sábado, dezembro 25, 2021

Operários De Natal - Vários artistas

 

Vamos agora fazer uma breve viagem ao imaginário musical natalício de 1976 a 1978. No Natal de 1979, se bem me lembro, estas músicas já estavam a sair de circulação. Entrados nos anos 80, estas canções pareciam ter perdido toda a sua força. Graças a uma cassete que encontrei esquecida na casa onde então morava, em Janeiro de 1984, andava eu pelos 11 anos, sou de novo levado de volta a essa autêntica "bolha" musical. Durante uns meses, estive entusiasmado com essas músicas, antecedidas pela voz "muito maternal" da já falecida Maria Helena d'Eça Leal. Era mais um viajar, como ainda hoje, às vezes, faço pela minha memória e pelas coisas que lhe estão associadas. Acontece que, nessa altura, eu já era um pré-adolescente mais interessado em música mais adulta e fartei-me dessa cassete envelhecida pelo tempo... E, assim, essa cassete voltou a ficar esquecida lá num canto dessa casa onde já não moro. Passaram anos, mudei de casa, já era homem feito. Passaram mais uns tantos e a tal cassete desapareceu não sei para onde... Era um exemplar de 60 minutos, 30 minutos de cada lado. No lado A, estava uma gravação deste disco valiosíssimo dos "Operários De Natal", que nunca foi, nem decerto será, lançado em CD. No lado B, estava gravado um outro disco de Natal de uma toada claramente diferente daquela. Claramente mais "conservador". Tinha 12 músicas, metade cantadas, metade instrumentais. Um dos instrumentais, ouviu-se com frequência, durante anos, na televisão e na rádio, acho que associada a anúncios publicitários natalícios. Quando essa cassete me chegou às mãos nesse tal mês de Janeiro de 1984, esse instrumental já era uma coisa do passado. Durante anos, foi para mim uma gravação enigmática. Cheguei a suspeitar de que se tratasse dum disco de Natal saído antes do 25 de Abril de 1974. A parte vocal, à exceção do tema de abertura do lado A ("Neste Natal"), ficava a cargo de um coro feminino, de toada "muito beata", que podia muito bem ser constituído por freiras... Já navegando na Internet, fiquei a saber que era um LP "saído por volta de 1977", com a direção musical do saudoso maestro e pianista Shegundo Galarzza. Como "bónus", aparecem as canções desse disco na sua ordem original. Pode ser que ajude, um pouco, a desvendar o mistério...


Operários De Natal (solista: Carlos Mendes) - "Os Pais" (1976).

Operários De Natal (solista: Paulo De Carvalho) - "O Lenhador" (1976).

Operários De Natal (solistas: Fernando Tordo e Ana Bola) - "A Costureira" (1976).


Operários De Natal (solistas: Fernando TordoCarlos Mendes e Paulo de Carvalho) - "O Carteiro" (1976).

Operários De Natal (solistas: Fernando Tordo e Carlos Mendes/"Palhaço": Júlio César) - "Os Palhaços" (1976).

Sim! O Júlio César, que introduz a última canção, é este mesmo!


Operários De Natal (solista: Carlos Mendes) - "O Pasteleiro" (1976).

Operários De Natal (solista: Paulo de Carvalho) - "Os Vendedores" (1976). De todas as canções deste disco, esta é a mais profunda e aquela que, verdadeiramente, me ficou cá dentro... Naquele tempo, era, ironicamente, a menos atraente e a "mais chata" de todas!

Operários De Natal (solistas: Fernando TordoPaulo de Carvalho e Carlos Mendes) - "Os Amigos" (1976). Este tema acabou por ser, naquele tempo, o "hit" deste LP. Foi a partir da popularidade desta canção que, no ano a seguir (1977), se formou, para o Festival RTP da Canção, o conjunto "Os Amigos" a cantarem a sua versão de "Portugal No Coração" e que ganhou e foi representar Portugal na Eurovisão. A outra versão do "Portugal No Coração", foi interpretada pelo grupo "Gemini" de Tozé Brito e Mike Sargent e ficou muito pior classificada. Ironia do destino, foi que a versão de "Os Amigos" (onde se incluíam Paulo de Carvalho, Fernando Tordo e Edmundo Silva, antigo membro da banda rock/blues/pop "Sheiks"), passou a ser, hoje em dia, muito difícil de encontrar no mercado, enquanto a versão dos "Gemini" já apareceu em múltiplas coletâneas, devido à presença, incontornável, do cantor, compositor e produtor Tozé Brito. De referir que, nesse Festival da Canção de 1977, houve um número mais limitado de canções mas com duas versões de cada uma. Foi uma forma de contrastar com o que se havia feito no anterior Festival RTP da Canção de 1976, em que todas as canções foram interpretadas apenas por um cantor, que era Carlos do Carmo.


E agora, o "bónus":

Shegundo Galarza - "Neste Natal" (1977). N.B.:O UPLOADER DESTA CANÇÃO COMETEU UM ERRO CRASSO, POIS ESTE TEMA É EXATAMENTE O MESMO DE "Já Chegou O Natal". NO ORIGINAL "Neste Natal", A TÍTULO EXCECIONAL, LIDERA A VOZ MASCULINA DE UM ILUSTRE DESCONHECIDO CHAMADO "JAIME NASCIMENTO".

Roberto Leal - "Neste Natal" (1975). Este era o tema que devia ali ter aparecido.

Shegundo Galarza - "Sinos De Natal" (instrumental) (1977). Foi este instrumental que, durante vários anos, apareceu como acompanhamento de anúncios televisivos e radiofónicos de Natal.

Shegundo Galarza - "É Natal" (1977).

Shegundo Galarza - "Já Chegou O Natal" (instrumental) (1977).

Shegundo Galarza - "Vem Aí O Pai Natal" (1977).

Shegundo Galarza - "Feliz Natal, Mãe" (instrumental) (1977).

Shegundo Galarza - "Natal Em Portugal" (1977).

Shegundo Galarza - "Natal Dos Brinquedos" (instrumental) (1977).

Shegundo Galarza - "Menino Jesus" (1977).

Shegundo Galarza - "Glória" (instrumental) (1977).

Shegundo Galarza - "Noite De Natal" (1977)

Shegundo Galarza - "Alegres Repicam Os Sinos" (instrumental) (1977).















sexta-feira, dezembro 17, 2021

Lee Mallory - Um nome a assinalar



Lee Mallory nasceu em Berkeley, na Califórnia, em 10 de Janeiro de 1945, foi cantor, compositor e guitarrista, tendo participado, sobretudo, em diversas colaborações com outros artistas.
O seu êxito mais conhecido foi uma canção gravada no Verão de 1966, denominada “That’s The Way It’s Gonna Be”, que foi um dos temas cimeiros de um género musical a que se deu o nome de “Sunshine Pop”, cujo período de maior êxito foi na segunda metade da década de 1960 e foi um dos sons que constituíram o pano de fundo do psicadelismo, do “Flower Power” e da onda “hippie”. 
O seu ritmo cativante, a sua letra descaradamente optimista e o seu sentimento muito positivo, reforçado pela sonoridade das vozes, tornou esta canção num dos primeiros temas a anunciar os novos tempos que aí viriam, não só em termos musicais, mas também sociais. Apesar de, nesse ano de 1966, ter atingido 86º lugar nas tabelas de vendas, foi nº1 em Amsterdão e nº2 em Seattle.

Lee Mallory - "That's The Way It's Gonna Be" (1966).

Para o efeito que este tema teve em muito público jovem de então, principalmente da West Coast dos E.U.A., muito terá contribuído a produção e participação como cantor e como músico de Curt Boettcher. Terá sido ele também a “apresentar” o tema a Lee Mallory, a que logo este aderiu. Aliás, a versão final que ficou conhecida na voz de Mallory, seguia com grande fidelidade as sugestões de Curt Boettcher. A “demo” por este gravada, já apresentava todas as características para, por si só, ter êxito. 
Basta referir que o grande talento musical de Curt Boettcher, fazia com que as canções que ele compunha e demonstrava para outros cantores e grupos, já tivessem praticamente a qualidade de um produto final, sem precisar, portanto, de arranjos de assinalar para estar em condições de ser editadas em disco.

A colaboração entre Lee Mallory e Curt Boettcher, produziria mais uma série de temas gravados e editados entre 1966 e 1967, bem como diversas gravações que ficariam inéditas por muitos anos. 
Apesar de, na carreira posterior de Lee Mallory , não ter surgido mais nenhum êxito equiparável a “That’s The Way It’s Gonna Be”, a qualidade dos seus temas, salvo alguma experiência menos feliz, manteve-se quase inalterada.

Uma dessas parcerias entre Lee Mallory e Curt Boettcher foi o tema "Better Times", que chegou a ser gravado pelo grupo "Association" em 1966, mas que ficou inédito até 2002. Não o consegui trazer para aqui. VER no YOUTUBE "The Association" - "Better Times".

Lee Mallory - "Many Are The Times" (1967).

Em paralelo, Lee Mallory, em colaboração com Curt Boettcher e Gary Usher, será um dos elementos mais essenciais de um projeto musical de grande qualidade denominado “Sagittarius”, do qual sairia um disco homónimo em 1968.

The Millennium. Da esquerda para a direita: Ron Edgar, Lee Mallory, Sandy Salisbury, Curt Boettcher, Joey Stec, Mike Fennelly e Doug Rhodes

Ainda em 1968, Lee Mallory, novamente com Curt Boettcher e vários membros da sua banda, dão início a um novo grupo ou melhor, projeto musical, denominado Millennium


Mais uma vez, a presença de Curt Boettcher far-se-á notar como músico, compositor e cantor (com a sua voz em grande destaque), para além de ter sido o seu principal produtor. Logo neste ano este projeto dará os seus primeiros frutos, materializados sob a forma de um álbum de seu nome "Begin"

The Millennium - "I'm With You" (1968). Tema da autoria de Lee Mallory.

The Millennium. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Mike Fennelly, Curt Boettcher, Joey Stec, Sandy Salisbury, Doug Rhodes, Lee Mallory e Ron Edgar.


The Millennium - "Some Sunny Day" (1968). Tema da autoria de Lee Mallory.



No entanto, apesar do que o seu nome prometia, acabou por ser também este o último disco oficial desta banda. 


Houve igualmente todo um conjunto apreciável de gravações que acabariam por ficar inéditas durante muitos anos. Devido ao facto de, entre outras razões, os Millennium serem uma banda sem formação fixa e terem sido constituídos a pensar só no trabalho de estúdio, o seu êxito no seu tempo foi quase nulo, o que levou a determinar a sua curta existência. Para além do mais, o único álbum que os Millennium lançaram durante a sua curta existência, foi particularmente dispendioso, o que fez a respectiva editora não disponibilizar quaisquer recursos para a sua promoção, que seria essencial para a sua divulgação junto do público. Só no final dos anos 90, os Millennium seriam resgatados do esquecimento, graças às várias reedições em CD, tendo a sua qualidade, incluindo o talento de Lee Mallory, recebido o reconhecimento devido.



Posteriormente a este projeto, vale a pena assinalar a participação de Lee no musical emblemático “Hair”, quer como músico da respectiva banda, onde ocupava o lugar de guitarrista principal, quer como membro da companhia que atuava ao vivo.


Lee Mallory - "No Other Love" (1967).

A partir deste final de 60, e com as mudanças no panorama musical, a carreira de Lee Mallory dispersou-se entre participações em diversos grupos e projetos musicais, como músico, cantor e compositor, muitos deles de curta duração e só divulgados a nível praticamente local, para além de atuações ao vivo, incluindo ao ar livre e em bares. Apesar de tudo, é quase unânime para todos aqueles que com ele conviviam ou simplesmente assistiam às suas atuações em ambientes quase intimistas, as grandes qualidades artísticas e humanas de Lee Mallory.


De qualquer forma, tal como acontecera com muitos outros artistas seus contemporâneos, a vida de Lee Mallory, também foi palco dos mais diversos excessos, nomeadamente no que diz respeito ao abuso de drogas e estupefacientes, o que acabaria por deixar sequelas irreversíveis na sua saúde. 


Os seus últimos anos de vida, foram, em grande parte vividos a tentar minimizar os seus efeitos e, ao mesmo tempo, promover e participar em diversas iniciativas de cariz social e artístico, na zona de San Francisco, onde ele havia passado a residir. 


Muitos dos participantes nestas iniciativas eram francamente mais jovens do que ele, o que, de alguma forma, servia de constante estímulo para ele levar avante a sua carreira de artista e promover o apoio a outros músicos que residiam e atuavam na sua zona. Em complemento desta sua muito ativa vida social, Lee Mallory colaborava com regularidade em diversos periódicos locais.


O seu envelhecimento físico algo prematuro, que se traduzia numa saúde em declínio, havia-o tornado numa pessoa algo zelosa com a forma como levava a sua vida. Aliás, já em 1995, ele havia sobrevivido a um coma, o que, entre outros aspectos, muito contribuiu para a sua, ainda que muito tardia, vitória sob os vícios do tabaco e da droga, da qual ele fez grande divulgação e chegou a receber um certificado.



Foi na sequência desta sua regeneração pessoal e do seu empenhamento artístico e humano, no seio da sua comunidade, que o San Francisco Board of Supervisors, decidiu proclamar o dia 10 de Janeiro de 2005, como o primeiro “Lee Mallory Day” (algo como “Dia de Lee Mallory”), em homenagem não só ao músico em questão, como a todos os cantores-autores. Este dia foi escolhido também por ser o aniversário de Lee Mallory, em que ele completou 60 anos de vida.
Lee Mallory.
Por outro lado, sabia-se que ele atravessava, mais uma vez, sérios problemas de saúde, sob a forma de um cancro no fígado, o que decerto, contribuiu para toda a atenção que amigos e conhecidos lhe dispensavam. Lee Mallory contava ser sujeito, proximamente, a um transplante de fígado, o que nunca veio a acontecer. Em paralelo, teve um papel ativo na consciencialização do público relativamente à Hepatite C, para além de desejar que a história da sua vida pessoal, devido aos excessos do passado, funcionasse como um aviso para os jovens músicos levarem uma vida mais cuidada.
Lee Mallory.
A 18 de Março de 2005, Lee Mallory fez as últimas gravações para o seu derradeiro álbum, que constituía também o seu primeiro trabalho de estúdio após vários anos de ausência, bem como aquele onde finalmente teve o controle completo de toda a parte criativa, depois de décadas de trabalho sempre sob a direção tanto de outros tantos músicos e produtores. Sucumbiria, por fim, à doença no dia 21 de Março de 2005, em San Francisco.


Fiquei a saber que esse tal último álbum de Lee Mallory se mantém ainda "embargado" e "bloqueado" ao fim de quase duas décadas (desde 2005!!!), o que é VERGONHOSO!!! É UMA GRAVE OFENSA À MEMÓRIA DE UM ARTISTA DE GRANDE NÍVEL ARTÍSTICO E HUMANO!!!
QUE ESTA POSTAGEM SIRVA, FINALMENTE, DE INCENTIVO PARA LANÇAREM O SEU ÚLTIMO TRABALHO DISCOGRÁFICO NUM PRAZO O MAIS CURTO POSSÍVEL!!! (eu, pelo menos, pretendo adquiri-lo!!!)