Quando se fala em Segunda Guerra Mundial, vem à memória a palavra "Blitzkrieg", que significa "Guerra Relâmpago" e que representava o avanço rápido, destruidor, temível e, aparentemente, invencível das forças militares terrestres e aéreas da Alemanha Nazi, nos primeiros anos daquele conflito. Entre a "máquina de guerra" germânica, então a mais avançada para o seu tempo, surgia com grande destaque o avião Junkers 87, mais conhecido por "Stuka".
Este avião era um caça-bombardeiro "de mergulho", isto é, tanto podia atacar com as suas metralhadoras, à maneira dos caças ("fighters" em inglês), como podia lançar bombas, como os bombardeiros, efetuando voos picados sobre alvos no solo ou no mar muito precisos. Aliás, era aqui que residia a sua principal força: o "Stuka", quando corretamente manobrado, era um avião muito preciso no seu ataque e era uma arma de ataque muito poderosa e temível para os veículos e tropas no solo e obtinha bons resultados quando atacava as linhas de defesa inimigas, facilitando o avanço das forças terrestres.
Um elemento muito característico deste caça-bombardeiro, era um mecanismo, acionado pelos pilotos, que produzia o som estridente e sinistro de uma sirene, o que o tornava ainda mais assustador para quem estava a ser atacado. Não se sabe qual a real função deste pormenor técnico, pois, "oficialmente", dizia-se que isto "ajudava" o avião quando este fazia o voo picado em direção ao seu alvo. A verdade parece estar muito mais próxima do facto de ser, sobretudo, um mecanismo destinado a provocar o terror e o pânico em todos os que se encontravam em terra. Fossem estes militares, que era o que "oficialmente" se dizia serem os alvos a atingir, fossem civis em fuga, o que diversas vezes aconteceu. Aliás, é um tema muito recorrente, mesmo em filmes de ficção sobre a Segunda Guerra Mundial, os refugiados a fazer penosas viagem a pé, com o pouco que conseguiam trazer, e a serem sistematicamente fustigados por um ou mais caças-bombardeiros, geralmente do modelo "Stuka", o que os obrigava a terem que se abrigar com frequência caso não quisessem ser mortos. Situações destas terão sido muito frequentes em França e nos países invadidos pelo exército alemão, onde as populações tentavam fugir à guerra.
O som temível de um "Stuka"!!! Este avião era a personificação mais perfeita do espírito e da filosofia que dominava na Alemanha nazi enquanto invasora de outras nações e gabando-se de ser "um vencedor antecipado e óbvio". Era simultaneamente aterrorizador e de uma arrogância sem limites.
Segundo o testemunho de alguns antigos pilotos de "Stukas", o "mergulho" aos comandos de um caça-bombardeiro daqueles era quase parecido, senão idêntico, a um orgasmo...
Isto é uma pequena amostra do que era estar no campo de batalha e ser sistematicamente sobrevoado por "Stukas" durante várias horas...
No entanto, apesar dos diversos melhoramentos feitos no Junkers 87, mesmo já em pleno conflito mundial, este avião continuava a apresentar diversas fragilidades intrínsecas. Em confronto directo com outros caças inimigos já existentes na época, como os britânicos "Spitfire" e "Hurricane", o "Stuka" saía sempre em grande desvantagem. A razão devia-se ao facto de ser muito mais lento do que aqueles, dispôr de uma fraca blindagem e não suportar vôos de longa duração e a muito grande altitude. Isto ficou logo comprovado no começo da "Batalha de Inglaterra", no Verão de 1940. A primeira vaga de ataque aérea, sobre os alvos de então, como estações de radar, aeródromos e portos, era constituída por "Stukas". Acontece que estes acabaram por sofrer tais perdas a um nível insustentável, que logo seriam retirados desta operação, sendo substituídos por outros aviões com melhor performance, como os caças "Messerschmits" e "Focke-Wulfe" e os bombardeiros "Dornier" e "Heinkel".
Na minha modesta opinião, os alemães não foram só definitivamente derrotados na "Batalha de Inglaterra". Antes tiveram, logo à partida, uma "pequena derrota" à qual muitos nunca ligaram: tiveram de abdicar do seu "querido Stuka", para investirem em aviões mais "formais" e com menos "carisma". Aliás, decerto que o "sonho" dos alemães nazis, no que respeita aos ataques à Grã-Bretanha, se poderia resumir a este quadro, claramente irrealista: tal como acontecera relativamente aos seus ataques aos países até então invadidos, com destaque para a Polónia, a força aérea inimiga deveria ser quase inexistente ou muito obsoleta e inapta, de forma a ser facilmente derrubável sem haver custo de baixas, pelo menos assinaláveis, logo à partida; o radar, claro está, não deveria existir; depois, o Canal da Mancha deveria estar "calmo como um lago", para poderem instalar aí, sem grandes problemas, uma força naval composta maioritariamente por navios porta-aviões, pejados de "Stukas" prontos a levantar vôo, estes complementados por uma imensa frota de navios carregados de combustível e munições, num constante vai-e-vem e sem correrem o risco de serem atacados por qualquer força inimiga, de forma a ficarem mais próximos do seus alvos britânicos; depois poderiam levantar vôo livremente e a qualquer hora do dia, em formações de número variável e atacar os seus alvos com boa e ampla visão e a baixa altitude, para melhor acertarem nos seus alvos e verem com a maior precisão possível os estragos e as vítimas causados; poderem fazer sem problemas o seus vôos de regresso aos tais navios porta-aviões para se reabastecerem de munições e combustível e fazerem as reparações necessárias, para logo regressarem aos ataques ao inimigo; voar com as suas sirenes a uivar em toda a sua dimensão sonora e observar os seus inimigos aterrorizados em retirada e a morrerem como tordos, ao mesmo tempo que destruíam tudo a seu bel-prazer; fazer tudo isto durante o tempo que muito bem entendessem, até que os britânicos se rendessem incondicionalmente, mas que tal não acontecesse logo de imediato, para se poderem "divertir um bom bocado" e sentir melhor o "sabor da vingança"; por fim, como a "cereja no topo do bolo", atravessar como vencedores e triunfalmente o Canal da Mancha, com maior facilidade e mais jactância do que Júlio César a atravessar o Rubicão e entrar como donos e senhores na antes inalcançável "Velha Albion". Claro que, felizmente, isto nunca aconteceu, mas o facto poderem voar no espaço aéreo britânico com os seus "Stukas", constituía mais uma clara demonstração de força e poder. Terem de mudar de táticas e de aviões significava que estavam perante um inimigo que lhes podia fazer frente e vencer, como acabaria por acontecer.
Como bombardeiro, o "Stuka", apesar da sua precisão, não era o mais indicado para missões de bombardeamento, muito menos por área, devido à quantidade mínima de bombas que podia transportar. Devido ao facto de não se ter concebido mais nenhum sucessor directo, devido às necessidades trazidas pela evolução da guerra, o "Stuka", com as suas características básicas intrínsecas continuaria a ser fabricado até ao último ano da guerra.
Apesar da pesada derrota frente à R.A.F. na "Batalha de Inglaterra", o Junkers 87 continuaria a ser muito útil noutros cenários de guerra, como na invasão dos Balcãs e na Frente Leste, quase sempre como uma força avançada que facilitava a progressão das tropas terrestres. Até certo ponto, este caça-bombardeiro revelou-se muito útil e bem sucedido, o que levaria à sua continuidade em combate, apesar de, mesmo do lado germânico, haver muitas vozes a considerá-lo há muito já obsoleto em comparação com os outros aviões inimigos.
De facto, o seu sucesso temporário e aparente, devia-se ao facto de, durante grande parte do conflito mundial, os países invadidos não disporem de uma força aérea organizada e com capacidade defensiva. Por outras palavras, o "Stuka" só era bem sucedido onde havia domínio dos céus. Apesar de ser um avião, o Junkers 87 só se revelava eficiente nos ataques a alvos terrestres e marítimos, de preferência com ou sem nenhuma defesa anti-aérea.
Não tendo sido concebido mais nenhum "sucessor" do Junkers 87, este seria alvo de algumas tentativas de melhoramento mínimas e circunstanciais, nomeadamente o reforço da sua blindagem o que, até certo ponto, o tornava ainda mais lento. Tentou-se superar este problema, recorrendo a motores mais potentes. Houve também tentativas adicionais de aumentar a sua capacidade de armazenamento de combustível, de forma a se poderem manter em vôo mais tempo. De salientar ainda, o aparecimento algo tardio de uma versão do Junkers 87, equipada com dois pequenos canhões na parte inferior, destinados à luta anti-tanque, os quais apesar de aumentarem a sua força destruidora, eram um handicap em termos de velocidade.
Mesmo assim, o "Stuka" continuou a revelar-se um avião temível para as tropas, veículos e infraestruturas terrestres inimigos, sobretudo no teatro de guerra da Frente Leste, mesmo quando as forças soviéticas já estavam na sua fase ofensiva. O problema, para estes caças-bombardeiros, foi que a própria força aérea da União Soviética começou, entretanto, a dar mostras de se estar a organizar e a ter um papel cada vez mais ofensivo nos campos de batalha. Para este surpreendente e quase inimaginável progresso, muito contribuiu a ajuda material por parte das outras potências aliadas, possível por via marítima, nomeadamente ao fornecerem um número apreciável dos seus modernos caças, bem como peças e componentes essenciais à sua produção, mesmo já nas laboriosas fábricas soviéticas. Os próprios aviões soviéticos, incluindo os bombardeiros, antes muito rudimentares, viram a sua eficácia aumentar exponencialmente ao incluírem os elementos tecnológicos que lhes eram proporcionados pelos seus, então, aliados ocidentais. Era preciso também contar, no lado soviético, com as unidades móveis de baterias anti-aéreas, cada vez mais experimentadas, que se foram constituindo como barreiras quase instranponíveis, garantindo a consolidação dos sucessivos avanços no terreno.
No último ano de guerra, com o domínio dos ares por parte da aviação aliada, o "Stuka" era de novo um alvo fácil e pouco ou nada podia fazer para mudar o curso do conflito, claramente perdido para os germânicos. Havia deixado de ser fabricado ainda em 1944, quando já era tarde demais para se conceber um avião sucessor e o investimento, em termos de aeronaves, ia todo para a produção de caças defensivos. Apesar de se ter utilizado cada vez menos em cada vez mais raras missões de ataque, a verdade é que se manteria em actividade até ao último dia do conflito.
1 comentário:
Grande STUKA. Os Alemães foram foda mesmo.
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