quarta-feira, maio 05, 2021

Finlândia: Uma outra frente de guerra.

"Soldados" finlandeses. A sua condição real era mais equiparável à de legionários ou milicianos, dado o seu fraco armamento e um treino militar muito básico e, por isso deficitário.





Quando a 2ª Grande Guerra despoletou, em 1939, muitos referem como o único acontecimento bélico determinante dessa fase, a invasão da Polónia pela Alemanha nazi em 1 de Setembro desse mesmo ano. Na realidade, a partilha da Polónia no pacto Germano-Soviético que precipitou o desencadear de mais este conflito, seria também o primeiro passo para a formação de uma outra zona de conflito: a Finlândia. Este pequeno país, o mais oriental da zona a que se dá o nome de Escandinávia, havia estado, entre 1809 e 1917, sob o domínio do vasto império russo, após ter estado nas mãos da Suécia. Só obteria a sua verdadeira independência no ano de 1917, após a revolução de Outubro, que levaria à desagregação do império dos Czares. 
    
    Para a constituição desta nova nação, muito terá contribuído a conjuntura favorável da desagregação dos grandes impérios derrotados no conflito bélico de 1914-18 que então terminava. Na sequência da criação de novos países, a Finlândia viu reconhecida a sua independência e, após um breve período monárquico entre Outubro e Dezembro de 1918, veria instaurado o regime republicano daí em diante, tendo o seu primeiro presidente sido eleito logo no começo de 1919. Ainda no ano de 1918, a Finlândia seria palco de uma breve mas dura guerra civil, entre os “Brancos”, essencialmente constituídos pela classe burguesa e apoiados pela Alemanha Imperial, e os “Vermelhos”, vasta e heterogénea facção constituída por operários e trabalhadores rurais sem propriedade, grandemente apoiada pela então nova Rússia bolchevique. Os “Brancos” acabariam por vencer os “Vermelhos” num breve espaço de tempo, mas as sequelas políticas e sociais desta guerra civil perdurariam por décadas. Por outro lado, manter-se-ia um clima de relações muito tensas entre a Finlândia e a União Soviética pelos anos que se seguiriam. 
    
    Outro factor que aumentaria este clima de hostilidade mútua seria o facto de os governos eleitos desde a sua independência serem dominados por uma corrente ideológica anti-comunista. Esta situação manter-se-ia mais ou menos inalterada até o desencadear da 2ª Guerra Mundial. A partir de então, tendo a União Soviética, na sequência do acordo Germano-Soviético, invadido a metade Leste da Polónia, aquela começa a tentar entrar em negociações com a Finlândia. Sob o pretexto da necessidade de garantir a defesa das suas fronteiras ocidentais, devido a um então ainda não assumido receio relativamente ao expansionismo germânico, a União Soviética pretendia instalar bases militares em diversos locais estratégicos mais a Norte. O governo finlandês não concordaria com as exigências territoriais da União Soviética

Encontro entre as tropas finlandesas e elementos da imprensa estrangeira, a 29 de Novembro de 1939, na sequência de um incidente em Mainila, uma aldeia soviética localizada junto à fronteira com a Finlândia, ocorrido três dias antes, e que seria o "pretexto" para o desencadear das hostilidades por parte das forças soviéticas. Na verdade, o que tinha acontecido foi que as forças soviéticas, num eventual exercício com fogo de artilharia (e por um erro de cálculo? Ou seria afinal já algo previamente orquestrado?), acabaram por atingir esta povoação russa.
Sem hesitação, o lado soviético tratou de atribuir este "ato de agressão puramente deliberado" ao lado finlandês o qual, assim, passaria por "agressor", tendo este, obviamente, negado veementemente tal ação. Como era de esperar, todo o esforço diplomático empreendido pelo lado finlandês não teve sucesso, pois a União Soviética, logo de seguida, renunciaria unilateralmente ao "Pacto De Não-Agressão" com a Finlândia, que havia sido assinado em 1932.
Desta forma, o encontro com a imprensa estrangeira não evitaria o desencadear da subsequente "Guerra de Inverno" (1939-1940), mas revelar-se-ia oportuno para confirmar que a Finlândia, um dia depois (30 de Novembro de 1939), é que acabaria por ser vítima de um "ato de agressão puramente deliberado".

Explosão de um projétil soviético num aquartelamento finlandês.

    Na sequência disto, desenvolveu-se um clima de desconfiança mútua, que havia de culminar no desencadear de uma nova frente de batalha, a que se deu o nome de “Guerra de Inverno”, no dia 30 de Novembro de 1939. A partir desse dia, a União Soviética começa a invadir as zonas finlandesas que então requeria. Do outro lado, a nação finlandesa, militarmente pouco poderosa, mas profundamente conhecedora do seu terreno, decide iniciar uma defesa encarniçada das suas zonas fronteiriças de então.


                                 Tropas finlandesas.


Tanque soviético T- 26.

O que havia ocorrido na região russo-finlandesa durante o chamado "Drole de Guerre" ou "Guerra Falsa" (supostamente um período em que os combates haviam, temporariamente, cessado) (1939-1940), na verdade, era uma pequena mas muito expressiva amostra do que ocorreria, mais tarde, em quase todos os cenários de guerra até 1945. Isto é a prova de que o "Drole de Guerre", afinal, não passou de um mito.

Reportagem animada acerca da referida "Guerra de Inverno" (1939-1940), entre a Finlândia e a União Soviética.

Este breve, mas muito violento, conflito local estender-se-ia apenas até Março de 1940, quando o exausto e desorganizado exército finlandês, se vê forçado a aceitar um armistício com a União Soviética

A bandeira nacional finlandesa a "meia-haste" na sequência do armistício com a União Soviética, em 1940, o qual implicaria importantes perdas territoriais (11% do território original) por parte da Finlândia.

Na sequência deste acordo de paz, a Finlândia perderá diversas partes da sua zona mais oriental, desencadeando-se um dos primeiros movimentos de refugiados de todo o conflito mundial. 

Despojos dos refugiados finlandeses, provenientes das zonas orientais cedidas à União Soviética, na sequência do referido acordo de paz, em 1940.

Mais tarde, na sequência da invasão da União Soviética pelo 3º Reich, tendo-se iniciado a denominada "Guerra da Continuação" (1941-1944), a Finlândia recuperará, por breves anos, estas zonas estratégicas, mas depois seria forçada a abdicar delas, quando, em 1944, o Exército Vermelho avançou para Ocidente. 


Uma coluna militar soviética após uma emboscada por parte das forças finlandesas.

Soldados soviéticos prisioneiros, muitos deles feridos.

Soldados finlandeses em 1944, numa posição defensiva, envergando uniformes fornecidos pelo exército germânico.





Cartaz relativo aos bombardeamentos da aviação soviética, que haviam começado a 30 de Novembro de 1939. A cidade de Helsínquia seria, após o início da 2ª Guerra Mundial, a segunda cidade a sofrer sérios ataques aéreos, a seguir a Varsóvia. Esta situação causaria um imenso escândalo por entre as nações aliadas e seria a principal razão para a expulsão da União Soviética da Sociedade das Nações.

Reportagem relativa à expulsão da União Soviética da Sociedade das Nações, na sequência dos ataques aéreos sobre a Finlândia, em 1939.

Igreja bombardeada, localizada longe de Helsínquia.

Inspeção aos destroços de um avião soviético.

Tropas finlandesas observando os incêndios provocados pelos bombardeamentos da aviação soviética, em 1939.

Logo na tarde de 30 de Novembro de 1939, Helsínquia é alvo de um violento bombardeamento, por parte da União Soviética. Na imprensa da época, foi comparado ao que a Alemanha nazi havia feito a Varsóvia, poucos meses antes.









Mais uma vez, era a população civil quem mais sofria com os bombardeamentos...

Após 1940, a Finlândia atravessaria um período em que os bombardeamentos pela aviação soviética eram muito esporádicos. Mesmo assim, a ameaça mantinha-se no ar...




Após um período de relativa acalmia, os bombardeamentos sobre Helsínquia regressaram em força, em 1944.



O edifício principal da Universidade de Helsínquia em chamas, em 1944.

Os bombardeamentos aéreos foram mais destruidores em Fevereiro de 1944.



Mobiliário e outros objetos resgatados dos edifícios da Universidade de Helsínquia.








De referir que, quer durante a "Guerra de Inverno" de 1939-1940, quer na fase de 1944, quando a União Soviética já assumia uma nova posição atacante, a Finlândia sofreria alguns bombardeamentos aéreos, nomeadamente na sua capital Helsínquia. A intenção era, obviamente, forçar este país a uma rendição mais imediata. O que acabaria por acontecer em 1944.

Avião bombardeiro da Força Aérea Soviética  "Mitchel" de fabrico norte-americano.

Holofote pertencente à defesa antiaérea da zona metropolitana de Helsínquia.

Canhões antiaéreos em ação durante um bombardeamento noturno. Este modelo de canhões era da marca "Bofors", semelhantes a muitos usados pela Grã-Bretanha durante a Segunda Guerra Mundial. Aliás, o seu muito obsoleto armamento defensivo havia sido reforçado, desde 1939, graças a um movimento de solidariedade por parte de diversas nações europeias, que estavam conscientes da grande desvantagem, em termos de capacidade bélica, da Finlândia relativamente ao "gigante" soviético.

No entanto, devido ao facto de a força de bombardeiros soviética estar a "anos-luz" da capacidade e organização da anglo-americana, bem como das parcas defesas anti-aéreas finlandesas serem suficientes, os danos causados foram mínimos, quando comparados com o que aconteceria com outras cidades europeias durante a Segunda Guerra Mundial. De referir ainda, que os símbolos visíveis nos caças defensivos finlandeses, apesar das fortes semelhanças, não tinham nada que ver com o nazismo. Tratava-se apenas de um símbolo da Força Aérea Finlandesa, sem nenhum significado ideológico.Aviões de guerra finlandeses com o símbolo original da Força Aérea Finlandesa, igual ao da cruz suástica ou gamada germânica.

Apesar de tudo, quando terminou a 2ª Guerra Mundial, devido a estas grandes semelhanças e ao forte repúdio pela simbologia nazi que se lhe seguiu, a Finlândia teve de eliminar definitivamente este símbolo dos seus aviões.

O conde Carl Gustaf Mannerheim (1867-1951), comandante supremo das forças finlandesas. Seria, posteriormente (1944-1946), Presidente da Finlândia.



Não se pode afirmar que a Finlândia estivesse, de facto, em confronto com os Aliados. Aliás, este país nunca participaria nos grandes teatros de guerra, onde a Alemanha nazi e os seus aliados, incluindo a Itália e a Roménia fascistas, marcaram presença. A sua atuação foi mais localizada na sua região fronteiriça oriental. Acontece que, antes de 1944 e enquanto o Exército Vermelho se mantinha numa posição defensiva, antes de este, a partir de 1943, avançar imparável para Ocidente, este país havia mantido relações de proximidade com a Alemanha nazi. 

O conde Mannerheim e Adolf Hitler, aquando da visita deste à Finlândia.


Só em 1944 a Finlândia cessaria as relações de proximidade e aliança com o Eixo e se declararia apoiante do lado dos Aliados. Desta forma, quando se teve de render às forças soviéticas e como estas faziam parte do lado aliado, a Finlândia acabaria por ficar do lado dos derrotados. Apesar de não ter sofrido sanções como aconteceria com as forças do Eixo, a Finlândia perderia vastas zonas territoriais da sua parte oriental para a União Soviética, desta vez definitivamente, embora, em alguns círculos, esta questão nunca tenha ficado definitivamente encerrada. Há ainda quem defenda a "restituição" total destas terras à Finlândia.  Entre estas estava a maior parte uma das suas zonas mais históricas, conhecida pelo nome de Karelia, que teria sido uma fonte de inspiração para o compositor finlandês Jan Sibelius.
Jean Sibelius - "Karelia Suite - Intermezzo".

The Nice - "Intermezzo From The Karelia Suite (Jean Sibelius)" (1968). Interpretação genial da peça de Sibelius feita por esta banda britânica de rock "progressive", onde liderava o famoso e virtuoso teclista Keith Emerson (1944-2006), o qual, em 1970, fundaria o memorável grupo "Emerson, Lake & Palmer", com o vocalista, guitarrista e baixista Greg Lake (que antes, em 1969-1970, havia sido o vocalista principal da banda "King Crimson" esta liderada pelo génio Robert Fripp (1948-) e o baterista e percursionista Carl Palmer. 



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