Esta verdadeira descoberta, há muito esquecida nas brumas implacáveis do tempo, trata-se de um
conjunto de canções, pertencentes a um álbum conceptual chamado "Beyond
A Shadow Of Doubt". Resultou de um projeto musical concebido por dois
produtores musicais, compositores e também cantores, de seu nome Gary
Usher e Richard "Dick" Campbell.
Gary Usher |
Gary
Usher foi um dos principais elementos num outro projeto
musical, chamado "Sagittarius", do qual resultou um
primeiro disco: "Present Tense", lançado em 1968,
mas que incluía também gravações já feitas em 1966 e 1967. O
outro elemento principal no "Sagittarius" era Curt
Boettcher, que também cantou na maior parte dos temas incluídos
nesse disco. São os dois que aparecem na montagem do centauro da capa de
"Present Tense".
Houve ainda um segundo disco, "The Blue Marble", gravado e editado em 1969, mas onde a participação de Curt Boettcher foi menor. Neste disco final, Gary Usher assumiu o papel principal, inclusive nas vozes.
Houve ainda um segundo disco, "The Blue Marble", gravado e editado em 1969, mas onde a participação de Curt Boettcher foi menor. Neste disco final, Gary Usher assumiu o papel principal, inclusive nas vozes.
No entanto, Gary
Usher, em parceria com Dick Campbell ,
contaria, de novo, com a prestimosa colaboração de Curt Boettcher
nas gravações e arranjos das canções incluídas no álbum conceptual "Beyond
A Shadow Of Doubt".
As gravações
para este disco foram feitas, segundo se sabe, em 1971. Quase
todas foram efetuadas no estúdio pessoal de Gary Usher,
com as vozes e a instrumentação básicas e a participação de alguns músicos
de estúdio amigos de Gary, para além dos três elementos
centrais já referidos (Gary, Dick e Curt). No entanto, apesar de todo o
otimismo e empenho iniciais, o álbum ficou inacabado.
Gary Usher surge como a voz principal na maioria dos temas, enquanto nos coros destacam-se, sobretudo, as vozes de Dick Campbell e Curt Boettcher. No entanto, a intenção original era a de entregar a voz principal a outro cantor, caso as gravações tivessem prosseguido e transitado para um estúdio profissional devidamente apetrechado, onde os temas seriam gravados e arranjados na sua versão final. Gary Usher, provavelmente, só participaria nos coros finais e na produção. Todavia, por razões não apuradas, nada disto aconteceu.
Gary Usher surge como a voz principal na maioria dos temas, enquanto nos coros destacam-se, sobretudo, as vozes de Dick Campbell e Curt Boettcher. No entanto, a intenção original era a de entregar a voz principal a outro cantor, caso as gravações tivessem prosseguido e transitado para um estúdio profissional devidamente apetrechado, onde os temas seriam gravados e arranjados na sua versão final. Gary Usher, provavelmente, só participaria nos coros finais e na produção. Todavia, por razões não apuradas, nada disto aconteceu.
As canções
ficaram gravadas, tal qual foram feitas no estúdio pessoal de Gary
Usher. Ficou tudo, praticamente, no ponto de partida. Para
todo o sempre...
Foi preciso
esperar pelo ano de 2001, para que estas gravações fossem
editadas em CD!
Todavia , esta edição só foi feita no Japão e
em número de exemplares limitado. Por isso, mesmo esta edição em CD,
já está praticamente esgotada há muito. Não se encontra à venda em parte
nenhuma, quanto mais em Portugal. Os raros exemplares que ainda se encontrarem à venda, talvez on-line, surgirão a preços exorbitantes.
O que torna
este álbum conceptual particularmente tocante, é o facto de as canções nele
contidas, na verdade, serem apenas "demos" ou
seja, são temas de demonstração, onde estão mais ou menos explícitos os elementos
fundamentais que se pretende obter nas versões finais. Quem já
contactou com a realidade de gravar canções em estúdio, sabe que esse é o
verdadeiro ponto de partida para se conseguir a versão
definitiva, que depois será gravada para, em princípio, ser editada e lançada
no mercado, ou seja a "master".
No entanto,
devido ao grande profissionalismo de Gary Usher, a sua já
longa experiência de trabalho em estúdios profissionais sofisticados (para a
época), para não falar no rigor e amor com que ele se entregava
a qualquer projeto musical, as "demos"
resultantes revelavam uma qualidade e um grau de elaboração, muito próximos,
senão superiores, da generalidade das "masters" que
todos os dias são criadas nos mais diversos estúdios. Por vezes, temos a clara
sensação de estar a ouvir temas devidamente acabados. Quase só a
ausência de uma bateria real, parece quebrar essa feliz ilusão. As
percussões utilizadas nestas gravações eram ainda do mais básico e improvisado
que se possa imaginar... Servia tudo onde se pudesse bater,
literalmente. Pandeireta, caixas de cartão, tambores artesanais, tampos de
cadeiras, latas vazias, etc.
As gravações contidas neste álbum conceptual, como já disse atrás, estão ainda na fase "demo" e não foram alvo de "tratamento" em estúdio profissional moderno (para os padrões da época) e, muito menos, associadas a alguma editora então existente no mercado. Por isso, não existem "masters" ou versões finais destes temas. Repare-se que no ano em que estas canções foram gravadas (1971), ainda estávamos na fase do "analógico" e não se falava nem sequer no "digital". O suporte era a fita magnética, sob a forma circular de bobine, que, por ser perecível, era necessário guardar em condições muito específicas. A duração destas "tapes" era muito variável e é mais do que certo que um grande número de fitas se perdeu ou ficou alterado no espaço de apenas algumas décadas. Por vezes, bastava um simples descuido e ainda mais um incêndio para se perderem registos sonoros únicos, de um momento para o outro. Uma das formas de salvaguardar estas "preciosidades" é proceder à sua conversão
Nunca mais se
pegou nestas gravações deste álbum, desde esse começo dos anos 70. Ficou sempre
no ar a ideia de, eventualmente, serem devidamente concluídas e, se possível,
editadas numa fase posterior. Acontece que, mais uma vez, outras prioridades se
colocaram aos que estiveram por detrás deste projeto... Apesar de todos aqueles
que tiveram a rara oportunidade de tomar contacto com estas canções, ainda mais
os seus autores, reconhecerem o seu valor e mesmo potencial de mercado. O
problema é que a altura ideal para pegar de novo naquelas gravações, nunca
chegava. As modas musicais dos anos 70, e depois dos anos 80, não pareciam dar
espaço a se relançarem canções de um estilo que, então, soava algo
"datado".
Como se isso não bastasse, os três elementos fulcrais na criação desta obra, Gary Usher, Dick Campbell e Curt Boettcher, foram todos "presenteados" com mortes prematuras.
Como se isso não bastasse, os três elementos fulcrais na criação desta obra, Gary Usher, Dick Campbell e Curt Boettcher, foram todos "presenteados" com mortes prematuras.
Curt
Boettcher (1944-1987), há muito quase remetido ao mais completo anonimato, faleceu na sequência de uma operação aos pulmões
que correu mal.
Gary Usher |
Seguiu-se-lhe Gary
Usher (1938-1990) que, ainda não completamente refeito da morte
injusta do seu amigo e colega de projetos musicais, muitos inéditos, viu-lhe
ser diagnosticado um cancro que o venceria antes de completar 52
anos.
Por fim, Dick
Campbell (1944-2002), que se tornaria o principal detentor do legado
da memória deste e outros projetos musicais também inacabados, depois de
assistir àqueles desaparecimentos irreparáveis, também deixaria o mundo dos
vivos. Devido a uma doença degenerativa de origem genética, que lhe fora diagnosticada ainda no final da década
de 1980, Dick Campbell afastou-se das suas
atividades profissionais e praticamente da vida pública, colaborando
esporadicamente com outros cantores e realizadores, enquanto a saúde lhe foi
permitindo. Acontece que o seu problema genético acabaria por gerar um número
cada vez maior de complicações, que lhe afetavam quase todo o corpo,
nomeadamente o aparelho respiratório. No princípio do ano da sua morte (2002),
foi sujeito a um transplante pulmonar, do qual resultariam inesperadas
complicações. Na sequência disto, nunca mais recuperou a consciência até
falecer alguns meses depois.
Dick Campbell |
Esta
irreversibilidade da morte, também seria uma razão fundamental para que este
álbum conceptual tivesse ficado esquecido durante décadas no depósito de algum
armazém a ganhar pó e a "envelhecer".
Mas as músicas contidas no "Beyond A Shadow Of Doubt",
são otimistas e são um hino à vida, ainda que de uma
forma particularmente fantasiada. Seria através de legados musicais desta
natureza que, quem esteve por trás da sua concepção, gostaria de ser recordado
para a posteridade. Mais uma vez, salienta-se o facto de haver muitos documentos
musicais que nunca verão a luz do dia e se perderão para sempre... O
que vai aparecendo não é mais do que a ponta de um vasto iceberg. O
dinheiro fala sempre mais alto e, por isso, quase toda a primazia é dada ao que
é comercial, mesmo que de qualidade duvidosa...
De seguida, uma seleção dos temas que eu considero, pessoalmente, mais interessantes desta coletânea:
Ships.
Neste tema, a voz mais em destaque é a de Gary Usher.Everything Turns Out Right.
Neste tema, é sobretudo a voz de Richard "Dick" Campbell a ter maior destaque.We May Make It Yet.
Este último tema, foi um dos raros em que se avançou mais nos arranjos, tendo-se chegado a utilizar aqui uma bateria verdadeira, mas foi por esta altura que se suspenderam as operações no "Beyond A Shadow Of Doubt". De seguida, vieram décadas de completo esquecimento...
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