entregue à tutela da Universidade, por decreto do rei D. José e intervenção do Marquês de Pombal. 1836/1837 - Desocupação definitiva das instalações do Hospital de S. Lázaro e transferência dos gafos para o edifício recém-desocupado de S. José dos Narianos, junto ao Jardim Botânico. Este, após nova saída dos lázaros, será entregue às Ursulinas, sendo, já neste século, destinado a hospital militar. 1851 - Nova transferência, desta vez para o antigo Colégio de S. Jerónimo, para onde seria depois ampliado o então Hospital Geral, criado no antigo Colégio das Artes. 1853 - Os doentes são transferidos definitivamente para o antigo Colégio das Ordens Militares, que passará a ser conhecido por “Hospital dos Lázaros”. Depois que foi abandonado, o antigo Hospital de S. Lázaro entrou num processo de degradação lenta. Foi negligenciado em todos os aspectos, tornando-se num espaço insalubre, perigoso e habitado clandestinamente por pessoas das mais variadas proveniências, o que só veio contribuir para um longo desprezo por parte das autoridades sanitárias. O facto de ter permanecido durante séculos como um local “fora de portas”, fez com que a vigilância policial aí fosse praticamente nula. 



A situação só mudou gradualmente a partir de meados do século XX, quando foi prolongada a Avenida Fernão de Magalhães, que iria atravessar os antigos terrenos da Ínsua dos Lázaros, tornando-se numa saída alternativa à Rua da Figueira da Foz. O egrégio Hospital de S. Lázaro foi permanecendo numa morte lenta que dura ainda hoje. Como já foi referido atrás, muito pouco resta das construções originais e o que é ainda possível observar, encontra-se descaracterizado ou num estado próximo do irrecuperável. Apesar de tudo, vão surgindo aqui e ali vozes a defender a revitalização deste espaço há muito votado ao abandono e à habitação clandestina. O seu valor vê-se francamente aumentado, se pensarmos que se trata do único sobrevivente de entre os hospitais da sua geração, de um tempo em que um hospital pouco ou nada tinha a ver com o que habitualmente se designa de “hospital”. Nesse tempo, a noção que se tinha de o que seria um hospital diferia em muito da actual. Era geralmente um espaço destinado a alojar todos aqueles que fossem portadores de moléstias graves, principalmente cujos sintomas visíveis causassem uma impressão desagradável e se desconfiasse da possibilidade de transmissão às pessoas sãs. Eram locais destinados mais a isolar do que a tratar quem tivesse a infelicidade de ser aí alojado. A aplicação de toda uma série de ordens camarárias, auxiliada pela terraplanagem do espaço em frente, com vista à instalação polémica de um parque de estacionamento para os funcionários das instituições sediadas nos edifícios próximos, levou à remoção das barracas que por lá existiam. No entanto, o espaço continua ao abandono e a degradar-se progressivamente, à espera de que lhe seja dado algum fim. As opiniões dividem-se entre os que defendem há muito a demolição definitiva das construções restantes e os que insistem na recuperação daquele espaço com fins museológicos.

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