Mickey Finn (1947-2003) e Marc Bolan (1947-1977) |
T. Rex - "Get It On (Bang-A-Gong)" (atuação ao vivo na televisão). Aqui é possível ver qual a posição que, geralmente, Mickey Finn ocupava nesta banda. Segundo se diz, Marc Bolan escolheu este, antes ilustre desconhecido, motoqueiro frequentador da vida noturna, não pelas suas eventuais ("limitadas") capacidades musicais, mas porque "he can't sing... but looks superb!"... Aliás, Mickey Finn, durante o muito breve auge dos T. Rex chegou a ser considerado "o homem mais bonito do mundo".
T. Rex - "Get It On (Bang-A-Gong)" (1971). Atuação ao vivo, com a presença de Elton John, um dos grandes amigos e fans de Marc Bolan.
Marc Bolan's T. Rex - "20th Century Boy" (1973). O video diz tudo acerca da promoção e do impacto que este grupo de "Glam Rock" chegou a ter. Marc Bolan era uma autêntica "superstar". Mickey Finn, apesar de muito secundarizado, lá ia tentando também "brilhar" nos espetáculos ao vivo. E conseguia... É também um vídeo onde se percebe que se pode conseguir grandes vôos quando se está no auge... antes de uma eventual queda abrupta.
Tal como aconteceu com o "Get It On (Bang-A-Gong), participaram nos coros um dueto conhecido pelo nome de "Flo & Eddie", ou seja, Mark Volman ("the Florescent Leech") e Howard Kaylan ("Eddie"), antigos membros da famosa banda americana "Turtles" (ainda hoje lembrados pelo hit "Happy Together"), da qual, este último ("Eddie"), era o vocalista principal. Eles faziam os falsettos, que, em atuações ao vivo eram substituídos por coros femininos...
Eis o dueto "Flo & Eddie" (Mark Volman e Howard Kaylan), que também gravaram diversos discos em nome próprio, incluindo um com um título ainda hoje considerado muito excêntrico: "Illegal, Immoral and Fattening" (1975) (traduzido à letra é "ilegal, imoral e que engorda"). Muito vocacionados para a comédia e a pantomina, também fizeram parte dos "Mothers Of Invention" de Frank Zappa, entre 1970 e 1971, participando não só nos coros, como também nos espetáculos ao vivo e em filmagens diversas, com destaque para o filme "musical" "200 MOTELS", lançado em 1971 e hoje muito difícil de encontrar.
Na versão de estúdio, de "20th Century Boy" (1973), que é a que aqui se ouve, o som do riff "hard" famoso da guitarra principal era reforçado por um instrumento musical então, em 1971, pouco usual no rock: o fagote ("bassoon").
O fagote ("bassoon") é uma presença muito comum nas orquestras de Música Clássica.
Gravação ao vivo de "20th Century Boy" (1973) onde o som da guitarra de Marc Bolan surge mais "puro". É a minha versão favorita deste tema. Também por que aqui ouvimos o som verdadeiro dos elementos da banda, sem "truques" de estúdio. Ao contrário do que, por vezes, tem acontecido com diversas bandas e a avaliar por esta performance memorável, temos de reconhecer que os seus elementos, para além de Marc Bolan, realmente, sabem tocar! Mesmo Mickey Finn, que muitos, inicialmente, julgavam estar apenas a "posar para o boneco" nos T-Rex, revela-se um percussionista de eleição nas suas tumbadoras ou congas, numa simbiose perfeita com o baterista Bill Legend. A parte rítmica desta versão está ao nível da excelência!
Se ele, Mickey Finn, quando apareceu, quase do nada, como elemento-chave de uma banda de sucesso como esta (T-Rex), parecia ter poucos talentos musicais e ser um tanto canhestro, mesmo em comparação com o anterior percussionista Steve Peregrine ("Peregrin") Took, podemos constatar que ele encontrou um fantástico e verdadeiro "professor" em Marc Bolan. De facto, atualmente, existe uma escola de música com o seu nome, a "MARC BOLAN SCHOOL OF MUSIC".
O álbum mais vendido desta banda ("T. Rex") foi o "Electric Warrior" (1971), que chegou, nesse ano, a número 1 do Top. Deste disco saliento, como o meu tema preferido, o "The Motivator".
T. Rex - "The Motivator" (1971). De novo, surgem nos coros o dueto "Flo & Eddie"(em baixo) e a utilização do fagote ("bassoon") para reforçar o som dos riffs mais graves da guitarra elétrica e, em notas mais agudas, num ou noutro momento deste tema. De salientar a utilização de um grupo de "cordas" em certos momentos deste "The Motivator". Não merecia ter ficado "enterrado" no lado B deste LP ainda por cima em 9º lugar...
O dueto "Flo & Eddie" (Mark Volman e Howard Kaylan) mais ou menos na mesma época em que faziam os coros, em falsetto, nos discos de grupos como os T. Rex, os Mothers Of Invention (de Frank Zappa) e outros, para além dos discos que gravaram em nome próprio.
Marc Bolan (1947-1977) & T. Rex - "Deborah". Versão ao vivo, de um tema antigo, gravada pouco antes do fatal desastre de viação. A determinada altura, Bolan quis regressar a um registo mais acústico e, após um breve período de ausência, regressar "à estrada" e Mickey Finn mostrou-se disponível. Mais tarde, não muito antes do seu falecimento algo prematuro aos 55 anos, Mickey Finn dirá que "Marc Bolan era um seu irmão" e que, quando ele morreu, "ele morreu também e perdeu o interesse em tudo na vida, tendo chegado a ponderar o suicídio". Há quem afirme que Mickey Finn nunca recuperou da perda do seu grande amigo e correlegionário e que muito da sua posterior, e evidente, decadência física foi desencadeada pela morte de Marc Bolan.
Entrevista com Mickey Finn, o outro elemento-chave nos T. Rex. "Quando me disseram: "Marc Bolan está morto", eu não quis acreditar!!! Era a última coisa que eu queria ouvir!!! Foi como se me tivessem cortado um membro!!! Eu não consigo, nem nunca conseguirei, explicar o muito que ele significava para mim!!! Nunca mais fui o mesmo!!! Nunca mais serei o mesmo!!! Mas se há coisa que nunca, nem ninguém, me poderá tirar são as minhas memórias dele!!!"
Outra entrevista a Mickey Finn onde ele, mais uma vez, fala de Marc Bolan.
Atuação dos Mickey Finn's T. Rex, com a presença de Rolan Bolan, o filho de Marc Bolan.
Marc Bolan e a sua última esposa Gloria Jones, de cujo casamento nasceu Rolan Bolan. Ela conduzia o carro em cujo acidente ele teve morte imediata.
Mickey Finn's T. Rex interpretando uma versão do grande êxito "Hot Love".
Mickey Finn por volta de 1995 - 2000. |
Mickey Finn's T. Rex, num dos últimos espetáculos em que Mickey Finn apareceria, já bastante doente e prematuramente envelhecido, antes do seu falecimento.
O grupo Mickey Finn's T-Rex em 2001. |
Mickey Finn em 2001. |
Mickey Finn em 2001. |
Mickey Finn em 2001. |
Mickey Finn em 2001. |
Mickey Finn em 2001. |
Inauguração de um monumento de homenagem a Marc Bolan em 2002. |
Em 2002, terá sido uma das últimas aparições públicas de Mickey Finn. |
Vídeo de homenagem a Mickey Finn (1947-2003), o outro elemento-chave nos T. Rex. Houve uma última entrevista a Mickey Finn, feita quase ao a acaso, mas que não consegui trazer para esta postagem.
Recuando alguns anos, verifica-se que o nome “T-Rex” não é mais do que uma abreviatura de “Tyrannosaurus Rex”, nome de um temível animal jurássico e de um outro grupo musical, que antecedeu aquele, embora sem nada de comparável, a não ser pelo facto de ter sido também um dueto e de nele também surgir, em grande destaque, o nome e a figura de Marc Bolan. No entanto, era um dueto “de facto”, quer em “imagem de marca”, quer instrumentalmente, raramente recorrendo a colaborações de fora, quer em estúdio, quer ao vivo. Era na outra metade deste dueto que se encontrava a figura e a personalidade, que respondia pelo nome artístico de Steve Peregrine (“Peregrin”, segundo algumas fontes) Took.
Este jovem, nascido Stephen Porter em 1949, com aspirações musicais, nunca tinha estado previamente numa banda, quando respondeu a um anúncio colocado por Marc Bolan na revista "Melody Maker", no Verão de 1967. A intenção deste era formar a sua primeira banda independente, depois de já ter tido alguma experiência musical tanto a solo como em, pelo menos, uma banda de rock. Marc Bolan conseguiu, então reunir os cinco músicos de que ele precisava para actuar num concerto agendado dentro um prazo muito curto. Não houve quaisquer ensaios, nem teste de som, nem foi elaborado nenhuma lista prévia do alinhamento das músicas a interpretar nessa noite. Apesar de tudo, as expectativas de Marc Bolan e da sua banda recém-constituída eram muito elevadas.
O terceiro disco “Unicorn”, lançado no começo de 1969, revela já uma relativa evolução em comparação com os anteriores. Os temas são mais complexos e instrumentalmente enriquecidos. Apesar de contarem com a colaboração esporádica de alguns elementos externos, Marc Bolan e Steve Peregrine Took surgem aqui como verdadeiros multi-instrumentistas, ao tocarem a maioria dos instrumentos nos diversos temas, graças às (então) inovações das misturas em estúdio. Este álbum contém igualmente algumas perspectivas de evolução futura do estilo musical do grupo, apesar de, como seria de esperar, não renegar o seu passado temático, muito baseado nas histórias fantásticas.
Tyrannosaurus Rex - "The Throat Of Winter" (1969).
De qualquer forma, era preciso não esquecer o facto do panorama musical circundante ter evoluído muito rapidamente desde 1967 e que o estilo dos “Tyrannossaurus Rex”, correria sérios riscos de se tornar, em breve, anacrónico, apesar de continuarem a ter um núcleo de fãs convictos. No entanto, o êxito comercial há muito procurado continuava a fugir-lhes, o que deixava Marc Bolan, particularmente frustrado.
Paralelamente, Steve Took, sentindo-se cada vez mais posto de lado por Bolan, que se assumia como o "chefe" dos Tyrannosaurus Rex, decide, através do seu círculo de relações, entrar em contacto com outros músicos e outras bandas, muitas delas ainda em fase de constituição. Entre estes, encontraria Syd Barrett, um dos seus ídolos e o líder original dos Pink Floyd, com o qual estabeleceria uma relação de amizade que, apesar dos longos períodos de reclusão de Syd, seria retomada de quando em quando. Todavia, nesta fase, o que foi decisivo para a carreira musical de Steve Peregrine Took, foi ter entrado em contacto com um certo Twink. Este John "Twink" Adler, fora o baterista de diversas bandas, entre os quais um grupo psicadélico denominado Tomorrow, entre 1967 e 1968, e os Pretty Things, quando estes gravaram o seu álbum mais importante "S.F. Sorrow". De referir que o baterista original desta banda, os Pretty Things, era o excêntrico "fenómeno" Viv Prince. Por alturas de 1969, Twink iniciava uma carreira musical independente e reunia músicas para o seu primeiro L.P., que iria saír no começo de 1970 e se intitulava "Think Pink".
O que acabou por acontecer foi que o concerto foi um completo desastre, com a banda a ser mesmo vaiada fora do palco. Marc Bolan ficou arrasado e a sua banda separou-se, ainda nessa noite, e todos os seus membros, salvo Steve Peregrine Took, foram embora. Este ocupava o posto de baterista e obtivera o seu nome artístico a partir de um personagem das histórias fantásticas do escritor J. R. Tolkien: Peregrin Took - o grande amigo do "hobbitt" Frodo.
Marc Bolan também partilhava da mesma paixão pelas histórias fantásticas de J. R. Tolkien e houve quem dissesse que a escolha do seu novo parceiro musical se devia precisamente ao pouco usual nome artístico, do que aos eventuais talentos musicais de Steve Peregrine Took.
Por outro lado, o seu nome artístico e a sua aparência encaixavam bem no novo projecto musical de Marc Bolan que se seguiria: Tyrannosaurus Rex.
Constituído o dueto, logo começariam as gravações do seu primeiro disco, a lançado na primeira metade de 1968. O seu título pouco usual e a sua temática e estéticas centradas nas histórias fantásticas de diversos autores, entre os quais o já referido J. R. Tolkien, contribuem, para além da imagem física do grupo, para a sua popularidade. Desde muito cedo que o elemento "imagem" era muito caro para um esteta como Marc Bolan.
Tyrannosaurus Rex - "Salamanda Palaganda" (1968). Versão ao vivo de um tema do seu segundo LP. Exoterismo, Surrealismo e outras tantas coisas, embrulhadas numa capa de exotismo de "terras distantes"... Um mero "exercício musical". Marc Bolan e Steve Peregrine Took ainda estavam em perfeita simbiose artística.Tyrannosaurus Rex - "Cat Black (The Wizards Hat)" (1969).
De qualquer forma, era preciso não esquecer o facto do panorama musical circundante ter evoluído muito rapidamente desde 1967 e que o estilo dos “Tyrannossaurus Rex”, correria sérios riscos de se tornar, em breve, anacrónico, apesar de continuarem a ter um núcleo de fãs convictos. No entanto, o êxito comercial há muito procurado continuava a fugir-lhes, o que deixava Marc Bolan, particularmente frustrado.
Por outro lado, as relações pessoais entre ele e Steve Took, já algum tempo que se vinham esfriando, dando a entender que a sua aparente união visível em público e nos discos era quase já uma mera encenação. Os seus estilos de vida, nesse começo de 1969, não podiam ser mais dissonantes. Marc Bolan havia iniciado uma relação sólida com a sua futura mulher June, e viviam juntos uma vida relativamente calma e mais ou menos “limpa” de drogas.
Aliás, Marc Bolan, mesmo tendo já experimentado um pouco de “tudo”, afirmava-se avesso às drogas em geral, apesar da audiência da sua música incluir gente do mundo “underground”, onde a circulação de drogas de todo o tipo era bastante frequente. Daí que já lhe era algo difícil tolerar o estilo de vida do seu então parceiro de grupo Steve Peregrine Took.
Este, pelo contrário, considerava-se um “espírito-livre”, era avesso a qualquer forma de disciplina de vida e frequentava, sempre que podia, os mais diversos locais de “má-fama” da sua Londres natal, onde todo o tipo de drogas circulava a rodos e onde ele encontrava outros tipos mais ou menos do mesmo género. Aliás, havia já algum tempo que Steve Took era um indivíduo claramente mergulhado na toxicodependência, sendo este mau hábito permanentemente reavivado, quer por iniciativa própria, quer por incentivo de outros “amigos”.
Para além do mais, ele parecia sentir um certo orgulho nesta sinistra condição, como se isto já fizesse parte das suas características intrínsecas e fosse um elemento de distinção e afirmação pessoal. Não seria, decerto, nada invulgar que Steve Peregrine Took, à maneira dos antigos feiticeiros e dos magos das histórias fantásticas do gérnero “tolkiano”, trouxesse consigo diversas doses das mais variadas substâncias. Para além disto, não era invulgar Steve ter uma parceira diferente de tempos a tempos, contradizendo a estabilidade conjugal que Marc Bolan pretendia conquistar. Por alturas do álbum “Unicorn”, podia-se afirmar que Steve Took arranjava todos os pretextos para regressar aos seus vícios, quer quando estivesse bem-disposto, quer quando estivesse “na pior”. Nesta fase, ele atravessava um dos seus diversos momentos menos felizes da sua vida. Isto devia-se ao facto de, paralelamente ao seu amadurecimento enquanto músico poli-instrumentista, Steve Peregrine Took ter começado a compor os seus próprios temas.
Na esperança de se conseguir afirmar como individualidade musical e evidenciar-se um pouco mais nos “Tyrannosaurus Rex”, Steve tentou sugerir a Marc Bolan a introdução de temas da sua autoria, quer nos espectáculos, quer em futuras edições discográficas.
Tyrannosaurus Rex - "Warlord Of The Royal Crocodiles" (1969).
Tyrannosaurus Rex - "The Seal Of Seasons" (1969).
Marc Bolan, que tentava desesperadamente conseguir a sua ascensão musical através dos “Tyrannosaurus Rex” e se sentia cada vez mais frustrado pela ausência de êxitos discográficos visíveis, recusava sempre esta sugestão de Steve Took. O grupo era dele, as músicas eram dele e só a ele competia decidir quais os rumos a seguir em frente. Isto contribuiu para aumentar a frustração pessoal de Steve Peregrine Took, que agora mergulhava, ainda mais, nos seus vícios, para além de degradar a já problemática relação entre eles. Muitos que os conheceram de perto afirmaram que, por esta altura, eles se detestavam “cordialmente”.
Steve Took consegue ver dois temas seus incluídos neste álbum, ainda que no final do alinhamento original: "Three Little Piggies" e "The Sparrow Is A Sign".
Marc Bolan, ao saber desta "generosidade" do seu parceiro de banda, ficou enfurecido, o que contribuiu para azedar ainda mais a já periclitante relação entre os dois. O respeito mútuo ainda seria, sem dúvida, a última coisa a sofrer danos irreversíveis, com um "passo" demasiado ousado da parte de Steve Peregrine Took.
Havia já algum tempo que Steve Took, para além dos seus vícios pessoais e dos círculos de convívios onde pululava, desenvolvera o estranho hábito de, provavelmente, tentar trazer outros para o seu “lado”. Ele se auto-proclamava como “Phantom Spiker”, por vezes com um orgulho desmedido. O seu mau hábito consistia em drogar as bebidas de outros sem que estes dessem conta. Uma diversão muito arriscada e muito criticável, pelo menos do ponto de vista moral. Um dia, ele resolveu fazer esta partida de mau gosto a Marc Bolan e este descobriu logo o seu autor. Foi o tal "passo" em falso que seria a gota de água para a dissolução dos "Tyrannosaurus Rex".
Apesar do corte de relações entre os dois, os "Tyrannosaurus Rex" estavam ainda obrigados a fazer uma digressão pelos Estados Unidos, que foi, segundo descrições da imprensa da época, uma sucessão de actuações lamentáveis. Steve Peregrine Took, já completamente "nas tintas" para a sua banda, chegaria a tirar a roupa em palco e a fazer performances que faziam lembrar as de um outro artista surgido para a fama mais ou menos por esta altura: Iggy Pop.
Logo que se agendou a expulsão de Steve Peregrine Took dos Tyrannosaurus Rex, Marc Bolan encontrou um substituto na pessoa de um certo Mickey Finn. O quarto LP "A Beard Of Stars" (gravado durante 1969 e lançado em princípios de 1970) foi a sua estreia. Na altura, alguns perguntavam: "Quem é o novo Peregrine?"
T. Rex - "Get It On (Bang-A-Gong)" (1971). Vídeo de promoção do, então, novo single da banda.
Ao contrário do que acontecera com Steve Peregrine (Peregrin?) Took, a Mickey Finn não ocorria sequer a ideia de pôr em causa a liderança absoluta de Marc Bolan nos T-Rex e seguia-o fielmente como se fosse um seu prolongamento. Na verdade, Mickey Finn não era só "a outra metade da linha da frente" dos T-Rex. Ele também era, e sempre seria, mesmo a título póstumo, o verdadeiro fã nº1 de Marc Bolan, quer do ponto de vista artístico, quer do ponto de vista pessoal.
A prova está no facto de não ter havido mais ninguém, pelo menos conhecido, que terá mostrado maior devoção à memória do cantor e compositor Marc Bolan, tão prematura e violentamente desaparecido. Não terão sido muitos a criar uma banda, quase de raiz, para perpetuar a memória das músicas de um artista.
O seu nome é "Mickey Finn's T-Rex" e foi constituída na sequência da comemoração dos 50 anos do nascimento de Marc Bolan, em 1997. Mickey Finn dedicou-se a este projeto até à sua morte em 2003, tendo participado nas sua atuações ao vivo, mesmo quando a sua saúde se havia deteriorado a tal ponto, que ele já quase não tinha forças para tocar e mesmo apresentava graves problemas de locomoção, para além de, entre outros detalhes, ele apresentar o rosto com evidentes e crescentes sintomas de icterícia .
Ele terá recusado qualquer sugestão quanto a ser sujeito a um tratamento médico que implicasse o seu eventual internamento hospitalar. Mickey Finn sentia que, se fosse internado ou ficasse confinado em casa, estaria a deixar a sua banda "desamparada".
Quando Mickey Finn, por fim, sucumbiu aos seus, cada vez mais incapacitantes, problemas de saúde, optou-se pela continuação da banda, pois julga-se que tal seria o seu maior desejo.
Expulso dos “Tyrannosaurus Rex”, Steve Peregrine Took começaria a atravessar grandes dificuldades económicas. Terá mesmo chegado a ser detido por posse de droga, o que não seria muito de espantar. Ingressaria por um breve tempo numa formação inicial dos “Pink Fairies”, de onde fazia parte o seu amigo Twink (Adler), da qual quase não existe nenhum registo discográfico, salvo, talvez algumas actuações ao vivo, muitas delas mais semelhantes a “happenings” bizarros do que a espectáculos musicais. Durante o período de 1970-1971, fez parte de um grupo obscuro denominado “Shagrat”, que continha elementos de outras bandas já dissolvidas, conhecidos de Steve Took. Com a saída de um dos seus elementos originais, o núcleo dos “Shagrat” ficou reduzido a um trio, tendo Steve Peregrine Took conseguido a sua primeira oportunidade de liderar um grupo musical, ainda que só por, mais ou menos, um ano.
Crê-se que as gravações deste breve período tenham surgido no disco “Pink Jackets Required”, tendo havido duas versões, totalmente distintas, do mesmo grupo: “Electric Shagrat” e “Acustic Shagrat”. Apesar de ter sido também lançado em CD, o “Pink Jackets Required” é hoje extremamente difícil de obter.Shagrat - "Lone Star" (1970-1971). Destaque para os temas "Still Yawning Stillborn" e "Beautiful Deceiver".
Dissolvidos os “Shagrat”, Steve Peregrine Took iniciaria uma carreira a solo muito errática, não raras vezes sob a ajuda de um núcleo algo restrito de gente, ligada ao mundo da música, que lhe reconhecia um talento real. Iniciaria uma vida de quase indigente, morando mesmo em casas desabitadas, que não era mais do que um prolongamento do que ele já fazia quando tinha um contrato firme e qualquer dinheiro que chegasse era, em grande parte, canalizado para satisfazer os seus vícios pessoais. Graças às diversas, mas breves, oportunidades que lhe foram sendo oferecidas, deixaria um número apreciável de faixas gravadas, muitas delas inéditas por longo tempo.
Steve Peregrine ("Peregrin") Took - "Syd's Wine" (1971-1972).
Entre estas, houve um conjunto de gravações, produzidas por Tony Secunda, antigo produtor de Marc Bolan, executadas de uma forma livre e errática, sem um plano préviamente estabelecido, numa cave algures em Londres, no começo de 1972. Steve Peregrine Took, durante os meses em que por lá esteve, convidaria uma grande quantidade de gente sua conhecida, a maior parte músicos, dos quais alguns participariam nessas gravações. Entre estes estaria Syd Barrett, em algumas das suas breves saídas. Seria decerto este o "Crazy Diamond" que aparecia referenciado entre os intervenientes. Após este período, mais ou menos produtivo, Steve Peregrine Took regressaria à sua vida e carreira erráticas de antes, gravando e actuando aqui e ali esporádicamente.
Em 1977, Steve Peregrin Took parecia estar, finalmente, a conseguir dar um rumo mais sólido à sua carreira musical, quando decide formar uma banda denominada “Steve Took’s Horns”. Havia já algum tempo que Steve Took vinha entrando em contacto com músicos e cantores provenientes dos mais diversos sectores da música rock. A maior parte destes eram artistas em fase de afirmação ou que, tal como ele, viam o êxito passar-lhes ao lado. É claro que toda aquela carreira errática que Steve trazia atrás de si, se por um lado o havia afastado do conhecimento e, ainda mais, do reconhecimento do grande público, por outro lado havia-o tornado conhecido por parte de um grande universo de músicos e cantores, tanto nos bons como nos maus aspectos.
Neste ano de 1977, o então revolucionário som da Punk Music, associado à definitiva solidificação de outros géneros como o Heavy Metal, dominava a cena musical. A cultura “underground” onde Steve Peregrine Took se vinha movendo há muito, é de novo reabilitada, associada ao desejo de ir contra a corrente principal, onde os estilos mais comerciais, sobretudo o “Disco Sound”, dominavam. Para além disto, havia o reconhecimento do legado de outros artistas mais antigos e, durante longos anos, considerados “à margem”, quando não polémicos. Entre estes estavam Lou Reed e Iggy Pop.
O outro problema residia no próprio Steve Peregrine Took, que continuava a braços com a sua dependência mista de álcool e drogas, que tornava a sua condição tanto física como mental algo incerta. Conseguir a oportunidade de gravar num estúdio, com as verdadeiras filas de espera num mundo musical muito competitivo e o preço que custava o tempo de uso de um estúdio de gravação, tornava a vida difícil para uma banda que ainda não tinha nem contrato com nenhuma editora, nem um produtor devidamente credível e disposto a investir em alguma banda completamente desconhecida. Havia, por isso, que ter algum material já gravado e, caso recorressem a um estúdio de gravação, já ter mais ou menos tudo preparado.
Houve por isso que fazer diversos ensaios ao longo de várias semanas num espaço improvisado à prova de som. Acontece que, devido a uma certa falta de disciplina dos vários elementos do grupo, agravada pela presença constante de litros de álcool, dentro e fora de portas, sem falar nas constantes “contaminações” com “substâncias” à margem da lei, os ensaios não ocorriam com a frequência necessária. Quando ocorriam, nem sempre decorriam da forma pretendida. Vários dos seus elementos, em especial o líder Steve Peregrine Took, não estavam na sua melhor forma e não era raro haver alguma confusão. Steve Took, em particular, encontrava-se fortemente alcoolizado ou ressacado, esquecia-se do que tinha sido planeado para cada sessão, sentia-se bloqueado e não conseguia cantar, começava um tema para logo o “quebrar” a meio e passar a partes de outro diferente ou mesmo podia ficar completamente fora de si.
Ainda houve quem o tivesse conseguido alojar numa casa longe da cidade, conseguindo que Steve Took se mantivesse “limpo”, durante um bom período, tendo este mesmo começado, de novo, a traçar planos futuros para a sua carreira musical. O problema era que, quando Steve regressava à cidade (Londres), acabava por ir ao encontro dos lugares que ele tão bem conhecia, onde encontrava os seus velhos “amigos” de sempre que acabavam por fazê-lo regressar aos seus vícios com mais força do que antes. Foi num desses seus lugares favoritos, Landbroke Grove, que Steve Peregrine Took encontrou mais um lugar onde residir, desta vez na casa de mais uma das mulheres com quem mantinha relações.
Steve Peregrine ("Peregrin") Took's Horns - "It's Over" (1977).
Esta nova moda, parecia mais uma oportunidade para Steve Took poder relançar a sua carreira e sentir um pouco a luz do sucesso discográfico. Os contactos e as colaborações que ele havia tido, ao longo dos anos 70, nomeadamente com grupos como os “Hawkwind” (na sua formação inicial) e “Nik Turner’s Allstars”, permitiram-lhe chegar aos membros da sua futura banda “Steve Took’s Horns”. Dois elementos-chave para a constituição desta nova banda foram o guitarrista Judge Trev Thoms e o baterista-percussionista Dino Ferrari, também conhecido pelo seu nome próprio de Ermano.
O problema era conseguir algum produtor e uma editora, que estivessem interessados em investir neles. Era necessário, desde logo, começar a compor para se poder ter algum material gravado e não descartar a hipótese de aproveitar a primeira oportunidade possível de se darem a conhecer a um público mais vasto, por exemplo, através de actuações num ou mais dos espectáculos de rock que vinham decorrendo um pouco por toda a Inglaterra, nessa 2ª metade da década de 70.O outro problema residia no próprio Steve Peregrine Took, que continuava a braços com a sua dependência mista de álcool e drogas, que tornava a sua condição tanto física como mental algo incerta. Conseguir a oportunidade de gravar num estúdio, com as verdadeiras filas de espera num mundo musical muito competitivo e o preço que custava o tempo de uso de um estúdio de gravação, tornava a vida difícil para uma banda que ainda não tinha nem contrato com nenhuma editora, nem um produtor devidamente credível e disposto a investir em alguma banda completamente desconhecida. Havia, por isso, que ter algum material já gravado e, caso recorressem a um estúdio de gravação, já ter mais ou menos tudo preparado.
Apesar de tudo, lá se conseguiu ter algum material com o mínimo de condições para ser mostrado. Basicamente, só havia três temas mais ou menos acabados e uma série de partes instrumentais, mesmo com a letra escrita à parte a que faltava apenas juntar as vozes. Acontece que, tanto devido ao facto dos temas apresentados não serem suficientemente apelativos e convincentes, quer devido em parte à fama pouco abonatória do estilo de vida de Steve Took, extensível aos outros membros, fora impossível arranjar um produtor, quanto mais uma editora, que estivesse disposta a investir num grupo tão difícil de caracterizar.
A outra alternativa era já se darem a conhecer publicamente através do circuito dos espectáculos ao vivo, onde actuavam várias bandas numa mesma sessão. Podia ser que, ao se tornarem um pouco mais conhecidos, isto pudesse quebrar o gelo. Por outro lado, esses espectáculos de novas bandas eram assistidos, discretamente, por diversos produtores e “enviados” de várias editoras em busca de novos talentos. Acontece que a primeira actuação ao vivo dos “Steve Took’s Horns”, foi um verdadeiro desastre. Steve Peregrine Took teve um súbito assomo de consciência de quão decisivo podia ser o momento, que foi acometido por mais um dos seus costumeiros bloqueios e não conseguiu cantar uma única estrofe.
Bastante traumatizado por esta experiência tão mal sucedida, Steve Peregrine Took decidiu não levar mais avante o seu projecto do grupo “Steve Took’s Horns”. Os outros membros do grupo, não mostraram qualquer oposição numa imediata dissolução, dado que, para além do cansaço e frustração, estavam sem um tostão. Completamente desiludido com mais este projecto abortado, Steve Peregrine Took regressaria, como era óbvio, à sua vida de quase indigente, “nadando” na sua já conhecida mistura inebriante de álcool barato e substâncias lícitas e ilícitas da mais diversa proveniência e residindo na casa de conhecidos por tempo indeterminado.
Entretanto, dois elementos-chave dos seus extintos “Steve Took’s Horns”, Judge Trev Thoms e Dino Ferrari, já tinham formado uma nova banda da qual existem diversos registos discográficos: “Inner City Unit”. Por diversas vezes, Steve Peregrine Took, fora convidado para os seus primeiros espectáculos ao vivo. Tal como ele afirmou em público, diversas vezes, a constituição dos “Inner City Unit”, também se devia a ele, ainda que indirectamente. Estas breves aparições em público de Steve Peregrine Took, contribuiram, decerto, para o dar a conhecer a cada vez mais pessoas. De qualquer forma, sem contrato discográfico à vista, o seu estilo de vida errático e pouco recomendável nunca mais mudaria.
No entanto, nem tudo corria mal para Steve Took, dado que começava a chegar dinheiro, sob a forma de cheques, proveniente do, tardio, reconhecimento da sua participação, quer como músico quer como compositor, nos mais diversos projectos musicais, desde os “Tyrannosaurus Rex”. Este dinheiro que vinha chegando, associado ao auxílio da parte de muitos seus antigos correligionários da sua carreira musical, deveria ser destinado a, mais uma vez, relançar a sua carreira musical. O problema era que Steve Took não se conseguia libertar do seus vícios e, por mais do que uma vez, o seu dinheiro fora canalizado para comprar mais algumas “substâncias”, incluindo charros e “cogumelos mágicos”, que integravam muito da sua “dieta” quotidiana. Foi na sequência de mais um “banquete” deste género, que Steve Peregrine Took acabaria por encontrar a morte, ao sufocar com uma simples cereja de cocktail, em finais de Outubro de 1980. Muita da sua obra musical, posterior a 1971, dispersa e nem sempre gravada nas melhores condições, só acabaria por chegar ao conhecimento do público (interessado, claro está), uma década depois do seu falecimento.