sábado, dezembro 25, 2021

Operários De Natal - Vários artistas

 

Vamos agora fazer uma breve viagem ao imaginário musical natalício de 1976 a 1978. No Natal de 1979, se bem me lembro, estas músicas já estavam a sair de circulação. Entrados nos anos 80, estas canções pareciam ter perdido toda a sua força. Graças a uma cassete que encontrei esquecida na casa onde então morava, em Janeiro de 1984, andava eu pelos 11 anos, sou de novo levado de volta a essa autêntica "bolha" musical. Durante uns meses, estive entusiasmado com essas músicas, antecedidas pela voz "muito maternal" da já falecida Maria Helena d'Eça Leal. Era mais um viajar, como ainda hoje, às vezes, faço pela minha memória e pelas coisas que lhe estão associadas. Acontece que, nessa altura, eu já era um pré-adolescente mais interessado em música mais adulta e fartei-me dessa cassete envelhecida pelo tempo... E, assim, essa cassete voltou a ficar esquecida lá num canto dessa casa onde já não moro. Passaram anos, mudei de casa, já era homem feito. Passaram mais uns tantos e a tal cassete desapareceu não sei para onde... Era um exemplar de 60 minutos, 30 minutos de cada lado. No lado A, estava uma gravação deste disco valiosíssimo dos "Operários De Natal", que nunca foi, nem decerto será, lançado em CD. No lado B, estava gravado um outro disco de Natal de uma toada claramente diferente daquela. Claramente mais "conservador". Tinha 12 músicas, metade cantadas, metade instrumentais. Um dos instrumentais, ouviu-se com frequência, durante anos, na televisão e na rádio, acho que associada a anúncios publicitários natalícios. Quando essa cassete me chegou às mãos nesse tal mês de Janeiro de 1984, esse instrumental já era uma coisa do passado. Durante anos, foi para mim uma gravação enigmática. Cheguei a suspeitar de que se tratasse dum disco de Natal saído antes do 25 de Abril de 1974. A parte vocal, à exceção do tema de abertura do lado A ("Neste Natal"), ficava a cargo de um coro feminino, de toada "muito beata", que podia muito bem ser constituído por freiras... Já navegando na Internet, fiquei a saber que era um LP "saído por volta de 1977", com a direção musical do saudoso maestro e pianista Shegundo Galarzza. Como "bónus", aparecem as canções desse disco na sua ordem original. Pode ser que ajude, um pouco, a desvendar o mistério...


Operários De Natal (solista: Carlos Mendes) - "Os Pais" (1976).

Operários De Natal (solista: Paulo De Carvalho) - "O Lenhador" (1976).

Operários De Natal (solistas: Fernando Tordo e Ana Bola) - "A Costureira" (1976).


Operários De Natal (solistas: Fernando TordoCarlos Mendes e Paulo de Carvalho) - "O Carteiro" (1976).

Operários De Natal (solistas: Fernando Tordo e Carlos Mendes/"Palhaço": Júlio César) - "Os Palhaços" (1976).

Sim! O Júlio César, que introduz a última canção, é este mesmo!


Operários De Natal (solista: Carlos Mendes) - "O Pasteleiro" (1976).

Operários De Natal (solista: Paulo de Carvalho) - "Os Vendedores" (1976). De todas as canções deste disco, esta é a mais profunda e aquela que, verdadeiramente, me ficou cá dentro... Naquele tempo, era, ironicamente, a menos atraente e a "mais chata" de todas!

Operários De Natal (solistas: Fernando TordoPaulo de Carvalho e Carlos Mendes) - "Os Amigos" (1976). Este tema acabou por ser, naquele tempo, o "hit" deste LP. Foi a partir da popularidade desta canção que, no ano a seguir (1977), se formou, para o Festival RTP da Canção, o conjunto "Os Amigos" a cantarem a sua versão de "Portugal No Coração" e que ganhou e foi representar Portugal na Eurovisão. A outra versão do "Portugal No Coração", foi interpretada pelo grupo "Gemini" de Tozé Brito e Mike Sargent e ficou muito pior classificada. Ironia do destino, foi que a versão de "Os Amigos" (onde se incluíam Paulo de Carvalho, Fernando Tordo e Edmundo Silva, antigo membro da banda rock/blues/pop "Sheiks"), passou a ser, hoje em dia, muito difícil de encontrar no mercado, enquanto a versão dos "Gemini" já apareceu em múltiplas coletâneas, devido à presença, incontornável, do cantor, compositor e produtor Tozé Brito. De referir que, nesse Festival da Canção de 1977, houve um número mais limitado de canções mas com duas versões de cada uma. Foi uma forma de contrastar com o que se havia feito no anterior Festival RTP da Canção de 1976, em que todas as canções foram interpretadas apenas por um cantor, que era Carlos do Carmo.


E agora, o "bónus":

Shegundo Galarza - "Neste Natal" (1977). N.B.:O UPLOADER DESTA CANÇÃO COMETEU UM ERRO CRASSO, POIS ESTE TEMA É EXATAMENTE O MESMO DE "Já Chegou O Natal". NO ORIGINAL "Neste Natal", A TÍTULO EXCECIONAL, LIDERA A VOZ MASCULINA DE UM ILUSTRE DESCONHECIDO CHAMADO "JAIME NASCIMENTO".

Roberto Leal - "Neste Natal" (1975). Este era o tema que devia ali ter aparecido.

Shegundo Galarza - "Sinos De Natal" (instrumental) (1977). Foi este instrumental que, durante vários anos, apareceu como acompanhamento de anúncios televisivos e radiofónicos de Natal.

Shegundo Galarza - "É Natal" (1977).

Shegundo Galarza - "Já Chegou O Natal" (instrumental) (1977).

Shegundo Galarza - "Vem Aí O Pai Natal" (1977).

Shegundo Galarza - "Feliz Natal, Mãe" (instrumental) (1977).

Shegundo Galarza - "Natal Em Portugal" (1977).

Shegundo Galarza - "Natal Dos Brinquedos" (instrumental) (1977).

Shegundo Galarza - "Menino Jesus" (1977).

Shegundo Galarza - "Glória" (instrumental) (1977).

Shegundo Galarza - "Noite De Natal" (1977)

Shegundo Galarza - "Alegres Repicam Os Sinos" (instrumental) (1977).















sexta-feira, dezembro 17, 2021

Lee Mallory - Um nome a assinalar



Lee Mallory nasceu em Berkeley, na Califórnia, em 10 de Janeiro de 1945, foi cantor, compositor e guitarrista, tendo participado, sobretudo, em diversas colaborações com outros artistas.
O seu êxito mais conhecido foi uma canção gravada no Verão de 1966, denominada “That’s The Way It’s Gonna Be”, que foi um dos temas cimeiros de um género musical a que se deu o nome de “Sunshine Pop”, cujo período de maior êxito foi na segunda metade da década de 1960 e foi um dos sons que constituíram o pano de fundo do psicadelismo, do “Flower Power” e da onda “hippie”. 
O seu ritmo cativante, a sua letra descaradamente optimista e o seu sentimento muito positivo, reforçado pela sonoridade das vozes, tornou esta canção num dos primeiros temas a anunciar os novos tempos que aí viriam, não só em termos musicais, mas também sociais. Apesar de, nesse ano de 1966, ter atingido 86º lugar nas tabelas de vendas, foi nº1 em Amsterdão e nº2 em Seattle.
Lee Mallory - "That's The Way It's Gonna Be" (1966).

Para o efeito que este tema teve em muito público jovem de então, principalmente da West Coast dos E.U.A., muito terá contribuído a produção e participação como cantor e como músico de Curt Boettcher. Terá sido ele também a “apresentar” o tema a Lee Mallory, a que logo este aderiu. Aliás, a versão final que ficou conhecida na voz de Mallory, seguia com grande fidelidade as sugestões de Curt Boettcher. A “demo” por este gravada, já apresentava todas as características para, por si só, ter êxito. 
Basta referir que o grande talento musical de Curt Boettcher, fazia com que as canções que ele compunha e demonstrava para outros cantores e grupos, já tivessem praticamente a qualidade de um produto final, sem precisar, portanto, de arranjos de assinalar para estar em condições de ser editadas em disco.

A colaboração entre Lee Mallory e Curt Boettcher, produziria mais uma série de temas gravados e editados entre 1966 e 1967, bem como diversas gravações que ficariam inéditas por muitos anos. 
Apesar de, na carreira posterior de Lee Mallory , não ter surgido mais nenhum êxito equiparável a “That’s The Way It’s Gonna Be”, a qualidade dos seus temas, salvo alguma experiência menos feliz, manteve-se quase inalterada.

Uma dessas parcerias entre Lee Mallory e Curt Boettcher foi o tema "Better Times", que chegou a ser gravado pelo grupo "Association" em 1966, mas que ficou inédito até 2002. Não o consegui trazer para aqui. VER no YOUTUBE "The Association" - "Better Times".

Lee Mallory - "Many Are The Times" (1967).

Em paralelo, Lee Mallory, em colaboração com Curt Boettcher e Gary Usher, será um dos elementos mais essenciais de um projeto musical de grande qualidade denominado “Sagittarius”, do qual sairia um disco homónimo em 1968.

The Millennium. Da esquerda para a direita: Ron Edgar, Lee Mallory, Sandy Salisbury, Curt Boettcher, Joey Stec, Mike Fennelly e Doug Rhodes

Ainda em 1968, Lee Mallory, novamente com Curt Boettcher e vários membros da sua banda, dão início a um novo grupo ou melhor, projeto musical, denominado Millennium


Mais uma vez, a presença de Curt Boettcher far-se-á notar como músico, compositor e cantor (com a sua voz em grande destaque), para além de ter sido o seu principal produtor. Logo neste ano este projeto dará os seus primeiros frutos, materializados sob a forma de um álbum de seu nome "Begin"

The Millennium - "I'm With You" (1968). Tema da autoria de Lee Mallory.

The Millennium. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Mike Fennelly, Curt Boettcher, Joey Stec, Sandy Salisbury, Doug Rhodes, Lee Mallory e Ron Edgar.


The Millennium - "Some Sunny Day" (1968). Tema da autoria de Lee Mallory.



No entanto, apesar do que o seu nome prometia, acabou por ser também este o último disco oficial desta banda. 


Houve igualmente todo um conjunto apreciável de gravações que acabariam por ficar inéditas durante muitos anos. Devido ao facto de, entre outras razões, os Millennium serem uma banda sem formação fixa e terem sido constituídos a pensar só no trabalho de estúdio, o seu êxito no seu tempo foi quase nulo, o que levou a determinar a sua curta existência. Para além do mais, o único álbum que os Millennium lançaram durante a sua curta existência, foi particularmente dispendioso, o que fez a respectiva editora não disponibilizar quaisquer recursos para a sua promoção, que seria essencial para a sua divulgação junto do público. Só no final dos anos 90, os Millennium seriam resgatados do esquecimento, graças às várias reedições em CD, tendo a sua qualidade, incluindo o talento de Lee Mallory, recebido o reconhecimento devido.



Posteriormente a este projeto, vale a pena assinalar a participação de Lee no musical emblemático “Hair”, quer como músico da respectiva banda, onde ocupava o lugar de guitarrista principal, quer como membro da companhia que atuava ao vivo.


Lee Mallory - "No Other Love" (1967).

A partir deste final de 60, e com as mudanças no panorama musical, a carreira de Lee Mallory dispersou-se entre participações em diversos grupos e projetos musicais, como músico, cantor e compositor, muitos deles de curta duração e só divulgados a nível praticamente local, para além de atuações ao vivo, incluindo ao ar livre e em bares. Apesar de tudo, é quase unânime para todos aqueles que com ele conviviam ou simplesmente assistiam às suas atuações em ambientes quase intimistas, as grandes qualidades artísticas e humanas de Lee Mallory.


De qualquer forma, tal como acontecera com muitos outros artistas seus contemporâneos, a vida de Lee Mallory, também foi palco dos mais diversos excessos, nomeadamente no que diz respeito ao abuso de drogas e estupefacientes, o que acabaria por deixar sequelas irreversíveis na sua saúde. 


Os seus últimos anos de vida, foram, em grande parte vividos a tentar minimizar os seus efeitos e, ao mesmo tempo, promover e participar em diversas iniciativas de cariz social e artístico, na zona de San Francisco, onde ele havia passado a residir. 


Muitos dos participantes nestas iniciativas eram francamente mais jovens do que ele, o que, de alguma forma, servia de constante estímulo para ele levar avante a sua carreira de artista e promover o apoio a outros músicos que residiam e atuavam na sua zona. Em complemento desta sua muito ativa vida social, Lee Mallory colaborava com regularidade em diversos periódicos locais.


O seu envelhecimento físico algo prematuro, que se traduzia numa saúde em declínio, havia-o tornado numa pessoa algo zelosa com a forma como levava a sua vida. Aliás, já em 1995, ele havia sobrevivido a um coma, o que, entre outros aspectos, muito contribuiu para a sua, ainda que muito tardia, vitória sob os vícios do tabaco e da droga, da qual ele fez grande divulgação e chegou a receber um certificado.



Foi na sequência desta sua regeneração pessoal e do seu empenhamento artístico e humano, no seio da sua comunidade, que o San Francisco Board of Supervisors, decidiu proclamar o dia 10 de Janeiro de 2005, como o primeiro “Lee Mallory Day” (algo como “Dia de Lee Mallory”), em homenagem não só ao músico em questão, como a todos os cantores-autores. Este dia foi escolhido também por ser o aniversário de Lee Mallory, em que ele completou 60 anos de vida.
Lee Mallory.
Por outro lado, sabia-se que ele atravessava, mais uma vez, sérios problemas de saúde, sob a forma de um cancro no fígado, o que decerto, contribuiu para toda a atenção que amigos e conhecidos lhe dispensavam. Lee Mallory contava ser sujeito, proximamente, a um transplante de fígado, o que nunca veio a acontecer. Em paralelo, teve um papel ativo na consciencialização do público relativamente à Hepatite C, para além de desejar que a história da sua vida pessoal, devido aos excessos do passado, funcionasse como um aviso para os jovens músicos levarem uma vida mais cuidada.
Lee Mallory.
A 18 de Março de 2005, Lee Mallory fez as últimas gravações para o seu derradeiro álbum, que constituía também o seu primeiro trabalho de estúdio após vários anos de ausência, bem como aquele onde finalmente teve o controle completo de toda a parte criativa, depois de décadas de trabalho sempre sob a direção tanto de outros tantos músicos e produtores. Sucumbiria, por fim, à doença no dia 21 de Março de 2005, em San Francisco.


Fiquei a saber que esse tal último álbum de Lee Mallory se mantém ainda "embargado" e "bloqueado" ao fim de quase duas décadas (desde 2005!!!), o que é VERGONHOSO!!! É UMA GRAVE OFENSA À MEMÓRIA DE UM ARTISTA DE GRANDE NÍVEL ARTÍSTICO E HUMANO!!!
QUE ESTA POSTAGEM SIRVA, FINALMENTE, DE INCENTIVO PARA LANÇAREM O SEU ÚLTIMO TRABALHO DISCOGRÁFICO NUM PRAZO O MAIS CURTO POSSÍVEL!!! (eu, pelo menos, pretendo adquiri-lo!!!)

sexta-feira, novembro 12, 2021

Curt Boettcher - um talento a redescobrir




No vasto mundo da música contemporânea dos últimos 50 anos, diversos foram os talentos que a voragem do tempo se encarregou de votar ao esquecimento. Um desses nomes era o de Curt Boettcher. Nascido em Janeiro de 1944, originário de Wisconsin, foi ao longo da sua carreira de mais ou menos 25 anos, compositor, cantor, músico e produtor de discos. Apesar de o seu nome não constar como entrada de muitas enciclopédias de música publicadas até à atualidade, muitos artistas importantes lhe ficaram a dever, entre estes os Beach Boys. Muito do seu trabalho consistiu essencialmente em colaborar com cantores,grupos e produtores, tendo o seu nome, quase sempre, surgido algo discretamente mencionado em fichas técnicas e nos créditos de diversas canções, sem referir com precisão a extensão do seu real contributo no resultado final. 
The Association - "And Then... Along Comes The Association" (1966). Neste primeiro LP deste grupo, a produção e colaboração de Curt Boettcher, nos mais variados aspetos, inclusive instrumental, foi essencial. Aliás, ele era um dos compositores do tema mais importante deste disco, "Along Comes Mary", apesar de uma "vigarice" do outro co-autor, Tandyn Almer, que se registou como o seu único autor, para receber a totalidade das royalties.

The Association - "Along Comes Mary" (1966).

The Association - "Message Of Our Love" (1966). O único tema deste 1º disco onde a parceria entre Curt Boettcher e Tandyn Almer foi "respeitada" e se manteve "intocada".

The Association - "One Too Many Mornings". (1965). Foi esta cover de um tema original de Bob Dylan que chamou a atenção de Curt Boettcher para os The Association e o fez decidir-se a produzir o seu 1º LP.

Esta versão regravada de "Enter The Young" começa, todavia, com a gravação original do tema "The Machine". Este tema constituía uma espécie de "apresentação virtual" dos The Association. Feito durante as gravações do seu 1º LP de 1966, ficaria inédito até 2002. Nesta curiosa introdução, o baixista Brian Cole (1942-1972) é o "mestre de cerimónias". Este breve tema estava, originalmente, destinado a ser o primeiro tema do lado A do LP e resultava da ideia, depois descartada, de fazer um álbum de características conceptuais, coisa pioneira para a época. A ideia terá partido de Curt Boettcher mas, em resultado de pressões da parte dos outros elementos envolvidos na produção deste LP, optou-se por lançar um álbum de natureza mais convencional, abandonando-se a proposta inicial, considerada um tanto "arriscada". Sendo assim, cada canção surge como era de esperar, ou seja, autonomizada. Terão sido pressões deste género que terão feito Curt Boettcher pôr completamente de parte a ideia de se tornar no principal produtor dos The Association, tal como era George Martin com os Beatles, e a desligar-se da banda findas as gravações do 1º LP.

The Association - "Enter The Young" (1966). A versão original, tal como aparecia no primeiro LP de 1966. Neste vídeo, em particular, ter-se-á feito uma "edição" que aumenta a duração do tema para quase o dobro do original, ao se incluir apenas a parte instrumental no início. 

The Association - "Round Again" (1966). "Samples" deste tema, composto pelo guitarrista Gary Jules Alexander (1943), foram incluídos na gravação final do tema "Hoops", pertencente ao álbum "Come With Us" dos Chemical Brothers, lançado em começos de 2002.

The Association - "I'll Be Your Man" (1966). A voz principal deste tema esteve a cargo do guitarrista, baixista e percursionista Russ Giguere (1943) (o 1º à direita na imagem). Os outros elementos são, da esquerda para a direita, Terry Kirkman (1939) voz, instrumentos de sopro, teclados e percussão; Brian Cole (1942-1972) voz, baixo elétrico, baixo acústico e contrabaixo; Larry Ramos (1942- 2014) (chegou ao grupo em Abril de 1967, quando Gary Jules Alexander (1943) saiu) voz e guitarras; Jim Yester (1939) voz, guitarras e teclados; Ted Bluechel (1942) voz, bateria e percussão.

The Association - "Remember" (1966). A voz principal deste tema esteve a cargo do guitarrista Jim Yester (1939).

The Association - "Cherish" (1966). Este tema foi composto pelo membro da banda  Terry Kirkman (1939) (no centro) e foi o maior êxito do LP "And Then... Along Comes The Association" (1966).

Este temas dos The Association, tiveram por trás a produção e, nalguns casos, a participação instrumental, de Curt Boettcher.  Na sua variedade, constituíam um paradigma perfeito daquilo a que se chamou "Sunshine Pop", cuja época de maior expressão foi entre 1965 e 1969.


The Association - "Along Comes Mary" (1966). Versão ao vivo de 1967 no, então, muito popular programa televisivo "Smothers Brothers", onde atuaram muitos nomes da música moderna daquele tempo, inclusive de fora dos Estados Unidos, como os britânicos "The Who". Destaque para a "apresentação" do grupo feita pelo baixista Brian Cole (1942-1972)
 
Curt Boettcher afastar-se-ia dos Association na sequência do seu primeiro álbum "And Then... Along Comes The Association" (1966). Nos anos seguintes, os Association continuariam a somar êxitos e, sobretudo, a compor e a interpretar temas de grande qualidade musical. Apesar de já não estar presente, é indiscutível o papel primordial de Curt Boettcher na descoberta e, ainda que indiretamente, na posterior afirmação desta banda que, ainda hoje, suscita agradáveis recordações. 

The Association - "Pandora's Golden Heebie Jeebies" (1966). Tema composto pelo guitarrista Gary Jules Alexander (1943), que também fazia a voz principal. Meses depois, Gary Alexander afastar-se-ia temporariamente dos Association, tendo permitido a chegada do novo e talentoso cantor, guitarrista e compositor Larry Ramos (1942-2014), que se manteria por quase meio século como um dos seus elementos mais em destaque.

The Association - "On A Quiet Night" (1967). Destaque para a voz de Jim Yester (1939).

The Association - "When Love Comes To Me" (1967).

The Association - "Never My Love" (1967).

The Association - "Windy" (1967).

The Association - "Reputation" (1967). Tema onde a voz principal é a do baixista Brian Cole (1942-1972). 

The Association - "Reputation" (1967). Versão ao vivo.

The Association - "We Love Us" (1967). Uma das poucas composições do baterista Ted Bluechel.

The Association - "Requiem For The Masses" (1967). Composição e voz principal de Terry Kirkman.

The Association - "Birthday Morning" (1968). Mais uma vez, a voz de Jim Yester em destaque. 

The Association - "Six Man Band" (1968). Eram assim, de facto, os Association originais...

The Association - "Like Always" (1968). Tema onde Larry Ramos (1942-2014) surge como a voz principal, para além de ser um dos seus compositores.

The Association - "Along The Way" (1971). Tema onde se destaca a voz de Jim Yester (1939) no seu melhor.

The Association - "P.F. Sloan" (1971). Parte falada pelo baixista Brian Cole (1942-1972) que, em 1972, seria encontrado morto em sua casa, vítima de overdose de heroína.

 The Association - "Across The Persian Gulf" (1981). Um breve relançamento dos Association já na década de 1980.




The Simple Image - "Spinning, Spinning, Spinning" (1968). Um tema com a co-autoria de Curt Boettcher. Este grupo era originário da Nova Zelândia

Entre os diversos grupos com os quais Curt Boettcher colaborou, direta ou indiretamente, estavam os já referidos Beach Boys, e também The Association, The Byrds, Paul Revere & The Raiders, Chad & Jeremy, Tommy Roe, Elton John, Bruce Johnston, Lee Mallory e Gary Usher. Foi igualmente um dos elementos fundadores de diversos grupos musicais, ainda que essencialmente de estúdio, nomeadamente Ballroom, Sagittarius e The Millennium. Estes, apesar de tudo, foram de muito curta duração. A nível individual, Curt Boettcher só lançou em vida um álbum There's an Innocent Face, que foi um fracasso comercial, apesar do seu ecletismo em termos de género musical. 

Gary Usher (1938-1990), um dos grandes amigos e colaboradores de Curt Boettcher, entre muitos outros projetos, participará como a "outra metade" do grupo Sagittarius, tal como é visível na capa do primeiro álbum ("Present Tense") de 1968em baixo. Ele surge à esquerda, Curt Boettcher (1944-1987) à direita. Na prática, não era um grupo que tivesse uma formação definida. Era apenas um "projeto de estúdio" onde entraram e saíram diversos artistas e músicos de estúdio e incluía, sobretudo na edição póstuma em CD, diversos temas gravados entre 1966 e 1968, alguns destinados a outros projetos abortados e muitos deles inéditos até 1997. Um disco essencial e, na minha opinião, obrigatório para quem (realmente) gosta de (boa) música.


Sagittarius - "Another Time". Gravação inédita de 1967, depois lançada em 1968. Tema de abertura do LP "Present Tense".

Sagittarius - "The Keeper Of The Games" (1968).

Sagittarius - "My World Fell Down". Gravado e lançado numa versão ligeiramente diferente em 1967, da que foi incluída no LP "Present Tense", em 1968. Foi o único êxito dos Sagittarius, em 1967. Os seus autores eram a dupla, muito prolífica, Carter-Lewis (os ingleses John Carter e Ken Lewis), os quais já a haviam lançado, enquanto membros dos Ivy League em finais de 1966.

Sagittarius - "I'm Not Living Here" (1968).

Sagittarius - "Musty Dusty". Gravação inédita de 1966 de um grupo anterior, Ballroom, depois incluída em, 1968, no álbum "Present Tense". A sua autoria era a mesma do tema "Along Comes Mary", o já referido êxito dos Association, ou seja, Curt Boettcher e Tandyn Almer. Era um tema sobretudo deste último, tal como o outro era sobretudo de Curt Boettcher. Como Almer havia cometido a "vigarice" de registar o "Along Comes Mary" só sob a sua autoria, ao perceber que estava para ser um êxito seguro e para receber a totalidade das royalties, em resposta, Curt Boettcher registou "Musty Dusty" só sob a sua autoria individual. "Tit for Tat". Mas, como se veio a comprovar, quem acabou por ficar a ganhar, para sempre, foi Tandyn Almer, pois "Along Comes Mary", não só através dos Association, é um hit ainda hoje repetidamente lembrado e editado num sem número de circunstâncias. "Musty Dusty" é apenas mais uma pequena pérola esquecida no tempo e que muito poucos conhecem...

Sagittarius - "Get The Message" (1967). Um dos diversos temas inéditos recuperados na edição de "Present Tense" em CD de 1997. O seu intérprete era um dos vários "ilustres desconhecidos" cantores de estúdio, que entraram e saíram dos Sagittarius (antes do grupo, efetivamente, existir), sem serem sequer creditados. No CD fala-se no nome "Michael". Há quem tenha sugerido que seria Michael Z. Gordon, um dos autores da canção e que, em parceria ou individualmente, compôs diversas canções, algumas delas êxitos, para outros artistas mais conhecidos. Houve uma versão deste tema que foi um êxito menor, nesse mesmo ano de 1967, de um certo Brian Hyland, cantor famoso pela sua interpretação do êxito mundial "Sealed With A Kiss", em 1962.

Sagittarius - "Sister Mary". Parte instrumental de um tema, gravado por Gary Usher, a pensar no grupo Sagittarius, mas que ele acabaria por destinar à, mais famosa, dupla de cantores de rock/folk Chad & Jeremy. Estes gravariam a sua versão, já com letra, por alturas seu melhor disco "Of Cabbages & Kings" de 1967. É o tema, até então inédito (1997), com que a edição em CD de "Present Tense" encerra.
 

A carreira musical de Curt Boettcher começou em 1962 com a fundação de um grupo musical de folk The Goldebriars, onde ele tocava viola acústica e era o principal vocalista. Este grupo lançaria dois álbuns em 1964, "The Goldebriars" e "Straight Ahead", cujo estilo musical, em especial no primeiro, se assemelhava ao de outros grupos de folk (ou folk-rock)seus contemporâneos, tais como: Peter, Paul & Mary, The Seekers e Simon & Garfunkel (primeiro disco). 

The Goldebriars. A formação original. Curt Boettcher está ao centro. Os outros elementos são: Ron Neilson (em cima) e as irmãs Sheri e Dottie Holmberg (à esquerda e à direita, respetivamente).


Goldebriars - "Railroad Boy" (1964).

Goldebriars - "Come Walk Me Out" (1964). 

Goldebriars - "Pretty Girls And Rolling Stones" (1964). 

Goldebriars - "A Mumblin' Word (He Never Said)" (1964).

Goldebriars - "Shenandoah" (1964). 

Goldebriars - "Sing Out Terry O' Day" (1964).

Goldebriars - "I've Got To Love Somebody" (1964). O tema que aqui interessa, só começa no tempo 2:37. Um erro do uploader que acrescentou outro, a que se dará a devida atenção mais adiante.

Goldebriars - "Haiku" (1964).

Goldebriars - "No More Bomb" (1964).

Goldebriars - "Queen Of Sheeba" (1964).

Goldebriars
 - "Castle On The Corner" (1964). Para mim, esta é a melhor canção dos Goldebriars.

Goldebriars - "Honey Bunny" (ca. 1964).

Goldebriars - "Slow Me Down, Lord" (ca. 1964).


Fora ainda gravado um terceiro álbum, com novos membros, entre estes Ron Edgar, no final de 1964, mas cujo lançamento, previsto para o começo de 1965, foi cancelado.


Goldebriars - "Nothing Wrong With You That My Love Can't Cure" (1964-1965).

Nestes primeiros discos, começava-se a vislumbrar um pouco do estilo musical que Curt Boettcher aperfeiçoaria mais adiante e que ficou conhecido como "Sunshine Pop". Este género musical constituiria muito do pano de fundo onde se constituiriam muitas das bandas, que ficariam associadas à cena musical da "West Coast", mais concretamente na zona de San Francisco, ou que por ela foram influenciadas. 

The Ballroom - "You Turn Me Around". Gravação dos "The Ballroom", um grupo que Curt Boettcher fundou e integrou, feita em 1966 e que ficou inédita até 2001. Ele surge à esquerda na foto e, no extremo direito, surge também Sandy Salisbury que, dois anos depois, integraria os "Millennium", também como compositor. Outro tema fundamental desta fase é "Magic Time".

"The Ballroom - "Magic Time" (1966).

Curt Boettcher - "Astral Cowboy" (ca. 1968/1969).

Pode-se afirmar que Curt Boettcher foi um dos principais artistas que contribuíram para o aparecimento da moda do psicadelismo, do "Flower Power" e do movimento Hippie a eles associado. Foi a partir do Sunshine Pop, que terão surgido diversos artistas e grupos marcantes da segunda metade da década de 60, tais como Scott Mackenzie, The Jefferson Airplane, The Loving Spoonful, The Mammas and Pappas e The Flower Pot Men, estes últimos em Inglaterra. 

Curt Boettcher - "Misty Mirage" (ca. 1968/1969).

Com o começo dos anos 70, a carreira de Curt Boettcher começou a decair gradualmente, dado que, da sua autoria ou colaboração, não houve mais nenhum êxito de assinalar. Por outro lado, o panorama musical estava algo inóspito para a sua linha criativa. Apesar da diversidade de géneros musicais que agora enformavam a música pop contemporânea, eram essencialmente duas as opções dominantes nesse começo dos anos 70: a progressive music e o rock pesado. Dois géneros algo estranhos para o gosto pessoal de Curt Boettcher. Para além disso, dos diversos grupos musicais que haviam surgido e sobrevivido durante os anos áureos do Sunshine Pop, muitos já se haviam dissolvido, outros mudaram de nome e de estilo tornando-se em algo completamente irreconhecível e os poucos que se mantinham nessa onda, soavam a anacrónicos. 

Sob a insistência do produtor Jac Holzman, que retinha na memória a grande qualidade do disco Begin dos Millennium de 1968, Curt Boettcher grava para a editora Elektra o seu único álbum em vida There's an Innocent Face, em 1971
Curt Boettcher - "The Choice Is Yours" (1971-1973).

Curt Boettcher - "Malachi Star" (1971-1973).

Curt Boettcher - "Lay Down" (1971-1973).

Este álbum sairia apenas quase dois anos depois, em 1973, tendo sido recebido com quase completa indiferença quer pelo público, quer pela crítica, apesar da variedade de géneros musicais nele contida. Ainda houve uma breve tentativa para gravar um segundo disco a solo intitulado Chicken Little Was Right, mas que acabaria por ficar incompleto e só seria editado postumamente 30 anos depois, em 2004
Curt Boettcher - "If You Only Knew" (1973-2004).

Posteriormente, o seu trabalho, quer como músico, quer como produtor, dispersou-se por cada vez menos projetos, sem grande relevância nem impacto comercial. Um dos seus últimos trabalhos, consistiu na produção de um álbum a solo de Mike Love, vocalista dos Beach Boys. Tinha como título Looking Back With Love e foi lançado em 1981. Foi um completo fiasco, quer do ponto de vista comercial, quer crítico, tendo mesmo os fãs dos Beach Boys, considerado este álbum o pior de sempre alguma vez gravado, quer pelo grupo, quer por um dos seus membros. 

Nos anos 80, com uma realidade musical muito diferente daquela em que ele havia sido marcante nas mais diversas vertentes, sobretudo no que respeita ao tipo de música então em voga, a sua importância decresceu ao ponto do quase esquecimento. O "sunshine pop" era uma relíquia do passado e já não cativava as novas gerações de ouvintes. 

O movimento "punk" havia voltado a valorizar os temas duros e polémicos, para não falar na revolta com ou sem causa, associados ao rock, menosprezando os grandes arranjos melódicos e as vozes algo delicadas. 

A música feita à volta de instrumentos eletrónicos, nomeadamente a nível das caixas-de-ritmo,com o auxílio crescente do computador, de batida sonora e ritmo empolgante, com o elemento dançável nunca longe de vista, era agora a moda. 

Mesmo a nível das baladas, o modelo que mais fazia vender e ocupava os média, era o das "power-ballads", onde a presença da guitarra-eléctrica tocada em estilo apoteótico e dos sintetizadores de som tonitruante, raramente era dispensada. Havia como que uma idolatração relativamente a tudo o que evocasse os cenários futuros, fossem optimistas ou pessimistas, associada a uma atitude de amor-temor relativamente à tecnologia digital e à sua derivada "Inteligência Artificial", que pareciam estar prestes a dominar a própria humanidade que as havia criado. 

Só as velhas glórias do passado, por vezes ressuscitadas oportunamente em colectâneas de êxitos e em reuniões mais ou menos aguardadas, é que conseguiam aqui e ali conquistar uma breve e pontual atenção dos média e, consequentemente, um ocasional nicho de mercado. Curt Boettcher nunca fizera história no campo dos espetáculos ao vivo, agora uma condição quase sine qua non para se ficar conhecido ou não cair simplesmente no esquecimento. O seu nome, individualmente, nunca tivera divulgação internacional nas décadas de 60 e 70 e, durante o seu tempo de vida, ele era sobretudo conhecido por entre o mundo artístico americano, em especial na região da "West Coast". Por outro lado, sendo ele sobretudo um homem de (grande) importância a nível de bastidores, a maior parte do seu público contemporâneo nunca lhe dispensou a atenção devida, ou seja, o nome de Curt Boettcher nunca foi verdadeiramente vendável.
 
Só mais atualmente, com as profusas reedições em CD de álbuns já fora do mercado há muito e da obra de diversos grupos e cantores, embora em edições de apenas alguns milhares de exemplares, feitas quase sempre a pensar nos colecionadores, nostálgicos e "connaisseurs", facilmente esgotáveis portanto, é que o seu nome voltou a ser verdadeiramente lembrado e a ocupar o seu devido lugar na história da música, pelo menos, ocidental. 
Curt Boetcher - "Another Time" (ca. 1968/1969). Versão a solo posterior à dos Sagittarius e com, pelo menos, um novo verso acrescentado.

Curt Boettcher já não teve, infelizmente, oportunidade para assistir a esta, ainda que algo tímida, revitalização do seu nome, pois faleceu a 14 de Junho de 1987, na sequência de uma operação pulmonar. Gary Usher, um dos seus mais diletos amigos e acérrimos defensores, seguir-se-lhe-ia em 1990.

Uma das diversas coletâneas existentes relativas a Curt Boettcher, tendo sido esta lançada em 2019.



Ao rever esta cena do filme "Dirty Dancing" ("Dança Comigo"), cuja estreia ocorreu em 1987, é Curt Boettcher quem me vem à memória. Terá sido uma "homenagem" discreta que lhe fizeram (e quase ninguém deu conta)? O cantor principal, em especial a sua voz, parece fazer lembrar Curt Boettcher, falecido nesse mesmo ano (1987)...

"Kellerman's Anthem" (from the movie soundtrack "Dirty Dancing") (1987). A versão completa deste tema.