sábado, novembro 03, 2007

Gesualdo Bufalino - uma descoberta tardia

Gesualdo Bufalino foi um dos poucos exemplos de uma afirmação bem sucedida no mundo da literatura depois dos 60 anos. Nasceu em Comiso, povoação localizada na Sicília em 15 de Novembro de 1920, numa modesta família operária. A sua paixão pela literatura, foi-lhe incutida pelo próprio pai, o qual, apesar da sua baixa instrução, era um apaixonado pela cultura, incluindo o teatro e a música. Depois de viver confinado à sua região natal, durante a infância e os primeiros anos de juventude, Bufalino inscreve-se na Faculdade de Letras da Universidade da Catânia, no ano de 1940. No entanto, devido ao facto de a Itália, então sob o poder de Mussolini, ter entrado para a Guerra do lado da Alemanha Nazi, acaba por não frequentar as aulas assiduamente, sendo chamado para o exército dois anos depois. Em Setembro de 1943, após a Itália ter assinado o armistício com os Aliados e, dessa forma, estar virtualmente do lado destes, é feito prisioneiro pelos alemães. Graças à ajuda de uma rapariga amiga, consegue fugir e, depois de alguns meses de viver na clandestinidade e sem um abrigo fixo, consegue, em 1944, encontrar-se com um grupo de conterrâneos seus e obter alguma segurança. Infelizmente, em consequência daqueles longos meses de cativeiro e fuga sem proteção, a sua saúde deteriorou-se muito. Com a chegada do Outono de 1944, adoece com tuberculose, indo convalescer para o sanatório de Scandino. Neste local tem acesso a uma rica biblioteca, facultada pelo médico-director Biancheri, homem de grande cultura e proveniente de uma família com tradição humanista. Graças a esta rica biblioteca e às longas horas de silêncio e quietude que a doença exige, tem finalmente a possibilidade de retomar, ao fim de vários anos, a sua paixão pelos livros. Entre outras obras, tem a oportunidade de ler, pela primeira vez, a obra de Proust em Francês. Em Maio de 1946, consegue uma transferência para um outro sanatório, desta vez localizado em Conca d’Oro, perto de Palermo. Em Março de 1947 obtém a cura e iniciará uma longa carreira de professor em Vitoria. O seu drama pessoal, a doença que o manteve refém entre 1944 e 1947, será a inspiração para a sua obra prima, “A Dança da Morte”, para a qual começa a escrever as primeiras páginas em 1950. No entanto, só a concluiu em 1971, seguindo-se mais ou menos uma década de revisões. Finalmente, em 1981, sob o incentivo de um seu amigo e escritor Leonardo Sciascia, decide finalmente publicar este pequeno livro, com o qual receberá o Prémio Campielo. A partir daí, encorajado por este prémio, virão a lume, com grande regularidade, publicações da mais diversa natureza, desde romances à crítica literária, passando pela fotografia. Nos seus últimos anos de vida, sob um novo impulso produtivo, publicará um romance por ano, o que fazia prometer ainda uma produção literária apreciável. No entanto, tal não acabaria por acontecer. Morre a 14 de Julho de 1996, vítima de um acidente de viação ocorrido perto de Comiso, sua terra natal com 76 anos incompletos.

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