Paul Butterfield Blues Band e East-West: duas obras-primas de seguida e indissociáveis
Paul Butterfield igual a si mesmo... Mesmo antes de revelarem quem é o verdadeiro "Paul Butterfield", a gente já percebe quem é...
Paul Butterfield (1942 - 1987) e Mike Bloomfield (1943 - 1981): dois bluesmen da cabeça aos pés, um na harmónica, o outro na guitarra. Quando este Mike Bloomfield decidiu sair da banda de Paul Butterfield, para não mais voltar, a "Butterfield Blues Band" nunca mais foi a mesma. Aliás, a morte prematura destes dois músicos de alto nível, mas não reconhecido, constitui duas das maiores tragédias ignoradas da história da música ocidentaldo século XX. Direta ou indiretamente, sobretudo no caso de Mike Bloomfield, eles foram vítimas do esquecimento a que foram votados, em consequência de o blues ter perdido muito da sua importância, sobretudo a partir da década de 1970. Pode-se dizer que o "nicho" que este tipo de música ocupava, foi sendo gradualmente ocupado pelo chamado "heavy metal", nos seus mais diversos tipos. Tal como tem acontecido com o "heavy metal", também o blues-rock é um género de música que, mesmo nos seus tempos áureos, raramente beliscava os lugares mais inferiores dos "hit-parades". Ambos são dois géneros musicais intrinsecamente anti-mainstream e, sobretudo, anti-comerciais. Todavia, tal como o referido "heavy metal", o blues tem sempre mantido um núcleo de fans, adeptos e seguidores dos mais solidamente fiéis, quase como acontece nos clubes de futebol.
Documentário essencial onde ouvimos o veterano bluesmanSon House e o, então, jovem Mike Bloomfield exprimirem as suas perspetivas acerca do que é, realmente, interpretar e, sobretudo, sentir o "verdadeiro" Blues. Mike Bloomfield, não se considera idêntico ao veterano Son House, apesar de o venerar. A distingui-lo dos, então na sua grande maioria, bluesmen negros, ele salienta, pelo menos, dois fatores: "Eu sou judeu!" e "Eu nasci numa família abastada". Mesmo assim, ele reconhece que o Blues, tem qualquer coisa de "místico". Ao ser "apanhado" por esta "mística", Mike Bloomfield "viveu" também o Blues à sua maneira: "Acabei por também levar muita "porrada"! Neste vídeo, a determinada altura, Mike Bloomfield fala dessa "figura" chamada Paul Butterfield, onde faz uma referência elogiosa ao seu, então, colega de banda. Algo como: "Ele é único! Ele é inimitável! Ele nasceu para o blues! Ele é um bluesman na sua mais profunda essência!". A encerrar, ouvimos Paul Butterfield e a sua "Blues Band", com Mike Bloomfield na guitarra principal, no Festival de Newport, em 1965. Foi nesta mesma edição do Festival, que Bob Dylan provocou "escândalo" ao tocar guitarra elétrica, acompanhado, precisamente, por esta "Blues Band". De referir ainda que Bob Dylan, no seu álbum "Highway 61 Revisited" (1965), contou com a participação de Mike Bloomfield e, por diversas vezes, a guitarra deste "brilhou". Tomemos como exemplo o tema que eu considero o melhor do "Highway 61 Revisited": "Tombstone Blues".
Bob Dylan - "Tombstone Blues" (1965). A letra é um perfeito exemplo de exercício de inspiração no máximo. É quase um romance surrealista transformado em canção. Destaque para a guitarra de Mike Bloomfield.
The Paul Butterfield Blues Band - Born In Chicago (1965). O tema de apresentação de Paul Butterfield. Há quem diga que, de facto e naquele tempo, ele andava armado, não só com a sua harmónica... Mike Bloomfield, mais tarde, afirmará que, quando conheceu Paul Butterfield, este lhe causava medo... Este último, pelo menos, manteria uma admiração por aquele, até à sua morte prematura...
The Paul Butterfield Blues Band - Shake Your Moneymaker (1965). Neste tema, Mike Bloomfield é o rei, aos comandos da sua inconfundível guitarra. Sugestão: escutar com o som bem alto!
The Butterfield Blues Band - Walkin' Blues (1966). De novo, Paul Butterfield e Mike Bloomfield na linha da frente, ainda que com novos elementos na banda.
The Butterfield Blues Band - Mary, Mary (1966). A versão original. A harmónica e a voz de Paul Butterfield e as guitarras de Mike Bloomfield e Elvin Bishop (também conhecido por "Pigboy Crabshaw") são únicas. A seguir ao álbum "East-West", Mike Bloomfield saiu repentinamente do grupo e Elvin Bishop passou a ser o guitarrista principal.
The Monkees - Mary, Mary (1966-1967). A versão que teve mais êxito e ficou mais famosa. Conta-se que, quando esta versão foi lançada, houve protestos aqui e ali de fans de Paul Butterfield e não só. Estes achavam que a, então, recém criada banda The Monkees tinha "roubado" o tema e o adulterado. A versão "pop" desta canção pode ser criticável mas, na verdade, o tema não foi "roubado". O seu autor era, precisamente, Mike Nesmith, um dos elementos dos The Monkees (é, no video, o guitarrista). Acontece que este, uns meses antes, quando ainda a sua banda ainda não era famosa, ele ofereceu o tema ao grupo de Paul Butterfield, que fez uma interpretação genuína, como era de esperar... A única coisa, digna de registo, da versão dos Monkees é a parte rítmica, que ficou a cargo dos bateristas Hal Blaine e Jim Gordon, já então músicos de estúdio veteranos e muito requisitados. Hal Blaine tocaria bateria, por exemplo, em diversos temas dos TheMamas & The Papas. Jim Gordon, para além de ter sido "session musician", chegaria a integrar o super-grupo Derek & The Dominoes, liderado pelos guitarristas Eric Clapton e Duane Allman (1946-1971) (este último membro-fundador dos Allman Brothers Band) e que teria como seu maior êxito o tema "Layla" em 1970.
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