sábado, dezembro 08, 2007

Ultimate Spinach

Ultimate Spinach consistiu numa banda originária de Boston, inserida no vasto conjunto de grupos musicais surgidos pela América fora no final dos anos 60, com especial destaque para a West Coast, mais concretamente Califórnia e a sua cidade S. Francisco. Pode-se afirmar que cada cidade norte-americana viu nascer uma multidão de conjuntos musicais, tentando conquistar o seu lugar ao sol e, igualmente, desaparecer muitos deles num curto espaço de tempo. Isto já havia, de certa forma, acontecido em solo britânico anos antes, na sequência do êxito estrondoso de grupos como os Beatles e outros. Uma grande parte desses grupos teve vida curta, quase sempre associada a fraco êxito. Isto acontecia devido não só devido à eventual falta de talento musical dos seus elementos, mas também à rápida saturação do mercado, o que fazia com que o público ouvinte não desse vazão a toda a oferta que lhes era oferecida. Por outro lado, as editoras e os produtores existentes teriam de escolher apenas alguns em que investir o tempo e o capital necessário, pondo de parte todos os outros, onde até poderia haver muitos talentos desperdiçados. Nesta escolha intervinham, não só razões de natureza logística e financeira, mas também os critérios de gosto pessoais dos grandes magnatas e coisas tão comezinhas como a maior ou menor simpatia que estes nutriam por aqueles que a eles recorriam como uma possível porta para o êxito. É preciso não esquecer que os responsáveis pelas editoras, os produtores com algum poder e nome na praça e todos os outros que teriam o poder de decidir acerca da sorte dos artistas, eram muitas vezes de uma geração anterior à destes, não raras vezes pais de família e com filhos da mesma idade. Isto sem referir os que não tinham afinal grande sensibilidade musical. Nos anos 60 os grupos musicais das novas correntes, na generalidade, ainda eram olhados como maus exemplos pelas gerações mais velhas como um mau exemplo para os mais jovens, que eram atraídos pelo seu som e estilo revolucionários. Desta forma, terá havido projetos musicais, de real qualidade, que não tiveram o reconhecimento devido e, muitas vezes, o êxito merecido durante os seus breves anos de existência. Muitos só tiveram oportunidade de deixar obra gravada, graças precisamente ao apoio empenhado de produtores e managers da mesma geração e com poucos meios disponíveis. Entre estes grupos estavam os Ultimate Spinach. Este grupo foi fundado em 1967 e só gravaria 3 álbuns entre 1968 e 1969. Não é possível definir com clareza o estilo em que estes se inseriam, mas há quem classifique, muito genericamente, este grupo de “alternativo”, devido, entre outros aspectos, ao facto de não estarem inseridos em nenhuma das principais editoras e o seu êxito ter sido muito reduzido. Aliás, esta banda só foi verdadeiramente conhecida nos E.U.A., onde, mesmo hoje, é considerada uma curiosidade do seu tempo e algo obscura. O seu primeiro álbum, "Ultimate Spinach" , teve uma recepção algo moderada por parte do público e o interesse que suscitou, nesse começo de 1968, deveu-se, em grande parte, ao efeito da novidade e ao facto do seu som e das suas letras "combinarem bem" com o cenário onde a moda hippie estava no auge e os movimentos de contra-cultura proliferavam. O ponto forte destas canções residia essencialmente na música, onde se privilegiava o virtuosismo e a capacidade inventiva de Ian Bruce-Douglas, o vocalista e poli-instrumentista do grupo, que era também o principal compositor. As suas qualidades de letrista e cantor eram, no entanto, muito limitadas. No que respeita às capacidades vocais, estas eram incontestáveis no que se refere a outro membro fundador do grupo, a cantora Barbara Hudson. Aliás, seria ela o único elemento do grupo que permaneceria na formação ao longo das suas constantes entradas e saídas de músicos. Esta inconsistência no que respeita aos elementos do grupo, seria também um factor determinante na sua curta existência. Após a dissolução da formação que havia participado na gravação do primeiro disco, Ian Bruce-Douglas e Barbara Hudson decidem reformar os Ultimate Spinach recrutando, desta vez, artistas escolhidos a dedo e com experiência comprovada, incluindo o baterista Russ Levin. É desta forma que começam as muito exigentes sessões de gravação para o álbum seguinte "Behold and See" . Mais uma vez, Ian Bruce-Douglas escreve a totalidade das canções e encarrega-se dos arranjos até ao pormenor, para além de tocar diversos instrumentos. O facto de ser ele, de novo, o principal vocalista, constitui, para diversos críticos, um elemento desvalorizador da qualidade das canções. Consciente ou não disto, decide convidar uma outra cantora, uma certa Carol Lee-Britt, a qual, estranhamente, não surge como um elemento "oficial" do grupo. No entanto, esta revela-se uma vocalista de muito maior qualidade nos dois temas apenas onde participa. Ian Bruce-Douglas pretendia fazer deste álbum a sua grande obra-prima e daí o seu maior investimento em tempo, dinheiro e saúde. O álbum consistia em oito canções, seis delas de duração muito superior a 5 minutos, onde, mais uma vez, a temática versará à volta dos mais diversos temas, com especial destaque para a sociedade, relações humanas e a imaginação. Como acontece com a generalidade dos álbuns, nunca foi posta de parte a ideia de retirar um ou dois singles, que poderiam ser potenciais êxitos em novos públicos. Desta forma, surgem dois temas "Behold & See (Gilded Lamp of The Cosmos)" e "Where you're at", menos complexos e com uma duração à volta dos 3, que são onde, precisamente, os temas onde a cantora convidada Carol Lee-Britt tem a oportunidade de brilhar. No seu todo, pode-se dizer que o resultado foi um álbum mais amadurecido e uniforme, se comparado com o primeiro, embora surjam dois ou três temas a que é difícil aderir se escutados fora do contexto do álbum. O seu ponto forte situa-se, precisamente, no seu tema mais longo "Genesis of Beauty Suite (in four parts)". Não é decerto um álbum que conquiste nem fácil nem imediata adesão por parte da generalidade dos ouvintes comuns: este álbum destina-se a ser apreciado por ouvidos mais exigentes, os mesmos que consigam apreciar a mais elaborada e menos usual peça de música clássica e não se guiem pelas recomendações das estações de rádio. Esgotado pelas gravações e desencantado com a fraca recepção que o álbum então teve, tanto por parte do público como da crítica, Ian Bruce-Douglas decide abandonar o grupo. No ano a seguir sai um terceiro álbum, "Ultimate Spinach III" que foi recebido pelo público e pela crítica com ainda maior indiferença. Da formação original, só restava Barbara Hudson. "Behold and See" foi gravado e lançado nos últimos meses de 1968 e constituiu, decerto, um dos muitos elementos musicais do vasto pano de fundo onde, entre outros eventos, seria acolhido, no Verão do ano a seguir, o famoso espetáculo de Woodstock. Um elemento adicional que contribui para o valor deste álbum é a sua original capa, muito expressiva e difícil de ignorar, a qual foi considerada também uma das melhores capas de LP de todos os tempos. A sua beleza exerce um efeito complementar da qualidade da música que se pode encontrar neste disco, compensando os momentos menos felizes que, uma vez por outra, aqui se detectam. Mesmo antes de se ouvir, já se tem o prazer de tomar contacto com este disco.

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