Da esquerda para a direita: Neil Landon (Patrick Cahill), Tony Burrows, Robin Shaw (Robin Scrimshaw) e Peter "Pete" Nelson (Peter Lipscomb). |
Ao longo dos tempos foram surgindo cantores, músicos, grupos e compositores, que tiveram o seu momento breve de sucesso graças a uma simples canção, muitas vezes quase só por força do acaso. Muitos deles acabaram por não deixar grande história e quase só são lembrados como um fenómeno de época. O mesmo já não acontece com essas únicas canções, que acabam por se tornar um elemento essencial da vasta manta de retalhos que constitui a “banda sonora” de uma época. Muitas vezes, só a canção é lembrada, ignorando-se quase por completo a imensa história e seus protagonistas que, não raras vezes, existiram por trás desse momento perfeito.
Entre estes casos está a canção “Let’s Go To San Francisco” do grupo britânico “Flower Pot Men”, geralmente conotado com o psicadelismo ou, mais concretamente, com aquilo a que se deu o nome de “Flower Power”. Estava-se em pleno 1967 e viviam-se ainda os ecos do “Verão das Flores” e San Francisco era uma espécie de “Centro do Universo”, que influenciava, entre outros aspectos, a Moda, a música e até a cultura ocidental. Aliás, durante o mês de Agosto, a canção “San Francisco (Be Sure To Wear Some Flowers In Your Head)”, da autoria de John Philips (líder dos “Mammas & Papas”), interpretada por Scott Mackenzie, liderava o Top de discos mais vendidos.
Entre estes casos está a canção “Let’s Go To San Francisco” do grupo britânico “Flower Pot Men”, geralmente conotado com o psicadelismo ou, mais concretamente, com aquilo a que se deu o nome de “Flower Power”. Estava-se em pleno 1967 e viviam-se ainda os ecos do “Verão das Flores” e San Francisco era uma espécie de “Centro do Universo”, que influenciava, entre outros aspectos, a Moda, a música e até a cultura ocidental. Aliás, durante o mês de Agosto, a canção “San Francisco (Be Sure To Wear Some Flowers In Your Head)”, da autoria de John Philips (líder dos “Mammas & Papas”), interpretada por Scott Mackenzie, liderava o Top de discos mais vendidos.
Foi na sequência disto que, os compositores e músicos John Carter e Ken Lewis decidiram, aproveitar a “onda” e escrever o seu tema “Let’s Go To San Francisco”. Muitos viram nesta canção uma resposta britânica ao tema de John Philips e um eventual testemunho na primeira pessoa, embora os seus compositores continuem, até hoje, a negar ser essa a sua intenção, pois ainda não tinham ido, nesse tempo, à cidade de San Francisco.
O single que continha esta canção (em duas partes separadas) entrou, em Setembro de 1967, directamente para o 4º lugar dos hit-parades britânicos. Permaneceria ainda colocado entre os mais vendidos durante um bom número de meses, tornando-se, a partir daí, um tema incontornável na história da música popular de todos os tempos. Noutros países repetir-se-ia um êxito semelhante, pelo menos no que respeita ao mundo ocidental. Não havia dúvidas que “Let’s Go To San Francisco” havia sido composto e editado no tempo e momento ideais.
Carter-Lewis & The Southerners - "Back On The Scene" (1961).
Carter-Lewis & The Southerners - "So Much In Love" (1961).
Carter-Lewis & The Southerners - "Here's Hopin'" (1962). Tema da autoria do saudoso produtor e compositor Les Reed (1935-2019).
Carter-Lewis & The Southerners - "Poor Joe" (1962).
Carter-Lewis & The Southerners - "Two Timing Baby" (1962).
Carter-Lewis & The Southerners - "Tell Me" (1962).
Carter-Lewis & The Southerners - "My Broken Heart" (1962).
Carter-Lewis & The Southerners - "Sweet And Tender Romance" (1963).
Carter-Lewis & The Southerners - "Your Momma's Out Of Town" (1963). Foi este o único sucesso desta banda.
Carter-Lewis & The Southerners - "Skinny Minnie" (1963).
Carter-Lewis & The Southerners - "Easy To Cry" (1963).
The Marauders - "That's What I Want"(1964).
Carter-Lewis & The Southerners, with Jimmy Page (Yardbirds, Led Zeppelin) (1944-) on the back, Viv Prince (Pretty Things, etc.) on the left and John Carter (John Shakespeare) at the front. |
Carter-Lewis & The Southerners - "Who Told You" (1963). Feat. Jimmy Page (Yardbirds, Led Zeppelin, etc.) on guitar.
Carter-Lewis & The Southerners. Da esquerda para a direita: (o "fenómeno") Viv Prince (mais tarde nos "Pretty Things" e outros) (bateria), John Carter (voz e guitarras), Rod Clark (?) (baixo elétrico) e Jimmy Page (mais tarde "Yardbirds" e "Led Zeppelin") (guitarras). Ken Lewis participava nas gravações de estúdio como teclista e 2ª voz.
A propósito de Viv Prince:
Keith Moon (1946-1978). "Moon, The Loon" o fã nº1 e principal "herdeiro" do "legado" de Viv Prince, infelizmente desaparecido muito prematuramente, vítima de uma vida feita de excessos. |
The Who - "Can't Explain" (1963-1965). Na parte dos coros de estúdio, participavam uns certos "The Ivy League", que eram exímios em fazer os tais falsettos, que se ouviam nos primeiros êxitos dos "The Who". São esses mesmos "três engravatadinhos" com ar de "cromos" (John Carter, Ken Lewis e Perry Ford) de que eu também falo nesta postagem! (Não pareciam ter nada a ver com a rebeldia própria dos "Mods"... Mas as aparências iludem!) Por isso, ao falar nos "The Who", não estou a "fugir" ao tema central desta postagem... Muito pelo contrário!!!
The Who - "My Generation" (1965), nova "remistura" de 2020.
The Who - "Anyway Anyhow Anywhere" (1965). Os "The Who" no seu melhor!!! Este tema é um perfeito "statement"...mais uma vez com a presença dos "engravatadinhos", "bem educadinhos" "monos" dos "The Ivy League" na parte dos coros. As aparências iludem!!! Já diziam os antigos...
The Who - "Anyway Anyhow Anywhere" (1965). Versão ao vivo no programa mítico "Ready, Steady, Go!". Keith Moon e Pete Townsend a competirem entre si no "roubo" do "show"... Quase sempre acabavam "empatados"...
The Who - "My Generation" (1967).
The Who - "Substitute" (1966). "But I was substituted for another guy!!! Me for him!!!". Muitos tipos identificam-se com esta letra... Quantas vezes uma nossa pretendida não foi parar aos braços de outro gajo!!! E nós ficámos "a ver navios" e a perguntar: "o que ele tem de melhor do que eu???"...
The Who - "Heatwave" (1966). Eu gosto do tema dos Xutos & Pontapés "Ai Se Ele Cai!" (2004), porque há qualquer coisa nele, que me faz lembrar este "Heatwave" dos "The Who"!!! Um tema muito "à la '66". Tive uma vez um sonho em que ouvi o "Ai Se Ele Cai!" dos Xutos & Pontapés tocado à maneira deste "Heatwave" dos "The Who"! Pareceu-me também ouvir os "engravatadinhos" dos "The Ivy League" a fazer uma das suas vocalizações em falsetto, tal como eles fazem neste tema! Foi um sonho que me deixou saudades!... (Será que alguém ainda conseguirá fazer a mistura perfeita do "Ai Se Ele Cai!" dos Xutos & Pontapés com o "Heatwave" dos "The Who"??? Seria, no mínimo, espetacular!!!)
The Who - "My Generation" (1967) (versão ao vivo). Com as cada vez mais frequentes "partidas" finais, que influenciaram muitos outros grupos musicais.
The Who - "My Generation" (1967). Atuação ao vivo no programa norte-americano "The Smothers Brothers Comedy Hour". (Smothers:) "The show was really Keith Moon!".
Smothers: "...And over here the guy who plays the sloppy drums... What's your name?".
Keith Moon: "Keith! My friends call me Keith... But you can call me John!"/"...and you got sloppy stage hands!..."
Smothers: "OK!!! THAT'S ENOUGH!!!"
O resto era uma amostra do que eram os concertos "normais" dos The Who, quando eles estavam no auge... O filme fala por si... A destruição das guitarras e dos amplificadores era a grande especialidade de Pete Townsend, o tal que dizia "I wanna die before I get old!". Quem acabou por "cumprir" essa premissa foi, precisamente Keith Moon... (1946-1978). John Entwistle, de certa forma, também não era ainda "velho" quando o encontraram morto na cama, vítima, provavelmente, de um ataque cardíaco... (1944-2002). No grupo The Who ele era considerado o elemento "calado", tal como George Harrison era o "Beatle Calado". John Entwistle era conhecido por "The Ox" (algo como "O Boi"), porque era extremamente forte, comia mais do que os outros, era o mais calmo, era pachorrento... mas não era parvo! Ele não dizia nada mas, no fundo, ele não era adepto das "brincadeiras" de Pete Townsend e de Keith Moon. Ele procurava assumir uma pose discreta e manter-se à parte de toda aquela encenação. Pete Townsend e Keith Moon destruíam equipamento atrás de equipamento... Também foram praticantes do "hábito" de destruir quartos de hotel... por isso, quando iam em digressão, eles tinham muitos problemas em arranjar alojamento... Conta-se que, uma vez, de manhã, quando entraram no carro que os levaria para longe ("bem longe!!!") do hotel cujo quarto haviam já, obviamente, destruído, Keith Moon "explodiu" em mais uma das suas antológicas birras: "Parem!!! Parem!!! Ninguém sai daqui!!! Esqueci-me de fazer uma coisa!!! Se não me deixarem voltar atrás... Podem crer que vos vou tornar este dia e os seguintes num inferno!!! Juro que me vou recusar a tocar se vocês não me deixarem fazer uma coisa que ainda me falta fazer!!!" e saindo do carro: "Já venho!...". A determinada altura, do cimo de uma janela do hotel, cai um televisor na piscina... Momentos depois, Keith Moon, vinha calmíssimo, bem disposto: "Agora, já podemos ir embora, malta!" e arrancaram para irem continuar a sua digressão...
Neste vídeo, John Entwistle parece dizer: "No meu baixo ninguém mexe!!! Se tocas no meu baixo, LEVAS UMA ESQUECIDA!!!".
The Who - "Boris The Spider" (1966). Composição da autoria de John Entwistle. Prova de que ele era mais "hard" do que aparentava.
The Who - "Boris The Spider" (1966) (versão ao vivo). Composição da autoria de John Entwistle.
The Who - "Whiskey Man" (1966). Composição da autoria de John Entwistle. Refere-se ao alcoolismo associado à loucura, estado mental muito propenso a alucinações.
The Who - "Whiskey Man" (1966). Composição da autoria de John Entwistle. Para além do baixo elétrico, ele tocava também trompa ("french horn"). Neste tema temos a rara oportunidade de o escutar a tocar esse instrumento musical na 2ª metade da canção. O efeito acrescenta algo de sinistro ao tema, já de si nada otimista...
The Who - "Won't Get Fooled Again" (1971). Aquele órgão!!!... Aquele órgão!!!... AQUELE ÓRGÃO!!!...
The Who - "The Song Is Over" (1971). Composição onde se prova que os The Who também eram bons nas baladas e em canções mais profundas. A voz principal é de Pete Townsend.
The Who - "Pure And Easy" (1971). Tema inédito durante décadas, pertencente a um projeto abortado. Na parte final do tema anterior, o seu começo é brevemente referido.
The Who - "Amazing Journey" (live) (1970).
The Who - "Listening To You" (1975).
The Who - Vídeo de promoção do álbum "Who Are You" (1978), o último álbum onde participou Keith Moon, antes da sua "partida" final...
The Who - "Won't Get Fooled Again" (versão ao vivo de 1978). Foi esta a última atuação ao vivo e em vida de Keith Moon (1946-1978). Este tema, "Won't Get Fooled Again", original de 1971, passou a ser o tema com que os The Who encerravam os seus concerto (antes era com o "My Generation") com as tais "cenas" finais...
The Who. A última entrevista com Keith Moon (1946-1978) em 1978.
VIV PRINCE - Ele mesmo
The Pretty Things - "Midnight To Six" (2012) (trailer). Phil May: "Viv Prince era um anarquista, mas um anarquista sem direção".
Viv Prince. "A fazer o 'jogo do sério'! Ah! Ah!". |
Viv Prince. "Sou apenas um músico... Comecei pela guitarra... E mudei para a bateria... Tinha mais 'power'...". |
Viv Prince. |
Viv Prince. "Fazer de 'bem-comportadinho' deixa-me irritado!". |
Viv Prince. "Assim de chapéu, até pareço um gajo conservador... Engano vosso!!!" |
Viv Prince. "Vá! Façam agora de conta que eu não estou aqui!!!" |
Viv Prince. "Eu sou baixinho mas, quando quero, causo mais sensação do que dez gajos juntos! Dez não!!! Vinte ou trinta!!! Mais!!!" |
Viv Prince. "Mais uma foto... 'Bora fazer a pose da praxe...". |
The Pretty Things. Da esquerda para a direita: Viv Prince, Brian Pendleton, Phil May, John Stax e Dick Taylor. |
The Pretty Things. Da esquerda para a direita: Brian Pendleton, Dick Taylor, Phil May, John Stax e Viv Prince. |
Viv Prince. "Estas sessões fotográficas são uma tremenda seca!!!" |
The Pretty Things. Da esquerda para a direita: Dick Taylor, Phil May, John Stax, Viv Prince e Brian Pendleton. |
The Pretty Things. Da esquerda para a direita: Phil May, John Stax, Dick Taylor, Brian Pendleton e Viv Prince. |
The Pretty Things. Da esquerda para a direita: Dick Taylor, Phil May, Viv Prince, Brian Pendleton e (meio coberto) John Stax. |
The Pretty Things. Da esquerda para a direita: Phil May, John Stax, Brian Pendleton, Viv Prince e Dick Taylor. |
Viv Prince. "Eu sou assim... Não é defeito... É feitio!... E elas gostam!!!" |
Viv Prince. "Grande estilo este chapéu! Causa polémica? Agora é que não o largo!!!" |
The Pretty Things - "London Town" (1965). Tema proveniente do álbum "Get The Picture?" de 1965. O último LP deste grupo a contar com a presença de Viv Prince na bateria e na percussão.
Viv Prince. "Eu não fiz nada... Só entrei para ver... Eles é que se atiraram a mim!...". |
Viv Prince - Light Of The Charge Brigade (1966).
Viv Prince - Minuet For Ringo (1966).
Viv Prince. "Eu 'tou na minha!!!". |
Viv Prince, Paul McCartney e Brian Auger. |
Viv Prince, com George Harrison e o "segurança" e grande amigo Mal Evans. |
Viv Prince. "Eu sou assim e elas gostam!!!" |
Viv Prince. "Pois é! Sou o Viv Prince! E então?" |
Viv Prince. "Creio que se enganaram na pessoa! Ah! Ah! Ah!!!!" |
Viv Prince. "Olha eu!!!..." |
Viv Prince. Um eterno rebelde... "Inside I'm still young!!!" |
The Pretty Things - "Vivian Prince" (1999).
Viv Prince. "Único e inimitável". |
The Yardbirds - "Stroll On". (1966). Excerto do filme "Blow Up" de Antonioni (1966). David Hemmings no papel principal. Neste excerto, assistimos a uma performance do grupo britânico "The Yardbirds", com aquela demasiado breve (!) formação que integrava, nas duas guitarras, dois executantes fora de série: Jimmy Page, o tal que havia feito parte do grupo "Carter-Lewis and The Southerners" e que, antes de integrar os Yardbirds, fora um dos músicos de estúdio (conhecidos pelo nome de "Session Men") mais requisitados de sempre e que, depois, atingiria a consagração máxima e mundial nos "Led Zeppelin" (há quem diga que foi Keith Moon quem sugeriu este nome surrealista!) ; Jeff Beck (que, quando mais ninguém esperava, decide abandonar os Yardbirds, ainda em 1966, na sequência de mais uma das suas múltiplas "crises") um dos pioneiros tanto do "Hard Rock" como do "Heavy Metal". Neste filme ele imita claramente os "The Who", nomeadamente o idolatrado, mas também muito invejado por ele, Pete Townsend, ao arruinar os amplificadores e, sobretudo, destruir a sua guitarra. Muitos outros grupos, ao longo dos tempos, têm tentado reproduzir em palco estas performances extremas. Alguns lá vão conseguindo, enquanto, muitos outros, só conseguem ser postiços e dar "barraca". Não há nada como os "originais"!... O que há mais são "herdeiros" sem alma...
(Voltemos para o "Let's Go To San Francisco" dos Flower Pot Men...:)
Acontece que John Carter e Ken Lewis não previam ter um êxito assim tão universal com este tema, cuja composição esteve muito longe de ser difícil, sendo eles escritores de canções de larga experiência e reputação, e que a haviam lançado quase à experiência. Na prática, o nome “Flower Pot Men” não correspondia a nenhum grupo oficial, de formação e elementos definidos, como eram muitos outros. A dupla Carter e Lewis, após terem composto o seu novo tema, limitou-se a fazer algo que não era assim tão invulgar.
De entre um vasto leque de músicos e cantores seus conterrâneos, com os quais já haviam entrado em contacto há algum tempo, escolheram a dedo aqueles que eles queriam utilizar em estúdio para a gravação do seu single. A escolha revelou-se perfeita. Todos eles tinham já uma experiência considerável no mundo da música, tanto a nível de grupos como de gravações em estúdio. Eles eram, segundo algumas informações, Tony Burrows e Robin Shaw nas vozes, John Lord nos teclados, Ged Peck nas guitarras, Nick Simper no baixo e Carlo Little na bateria. John Carter e Ken Lewis faziam as vozes principais.
De entre um vasto leque de músicos e cantores seus conterrâneos, com os quais já haviam entrado em contacto há algum tempo, escolheram a dedo aqueles que eles queriam utilizar em estúdio para a gravação do seu single. A escolha revelou-se perfeita. Todos eles tinham já uma experiência considerável no mundo da música, tanto a nível de grupos como de gravações em estúdio. Eles eram, segundo algumas informações, Tony Burrows e Robin Shaw nas vozes, John Lord nos teclados, Ged Peck nas guitarras, Nick Simper no baixo e Carlo Little na bateria. John Carter e Ken Lewis faziam as vozes principais.
Carlo Little (1938-2005) e Tony Burrows. |
Ao verem-se confrontados com um êxito inesperado, John Carter e Ken Lewis sabiam que iriam surgir solicitações para atuarem em público o que serviria, entre outros aspectos, para reforçar o êxito já obtido e, assim, transformar os Flower Pot Men numa máquina de fazer dinheiro. No entanto, ao contrário do que acontece com a generalidade dos cantores e músicos, a ideia de entrar em digressão não era muito agradável para John Carter e Ken Lewis.
Ivy League: John Carter (1940), Ken Lewis (1940-2015) e Perry Ford (1933-1999). |
Esta quase fobia de atuar ao vivo, resultava da sua experiência anterior, no grupo “Ivy League”, onde, da noite para o dia, eles se viram embrenhados, quase permanentemente, em digressões e atuações ao vivo quase seguidas.
The Ivy League - "A Girl Like You" (1965).
The Ivy League - "Graduation Day" (1965). Tal como nos outros temas dos Ivy League e de outros artistas a eles associados, a bateria estava a cargo de um músico de estúdio, então, muito requisitado: Clem Cattini.
The Ivy League - "Our Love Is Slipping Away" (1965).
The Ivy League - "Make Love" (1965). Exemplo de tema original no referido LP, da autoria dos três integrantes do grupo: John Carter (John Shakespeare), Ken Lewis (Ken Hawker) e Perry Ford (Brian Pugh) e dos mais bem conseguidos deste álbum.
The Ivy League - "Dance To The Locomotion" (1965). Uma das (maioritariamente), covers deste LP. É o tema de encerramento e dos mais interessantes. A aparente "má captação" do som dos metais, talvez não tivesse sido resultado do desgaste das "master tapes" originais. Parece claramente deliberada, para se produzir um som mais "selvagem" e "raunchy".
The Ivy League - "Running Round In Circles" (1966). Quando este tema foi lançado, tudo parecia apontar para um novo sucesso estrondoso... Não foi o que aconteceu e isso terá contribuído para uma diminuição da autoconfiança dos membros dos Ivy League e aproximar o horizonte de uma futura dissolução, tal como veio a acontecer.
The Ivy League - "Willow Tree" (1966). Este tema foi o último êxito (menor) dos Ivy League.
The Ivy League - "One Day" (1966). Um tema mais "hard" do que o costume nas canções dos Ivy League.
Aquilo que, no início, parecia algo desejável, em termos de promoção do seu grupo de então, começou a revelar-se cansativo e demasiado exigente, não lhes deixando tempo suficiente para a sua atividade favorita: compor canções. Perry Ford, pelo contrário, adorava os espetáculos ao vivo e assumia uma posição de cada vez maior liderança.
The Ivy League - "My World Fell Down" (1966). Este tema foi composto por John Carter e Geoff Stephens. Este single ("My World Fell Down"), lançado em finais de 1966, acabou, mais uma vez, por ter um fraco êxito. Acabaria por ser um grande (e o único) êxito de um certo grupo norte-americano chamado Saggittarius, onde se destacava o genial Curt Boettcher (1944-1987), no ano de 1967. Esta parceria (Carter-Stephens) havia já resultado numa, inicialmente, "brincadeira" ou experiência de estúdio, sob a forma do tema "Winchester Cathedral".
The New Vaudeville Band - "Winchester Cathedral" (1966). A tal "brincadeira" de estúdio de John Carter e Geoff Stephens... Composto por Stephens, sob a forma de um tema revivalista da música dos anos 1920 ("the roaring twenties") e cantado, na versão "demo", por John Carter, com a voz propositadamente distorcida. Geoff Stephens gostou de tal maneira da "demo" então conseguida, que decidiu lançá-la sob a forma da versão final.
O que acabaria por acontecer seria um inesperado êxito estrondoso no Outono de 1966. A banda, sob o qual aquele tema, aparentemente anacrónico, era interpretado e que respondia pelo nome de "New Vaudeville Band", ainda não existia, na prática. Era apenas um conjunto de músicos de estúdio, reunidos de propósito para aquela casual gravação e que se desfez logo de seguida. Começou a haver uma forte pressão para que a tal dita "banda" se desse a conhecer, pelo menos, em espetáculos televisivos. Desta forma, coube a Geoff Stephens e John Carter, fazer todas as diligências necessárias para reunir os elementos que iriam "dar a cara" pela, então, recém-criada "New Vaudeville Band", um pouco como acabaria por acontecer, no ano seguinte (1967), com a formação dos "Flower Pot Men".
The New Vaudeville Band - "Peek-A-Boo" (1966-1967). A banda "oficial", já constituída e com um vocalista escolhido. Só teve mais este êxito.
Por esta altura (finais de 1966), John Carter já havia saído da banda Ivy League. Para o seu lugar, havia entrado um certo Tony Burrows (1942).
The Ivy League, em 1966: Ken Lewis, Tony Burrows e Perry Ford. John Carter tinha transitado para o estúdio, envolvendo-se, igualmente, noutros projetos musicais. |
The Ivy League - "Four And Twenty Hours" (1966-1967).
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The Ivy League - "Lonely City" (1966-1997). No final de 1966, estava agendado o lançamento de um 2º LP dos Ivy League, cujo nome seria "Mind Out! It's The Ivy League!". Acontece que a, subitamente, decrescente prestação, em termos de vendas, dos singles lançados durante esse ano de 1966, bem como o facto de os Ivy League, de repente, se começarem a sentir algo anacrónicos face à muito rápida evolução do panorama musical circundante, bem como outras razões não mencionadas, terão lançado maus auspícios quanto dar-se mais esse passo. Por outro lado ainda estava bem viva na sua memória a decepção que, contrariamente às expetativas, havia sido o seu primeiro LP "This Is The Ivy League", apesar da crítica musical lhe ter sido tendencialmente positiva. Todavia, inicialmente, ainda tudo apontava para o lançamento desse segundo LP. Por isso, para além de alguns temas, provenientes dos singles mais recentes, como era costume com outras bandas, já estarem incluídos no alinhamento previsto, foram gravados novos temas para completar os dois terços do futuro álbum que faltavam, incluindo este interessante "Lonely City". À última hora, já com as gravações prontas, optou-se pelo seu não lançamento... A partir daí, estes temas ficariam inéditos até serem "recuperados" numa edição em CD do essencial da obra dos Ivy League em 1997.
A gravação original deste LP seria em stereo, como se estava a tornar cada vez mais comum nesta altura (1966). Acontece que, nas duas edições em CD (a primeira de 1997) em que estes temas inéditos aparecem, o som é mono, ao contrário do que acontecia com os temas provenientes do 1º LP de 1965. Foi uma solução encontrada para o som ficar com uma qualidade, pelo menos, aceitável. Porque é que isto aconteceu? Uma audição atenta dos temas destinados a esse 2º LP, a começar por este "Lonely City", permite desvendar a razão por detrás desta sonoridade mono "conveniente".
As master tapes, como acontece com todos os projetos de discos abortados, são armazenadas então em locais cujas condições são, no máximo, aceitáveis, e por tempo indeterminado, tornando-se parte do "património" e dos "arquivos" dos estúdios onde foram feitas. Não são guardadas em cofres ou arquivos especiais, onde exista um cuidado rigoroso, nomeadamente quanto à estabilidade da temperatura e aos oscilantes e imprevisíveis campos magnéticos. No fim de contas, estes cuidados que, num "mundo perfeito" deveriam ser aplicados a todo e qualquer documento audiovisual, só são destinados a casos excecionais, como gravações cujo valor é considerado incalculável. Neste campo restrito e seleto estão, por exemplo, as gravações efetuadas pelos Beatles. Todo o resto (a grande maioria), fica sujeita às vicissitudes e circunstâncias do passar do tempo... Para além da tão temida "desmagnetização" total ou parcial, temos as situações em que as fitas são mudadas constantemente de sítio. Um exemplo muito comum desta última situação, é quando os estúdios de gravação são sujeitos a obras ou, ainda mais, quando encerram definitivamente e os seus arquivos ficam na posse de uma ou mais pessoas e, por isso, se fragmentam e ficam armazenados em condições ainda piores. Sem falar em situações extremas como humidade excessiva e incêndios... Ou quando são, simplesmente, encaminhados para o lixo.
As "master tapes" deste LP inédito de 1966 ("Mind Out! It's The Ivy League!") terão, pelo menos, sofrido uma desmagnetização parcial. Nesta gravação acima ("Lonely City"), por exemplo, escutamos, com muita nitidez, o som dos violoncelos, enquanto que a parte dos metais e da secção rítmica do baixo e da bateria surgem algo apagados e "perdidos na distância". Um outro detalhe, nota-se na pandeireta que, a determinada altura, "viaja" entre um lado e o outro, sobretudo na "coda" final, como forma de aproveitar os efeitos da, então, inovadora "esterefonia". O que se percebe é que este instrumento de percussão, ora desaparece, ora reaparece de súbito. Isto acontece porque um dos "canais" da gravação original se "apagou" com o tempo. Se não fosse feita esta "montagem" em mono, com o som mais distribuído ao centro, o mais certo era a música praticamente só se ouvir de um lado, como se um dos auscultadores e uma das colunas se tivesse, de súbito, "avariado". O facto de terem recorrido ao "eco", permite que se consigam ouvir os instrumentos e vozes pertencentes ao "canal" ou "lado" que sofreu a "desmagnetização", ainda que, muito ligeiramente, desfasados.
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The Ivy League - "Busy Doing Nothing" (1966-1997). Outro exemplo de tema destinado ao referido 2º LP, previsto para o final de 1966. Só veria a luz do dia, tal como os outros temas, em 1997. Neste tema, os instrumentos reservados a cada um dos "canais", estão "invertidos", relativamente a outros, como "Lonely City". Por isso, ouvem-se bem os elementos da parte rítmica, nomeadamente o baixo e a bateria, enquanto o órgão eletrónico e parte das vozes se ouvem quase "perdidos na distância" e levemente desfasados. The Kestrels. Tony Burrows é o 2º a contar da esquerda e Roger Greenaway é o 3º. |
The Kestrels - "There Comes A Time" (1959).
The Kestrels numa foto mais recente. Roger Greenaway e Tony Burrows ao centro. |
Anúncio promocional de 1966, do single referido. |
The Ivy League - "Arriverderci Baby" (1967).
The Ivy League - "Thank You For Loving Me" (1967).
Será neste ponto em que John Carter e Ken Lewis se encontravam quando decidem pôr em marcha o projecto que iria dar origem aos “Flower Pot Men”.
Em face do êxito repentino do seu tema “Let’s Go To San Francisco”, John Carter e Ken Lewis vêem-se na necessidade de “dar corpo” a esse grupo virtual que deveria aparecer ao vivo e nos media. No que respeita à parte instrumental, consideraram ideal o recurso aos elementos principais da mesma banda que havia participado na gravação do já referido single. Pelo menos numa fase inicial, pois era certo que, na sua condição de músicos de estúdio, poderiam ser, de quando em quando, solicitados para outros projectos, não havendo problema em substituí-los. A maior dificuldade dizia respeito aos vocalistas do grupo, que seriam a sua imagem de marca. Por outras palavras, necessitavam de uma road band, que “interpretasse” o papel dos “Flower Pot Men” e pudesse cantar ao vivo com a mesma qualidade que as versões de estúdio prometiam.
Decidem, por isso, começar por utilizar os outros dois elementos que cantavam no tema original, ou seja, Tony Burrows e Robin Shaw. Dado que, na teoria, eles deveriam ser quatro, deveriam ser, à partida, John Carter e Ken Lewis a completar o grupo. Estes dois, tal como já foi atrás dito, não estavam na disposição de actuar ao vivo e passar novamente pelo tormento das digressões. Desta forma, havia que encontrar mais dois cantores que tivessem a qualidade vocal suficiente para os substituir o que, talvez, não fosse fácil. A solução, pelo contrário, revelou-se muito menos complicada.
Entram de novo em contacto com Neil Landon, a quem já haviam produzido dois "singles", e que já havia integrado, como substituto, os “Ivy League” no seu último ano de existência. Este também era já um conhecido de longa data do baterista Carlo Little e fora também seu colega, no começo da década de 1960, num grupo rock de curta duração. Por isso, a sua integração foi muito fácil.
Em face do êxito repentino do seu tema “Let’s Go To San Francisco”, John Carter e Ken Lewis vêem-se na necessidade de “dar corpo” a esse grupo virtual que deveria aparecer ao vivo e nos media. No que respeita à parte instrumental, consideraram ideal o recurso aos elementos principais da mesma banda que havia participado na gravação do já referido single. Pelo menos numa fase inicial, pois era certo que, na sua condição de músicos de estúdio, poderiam ser, de quando em quando, solicitados para outros projectos, não havendo problema em substituí-los. A maior dificuldade dizia respeito aos vocalistas do grupo, que seriam a sua imagem de marca. Por outras palavras, necessitavam de uma road band, que “interpretasse” o papel dos “Flower Pot Men” e pudesse cantar ao vivo com a mesma qualidade que as versões de estúdio prometiam.
Tony Burrows em diferentes épocas. |
Entram de novo em contacto com Neil Landon, a quem já haviam produzido dois "singles", e que já havia integrado, como substituto, os “Ivy League” no seu último ano de existência. Este também era já um conhecido de longa data do baterista Carlo Little e fora também seu colega, no começo da década de 1960, num grupo rock de curta duração. Por isso, a sua integração foi muito fácil.
A parte vocal deste tema estava a cargo de Robin Shaw, o qual fez, neste grupo quase desconhecido, a sua estreia como cantor. A maioria esmagadora destes temas ficaria inédita até 2005, quando é lançada uma coletânea dupla, onde surgiam dois "supostos" LPs reeditados. O primeiro, chamava-se "The Men From The Ministry" que é, "supostamente", datado de 1966 e de onde é extraído este "Someone Like You". O segundo, onde surgiam, claramente, influências do psicadelismo, chamava-se "Midsummer Nights Dreaming" é, também "supostamente", datado de 1968. Este grupo "The Ministry Of Sound" foi mudando constantemente de membros, embora, em muitos dos seus temas surgissem, obviamente, os seus principais mentores John Carter e Ken Lewis. Os outros músicos e cantores que nele participavam eram os mesmos que integravam os outros projetos da referida "partnership" de "Denmark Street", com destaque para os, já mencionados, "Ivy League" e "Flower Pot Men". Nestes incluíam-se o baterista Clem Cattini e o ex-atleta, compositor, segurança(?), ator e cantor ocasional Russ Alquist (1935-2017).
Russ Alquist (1935-2017). |
The Ministry Of Sound - "Sequin Sally" (1968). A título de curiosidade, aqui fica um tema onde o referido "cantor ocasional" Russ Alquist, não se saiu mal...
No que respeita ao elemento vocal que ainda faltava, coube a Robin Shaw (Robin Scrimshaw) (1943) entrar em contacto com um certo Peter Nelson (Peter Lipscomb) (1943-2005), que fora seu antigo companheiro e vocalista num grupo chamado “Peter’s Faces”.
Peter Nelson. |
Peter's Faces. Robin Shaw é o primeiro da esquerda. |
Peter's Faces. Robin Shaw e Peter Nelson no centro da imagem. |
Peter's Faces - "Why Did You Bring To The Dance?" (1964).
Peter Nelson e Robin Shaw à esquerda na imagem. |
Peter's Faces - "Try A Little Love My Friend" (1964).
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Peter's Faces - "De Boom Lay Boom" (1965). Última tentativa deste grupo para conseguir o tão esperado hit. Mudaram um pouco o seu estilo habitual e tentaram aproximar-se do estilo de um outro grupo musical que fazia grande êxito em Inglaterra por essa altura: Cliff Bennett And The Rebel Rousers... O saxofone era a sua imagem de marca. Mas, como eles havia tantos outros... A experiência não resultou... Este Peter Nelson, depois do seu grupo se ter dissolvido em 1965, sem qualquer sucesso discográfico, tentaria ainda singrar numa carreira a solo, igualmente sem êxito.
Peter Nelson - "Donna" (1965). Um original de Ritchie Vallens, mais conhecido pela sua interpretação do "La Bamba" em 1958 e muito prematuramente desaparecido, no mesmo desastre aéreo ocorrido a 3 de Fevereiro de 1959 ("the day the music died"), em que também morreram Buddy Holly e Big Bopper (este famoso pelo grande clássico do rock 'n roll "Chantilly Lace (oh baby, that's a-what I like)" (1958).
Desta forma, o convite de Robin Shaw fora mais do que oportuno.
Em pé: Neil Landon, Peter Nelson e Tony Burrows. Sentado: Robin Shaw. |
Da esquerda para a direita: Neil Landon, Peter Nelson, Tony Burrows e Robin Shaw. |
The Flower Pot Men - "A Walk In The Sky" (1967). Contrariamente às espectativas, este single não chegou, nem de perto, ao êxito do anterior. Mas parece que, noutros países, em especial na Holanda, foi um êxito estrondoso.
The Flower Pot Men (Tony Burrows) - "Man Without A Woman" (1968). Este single acabou por ser um grande flop, apesar da notável prestação vocal de Tony Burrows e do bem conseguido arranjo orquestral.
The Flower Pot Men (Peter Nelson) - "You Can Never Be Wrong" (1968). O lado B do single anterior. Na minha opinião, este tema é que devia ter sido escolhido para o lado A... Podia ter tido muito maior êxito...
The Flower Pot Men (Neil Landon) (sob o nome de "Friends") - "Piccolo Man" (1968). Não valeu a aventura de uma nova "identidade" para fugir a um novo fiasco... O lado B, deste single, mais uma vez, parecia uma melhor escolha. Era mais ambicioso e psicadélico, a começar pelo nome "Mythological Sunday"... Mas parece que os temas "alegres" também estavam "na onda" por essa altura (1968)... Decidiram tentar apanhá-la e naufragaram!
The Flower Pot Men - "Mythological Sunday" (1968). Um tema mais adequado para um LP do que para um single que se pretendia de "êxito imediato". Apesar de tudo, é um tema revelador de alguma imaginação. Bem conseguido o mellotron com o "som de flautas" a abrir e a fechar a canção.
Logo em 1968, a banda musical que acompanhava o grupo começa-se a desfazer, com a saída de John Lord e Nick Simper, que irão formar os “Deep Purple”, com muito maior sucesso. Apesar de John Carter e Ken Lewis continuarem a compor, tanto para o seu projecto musical ainda em curso, como para outros cantores e grupos, os “Flower Pot Men” dissolvem-se gradualmente durante o ano seguinte, apesar de, até 1970, terem sido gravados uma série de temas que ficariam inéditos por muitos anos. Segundo John Carter, esses temas destinavam-se a um ou dois albuns a lançar por essa altura (1969/1970), o que acabou por não acontecer. Essas canções dispersas acabariam por surgir, sem uma ordem lógica, em diversas colectâneas lançadas nos anos 80 e 90, mas só mais recentemente se fez o seu devido reaproveitamento, sob a forma de um CD com o nome "Peace Album/Past Imperfect", que correspondeu a uma edição "virtual", ainda que tardia, dos dois álbuns abortados. Apesar de tudo, pode valer uma breve audição.
The Flower Pot Men - "White Dove" (1969). Tema incluído na parte referente ao "LP inédito" "Peace Album" (1970).The Flower Pot Men - "Busy Doin' Nothing" (ca. 1968). Um de vários temas inéditos (até 1993?) gravados naquele enigmático período entre 1968 e 1970. A formação que gravou este tema, ainda, provavelmente, incluía os elementos originais da road band, a que o vídeo dá especial destaque. Trata-se de uma regravação de um tema já gravado pelos Ivy League, em 1966, agora mais "atualizado". Não tem o encanto do original de 1966, que aparece neste post, um pouco mais atrás. No entanto, esta versão, mais produzida, não deixa de ser interessante.
The Flower Pot Men - Silicon City (ca. 1969). Outro tema inédito (até 1993?) do referido período 1968-1970. Este tema é, claramente, um "pastiche" dos temas de temática "surf" de outros grupos, a começar pelos Beach Boys ("Surf City" e outros). Todavia, é um tema premonitório dos tempos que viriam... O local a que, em princípio, eles se referem é a área urbana situada na Califórnia, a que foi dado o nome de Silicon Valley, durante muito tempo a "meca" de tudo o que tivesse a ver com informática, quer a nível de hardware, quer de software. Com a "West Coast", então, ainda muito em voga e a perspetiva do aparecimento de algo de novo e revolucionário, que poderia, ou não, alterar completamente, senão destruir, o cenário, já em queda, do "Flower Power"... Foi um tema certeiro!
Quando os "Flower Pot Men" se dissolveram definitivamente, em 1970, já Tony Burrows, Robin Shaw e Peter Nelson subiam as escadas do êxito nos “White Plains”, juntamente com o veterano compositor/músico Roger Greenaway.
The Kestrels com Tony Burrows e Roger Greenaway (1º e 2º a contar da esquerda). |
David & Jonathan - "Michelle" (1966). Quando os Beatles lançaram o seu LP "Rubber Soul" em finais de 1965, logo se percebeu que esta balada, maioritariamente composta e cantada por Paul McCartney, era um tema "forte" e que fazia todo o sentido, como acontecia com outras bandas, lançá-la em formato de single ou EP. Acontece que os Beatles haviam adotado como regra de ouro, evitar "repetir" temas em formatos diferentes. Diziam que era para não "ludibriar" os seus fans... Apesar de haver muitas opiniões que defendiam que fazia todo o interesse lançar o "Michelle" em single, ainda que isso pudesse levar a que os seus fans ficassem com o tema "repetido"... Tudo indicava que este eventual single, apesar da "repetição", chegaria muito facilmente ao Top de vendas..."Cash-In" puro!!! Desta forma, sem haver nenhum single dos Beatles com o tema "Michelle", ficava aberto o caminho a que outro grupo ou cantor se "encarregasse" de o lançar em single ou EP e, desta forma, havia todas as condições para haver mais um "hit", para a respetiva editora... Estratégia de mercado!!! O grupo David & Jonathan, havia-se constituído a partir da parceria entre os compositores Roger Cook e Roger Greenaway. Estes dois também buscavam encontrar o seu primeiro êxito em nome próprio, depois de algumas das suas composições, com destaque para a canção "You've Got Your Troubles" interpretada pelos conterrâneos The Fortunes e que encimou os Tops de vendas durante 1965, terem sido êxitos dos dois lados do Atlântico.
Desta forma, George Martin, precisamente o produtor dos Beatles (!), decidiu entrar em contacto com estes jovens compositores, com o intuito de produzir uma versão do referido tema "Michelle" em single. Desta forma, ambas as partes ficariam a beneficiar: o dueto David & Jonathan tinha todas as hipóteses de conseguir o seu primeiro êxito "a sério" e George Martin, enquanto produtor desta canção, também teria muito a ganhar, bem como a editora a que ele estava associado. Vendo, à partida, o "caminho livre" e parecendo ter "todo o tempo do Mundo", todos os que estiveram envolvidos na produção e interpretação desta nova versão decidem pôr mãos à obra, ainda em Dezembro de 1965, enquanto o disco "Rubber Soul" subia nos "hit parades" a uma velocidade já esperada . Com o começo de 1966, os preparativos da futura versão da canção "Michelle" entram em velocidade de cruzeiro e as expectativas, são muito otimistas.
The Overlanders - "Michelle" (1966).
O problema foi que, durante esse espaço temporal, surge no mercado, quase de surpresa e antecipadamente, uma outra versão do tema "Michelle", interpretada por um grupo chamado "The Overlanders". Esta versão atinge, ainda logo no mês de Janeiro de 1966, o 1º lugar dos hit parades, criando uma situação indesejável para todos os que se envolveram na versão de David & Jonathan: eles viram-se forçados a competir com uma diferente versão mais bem sucedida e que, a cada dia que passava, surgia mais bem sucedida em matéria de vendas. Como se isto não bastasse, a versão dos Overlanders conquistava uma cada vez maior adesão por parte dos "consumidores" de música, tornando-se o modelo referencial a que todas as outras versões que surgissem posteriormente, acabariam por ser comparadas, ficando estas com o seu campo de ação cada vez mais limitado e ser mais do que certo, que não chegariam aos "calcanhares" da outra. Ponderou-se mesmo a ideia de se abortarem as sessões de gravação e produção da versão de David & Jonathan. O problema é que naquelas já se havia avançado a um ponto em que desistir, causaria situações, no mínimo, embaraçosas. Já se havia gasto muito tempo e dinheiro.
Mesmo assim, a versão de "Michelle" de David & Jonathan acabaria por ser lançada também nos primeiros meses de 1966, acabando por atingir, no máximo, o 10º lugar em terras de sua Majestade. Não era uma posição má se comparado com o que acontecia a outros cantores e grupos. Contudo, ficava claramente, abaixo das expetativas iniciais. Havia ainda o risco de vir a ser um "flop", o que era o contrário de todas as expetativas desejadas e colocaria muitos dos envolvidos numa "camisa de onze varas). Apesar de todos os outros aspetos, terão sido, entre outras coisas, a produção já investida em matéria instrumental e a "golden voice" de Roger Greenaway, que "salvariam" esta versão de "Michelle". Todavia, quando se fala em covers do tema "Michelle", é a versão dos Overlanders aquela que tem sido escolhida para coletâneas de "vários artistas" que foram surgindo a ritmos variados. Ao longo dos anos, foram entretanto surgindo novas versões, umas mais inovadoras do que outras e de êxito variável. O tema "Michelle" dos Beatles é agora um clássico incontornável de todos os tempos. Não obstante, foi a versão de "David & Jonathan" a que mais "danos" sofreu com a súbito lançamento da dos Overlanders, não só pela sua proximidade cronológica...
David & Jonathan. |
David & Jonathan - "Lovers Of The World Unite!" (1966) (versão com letra). Roger Cook canta as partes a solo. Este tema foi um êxito ainda maior do que o anterior ("Michelle") e David & Jonathan sentiram-se,sem dúvida, compensados pelos eventuais fiascos anteriores
David & Jonathan - "Lovers Of The World Unite!" (1966). Versão remisturada em 2018. O suposto "coro de fundo" é composto apenas pelas vozes dos dois solistas, estas, por sua vez, sujeitas a um processo repetido de "overdubbing" que era, então, uma inovação de estúdio. As partes mais graves são cantadas por Roger Cook e as mais agudas são cantadas por Roger Greenaway. Apesar de tal assim nos parecer, não existe nenhum elemento feminino no dito "coro". Os "falsettos" são deste último (Roger Greenaway).
David & Jonathan. |
Os dois também constituíram a famosa dupla de compositores "Cook/Greenaway", que produziu também uma série de grandes êxitos de diversos grupos que existiram entre a segunda metade dos anos 60 e a primeira metade dos anos 70, incluindo os já referidos "White Plains".
Entrevista a Tony Burrows e a Roger Greenaway relativa ao fim dos "Flower Pot Men" e a constituição dos "The White Plains".
The White Plains - "My Baby Loves Lovin'" (1970). Nesta versão ao vivo na televisão, é Roger Greenaway (à direita, na imagem), também um dos autores do tema, quem faz a voz principal. Na versão mais conhecida, em estúdio, era Tony Burrows (à esquerda, na imagem) o principal vocalista. A razão desta "troca de papeis" residia no evitar da repetição de uma situação que havia acontecido, também em contexto televisivo, umas semanas antes. Nesse período de 1969-1970, Tony Burrows era um dos cantores, não só de estúdio, mais requisitados em Inglaterra. Desta forma, num curto espaço de tempo, ele viu-se à frente de três grupos em simultâneo: os referidos White Plains; os Brotherhood Of Man, interpretando o tema "United We Stand" e os "Edison Lighthouse" interpretando "Love Grows (Where My Rosemary Goes)". Aconteceu que, num programa televisivo, transmitido também no começo de 1970, os três grupos estavam entre os que iriam atuar nessa ocasião. Estas aparições em público constituem, como ainda hoje acontece, uma forma de cantores e grupos se darem a conhecer ao grande público, o que é vital para a sua promoção e, espera-se, consequente êxito. A ideia é que, em cada programa, todos tenham direito a um "tempo de antena" equitativo e sejam tratados de forma idêntica. Acontece que, num mesmo programa, transmitido semanas antes deste, Tony Burrows apareceu como vocalista principal dos referidos três grupos, que estavam a ter êxito na altura. Na prática, isto correspondia a ter o triplo da promoção habitual e originou-se uma situação muito embaraçosa. Pensou-se que se estava a dar excessiva uma primazia a Tony Burrows... Foi uma situação que, de alguma forma, afetou negativamente a imagem pública deste cantor e o prejudicaria, inicialmente, na sua carreira. Agora, daqui para a frente, se aparecessem dois ou três grupos no mesmo show em que Tony Burrows fosse o principal vocalista, ele só poderia assumir a liderança de apenas um, previamente combinado à partida.
(Agora um pormenor anedótico: em comentários relativamente a este tema e vídeo no YOUTUBE, têm alguns "cromos" afirmado que estes "The White Plains" teriam integrado um certo cantor chamado Meat Loaf que, entre muitos outros êxitos, lançaria, em 1977, o obrigatório álbum e êxito mundial "Bat Out Of Hell" e faria ainda um glorioso regresso nos anos 1990, graças a uma bem conseguida parceria com o também fantástico compositor e produtor Jim Steinman. A razão deste mal-entendido, se não é, simplesmente, uma peça antológica de fino humor para a gente se escangalhar logo a rir, reside na figura do 2º cantor a contar da esquerda. Eu próprio já chorei de rir só de pensar nesta muito absurda "lenda"!!! É como imaginar os "Ramones" a cantar o "Con Te Partiró" do Andrea Boccelli!!! (risos!!!). Vamos agora, de uma vez por todas, resolver este mistério: o nome desse cantor é ROBIN SHAW (Robin Scrimshaw) (1943), que fez parte, entre outros, dos "Peter's Faces", dos "Ministry Of Sound", dos "Flower Pot Men", antes de ingressar nos "White Plains", junto com, entre outros, Peter Nelson (Peter Lipscomb) (1943-2005), que também aqui aparece neste vídeo, à sua esquerda. Quem, até agora, ainda não percebeu isto, também não terá percebido pevide desta postagem!!!)
Formação original dos "White Plains", por volta de 1970. Da esquerda para a direita: Roger Greenaway, Tony Burrows, Robin Shaw e Peter Nelson. Tony Burrows sairia pouco depois, para iniciar uma carreira a solo. The Pipkins - Gimme Dat Ding (1970). Pelo meio, Roger Greenaway e Tony Burrows ainda tiveram tempo de fazer esta "brincadeira" que, apesar de tudo, foi um êxito estrondoso naquele ano (1970). É também considerado, por alguns, um dos temas mais "odiados" da música pop... Tony Burrows e Roger Greenaway, como o duo "The Pipkins" (1970). Este duo de dois cantores-compositores talentosos, como que resolveu fazer uma "perninha" no mundo da comédia... Roger Greenaway cantava num registo mais agudo e fazia o papel de "paneleirote caricato e ridiculamente efeminado", enquanto Tony Burrows cantava num registo mais grave e fazia o papel de "shabby, dirty, wicked, pervert 'n' filthy old man". Uma curiosidade... Se não o quiserem ouvir... Passem à frente!!! Edison Lighthouse (feat. Tony Burrows) - "Love Grows (Where My Rosemary Goes)" (1970). Brotherhood Of Man (feat. Tony Burrows and Roger Greenaway) - "United We Stand" (1970). Tony Burrows - "Every Little Move She Makes" (1970). |
Por seu turno, Neil Landon havia embarcado na breve aventura dos “Fat Mattress”, ao lado de, entre outros, Noel Redding, que antes fora baixista (e raramente vocalista) no grupo "Jimi Hendrix Experience", onde liderava o lendário e genial guitarrista Jimi Hendrix. Este novo grupo lançaria apenas dois álbuns e Noel Redding, ironicamente, acabaria por abandonar os "Fat Mattress" durante as gravações do segundo álbum, onde o grupo viria a integrar novos elementos e Neil Landon passaria a assumir uma breve liderança. Após o fraco êxito do seu segundo álbum, o grupo propriamente dito, dissolver-se-ia durante as gravações de um depois cancelado terceiro álbum. A partir de 1974, Neil Landon passaria a residir na Alemanha, mais concretamente em Hamburgo, onde faleceria vítima de cancro em 2020. Noel Redding envolver-se-ia em diversos projetos musicais, tendo-se, de tempos a tempos, afastado do mundo artístico com o qual estava francamente desiludido. Teve um final de vida não muito feliz, envelheceria prematuramente e a sua saúde deteriorar-se-ia muito rapidamente. Foi encontrado morto em sua casa, vítima de causas naturais, em 2003.
Fat Mattress - "Magic Forest" (1969). Versão ao vivo, a encerrar uma atuação do grupo num espetáculo televisivo. Como acontecia muitas vezes nos temas finais, o grupo toca com especial vigor e empenho. Destaque para Eric Dillon, com 19 anos, exímio na bateria e Noel Redding a executar um dos seus melhores solos de guitarra. Jim Leverton, no baixo e principal autor da canção e Neil Landon fazem as vozes principais.
Formação original deste grupo. Da esquerda para a direita: Jim Leverton (1946), Noel Redding (1945-2003) Neil Landon (1941-2020) e Eric Dillon (1950). Jimi Hendrix Experience - "Purple Haze" (1967). Jimi Hendrix, acompanhado de Noel Redding (baixo) e Mitch Mitchel (bateria). Jimi Hendrix Experience - "Voodoo Chile (ou Child?)" (1968). Jimi Hendrix, acompanhado de Noel Redding (baixo) e Mitch Mitchel (bateria). Robert Plant e Jimmy Page do grupo "Led Zeppelin", numa entrevista feita logo a seguir à divulgação da notícia da morte inesperada de Jimi Hendrix, em 1970. Percebem-se o seu espanto e a sua incredulidade em face de tal notícia... Quase duas décadas depois, em 1992, junto com o baterista Mitch Mitchel (1946-2008), seu colega no grupo "Jimi Hendrix Experience", Noel Redding partilhou o galardão de entrada deste grupo no "Rock and Roll of Fame", numa cerimónia que se transformaria numa muito comovente homenagem a Jimi Hendrix, que faria 50 anos (1942-1970) e cujo pai, ainda vivo, também esteve presente. |
- E agora, como tema-bónus, a canção com que encerram a generalidade das coletâneas dos Flower Pot Men:
The Flower Pot Men - "The Children Of Tomorrow" (1969-1970). Tema composto por John Carter (1940) e pelo ex-atleta, segurança (?), cantor e compositor ocasional Russ Alquist (1935- 2017). Mais uma vez, este último não se saiu mal!... (Lembram-se do tema "Sequin Sally"?).
(VER no YOUTUBE, no vídeo "PAST IMPERFECT" a versão completa de "Children Of Tomorrow", porque nesta que eu consegui aqui trazer, "eles" (uns safados!!!) apagaram os SEGUNDOS FINAIS, onde nos espera uma SURPRESA!!!...).
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