Um grupo de estudantes dissidentes da Academia Dramática, cujos estatutos haviam sido aprovados em 1837, decide criar, no ano seguinte (1838), a Nova Academia Dramática, a qual, desde logo, ficará instalada no edifício do antigo Colégio de S. Paulo, o Apóstolo. Este grande edifício, encontrava-se instalado no mesmo espaço onde, mais tarde se construirá a Faculdade de Letras, tendo esta, por sua vez, dado lugar à actual Biblioteca Geral da Universidade.
O Colégio Real de S. Paulo, o Apóstolo, fora inaugurado em 1563, tendo sofrido os efeitos do terramoto de 1755, e foi extinto por decreto em 1834, para ser, em 1836, entregue à Universidade.
Não existem, atualmente, muitas fotografias deste antigo colégio universitário, mas sabe-se que, já quando a Nova Academia Dramática nele se instalou, o edifício se apresentava num estado de degradação algo notório. De qualquer forma, a nova localização oferecia grandes vantagens logísticas, dado que foi possível construir no pátio do antigo colégio o Teatro Académico, que foi fundado por José de Serpa em 1838 e teve, no ano seguinte, a 24 de Junho de 1839, as duas primeiras representações inaugurais. No entanto, o usufruto pleno das novas instalações, só foi concedido em 15 de Setembro de 1841, tendo a sua posse oficial ocorrido a 8 de Março de 1842. Esta sala de espetáculos teve, durante o quase meio século seguinte, uma grande influência na vida cultural universitária de então. Entre outros aspectos, basta referir que se havia tornado praxe realizar as récitas de despedida no Teatro Académico e que, quando aí havia espetáculo, não ser formavam trupes para perseguir caloiros.
Vale a pena referir que, até 1857, só haviam representado estudantes neste teatro, tendo, neste preciso ano, a situação mudado para sempre, ao ser aí permitida a atuação de artistas profissionais. O primeiro destes foi um então muito popular actor, Francisco Alves da Silva, mais conhecido como Taborda. Aí regressaria mais vezes. O próprio rei D. Pedro V chegou a assistir a espetáculos do Teatro Académico mais do que uma vez. Em 1859, os estatutos da Academia Dramática de Coimbra foram alterados, de forma a permitir de igual modo a atuação de artistas e companhias tanto nacionais como estrangeiras.
Foi neste Teatro Académico que o Orfeon Académico de Coimbra deu, no dia 7 de Dezembro de 1880, a sua primeira representação pública, na sequência das Comemorações do Tricentenário da Morte de Luís de Camões.
Foi então que, no ano de 1887, na sequência de uma nova reforma de estatutos, a Academia Dramática passar-se-á a designar de Associação Académica de Coimbra, tendo obtido alvará em 3 de Novembro desse ano. O seu primeiro presidente foi o Doutor António Luís Gomes (na foto de cima), então estudante de Direito, e que permanecerá no cargo até 1890, ano da sua formatura. De referir que este mesmo antigo estudante seria Reitor da Universidade de Coimbra entre 1921 e 1924.
Foi durante ainda a presidência de António Luís Gomes que a sede da A.A.C., se viu obrigada a ser transferida para o antigo Colégio da Trindade, devido ao facto de o Teatro Académico ter sido encerrado, para posteriormente ser demolido, nesse ano de 1889. A razão para esta súbita mudança, deveu-se ao facto do velho edifício se encontrar perigosamente degradado e poder pôr em risco a vida de quem aí se encontrasse, apesar de já terem sido efetuadas algumas obras de manutenção poucos anos antes.
A demolição do velho Teatro Académico foi particularmente lesiva para a Academia de Coimbra, pois representou o quase total apagamento das atividades culturais estudantis, dado que as novas instalações do Colégio da Trindade não eram propícias à realização de espetáculos, os quais, nesse tempo, seriam a sua principal fonte de receitas. Chegou a prometer-se a posterior edificação de um novo teatro no mesmo local, o que tal nunca veio a acontecer. Acabaria por aqui se construir, de raiz, um edifício de traça neoclássica (foto de baixo), destinado à Faculdade de Letras.
1 comentário:
Gostei de ler.
Obrigado pela informação disponibilizada.
Desconhecia que o Teatro Académico tivesse sido construído no pátio do Colégio de S. Paulo, o Eremita. Tudo o que li a esse respeito fala apenas no colégio. Porém, a sua informação faz sentido, já que não seria fácil o colégio ter um vão coberto capaz de albergar um teatro.
Que pátio seria esse? Um pátio interior?
Li algures (Lamy?) que a demolição do Colégio de S. Paulo se seguiu a uma inspecção na sequência do incêndio do Teatro Baquet no Porto, acontecido em 21/3/1888, do qual terão resultado 84 ou 170 mortes (dependendo das fontes). As datas acomodam-se.
Abraço,
Zé Veloso
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