segunda-feira, dezembro 31, 2007

Gram Parsons e os Byrds




Gram Parsons nasceu, na Florida, no Sul dos Estados Unidos da América em Novembro de 1946 numa família mais ou menos abastada, pelo menos por via materna. O seu nome de batismo era Ingram Cecil Connor, mas decidiu, pelo menos a nível artístico, adoptar o apelido do seu padrasto. Tendo desde muito cedo manifestado um grande talento musical, Gram Parsons aprendeu logo na infância a tocar vários instrumentos, nomeadamente o piano. Após um período de alguma estabilidade familiar, a sua família começou a desagregar-se em grande parte devido ao alcoolismo da mãe, que já havia ficado viúva na sequência do suicídio do seu primeiro marido. Na sequência destas vicissitudes, Gram Parsons começou a dedicar-se ao aperfeiçoamento dos seus dotes musicais. Tal como aconteceu com outros jovens americanos nessa segunda metade dos anos 50, ele desenvolveu um forte interesse pelo rock and roll, então uma novidade em todos os campos. Tendo este género musical como referência, participou em diversas bandas com pouco mais de 10 anos de idade, atuando em bares e clubes que eram propriedade do seu padrasto. Em paralelo, rendeu-se igualmente à música folk, com uma tradição muito marcada na zona onde cresceu, sem esquecer a componente fundamental da música negra. Ainda no final da adolescência, acabou dar a primazia a este género musical, claramente mais consensual do que os novos ritmos que a década de 1960 começava a trazer, nomeadamente provenientes do outro lado do Atlântico, por via de grupos como os Shadows e os Beatles. Foi sob a influência de outros grupos, já consagrados como o Kingston Trio e os Journeyman, que Gram Parsons constituiu a sua primeira banda profissional, os Shilos, em 1963




Esta banda atuava, com grande êxito, nos mais diversos locais, desde bares a auditórios de liceu. Entretanto, após uma breve permanência na Universidade, decide aprofundar a sua grande paixão pelo country, reunindo-se com outros músicos, também estudantes, da zona de Boston, formando uma banda chamada "The Like" em 1965

The Like (feat. Gram Parsons) - "Just Can't Take It Any More" (1965).

Originalmente, os elementos desta banda pretendiam investir num som mais próximo do jazz e do blues. Todavia devido ao facto de Gram Parsons ter revelado a sua, cada vez mais forte, intenção de prosseguir a sério como cantor folk, esta banda acabaria ainda nesse ano de 1965. Posteriormente, uma série de encontros com outros músicos seria crucial na decisão de Gram Parsons prosseguir em direção ao que seria designado por country-rock. Seria com alguns destes, que Parsons formaria uma nova banda, desta vez com maior destaque, denominada "International Submarine Band". Por volta de 1967, esta banda transfere-se para Los Angeles tendo, no ano a seguir (1968), lançado o excelente álbum, Safe at Home.

The International Submarine Band - "Safe At Home" (1968).

The International Submarine Band (feat. Gram Parsons) - "Folsom Prison Blues/That's All Right" (1968).

The International Submarine Band (feat. Gram Parsons) -"Luxury Liner"(1968).

The International Submarine Band (feat. Gram Parsons) -"Strong Boy"(1968). 

The International Submarine Band (feat. Gram Parsons) - "Do You Know How it Feels to Be Lonesome" (1968).

The International Submarine Band (feat. Gram Parsons) - "Knee Deep In The Blues" (1968).

Ainda que a música country constituísse o seu género de eleição,
Gram Parsons não era um músico de horizontes restritos a este género de regras muito próprias. Cultivava um interesse paralelo pelas novas correntes em que a música rock se havia ramificado e estava profundamente aberto a tentar combiná-las com um género musical aparentemente avesso a grandes mudanças como era o country. O cantor e compositor Gram Parsons interpretava uma música onde as sonoridades e as temáticas eram claramente do universo do Country, mas a sua atitude, apresentação e instrumentação devia muito mais ao rock. Aliás foi com ele que se começou a popularizar um, então, novo género, denominado “country rock”.


O próprio Gram Parsons personificou esta aparente dissonância country/rock: por um lado a sua música soava a uma versão eletrificada do country e as suas atuações estavam a ter uma aceitação e sucesso crescentes em círculos e zonas desde sempre seu terreno privilegiado, nomeadamente na região de Nashville; por outro, a sua forma de vestir, círculos de amizades, fãs e estilo de vida eram semelhantes, senão comuns, às estrelas do rock de então, incluindo mesmo nos aspetos negativos, como por exemplo, o uso de drogas cada vez mais pesadas. Em 1968, Gram Parsons integrou, temporariamente, os Byrds, por via de um dos seus membros, Chris Hillman. Neste período, o grupo não atravessava propriamente um período muito feliz.
The Byrds entre 1965 e 1966. Da esquerda para a direita: Chris Hillman, David Crosby, Michael Clarke, Jim (Roger) McGuinn e Gene Clark.

The Byrds - "Mr. Tambourine Man" (1965). Um tema original de Bob Dylan o qual, muito no seu começo, terá "apadrinhado os Byrds, tendo chegado a atuar com eles. Inicialmente, elementos da editora para onde os Byrds gravavam, não terão estado muito de acordo quanto a incluir um tema com tal "carga" no lado A do single prestes a ser lançado e que seria o "tema de apresentação" dos Byrds. Ponderaram seriamente a hipótese de passar o tema destinado para o lado B. "I Knew I'd Want You", para o lado A, apesar de parecer menos "comercial". Era, entre outras razões, devido ao facto do seu autor ser um certo Bob Dylan, já então considerado um indivíduo um tanto "engagé" e, por isso, olhado de esguelha pelos setores mais conservadores... Terá sido o jovem produtor Terry Melcher, quem acabou por fazer toda a força, para que este tema permanecesse no lado A, argumentando, entre outros aspetos, a necessidade de serem bem sucedidos neste primeiro "de facto" lançamento dos Byrds. Não se enganou: o "Mr. Tambourine Man" atingiu o 1º lugar. Claro que sempre ouve outros que não ficaram convencidos... Mesmo assim, voltou-se a investir, temporariamente, em composições de Bob Dylan como "fórmula de sucesso", quer da parte dos Byrds, quer de outros grupos musicais, inclusive do outro lado do Atlântico. Aliás, foi a partir destas versões, muitas delas êxitos incontestados, que muitos "chegaram" à obra de Bob Dylan. Mesmo aqueles que não se sentiram particularmente cativados, talvez até desiludidos, pelas versões, um tanto quanto "básicas" e "pouco produzidas" do futuro Prémio Nobel, nunca mais lhe ficaram completamente indiferentes. Terá sido para, também, tentar chegar a estes ouvintes mais "dinâmicos" e onde os "êxitos comerciais" proliferavam, que Bob Dylan decidiu, mais cedo do que muitos julgaram, sair do registo algo "espartilhante" do puro folk e aventurar-se por outras paragens, surpreendendo tudo e todos, tal como, no fundo, acabaria por ir fazendo, até à atualidade. Na altura, o "mestre" foi chamado de "traidor" e "vendido" ao sucesso fácil... Ver Bob Dylan a empunhar uma guitarra-elétrica parecia, então (1965) quase um contra-senso... 
 Desde logo, as harmonias vocais que faziam grande parte do então inovador, "som Byrds" começavam a dar que falar e a mudar o som dominante da música de meados da década de 1960. A voz solo e inconfundível, como em muitos outros temas dos Byrds, estava a cargo de Jim McGuinn.

The Byrds - "All I Really Want To Do" (1965). Outra cover bem conseguida de um tema original de Bob Dylan e que foi o 2º grande êxito dos Byrds. O som das harmonias vocais estava, mais uma vez, ao nível da excelência e tornar-se-ia, desde logo, uma das imagens de marca dos Byrds. Muitos outros grupos musicais, daquele tempo, terão tentado emular esta capacidade de combinação de vozes. Alguns conseguiram ir ainda mais longe e fizeram disso a principal razão do seu sucesso como, por exemplo, os "The Association" famosos, entre outros temas, pelo inesquecível "Along Comes Mary" de 1966.


The Byrds - "Chimes Of Freedom" (1965). Mais uma cover de um tema original de Bob Dylan. Para muitos, talvez, a "jóia" escondida deste LP, visto que aparece, aparentemente, secundarizado, no seu lado B, quase a encerrar. Aliás foi, de facto, o último tema a ser gravado, cronologicamente, para este LP. Conta-se que a sua gravação não foi, de início, muito pacífica... A voz principal, tal como havia sido previamente combinado, coube a David Crosby. Aconteceu que, devido a não se sabe que razão, à última hora David Crosby recusou-se a cantá-la. Talvez uma das suas, cada vez mais frequentes, afirmações da sua personalidade muito forte, e que lhe traria, no seio deste grupo, alguns problemas, mais tarde. Apesar do seu aspeto algo bonacheirão, David Crosby é um "osso duro de roer". As coisas chegaram a tal ponto que, David Crosby chegou querer sair do estúdio para não mais voltar... Num assomo de fúria, quase imprevisível, um dos produtores do álbum que se estava a finalizar, barrou-lhe a passagem, dizendo-lhe que só sairia dali "sobre o seu cadáver" e que ele iria cantar no "Chimes Of Freedom" a bem ou a mal... Segundo testemunhas daquela ocorrência, David Crosby não teve outra solução senão conformar-se. Conta-se que ele terá mesmo chorado por uns breves instantes, antes de respirar fundo e pegar na sua guitarra de forma decidida e colocando-se em frente do microfone, pronto para cantar... Há quem diga que foi aquele momentâneo estado de catarse que o levou a fazer uma interpretação memorável e irrepetível desta canção!


The Byrds - "I Knew I'd Want You" (1965). Ao se escutar os outros três temas, pode-se ficar com a sensação de que o sucesso dos Byrds se deveu muito ao talento de escritor de canções de Bob Dylan, que também, no começo, os "apadrinhava". Este tema "I Knew I'd Want You" é a prova disso. Se não tivesse sido a sua versão de Mr. Tambourine Man, teria sido esta canção, da autoria do membro Gene Clark, o "tema de apresentação" dos Byrds, visto que, como já referi antes havia, da parte de diversos elementos da respetiva editora algumas reservas quanto usar o Mr. Tambourine Man, de um certo Bob Dylan, que muitos olhavam "de lado", como o tema escolhido para o lado A do seu primeiro single.


Tendo atingido uma rápida consagração em 1965, então apadrinhados por Bob Dylan e sob os auspícios de um êxito imediato com uma muito bem conseguida versão de um tema da autoria deste, Mr. Tambourine Man, os Byrds estavam lentamente a decair. 

The Byrds - "Turn! Turn! Turn! (To Everything There Is A Season)" (1965). Novamente, os Byrds conseguem ser a verdadeira "resposta americana", à invasão britânica, encabeçada pelos Beatles, que os influenciaram, nomeadamente no som das guitarras, mas que eles também influenciariam, como se veio a verificar no seu som a partir de 1965. O tema "If I Needed Someone", composto e interpretado por George Harrison, que aparecia no seu álbum de viragem "Rubber Soul", é um exemplo dessa influência do "som Byrds". A própria guitarra de eleição de Jim McGuinn era uma "Rickenbacker", tal como George Harrison usava.

The Byrds - "Set You Free This Time" (1965). Tema da autoria de Gene Clark, e um dos poucos temas onde ele teve a oportunidade de "brilhar" a solo. Tal foi o reconhecimento da sua qualidade que, contrariamente ao que estava inicialmente combinado, se editou mais um single com esta canção no lado A. A importância de Gene Clark nos Byrds crescia a olhos vistos... Há quem diga que terá sido esta a razão central para a sua saída dos Byrds logo em 1966. Jim McGuinn, que quis, logo desde o começo, fazer dos Byrds a sua banda e, desta forma, o seu veículo de expressão por excelência. Não gostava que outros lhe fizessem "sombra". Para todos os efeitos, ele era "o líder" e queria ser o centro das atenções. Por seu turno, Gene Clark já se afirmava como um escritor de canções a considerar. Terá sido isto que o fará "não ficar perdido" quando saiu dos Byrds, tendo mesmo conquistado um sólido núcleo de apreciadores e uma carreira que só não foi mais bem sucedida devido aos seus excessos pessoais que, logo, não tardariam a se manifestar numa saúde problemática, apesar daquela aparente robustez inicial. Gene Clark envelheceria muito rapidamente e terminaria o seu trajeto muito acidentado, doente e cansado da vida, aos 46 anos, em 1991. Dois anos depois, em 1993, e devido a razões similares, também faleceria o baterista fundador dos Byrds, Michael Clarke, aos 47 anos, profundamente arrependido dos excessos do seu passado, tendo ainda chegado a fazer aparições televisivas com o intuito de advertir os jovens para as consequências de uma "vida desregrada".

O grupo continuava a ser bem sucedido e os seus espetáculos bastante concorridos. Mas, no horizonte, havia nuvens que pareciam anunciar um esvaziamento da fórmula e consequente estagnação, como vinha acontecendo com outros grupos, numa conjuntura em que tudo parecia mudar a uma rapidez estonteante. Esta situação arrastava-se desde a saída de Gene Clark, um dos seus elementos fundadores, no ano de 1966, após dois álbuns consistentes. Quando ele saiu, durante algum tempo, julgava-se que isso seria o começo do fim dos Byrds.

The Byrds - "Eight Miles High" (1966). Na altura, este tema foi considerado o zénite da criação artística dos Byrds. Houve, como aconteceu em outros casos, a suposição de haver substâncias ilícitas a proliferar no seio do grupo, coisa que, claro está, eles negaram peremptoriamente. Jim McGuinn terá dito que a principal fonte de inspiração para este tema, foi "um voo de avião" numa das suas primeiras digressões... Gene Clark saiu do grupo quando este single estava a ser lançado. Houve que dissesse que foi por "medo de voar", o que seria cada vez mais exigido nas previstas futuras digressões dos Byrds. Na verdade, a personalidade de Gene Clark e as suas eventuais "idiossincrasias", estavam a crescer "demasiado" para os Byrds de Jim McGuinn...

Nessa altura, Jim Joseph McGuinn, o cantor principal, decide assumir definitivamente a liderança do grupo, embora esta tenha vindo a ser cada vez mais contestada pelos outros membros. Neste ano de 1966, Jim McGuinn tomando as rédeas da direcção musical do grupo, decide dar um passo ousado tentando criar aquilo que ele designava de “space rock”. As suas intenções pretenderam obter expressão com o lançamento do LP "Fifth Dimension" em meados de 1966.

The Byrds - "5D (Fifth Dimension)" (1966).

The Byrds - "Mr. Spaceman" (1966).

The Byrds - "I Come And Stand At Every Door" (1966). Um forte libelo contra a guerra... 

I come and stand at every door
But no one hears my silent tread
I knock and yet remain unseen
For I am dead, for I am dead
I'm only seven although I died
In Hiroshima long ago
I'm seven now as I was then
When children die they do not grow
My hair was scorched by swirling flame
My eyes grew dim, my eyes grew blind
Death came and turned my bones to dust
And that was scattered by the wind
I need no fruit, I need no rice
I need no sweets nor even bread
I ask for nothing for myself
For I am dead, for I am dead
All that I ask is that for peace
You fight today, you fight today
So that the children of this world
May live and grow and laugh and play

Mantendo a sonoridade básica, os temas das suas canções começam a versar a conquista do espaço, a existência de outras galáxias e o futuro da tecnologia, ainda que a criação de muito destas outras “dimensões”, tenham tido por trás o crescente apoio de certas “substâncias”, como por exemplo, os alucinogénios, então muito em uso. Associado a isto, os Byrds aproximam-se, como outros grupos, do psicadelismo e dos encantos orientais, em especial pelos sons indianos. Foi um período interessante, em que eles produziram uma das suas maiores obras-primas, Younger Than Yesterday, álbum saído no começo de 1967. A produção ficou a cargo de Gary Usher (1938-1990).

The Byrds - "So You Want To Be A Rock 'n' Roll Star" (1966-1967).

The Byrds - "Have You Seen Her Face" (1966-1967).

The Byrds - "C.T.A.-102" (1966-1967). Um dos temas onde as obsessões de McGuinn com "outras dimensões" mais se exprimiu. Neste tema, recorrendo a técnicas de estúdio então inovadoras, os Byrds interpretam uma canção ligeira e descontraída, que depois para surpresa dos ouvintes, acaba abruptamente. Logo de seguida aproxima-se um som estranho, "vindo de outras dimensões", e ouve-se, distorcida e mal captada, uma repetição do tema que se acabou de ouvir, seguida do som de umas vozes de gravação acelerada a dizer frases e palavras desconexas e sem sentido . Supostamente, esta canção dos Byrds, estaria a ser escutada pela tripulação de uma nave extra-terrestre... 

The Byrds - "Renaissance Fair" (1966-1967). Canção da autoria de David Crosby. Segundo este, o elemento inspirador para este tema foram umas "feiras" temáticas que se realizavam algures, onde, entre outros aspetos, todos se vestiam de acordo com a época encenada, neste caso a "Renascença". Combinadas, claro está com elementos provenientes das mais distantes paragens da imaginação. "I Think That Maybe I'm Dreaming". 
Em termos também instrumentais, é uma canção inovadora no repertório dos Byrds. Chris Hillman executa o baixo elétrico de uma forma diferente do que era habitual - o seu som agora parece ser o de um veículo onde todo o resto da canção é "transportado". Algo como um "walking bass" e que é um dos detalhes mais associados ao álbum dos Byrds "Younger Than Yesterday". A utilização de um oboé, num tema dos Byrds, faz aqui a sua estreia e é um outro elemento de destaque. Aliás, ao fazerem-no, os Byrds revelam estar plenamente a par dos sons que começavam a proliferar na música corrente, nomeadamente uma progressiva aproximação do mundo Rock à Música Clássica, que já vinha ganhando expressão, ainda que de uma forma discreta, pelo menos desde 1965. Tenha-se em conta que este disco ("Younger Than Yesterday") foi gravado ainda em 1966 e que, quando foi lançado, o ano de 1967, que se revelaria da forma que muitos sabem, estava apenas a começar (6 de Janeiro). 

The Byrds - "Time Between" (1966-1967). Chris Hillman começava a afirmar-se também como um compositor a não ignorar. A sua vertente preferencial, mais do que Crosby e McGuinn, era sobretudo o Country.

The Byrds - "Everybody's Been Burned" (1966-1967). As composições de David Crosby estavam-se a revelar fundamentais para a evolução do som dos Byrds. Este tipo de composições, levou o repertório dos Byrds para zonas até então inexploradas. Outro tema deste disco ("Younger Than Yesterday") onde David Crosby ia ainda mais longe era o muito sugestivo "Mind Gardens". 
The Byrds - "Mind Gardens" (1966-1967). Reparar no efeito da guitarra em "backwards", mais no final da canção.

David Crosby por volta de 1966.

As "viagens" pela imaginação de Crosby, ajudadas ou não por certas substâncias, não colidiam com a busca de "outras dimensões" de Jim J. McGuinn, que se estendiam mesmo ao seu campo pessoal... Este, na sequência de ter entrado em contacto com outras sabedorias, culturas e mesmo religiões, achou por bem fazer uma pequena mudança no seu próprio nome, pelo menos, a nível artístico. Seria aqui que ele passaria a responder pelo nome de "Roger" McGuinn.

The Byrds - "Thoughts And Words" (1966-1967). Uma das primeiras composições de Chris Hillman, onde se começa a revelar uma certa complexidade lírica e instrumental. Por vezes, fica-se com a vaga sensação de haver duas canções numa só. Mais do que uma vez, quando questionado acerca do que é que se estaria a referir neste tema "Toughts And Words", Hillman era muito lacónico e respondia que tudo não seria mais do que isto: "pensamentos e palavras".

The Byrds - "My Back Pages" (alternate version) (1966-1967). Esta é a versão que eu, pessoalmente, prefiro deste tema. É mais uma cover de um original de Bob Dylan. Entre outros aspetos, este tema ficou famoso pela seguinte passagem: "But I was so much older then/I'm younger than that now". Aliás, o título do seminal álbum dos Byrds "Younger Than Yesterday", deriva diretamente dessas geniais palavras. Em termos instrumentais, a versão que aqui se apresenta é, para mim, a mais completa. O efeito "leslie" da guitarra é memorável! Quando estavam a concluir a montagem final deste LP, duas versões do "My Back Pages" se apresentavam num perfeito empate. Qual integraria o alinhamento final? Optou-se por uma com um som mais simples e acústico, que é a que muitos conhecem. 

The Byrds - "Old John Robertson" (single version) (1967). Esta é também a minha versão preferida deste tema, gravado e lançado em meados de 1967. Quando estava a escutar este tema, pela primeira vez (nos começos de 1997), comecei por achá-lo um tanto desinteressante e banal. Eis que, quando eu me preparava para suspender a audição do respetivo CD, onde este tema surgia como um, aparentemente, muito secundário "tema bónus", sou surpreendido por uma inesperada sequência instrumental de cordas, do melhor que já tinha ouvido... A partir daqui, quando este sublime momento de paragem foi interrompido pelo retomar da tal balada, inicialmente monótona, eu já estava a olhá-la por um prisma completamente diferente... A partir daqui, tornou-se um dos meus temas preferidos dos Byrds. Aprendi também a reparar mais nos lados B dos singles, normalmente considerados "menos interessantes" do que os lados A. Aliás, do lado A deste single, "Lady Friend", já nem me lembro!

Por outro lado, as relações entre os seus membros deixavam transparecer uma certa conflitualidade, nomeadamente no que respeita à direção artística. Foi na sequência disto que se deu o despedimento de David Crosby, outro elemento-chave dos Byrds, o que deixaria Roger McGuinn cada vez mais isolado na liderança do agora “seu” grupo, em paralelo com a progressiva frustração e subsequente afastamento dos outros elementos. 

The Byrds - "Old John Robertson" (LP version) (1967-1968). Esta é a versão deste tema que muitos conhecerão melhor. A ponte instrumental das cordas, que era a "jóia" do tema antes lançado em single, aparece aqui sujeita a um efeito de distorção, denominado "phasing".

The Byrds - "Goin' Back" (1967-1968). Na gravação deste tema, não participaram nem David Crosby, que estava fortemente contra a sua inclusão no LP final, nem o baterista Michael Clarke. A bateria ficou, apesar de tudo, a cargo de um dos bateristas de estúdio mais exímios e, por isso, mais requisitados de então para "session man": Jim Gordon. A sua mestria permitiu encerrar o tema com "chave de ouro" ao executar aquele famoso "drum roll". Segundo se disse, o ex-elemento fundador Gene Clark, havia-se reconciliado, na altura, com os seus antigos colegas de banda e chegou a ponderar muito seriamente regressar aos Byrds. David Crosby é entretanto expulso do grupo, devido a diversas incompatibilidades pessoais e artísticas que já se vinham arrastando há algum tempo, e Gene Clark é acolhido para o substituir. Chegaria a participar em espetáculos ao vivo e em gravações de estúdio destinadas para o, então, futuro álbum "The Notorious Byrd Brothers", com destaque para este tema "Goin' Back". Todavia, ao fim de pouco tempo, logo em 1968, acabou por se abandonar esta ideia e Gene Clark regressaria à sua carreira a solo.

The Byrds - "Wasn't Born To Follow". (1967-1968). Balada falsamente inocente e despretensiosa, onde o ouvinte, a determinada altura é surpreendido por uma repentina e violenta distorção sonora, chamada "phasing", a qual, paradoxalmente, é abandonada e parece ser "esquecida" no final do tema, como se nada tivesse acontecido.

The Byrds - "Artificial Energy" (1967-1968). Este tema foi escolhido para "abrir" o álbum "The Notorious Byrd Brothers", que eles se encontravam a gravar nestes últimos meses de 1967. Por esta altura, o experimentalismo e a criação "sem limites", eram duas "palavras de ordem" fundamentais. O produtor Gary Usher teve aqui um papel fundamental na elaboração dos intricados arranjos sonoros e estava em plena consonância com os membros dos Byrds, com destaque para Roger Mc Guinn. Entre outros detalhes, estes efeitos incluíam uma orquestra de metais com o som fortemente sujeito ao denominado "phasing", partes vocais ondulantes e um piano com o som tratado de forma extrema em termos de distorção. Este tema constitui um brilhante testamento ao amor dos Byrds pela experimentação, então na sua fase cimeira. Mesmo assim, Roger Mc Guinn não deixou de fazer críticas ao resultado final. "Demos cabo da parte vocal!!! Fizemo-lo eletronicamente. Procurávamos um som mais "hard", como nunca tínhamos conseguido até então. Gravámos as partes vocais e depois recorremos a uma engenhoca sonora de um certo gajo que, mediante uma quantia módica, nos permitiu utilizar. Instalado no sistema sonoro do estúdio, este aparelho distorceu as nossas vozes. No entanto, o resultado final foi que estas ficaram com um tom mais à "Pato Donald" do que nós inicialmente desejávamos!" O próprio tema da canção versava à volta dos efeitos provocados por "certas substâncias" e o título "Artificial Energy" resultou de uma sugestão casual do baterista Michael Clarke. 

The Byrds - "Moog Raga" (1967-1968). Roger Mc Guinn havia ficado entusiasmado com um, então, inovador instrumento de teclado inventado e lançado no mercado pelo engenheiro Robert Moog, havia poucos anos. Como já referi atrás, por esta altura (1967-1968), os Byrds atravessavam a sua fase mais experimental e criativa. Roger Mc Guinn teve a original ideia de gravar um disco completamente centrado à volta do sintetizador Moog. Neste "Moog Raga" ele pretendia efetuar uma "fusão" entre a música tradicional indiana e a, então, ultramoderna tecnologia dos sintetizadores. O tema permite ter uma ideia do que seria um tal disco, tivesse Roger Mc Guinn seguido avante com o seu "projeto"... Claro que, logo numa primeira audição, se deduziu que um disco inteiro feito de peças desta natureza seria, no mínimo, de difícil adesão por parte do público de então e, logo, muito pouco comercial. Sendo assim, Roger Mc Guinn foi realista e decidiu abandonar este "projeto". Aliás, na minha opinião, este tema "chega e sobra"!...

The Byrds - "Bound To Fall (instrumental)" (1967-1968). Versão experimental de um tema que Chris Hillman acabaria por apresentar a Stephen Stills ("Buffalo Springfield" e "C., S., N., & Y."), para inclusão no seu álbum duplo "Manassas", de 1972.

Foi após o ousado e excêntrico Notorious Byrd Brothers, lançado nos primeiros dias de 1968, e também produzido por Gary Usher, que o grupo se viu num impasse e sem futuro definido, sem falar na saída do baterista Michael Clarke, outro elemento fundador. Reduzido ao magro núcleo Roger McGuinn-Chris Hillman, houve necessidade de encontrar novos elementos. Foi aqui que entrou Gram Parsons.
The Byrds - "Mr. Spaceman" (versão de 1968, já com Gram Parsons presente no alinhamento da banda).Com a banda mais ou menos composta, Roger McGuinn decide enveredar por mais um projeto musical para um novo disco, que pretendia ser uma reunião de vários estilos musicais, incluindo o Country. Era um novo renascimento dos Byrds. No entanto, ao tomar contacto com o background musical de Gram Parsons, Roger McGuinn decidiu reformular totalmente o seu projeto musical. O álbum seria dominado predominantemente pelo Country, ou melhor, por esse género musical que então surgia e que se designou, em definitivo, por “Country-Rock”. Numa fase de exploração de novos géneros musicais, McGuinn empenha-se a fundo em assumir o papel de um dos primeiros divulgadores dessa inovadora corrente musical, ao lado do seu “mentor” Gram Parsons. O próprio nome do álbum era descaradamente Country: Sweetheart Of The Rodeo.
Originalmente, Roger McGuinn pretendeu dar a liderança vocal à sua nova “aquisição” Gram Parsons, tarefa que este cumpriu magistralmente em quase todos os temas da maquete projetada. De facto, Sweetheart Of The Rodeo, foi o disco que verdadeiramente lançou a popularidade de Gram Parsons e onde este teve muitos dos seus melhores temas de toda a sua carreira, precisamente por se encontrar na sua melhor fase, em termos pessoais e criativos. O problema surgiu no final das sessões de gravação quando vêm acima razões contratuais, que impediam Gram Parsons de surgir como o “lead singer” neste disco. Na verdade, Gram Parsons nunca foi verdadeiramente membro dos Byrds, era apenas um músico convidado “assalariado”.
Gram Parsons e Jim Roger McGuinn.








Desta forma, as partes vocais de Gram Parsons de diversas canções tiveram de ser regravadas por Roger McGuinn que, apesar de tudo, conseguiu, discretamente, imitar o estilo vocal e o sotaque sulista daquele. Felizmente, que novas edições recentes em CD, conseguiram recuperar as gravações que, de pleno direito, deveriam estar incluídas no álbum original, apesar de surgirem como "temas bónus". Um exemplo perfeito dessas versões onde a voz de Gram Parsons surge como a mais correta é "You're Still On My Mind".

The Byrds com Gram Parsons - "You're Still On My Mind" (1968Sublime!!! Esta versão era a que devia ter sido lançada no LP original!

Este disco é o único que documenta a breve passagem e a influência de Gram Parsons nos Byrds e o primeiro verdadeiro de Country-Rock a obter grande popularidade. Representou também um novo fôlego para os Byrds, apesar de se tratar de um caso à parte na discografia deste grupo.
Logo depois do lançamento deste disco, Gram Parsons saiu do grupo, seguido, no espaço de alguns meses, por Chris Hillman, com o qual formaria o grupo country rockThe Flying Burritto Brothers”.
Gram Parsons e Chris Hillman.

The Flying Burritto Brothers com Gram Parsons (em baixo, à esquerda).




Depois desta nova experiência de grupo, Gram Parsons iniciou verdadeiramente uma carreira a solo, intervalada aqui e ali pela sua participação em gravações de estúdio e espetáculos ao vivo com outros grupos. No entanto, o momentum e a espontaneidade que foram conseguidos durante as gravações de Sweetheart Of The Rodeo não mais se repetiriam. Basta referir que, nesta fase, Gram Parsons retomara uma vida pessoal algo errática, cada vez mais plena em doses astronómicas de álcool e drogas duras.

Edição conjunta dos dois únicos LPs a solo de Gram Parsons. O primeiro foi lançado em 1973, ainda em vida. O segundo foi lançado postumamente em 1974, tendo neste participado Linda Ronstadt e, tal como no anterior, Emmylou Harris. O LP de 1974, estava para se titular "Sleepless Nights", título de um tema inicialmente pensado para integrar este álbum, tal como Gram Parsons planeava. A sua morte prematura, levou a que os planos iniciais se alterassem. O tema referido acabou por não integrar o LP final e escolheu-se o seu título baseado numa canção pertencente ao alinhamento definitivo "Return Of The Grievous Angel".

Gram Parsons, pouco antes do seu falecimento, e Keith Richards, à direita, em 1973.

Nesta fase, conviveu, com regularidade, com membros de outros grupos, nomeadamente Keith Richards dos Rolling Stones. Ainda lançaria alguns trabalhos a solo, para além de incessantes digressões, numa espiral cada vez mais perigosa, que terminaria, abruptamente e em condições misteriosas, fala-se em overdose, em Setembro de 1973, quando se encontrava num processo de divórcio algo agitado. 

Em suma, basta referir que Gram Parsons e outros artistas como Emmylou Harris, contribuíram para a renovação da country music e por despertar o interesse das gerações mais jovens por um género que, em tempos, parecia algo parado no tempo.
Gram Parsons e Emmylou Harris.

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