Este veículo, o Sinclair C5, consistia num monolugar de três rodas, descapotável e movido a energia de bateria. O guiador era algo semelhante ao de um velocípede e estava localizado por baixo do assento do passageiro-condutor. A sua velocidade máxima não ultrapassava os 25k/h, visto que caso atingisse velocidades superiores, exigiria carta de condução, para além de poder desvirtuar parte da intenção de quem o havia concebido.
O seu lançamento ao público deu-se em Janeiro de 1985, tendo sido acompanhado por uma insistente campanha publicitária, ao longo dos primeiros meses desse ano, que contou, entre outros, com a participação do antigo campeão de automobilismo Sterling Moss. Este veterano das corridas e todos os outros participantes tanto nas fotografias como nos filmes promocionais, surgiam em realidades virtuais, em que as ruas da cidade estariam bem adaptadas para este “pequeno bólide”. Pretendia-se, em primeiro lugar, que ocupasse um nicho algures entre os vulgares velocípedes e os veículos a motor. Acontece que a realidade era bem diferente.
Desde logo, foram detectadas inúmeras desvantagens e falhas neste aparelho. Entre estas, estava o facto de a bateria, inicialmente prevista não ter a duração prevista, correndo o seu utilizador o risco de ficar parado a meio do trajecto pretendido. Logo no início, este problema conseguiu ser superado com o recurso a uma segunda bateria adicional. Mas todos os outros seus defeitos e mesmo perigos, começaram a ser cada vez mais divulgados por equipas de especialistas em segurança automóvel.
Esta publicidade negativa, acabaria por anular toda a campanha promocional dispendiosa que vinha sendo feita. Desta forma, a curiosidade e espanto que um veículo tão peculiar como o Sinclair C5 havia gerado no começo, converter-se-iam em gozo e paródia. O efeito acabaria por ser uma corrente de ridicularização nos países onde se havia dado a conhecer, principalmente na Grã-Bretanha.
Como consequência disto, o número de vendas foi abismal e os prejuízos foram-se acumulando. Estima-se que, ao todo, tenham sido vendidos menos de 15.000 unidades, grande parte quando o seu fabrico já havia sido descontinuado. Nesta fase, o seu preço das unidades restantes havia caído consideravelmente e surgiram aqui e ali coleccionadores, conscientes de que a suspensão do fabrico do Sinclair C5, lhe atribuiria o título definitivo de curiosidade tecnológica e, possivelmente, de raridade. Mas o público mais massificado a que se pretendia chegar, quase não mostrou interesse em abrir os cordões à bolsa para um veículo já muito maltratado, com ou sem fundamento, tanto pela imprensa especializada, como pelos mass-media em geral.
De facto, apesar de todas as boas intenções e inovações, o Sinclair C5, acabou por se revelar um completo desastre comercial. De tal forma o volume de prejuízos se vinha acumulando, que a “Hoover”, principal responsável pela manufactura do veículo e seus componentes, decidiu suspender a parceria com a “Sinclair Vehicles, Ltd.”, ainda a meio de 1985, comprometendo o fabrico de novos exemplares daí em diante. Numa tentativa desesperada de tentar limpar a imagem do seu principal produto, foram elaborados alguns protótipos de novos modelos, com algumas valências extra. Entre estes, estava um Sinclair C5 que podia atingir velocidades muito superiores, na ordem dos 240 km/h e de um outro modelo equipado com um motor a jacto. Todavia, tratavam-se de modelos que não passaram da fase experimental e sem viabilidade comercial. Eram mais uns inventos que, talvez, pudessem acrescentar alguns elementos ao anedotário que já cobria o Sinclair C5.
Sem possibilidade de fazer frente aos prejuízos que superavam a pior expectativa, a “Sinclair Vehicles, Ltd” abre falência e entra em liquidação logo no final desse ano de 1985, julgado tão promissor. Os efeitos deste completo desastre comercial, não se resolveram, de forma alguma, com o fim desta subsidiária da “Sinclair Research”. No ano seguinte, 1986, estando a braços com um rombo financeiro de proporções épicas, Sir Clive Sinclair vê-se obrigado a vender os direitos sobre os nomes tanto dos seus computadores, como da sua marca "Sinclair" à antes rival “Amstrad”. Basta lembrar que seria esta mesma “Amstrad” a encarregar-se do fabrico e da venda dos computadores “Spectrum” posteriores a 1986. Acontece que o prejuízo do Sinclair C5, já se vinha juntar a outros fracassos comerciais, nomeadamente o computador “Sinclair QL”, lançado em 1984 e descontinuado ainda nesse ano. Ainda inebriado pelo êxito retumbante do seu microcomputador caseiro Zx Spectrum, Sir Clive Sinclair decidiu dar mais um passo ousado ao lançar um computador de vocação claramente profissional e direccionado de propósito para o mundo dos negócios.
1 comentário:
Caracas! De onde vc tirou estas informações? Parabésn pelo belo conteúdo. Poste mais.
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