sábado, outubro 02, 2021

Curiosidade discográfica rara: Francesca Solleville - Le Visage De L'Homme

 Não sou especialmente apreciador de música francesa, apesar de ter ouvido aqui e ali uma série de "chansons" que eu acho fantásticas, como o "Je Voudrais Pas Crever", "Un Siècle Aprés", "L'Arrière Saison", "L'Arbre", "Requiem Pour N'Import Qui", "Gabrielle", "Ballade Pour Un Traître", "Le Deserteur" e "Ma Liberté" de Serge Reggiani; "La Montagne", "Ma France" e "Le Sabre Et Le Goupillon" de Jean Ferrat; "Choisis Ton Opium", "Je Chanterai" e "Les Gens De La Moyenne" de Collette Magny; "Quand On N'A Que L'Amour", "Les Vieux", "Le Plat Pays" et "Grand Jacques (C'Est Trop Facile)" de Jacques Brel; "Les Marchés De Provence" e "Quand Il Est Mort Le Poète" de Gilbert Bécaud; "Adieu Monsieur Le Professeur (versão ao vivo)" de Hugues Aufray. Este LP, lançado em 1974, com as músicas na ordem que eu aqui as apresento, foi um dos que me bateu mais fundo. Infelizmente, não foi possível encontrar duas das canções do lado B, nomeadamente o belíssimo poema cantado "L'Instituteur Part Pour Le Front", que é um muito doloroso libelo contra a Guerra

Apesar de tudo, foi possível encontrar a letra de "Camarade Chili", que é uma homenagem ao Chile onde, meses antes, em 11 de Setembro de 1973, ocorrera o golpe de estado perpetrado por Augusto Pinochet, que marcou o começo de uma muito violenta ditadura que durou até 1990.

Apesar de ser de um estilo diferente dos meus gostos musicais habituais, foi um LP que me marcou muito. Não foram tanto as letras. Aliás só prestei atenção a uma ou outra letra. Quando ele entrou na minha vida, eu ainda estava a começar a aprender o Francês. Foi mais a música, aquele som, aquele feeling. As palavras eram apenas mais uma componente musical. (A voz também é um instrumento musical...) Ouvi-o, pela primeira vez, numa ocasião e ele entrou-me no fundo da minha alma. Foi aquele que eu ouvi, naquele dado momento. Se tivesse sido outro, estaríamos aqui a falar de outro. Talvez de outro completamente diferente. Foi numas férias de Verão, tinha eu 10 anos, acabei por fazer 11, então. Na altura, ouvi-o repetidas vezes e ele entranhou-se ainda mais no meu pensamento. 

Ouvi-o tantas vezes, que acabei por me fartar. A determinada altura, já nem conseguia ouvir aquela voz de timbre muito forte! Como que enjoei!!! E fiquei sem o escutar durante muito tempo... Voltei a ouvi-lo, episódica e ocasionalmente, (raramente, melhor dizendo!), durante todos estes anos. Na verdade, tenho-o escutado mais na minha memória. Ficou no meu imaginário daquele tempo distante. Aquelas canções, ouvidas no seu alinhamento original vagueiam, muito vivas, nalgum recanto remoto do meu inconsciente e de lá nunca mais sairão... Com a Internet voltei, aqui e ali, a um e outro tema. Ouço-os uma vez, às vezes repito, mas prefiro ouvi-los na minha cabeça. Sei que acontece a muita gente... Há discos assim...

Um instrumento musical que, em praticamente todas as canções deste disco, surge permanentemente em pano de fundo como a principal base rítmica, é a viola-baixo elétrica ou baixo elétrico. É um instrumento pelo qual tenho um grande respeito e admiração. Pode-se dizer que é "o som que transporta a canção". Os meus mais sinceros parabéns ao músico que o executou sublimemente! Este som foi e é uma das razões que me faz sempre voltar a este disco!



A fotografia de cima, foi tirada no funeral do poeta chileno Pablo Neruda, falecido em 1973.


Camarade Chili (1974).
Esta fotografia aparecia dentro da capa do disco, junto a esta primeira canção.

Camarade Chili (Letra da canção)

Camarades chantiers, camarades labours,

 J'ai le cœur écrasé de misère et d'amour,

 Et je cherche les mots de la douleur à dire.

 Camarades marins, camarades mineurs,

 Des larmes sur tes joues, camarade pudeur,

 Et nous aurions la honte presque de le dire :

 Ils ont osé tuer Salvador Allende!!!

 

Camarade soleil, camarade Chili,

 Nous aurons des voix d'hommes et des ventres durcis.

 Quand les radios complices installent le silence,

 Mon frère vertical, camarade vivant,

 Ils te veulent muet, ils te veulent couchant.

 Les donneurs de leçon lessivent leurs consciences.

 Ils ont osé toucher au peuple du Chili!

 

 Ils ont osé tirer camarade chanson,

 Ils ont tué celui qui parlait bel et bon,

 Leurs bottes ont le fumet des fauves d'occident.

 Ils ont enfin tué camarade poète.

 Ils ont le muffle court et le front de la bête.

 Quand tu trembles de l'homme ils te cassent les dents.

 Ils ont osé toucher à Pablo Neruda!!!

 

 Les valets vont disant que le peuple s'est tu.

 Camarade traqué, camarade têtu.

 Les avions dans ton ciel et les chars dans tes rues.

 Mais tu sais les mots clairs, camarade attentif,

 Les mots contre la houle, les vérités récifs,

 Je sais que tu n'as pas devant eux les mains nues.

 Ils ont osé toucher au peuple du soleil !

 Ils ont osé toucher au peuple du soleil !


Le Temps de Vivre (1974).

L'Homme (1974).

Je Vous Salue (1974).

L'Ami D'Un Soir (1974).

Le Visage De L'Homme (1974).

Demande Aux Femmes (1974).


L'Instituteur Part Pour Le Front (1974). ? (Quando eu conseguir encontrar, pelo menos, a letra deste belíssimo tema, prometo fazer uma atualização desta postagem!)

Toi Mon Horizon (1974).


L'Homme Rouge Est Venu (1974). ?


Ma Chanson De La Rue (1974).

Le Chant Du Monde (1974).


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