Construção original |
Fachada principal desativada |
Zona posterior ainda em funcionamento |
Apesar do Caramulo ter sido, em tempos, um centro de cura do flagelo da tuberculose e, decerto, o que mais se destaca no nosso país, houve outros espaços que sabe bem trazer à memória. Não me estou a lembrar, neste momento, de todos eles e também seria demasiado exaustivo enumerá-los num breve post. Será mais interessante relembrá-los, de quando em quando, em textos separados. Hoje lembrei-me de mais um desses espaços, por sinal um dos mais enigmáticos e que, decerto muitos se esqueceram. Trata-se do Sanatório de Portalegre, mais conhecido como "Sanatório Rodrigues de Gusmão". Sim! Ao contrário do que alguns possam julgar, Portalegre também tinha um sanatório. É dos que menos se fala, talvez precisamente por se localizar num local que muitos consideram "de província".
Onde se localizou este espaço?
Numa colina situada no extremo de Portalegre e que se precipita sobre uma espécie de vale. Também é enriquecida por zonas verdes e localiza-se aí a Sé de Portalegre, com as suas duas torres. Nessa mesma elevação, mais afastado para o extremo dessa colina, encontramos um edifício de formato mais ou menos rectangular cuja fachada principal dá para o vale e parece meia tapada por algumas árvores. Foi esse o "Sanatório Rodrigues de Gusmão". Se estivermos no cimo da Serra de Portalegre ou se passarmos numa das estradas que circundam essa colina, não será difícil descortiná-lo.
O edifício ainda se encontra apartado do resto do aglomerado habitacional próximo, herança dos seus "gloriosos" tempos. Tem um aspecto vagamente enigmático, mas também algo de sombrio, sobretudo se olharmos para a parte semi-coberta. A melhor altura do dia para o contemplarmos é da parte da tarde. Ao fim do dia, quando o sol se põe, adquire uma aura estranha, que parece contradizer a sua intencional discrição. Os vidros da secção posterior, um acrescento decerto à construção original, parecem brilhar, devolvendo, por momentos, qualquer coisa de vivo a um espaço que ficou enterrado num passado vagamente sinistro.
O Sanatório Rodrigues de Gusmão, se não me falha a memória, foi inaugurado em 1909, portanto pertencia ainda àquela primeira leva de sanatórios anterior à criação da Estância do Caramulo. Todavia, pouco ou nada se fala dele. Terá tido uma existência sem sobressaltos, decerto foi sujeito algumas obras de melhoramento, que lhe acrescentaram a parte traseira e modernizaram os equipamentos. A construção que hoje lá observamos deve estar algo diferente da original de 1909, independentemente de algum restauro efectuado.
Deu "sinais de vida" ainda durante a sua última década de vida, quando o seu diretor de então, o Dr. Emílio Moreira, decidiu empreender a realização da "Semana da Tuberculose e Doenças Pulmonares do Distrito de Portalegre", entre 1966 e 1973. Discreto como foi, discretamente cessou funções após 1974. Actualmente é aí que se localiza um centro de prevenção e tratamento para toxicodependentes. No entanto, julgo que esta instituição se encontra apenas circunscrita à parte traseira, mais recente, do antigo sanatório e que é visível para quem entra pelo parque de estacionamento. A "parte nobre" do edifício, parece estar silenciosamente devoluta. Até quando? Ninguém sabe...