Um dos maiores e mais emblemáticos edifícios a ser sacrificado à lepra destruidora que o plano das obras da nova “Cidade Universitária”, semeou como praga no coração da Alta de Coimbra foi o antigo Colégio de S. João Evangelista, mais conhecido como o Colégio dos Lóios, devido à cor azul do vestuário dos religiosos que, em tempos remotos, nele residiram.
De construção quinhentista, este vasto edifício ficou devoluto e entregue à Universidade de Coimbra, como aconteceu com outros, após a extinção das Ordens Religiosas regulares, por decreto de 1834. Após a venda do seu recheio em hasta pública, onde se incluiria decerto a sua biblioteca que, como tantas outras, desapareceria com a dispersão das suas obras pelos mais variados destinos, acabou por ser destinado a edifício de natureza civil. Graças ao seu generoso espaço interior, este edifício acabaria por ser ocupado por diversos serviços públicos, umas em períodos diferentes, outras em simultâneo, nomeadamente o Banco de Portugal, a sede da Junta da Província da Beira Litoral, Direção de Finanças, Posto da PSP, Correios, Inspeção Escolar, Bombeiros e, claro, Governo Civil. Aliás, era sob este prosaico nome que muitos conheceram este grande edifício, que tinha frente para três ruas distintas. A sua fachada principal e emblemática era fronteira à Sé Nova, no Largo da Feira, sendo encimada por uma curiosa estátua em plinto do patrono S. João Evangelista com a auréola raiada; o seu lateral assimétrico ocupava todo um dos lados da Rua dos Lóios, via hoje desaparecida e a partir da qual era possível olhar a Sé Nova de frente; e a sua fachada posterior, menos interessante do ponto de vista arquitetónico, era visível na Rua Larga, mesmo em frente ao edifício onde se alojaria a Associação Académica, sendo por aqui que o público acedia aos serviços disponibilizados no seu interior.
Todo o edifício era uma construção assimétrica, como consequência do declive do terreno em que se implantara, dado que na fachada principal eram visíveis cinco pisos, enquanto na posterior, eram apenas dois. Após a extinção do Colégio dos Lóios, o seu edifício terá sido sujeito, aqui e ali, a algumas obras de adaptação, mas muito do que existia originalmente, terá permanecido até ao fim, mais ou menos fiel ao original. Entre estes elementos arquitetónicos, vale a pena salientar o seu claustro, onde era visível uma cisterna.
Numa tarde de finais de Novembro de 1943, o edifício do Governo Civil é atingido por um violento incêndio que, obviamente, causou pânico nas redondezas, principalmente por se estar em plena Segunda Guerra Mundial e ainda haver o receio de ataques aéreos. Viveram-se momentos de aflição, por se temer que o fogo alastrasse às casas vizinhas, o que, com grande aparato, acabou por ser evitado. Tentou-se salvar o que podia do seu recheio mas aqui, muita coisa se perdeu, principalmente a nível de documentação de diversa natureza. Os militares também terão dado uma ajuda preciosa, na tentativa de minorar os estragos. Como solução desesperada, grandes volumes de documentação são atirados pelas janelas do edifício em chamas. Nunca se apuraram as verdadeiras causas deste incidente, embora a tese oficial tivesse sido a de provável acidente, devido ao visível estado de degradação do imóvel e à abundância de materiais inflamáveis no seu interior. Há quem fale em ter sido propositado e ter tido relação direta com as obras da Cidade Universitária, que se haviam já iniciado na Primavera desse ano de 1943.
No começo de 1944, o edifício do Governo Civil vê a sua demolição muito antecipada, tornando-se, desta forma, no primeiro edifício a desaparecer da Rua Larga. A grande estátua de S. João Evangelista que encimava a sua fachada nobre é hoje a sua única recordação existente e encontra-se atualmente no centro de um largo (Largo de S. João) situado num núcleo habitacional próximo de Celas, construído para albergar muitos dos desalojados em consequência das demolições da Velha Alta.
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