Este arco não existia originalmente como pertencente à antiga muralha. Fora construído na sequência do grande terramoto de 1755, cujos efeitos se fizeram sentir em diversos edifícios espalhados pelo país. A igreja do Colégio de S. Jerónimo apresentava sinais de fragilidade e temeu-se que a sua fachada lateral pudesse ruir, devido também ao declive acentuado que existia na parte superior da Ladeira do Castelo. Foi colocado no lado direito interior do arco um interessante painel de azulejos onde se representava o grande feito de Martim de Freitas. Na sequência disto, a Ladeira do Castelo também passou a ser conhecida por Calçada Martim de Freitas, nome que ostenta atualmente.
Durante a profunda reforma dos Hospitais da Universidade de Coimbra, promovida pelo Doutor Costa Simões no final da segunda metade de oitocentos, no intuito de modernizar as respectivas instalações, foram efetuadas duas obras de monta, que iriam afetar a forma original do Arco do Castelo. Do lado esquerdo, existindo já o antigo Colégio dos Militares convertido em Hospital dos Lázaros, decidiu-se dar utilidade ao único piso erigido do projetado Observatório da Reforma Pombalina. Ficou aqui instalada, durante mais ou menos meio século, a lavandaria dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Do lado direito, a antiga igreja do Colégio de S. Jerónimo foi sujeita a um curioso e profundo processo de remodelação exterior e interior, a ponto de se converter num edifício de natureza completamente diferente da original, dotado de vários pisos e de uma traça arquitetónica que e o destaca, ainda hoje, do resto do edifício hospitalar. Quem não conhecesse esta secção do Hospital, tal como era antes, não conseguiria vislumbrar, na sua arquitetura totalmente civil, nada que pudesse supor que ali tivesse existido um edifício religioso. Entre outras coisas, aqui ficariam instalados os alojamentos do pessoal hospitalar.
Na sequência destas importantes obras de optimização dos Hospitais da Universidade, decide-se escavar uma passagem na parte superior do Arco do Castelo, de forma a permitir uma ligação mais direta entre as várias secções entretanto criadas. Na parte do lateral do Hospital, onde o Arco do Castelo se inseria, é aberta uma porta de serviço, através da qual se transportavam as roupas para a lavandaria e desinfecção, antes de retornarem pelo mesmo trajeto. No lado contrário, foi construído um lanço de degraus em ângulo recto, que penetrava literalmente neste extremo do arco. Foi assim que este arco ficou durante várias décadas até ao seu fim abrupto.
Este chegaria, infelizmente, no ano de 1947, quando as obras de demolição da Velha Alta já decorriam em plena força. Nesta altura, já havia sido arrasada a parte esquerda do cimo da Ladeira do Castelo, onde estava a lavandaria, juntamente com os vestígios restantes das principais secções do castelo de Coimbra. Conta-se que, quando deitaram abaixo o Arco do Castelo, descobriu-se uma das principais linhas de água interiores que abasteciam grande parte da Alta coimbrã, provocando, durante vários dias, falta de água em muitos locais.
O que resta hoje do antigo Arco do Castelo, nada mais é do que um pedaço de parede inserido num dos cunhais da secção mais à esquerda do antigo Hospital da Universidade, onde se conserva o azulejo que homenageia Martim de Freitas. A porta que antes ali existia foi, após a demolição, reconvertida em janela, nada fazendo suspeitar da sua anterior função.
1 comentário:
Gostei de ler! Vou por o seu link junto com o meu estudo sobre este assunto e deixar-lhe o meu também!
https://www.facebook.com/isabel.anjinho/posts/1309248159163485
Cumprs.
Isabel Anjinho
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