Este livro “Ouvrez les yeux”, foi lançado em meados da década de 90 e reveste-se, apesar de tudo, de um carácter muito actual nos tempos que correm. Trata-se de um documento algo premonitório relativamente à década que se seguiria e onde a actual “crise” mundial se começou a afirmar, apesar das raízes desta serem bastante mais remotas do que muitos julgam.
Os anos 80 ainda não eram muito distantes e os anos 90 pareciam ainda estar a colher os frutos de esses anos onde, acima de tudo, se privilegiou, até ao extremo, o lucro fácil e a todo o custo. Os defensores das novas correntes do capitalismo mais abertamente descarado, em face dos resultados mais imediatos e muito propalados pelos mass-média de então, pareciam ter os ventos a seu favor e estar a conseguir a tão desejada legitimação dos seus métodos de pensar e agir. De facto, os países dominantes estavam a viver num período de relativa prosperidade o qual, por sua vez, gerou, nos espíritos de muitos ocidentais, um sentimento de optimismo desenfreado o qual, por sua vez, não mais fez do que consolidar ainda mais a chamada “sociedade de consumo”.
Este clima de optimismo, que se foi tentando manter a todo custo até se transformar num completo delírio, parecia fazer crer no fim dos grandes males que afligiam a Humanidade, a começar pela pobreza e tudo o que vinha na sua esteira, nomeadamente a guerra. Os E.U.A. viviam em pleno a “Era Clinton”, a Tecnologia e a Ciência pareciam imparáveis no seu avanço e os problemas que se viviam então, nomeadamente, nos antigos países-membros do extinto Pacto de Varsóvia, julgavam-se circunstanciais e passageiros e previa-se que a chegada a estes do dito “modelo ocidental” de desenvolvimento, tudo resolveria gradualmente. Na verdade, estava-se a alargar ainda mais o grande fosso já existente entre as denominadas “sociedades ocidentais” e o resto do Mundo. O que René Dumont faz, acima de tudo, é chamar a atenção não só para esse “resto do Mundo”, aonde não chegavam os efeitos dessa suposta “Idade do Ouro” em ascensão, como também para o interior dos ditos “países desenvolvidos” onde extensas faixas da população, remetidas para a sombra pelas luzes da “festa” dominante, se viam gradualmente apartadas das condições essenciais para se viver de uma forma sustentável e digna. Recorrendo a dados, então, actuais, o autor encontra antes as sementes de uma situação futura de crescente instabilidade e insustentabilidade, nos mais variados aspectos, cujos frutos, afinal, é o que se está a colher nos tempos que correm. À maneira de alguém que os mais cépticos poderiam chamar de “desmancha-prazeres”, o autor anuncia, em plena “festa”, o fim da mesma.
Apesar das previsões nada animadoras, René Dumont, pretende também salientar que nem tudo está perdido e faz, dentro do que é possível, todo um conjunto de soluções ou, melhor dizendo, algumas formas de conseguir atenuar os eventuais desastres que, de olhos mais atentos, já era possível vislumbrar no horizonte. O essencial destas ainda está por, sequer, começar a ser posto em prática, apesar de, cada vez mais, se ouvirem, já há algum tempo, vozes contra a corrente a afirmar a necessidade de fazer algo nesse sentido.
1 comentário:
Foi só 1 ano a esperar pelas tuas postagens.
Mas valeu a pena.
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