sexta-feira, abril 22, 2022

Sir Arthur Harris - parte 2 - A ação


Sir Arthur Harris.

Sir Arthur Harris.

                   
Sir Arthur Harris no seu gabinete.

Arthur Harris assumiu o seu lugar à frente do Comando de Bombardeiros da R.A.F. em 22 de Fevereiro de 1942. Tal como muitos outros oficiais e membros do Parlamento Britânico, sem falar no próprio Primeiro-Ministro Churchill, Harris estava profundamente desiludido com as táticas de bombardeamento, até então, utilizadas sobre o território do 3º Reich. Fazia, por isso, parte de um vasto grupo de opinião que defendia a necessidade de uma mudança radical de atitude e estratégia. 
A chegada de Arthur Harris ao seu cargo correspondeu à demissão de, entre outros, Sir Hugh Dowding que, até 1942, ocupava o comando mais elevado da R.A.F. . Apesar de tudo, este último tinha o principal mérito de ter conduzido os seus caças à vitória na Batalha de Inglaterra. Não obstante, a acumulação de todo um conjunto de problemas desde o início do conflito bélico, tornaram inevitável uma mudança nas chefias.

Sir Hugh Dowding (1882-1968), meses depois de ter deixado o seu cargo de Comandante da Royal Air Force (R.A.F.). A foto revela um pouco da sua personalidade... Tinha "mau feitio", segundo se dizia...

Havia muito que os ataques aéreos eram efetuados de noite e a grande altitude, como forma de dificultar a interceção por parte das defesas do inimigo. Isto tornava impossível qualquer tentativa de precisão dos alvos, tanto mais que a prática obrigatória dos “black-outs” noturnos anulava praticamente qualquer vestígio de visibilidade dos mesmos. Os meios de navegação quase sempre se baseavam em coordenadas aproximadas quanto à localização de este ou aquele alvo, apesar de já se utilizar alguns meios de deteção por radar, mas que eram muito pouco precisos. Em suma, as missões eram, em grande parte, efetuadas às cegas, caindo grande parte das bombas fora do alvo pretendido. Do lado germânico, os meios de deteção das esquadrilhas invasoras estavam a conseguir cada vez maior precisão, o que agravava o risco de vida dos pilotos e ainda mais se tentassem reduzir a altitude de forma a precisar um pouco melhor os alvos.
Por outro lado, o povo britânico, tanto os civis como os militares, acabava de atravessar uma fase em que a evolução do conflito não lhes fora favorável, apesar de alguns reveses obtidos pelas forças do Eixo. Era certo que o inimigo tinha os seus pontos fracos e não era tão temível, a nível bélico, claro, como havia sido propalado ainda havia dois anos. Mesmo assim havia sempre um sentimento forte de insegurança em relação ao futuro: resistiam bem, mas até quando? Não havia dúvida que o otimismo pendia, então, mais para o lado do Eixo. Sem falar nas vias marítimas infestadas de submarinos “U-Boat” germânicos, apesar de já se lhes estar a dar uma melhor “resposta” e o temível couraçado “Bismark” ter já ido ao fundo no ano anterior.

Vista aérea sobre a Catedral St. Paul, antes dos bombardeamentos do Blitz, iniciados pela Luftwaffe germânica em 1940.

Gravação do som típico que antecedia um ataque aéreo na 2ª Guerra Mundial. Quando isto se ouvia, era o momento de fugir para os abrigos.

Os bombeiros de Londres e de outras cidades britânicas ainda hoje são lembrados como grandes heróis.

Pintura representando dois bombeiros de Londres a serem atingidos pelo desabar de uma parede de um edifício em chamas durante o Blitz de Londres, ocorrido entre Setembro de 1940 e Maio de 1941. Situação muito comum durante os incêndios urbanos.

O "2º Grande Incêndio de Londres" ocorreu na noite de 29 para 30 de Dezembro de 1940.

A Catedral de St. Paul esteve em sério risco de ser destruída pelo fogo, durante a noite do "2º Grande Incêndio de Londres" ocorrido a 29-30 de Dezembro de 1940. Churchill deu ordens expressas para que os  bombeiros e as equipas de defesa civil se concentrassem especialmente na defesa deste monumento, que ainda hoje é um ex-libris da cidade de Londres. A salvação deste monumento chegou a ser inspirador para filmes e romances. Temia-se que acontecesse a St. Paul o que havia acontecido à Catedral de Coventry, na noite de 14 de Novembro de 1940. Esta última ardeu até aos alicerces e, ainda hoje está em ruínas como um memorial de guerra. Mesmo membros da Igreja participaram na salvação da Catedral de St. Paul de Londres. Era também pelo seu valor simbólico. Gente de todos os quadrantes que assistiram a esta noite infernal e se abrigaram onde foi possível nunca se esqueceriam: "Lá fora, era como se fosse dia!".

Imagem famosa do "Blitz" sobre Londres, em 1940. O efeito de luz sobre a St. Paul's Cathedral, foi conseguido no momento em que o sol despontava sobre a cidade, depois da noite do "2º Grande Incêndio de Londres" ocorrido a 29-30 de Dezembro de 1940.


Exemplo paradigmático da destruição durante o Blitz em diversos sítios de Londres.


Londres. Holland House Library (1940).

Londres, ao amanhecer, em 1940-1941.

A Catedral de St. Paul apenas sofreu alguns danos ligeiros, apesar de ter chegado a entrar uma bomba incendiária pela cúpula, que se alojaria na sua estrutura antes de ser, com muito custo, extinta por um dos funcionários da desta catedral. De assinalar outra bomba isolada que entraria pelo telhado da Catedral de St. Paul e que provocaria um buraco no chão, junto ao altar. Ao longo da Guerra, este edifício emblemático da capital britânica, conseguiu manter uma aparência de indestrutibilidade. O mesmo não se pode dizer da maior parte dos edifícios da zona circundante. Muitos não seriam reconstruídos depois da Guerra. Isto explica o aspeto atual, algo estranho e desfasado, da arquitetura na zona da Catedral de St. Paul.

Uma "mina aérea" germânica depois de desativada. Era o tipo maior de bomba explosiva a ser usada pela Luftwaffe. Era, por assim dizer, uma versão embrionária de um tipo de bomba que os aliados, em especial os britânicos, produziriam ao longo de todo o conflito e com muito maior sucesso, que seria conhecida pelo nome de "blockbuster" ou "cookie". Tal como a imagem acima mostra, para além dos danos provocados pelas bombas explosivas e incendiárias, havia ainda o muito frequente perigo provocado pelas bombas não explodidas. Não era raro haver explosões "fora do tempo", que provocavam vítimas e destruições adicionais. Para além do salvamento das vítimas dos bombardeamentos, as equipas de resgate tinham o dever adicional de detetar bombas não explodidas, mas não tinham autorização para lidar com elas diretamente. Estas situações ficavam a cargo de equipas de especialistas, que arriscavam permanentemente a sua vida neste trabalho que exigia alguma minúcia.

Reportagem feita na cidade britânica de Plymouth, na sequência de um dos seus piores bombardeamentos.

Betty Lawrence trabalhava num Hospital de Plymouth onde estudava para parteira, na noite do pior bombardeamento. (Betty Lawrence:) "Foi muito assustador, ouvimos os aviões e o ruído das sirenes, passaram sobre as nossas cabeças e logo a seguir... a bomba caiu na ala de pediatria! Havia uma pobre senhora, estávamos agarradas uma à outra, as luzes apagaram-se, havia entulho a caír e a senhora disse: 'O bebé vai nascer! O bebé vai nascer!'. Tive de fazer o parto à luz da lanterna elétrica com sujidade, lixo e pó e a pobre senhora e eu cobertas de pó."

Mais de 1000 pessoas foram mortas e 3000 ficaram feridas nesses ataques. (Betty Lawrence:) "Era horrível andar por Plymouth. Não havia edifícios nenhuns, nada, absolutamente nada! Era inacreditável! Perguntávamo-nos: 'Onde estou? Onde Está Plymouth? Para onde foi?' Nem conseguíamos encontrar a estrada. Subíamos até ao hospital pelo meio dos escombros. Senti tristeza, desespero. Foi a única ocasião durante a Guerra em que tive um sentimento de derrota, de que era o nosso fim".

Como os bombardeiros voltavam constantemente, as pessoas saíam de Plymouth antes do anoitecer, metade da população dormia nos campos apesar do frio rigoroso do mês de Março.

Sid Newham perdera três membros da família nos ataques aéreos alemães. (Sid Newham:) "Íamos para o meio da charneca porque estávamos aterrorizados e costumávamos esconder-nos no meio das sebes. Eu costumava aconchegar a minha irmã de um lado e o meu irmão do outro e as bombas começavam a cair. Então víamos o céu iluminar-se. Pensávamos: 'Que parte da cidade será desta vez?'"
O Governo temeu que o moral em Plymouth vacilasse. Foi na sequência disto que o Primeiro-Ministro Winston Churchill se deslocaria de propósito a Plymouth.

O Primeiro-Ministro Winston Churchill, visita a cidade britânica de Plymouth, na sequência do seu pior período de bombardeamentos, em 1941. "E no meio de tudo isto é dado o sinal: Winston chegou! O primeiro-ministro da Grã-Bretanha e a esposa vieram visitar o povo indómito do Devon. 'Havemos de fazer aos alemães o mesmo e mais ainda do que eles estão a fazer-nos a nós!'".

(Betty Lawrence:) "Pensei que se eram capazes de fazer-nos isto a nós, às crianças, devíamos fazer-lhes o mesmo a eles. Sei que não é maneira de uma enfermeira pensar, mas era o que eu sentia. Fazer o mesmo a eles. Sim. Bombardear a Alemanha!".

Reportagem virtual acerca dos efeitos do "Blitz" em Plymouth.

Birmingham.

Birmingham.

Birmingham.

Birmingham.

Liverpool.

Liverpool.

Liverpool. Esta igreja, St. Lukas Church, ficou em ruínas como um memorial de guerra.

Liverpool. St. Lukas Church.

Hull.

Hull.

Hull.

Hull. Esta cidade portuária inglesa terá sido a que, de facto, ficou mais danificada pelos bombardeamentos germânicos, pois era um alvo relativamente próximo e fácil de alcançar pelas esquadrilhas aéreas. Não foi, realmente, Coventry.

Vale a pena aqui destacar que, quando muitos menos esperavam, a cidade de Londres é atingida pelo maior bombardeamento de sempre na noite de 10 de Maio para 11 de Maio de 1941. Nesta noite infernal, a Luftwaffe, desta vez sob o comando de Hugo Von Sperrle (1885-1953), conseguiu uma eficaz marcação de alvo, que lhe permitiu produzir uma destruição maior e mais vasta. Um dos resultados de assinalar foi que pela primeira vez, o número de vítimas mortais foi superior a 1000
Hugo Von Sperrle (1885-1953). Foi sob o comando deste "Feld"- Marechal que a "Legião Condor" germânica bombardeou a cidade basca de Guernica em 1937, durante a Guerra Civil de Espanha.

O centro de Londres na noite de 10/11 de Maio de 1941.

Aliás, entre as muitas destruições causadas à cidade de Londres, foi nessa noite que a famosa Câmara dos Comuns foi atingida. Na sequência desse, para a época, violentíssimo ataque, uma parte substancial da população britânica foi atingida por uma onda de terror quase inédita que, felizmente, acabou por ser aplacada nas noites seguintes, pois fica-se a saber que Adolf Hitler estava, desde há algum tempo, a desviar forças para Leste, com vista a levar avante a sua há muito planeada Operação Barbarossa, destinada a invadir a União Soviética. Dois dias depois, acabou "oficialmente" o Blitz sobre as ilhas britânicas.


Para além disto havia “contas a ajustar” com o inimigo germânico pelo inferno do "Blitz", sofrido ainda há relativamente pouco tempo e pelos bombardeamentos, mais fracos e esporádicos, que ainda iam ocorrendo aqui e ali, apesar de muito das forças atacantes da Luftwaffe estar agora a ser canalizado para a “frente” Leste. Existia uma grande animosidade por parte da opinião pública aliada relativamente ao inimigo germânico, sem falar em sentimentos muito fortes de vingança por parte daqueles que haviam sofrido diretamente as consequências dos ataques a nível de perdas materiais e humanas. Os seus dirigentes, tanto por razões de patriotismo e solidariedade, como de prestígio social e político, afirmavam-se plenamente do seu lado, através de discursos cada vez mais duros relativamente à sorte que esperaria os seus inimigos, principalmente a Alemanha, cujas cidades deveriam ser atacadas, se não, “arrasadas até aos alicerces”. Os alemães eram designados por “boches” e a sua nação representava, para os aliados, uma espécie de “Grande Satã”.

 Foi neste contexto que o Marechal Arthur Harris, se sentiu encorajado a delinear as novas estratégias de ataque aéreo que já vinham sendo advogadas há algum tempo. Basicamente, estas tinham por trás as ideias básicas de que, por um lado, era irrealista qualquer tentativa para se distinguir alvos militares e civis a tão grande altitude e com visibilidade muito reduzida, por outro, a área de cada cidade em si, era o único alvo observável. Para além disto, havia a intenção de reduzir ao mínimo o número de perdas humanas e materiais entre as esquadrilhas enviadas para as missões de ataque. Se a reposição dos aviões perdidos, a determinada altura, já não seria pacífica em termos de custos, a perda de pilotos, muitos deles experientes e insubstituíveis, que levavam tempo a serem preparados e a ganhar a prática necessária, ainda menos.
 Por outro lado, o Marechal Arthur Harris havia conquistado muito rapidamente um elevado carisma, se não adoração, junto dos seus “rapazes”. Ser piloto de guerra era, muitas vezes, entrar em missões quase suicidas e Arthur Harris, preocupava-se com a segurança dos pilotos do seu Comando de Bombardeiros. Esta atitude de proximidade só contribuiria para aumentar o respeito tanto por parte dos pilotos, como de outros oficiais da R.A.F.


Sir Arthur Harris com a Família Real.

Para além disto, muito da opinião pública britânica tinha-o, pelo menos durante aqueles anos de guerra, em conta muito elevada, para o que contribuía a sua imagem de homem de família extremoso.
Ainda que não tivesse sido ele o autor exclusivo da nova política de bombardeamento dos territórios inimigos, ele tomou para si a missão de a pôr em prática com grande afinco e determinação, de tal forma que, por vezes, roçava o fanatismo.

Sir Arthur Harris era, antes de 1945, uma figura muito mediática.

  • "The Nazis entered this war under the rather childish delusion that they were going to bomb everyone else, and nobody was going to bomb them. At Rotterdam, London, Warsaw, and half a hundred other places, they put their rather naive theory into operation. They sowed the wind, and now they are going to reap the whirlwind."

Por mais do que uma vez, ele utilizara a expressão de que a Alemanha nazi havia “semeado ventos” e, por isso, iria “colher tempestades”. Arthur Harris defendia que os ataques aéreos, se deveriam concentrar nas grandes zonas urbanas, pretendendo, com isso, afetar em simultâneo a sua economia e, sobretudo, o moral das respetivas populações. Os alvos militares ou de importância estratégica, como zonas industriais, estações e linhas de caminho de ferro, aquartelamentos, aeródromos e zonas portuárias poderiam ser destruídos no decorrer dessas operações de bombardeamento em massa ou, por vezes, serem deixados para depois, quase como se fossem secundários. Inclusive, o facto de uma cidade incluir esses alvos na sua cintura urbana ou de estar simplesmente situada nas proximidades, havendo nesta situação várias em simultâneo, seria apenas um pretexto para as colocar na linha da frente das que iriam “experimentar” estas novas táticas de bombardeamento.
Por outro lado, havia algum fundamento na escolha, ainda que criticável, pelas zonas habitacionais das cidades germânicas pois era certo que os trabalhadores das fábricas de material bélico e os militares teriam aí os seus lares e famílias. A perda dos respetivos bens e membros familiares teria decerto um efeito muito negativo tanto na capacidade produtiva dos indivíduos, como na sua vontade de combater. Para além disso, era certo e sabido que tanto a Luftwaffe como os seus exércitos no terreno haviam provocado, muitas vezes intencionalmente, vítimas civis, independentemente da sua faixa etária. Havia por isso um elemento, de certa forma, justificativo em incluir as populações civis germânicas no conjunto de alvos selecionados. É preciso não esquecer, ainda, que a descoberta e confirmação da existência dos campos de extermínio, por parte das tropas aliadas, só ocorreria nos últimos meses da guerra.

Acima de tudo, antes da invasão da Normandia em 1944, a força aérea britânica e a sua aliada americana, eram praticamente as únicas forças bélicas que lutavam diretamente contra o 3º Reich. Dessa forma, as populações aliadas e aquelas que haviam sido subjugadas pelas forças do Eixo, depositavam muitas esperanças na sua capacidade de enfrentar a Alemanha nazi.
Dortmund, antes da 2ª Guerra Mundial.

Antes de Sir Arthur Harris assumir o seu lugar à frente do Comando de Bombardeiros da R.A.F., de forma a conseguir implementar as novas técnicas de bombardeamento que já então preconizava, os resultados das operações de bombardeamento sobre a Alemanha, estavam, muitas vezes, longe de ser satisfatórios. Muitas das bombas caíam fora da área pretendida e as que caíam dentro ou próximo das zonas-alvo, só provocavam danos aqui e ali. Aliás, quando um ou outro edifício duma cidade era atingido por uma ou mais bombas, tal chegava a ser a grande notícia do dia da imprensa local, concentrando toda a atenção das populações residentes. A fotografia acima mostra um recanto da cidade de Dortmund antes da guerra e a de baixo, o mesmo local, após um dos primeiros bombardeamentos sobre esta cidade do Ruhr, em 1940 ou 1941. Cenas como a da fotografia em baixo eram muito comuns nesses primeiros tempos. Um edifício é atingido e, na manhã seguinte, a população concentra-se no local, como se de um vulgar acidente se tratasse...
Havia quem recolhesse e exibisse orgulhosamente "troféus", como partes das bombas detonadas e dos aviões que eram abatidos...
Dortmund, após um dos primeiros bombardeamentos.

Civis e elementos da Defesa Civil da cidade de Hagen, situada também na zona do Ruhr, com o pedaço de um bombardeiro britânico, nos primeiros anos da Guerra. Nesta fase, os bombardeamentos ainda não causavam danos assinaláveis nos centros urbanos germânicos.
Hagen por volta de 1940. Elementos da defesa civil com uma bomba não explodida.

Hagen por volta de 1940. Uma ou outra bomba que caía aqui ou ali, era algo de assinalar...

Hagen por volta de 1940. Cratera de uma bomba isolada. O único dano a assinalar foi o estilhaçar dos vidros de um edifício próximo.

                             
Interior de uma casa de Frankfurt onde haviam caído partes de um bombardeiro abatido pelos caças ou pelas baterias antiaéreas alemãs, por volta de 1940, no primeiro bombardeamento aliado sobre esta cidade. Estas situações isoladas eram sempre motivo de notícias locais.

Canhões antiaéreos em ação durante um ataque noturno.

A partir de 1942, começa a ser cada vez mais frequente, o bombardeamento concentrado sobre uma ou mais áreas pré-definidas, ou "bombardeamento de saturação", tal como Sir Arthur Harris preconizava. A regra básica para se conseguir um tal resultado, seria, antes de mais, organizar os bombardeiros em formações compactas sobre os alvos selecionados. Cenas como aquelas em Dortmund e noutras cidades, aconteceriam com cada vez menor frequência... 
Extensas zonas arruinadas, onde chegava a ser quase impossível distinguir onde existia este ou aquele edifício, passariam, até ao final da guerra, a fazer parte das "paisagens" de muitas cidades germânicas. As imagens, em baixo, igualmente da cidade de Dortmund, numa fase mais avançada da guerra, é mais do que elucidativa, dos resultados das novas técnicas de bombardeamento. Já ninguém parava para observar...

Dortmund, por volta de 1944-1945.

Dortmund.



Dortmund.


Dortmund.


Dortmund.



Dortmund. A rua HauptstraBe, em 1924.

Dortmund.


Dortmund.



Dortmund.

Dortmund.


Dortmund.

Dortmund.

Dortmund.

Dortmund.


Dortmund.

Dortmund.











Dortmund.




Dortmund.

Dortmund.

Dortmund. Câmara Municipal (Rathaus) e Biblioteca Central de Dortmund, Hoje desaparecidas. Até 1943, esta biblioteca detinha no seu espólio uma das  mais ricas e interessantes coleções de jornais e periódicos de toda a Alemanha.



Dortmund.


Dortmund.

Dortmund.

























Dortmund. Antes...

Dortmund. ...e depois. Fotografia aérea da grande destruição.



Dortmund.

Dortmund.

Mapa antigo de Dortmund.

Um dos muitos panfletos ("flyers") lançados pela Royal Air Force (R.A.F.) no espaço aéreo da Alemanha nazi, com o intuito de desmoralizar a sua população: "A Fortaleza Europa não tem teto". De facto, na noite de 23 para 24 de Maio de 1943, Dortmund sofreu o, até então, mais pesado bombardeamento de toda a 2ª Guerra Mundial.


Dortmund.



Hagen

Hagen

Hagen "Stadthalle"

Hagen "Rathaus"

Hagen. Câmara Municipal ("Rathaus") com cruz suástica ca. 1934.

Hagen

Hagen

Hagen

Hagen

Hagen

Hagen por volta de 1943, quando os bombardeamentos já faziam estragos assinaláveis.

Tal como aconteceu com outras cidades como DüsseldorfDortmundHamm, GelsenkirchenKrefeld, Bochum, WuppertalBottrop, Gladbeck, Dorsten, MüllheimOberhausenEssen, Hagen foi um dos principais alvos de uma importante campanha de bombardeamentos lançada pela R.A.F. na primavera de 1943, denominada "Batalha do Ruhr". A intenção era atingir de uma forma mais sistemática esta importante região industrial da Alemanha. Esta e as outras imagens anteriores de Hagen são um paradigma do que acontecia nas principais cidades dessa zona.

Hamm

Hamm

Essen

Dois aspetos do Mosteiro de Essen, antes da Guerra. Essen era a cidade mais importante da campanha de bombardeamentos lançada pela R.A.F. na primavera de 1943, denominada "Batalha do Ruhr". Era famosa no Mundo inteiro devido à sua autêntica "cidade industrial", propriedade da ainda mais famosa família local Krupp e localizada nas imediações da cidade propriamente dita. Se não fosse famosa, graças ao seu potentado industrial, já o era, desde há muito, devido à importância do referido Mosteiro, sobretudo na Idade Média

Essen

O claustro do Mosteiro de Essen, após um bombardeamento em 1943.

Essen, na década de 1930. Era uma das cidades da Alemanha onde havia mais construções modernas, ultrapassando mesmo outras como Berlim e Hamburgo. No entanto, estas construções "futuristas" conviviam harmonicamente com outras seculares. A zona que correspondia à sua "cidade velha" estava muito bem conservada. 

Essen. A zona da "Cidade Velha" ("Altstadt").

Essen. Aspeto de rua inserida na "Cidade Velha" ("Altstadt").

Essen, entre 1935 e 1940. O antigo e o moderno num "encaixe" quase perfeito.

Essen, por volta de 1943. Apesar da sua zona industrial ser o alvo militar e estrategicamente mais importante das diversas incursões aéreas aliadas, acabou por ser o seu centro urbano a maior vítima do seu fundamental contributo para o esforço de guerra de Hitler...

Essen, depois de 1945. Para salientar o seu grau de destruição, dizia-se que já não existia nesta cidade "nada de inflamável".

O centro da cidade de Essen, depois de 1945. Não diferia muito do de outras localidades desta região.

A referida "cidade industrial" de Essen, após os bombardeamentos da Guerra, em 1945

Estes bombardeamentos, para além do número crescente de desalojados, provocavam danos irreparáveis a nível do património cultural dessas cidades. Muitos exemplos serão neste artigo referidos. Na imagem acima, a igreja St. Marienkirche de Bochum, gravemente danificada, por volta de 1943-1944. Hoje este edifício já não tem a função de templo religioso, pois é o auditório de uma escola de música construída, décadas depois, nas imediações. Foi uma solução que se encontrou para salvar esta igreja de uma planeada demolição...

Bochum. Capa de livro com fotografia da igreja (St. Marienkircheatrás referida.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum.

Bochum em 1939.

O centro da cidade de Bochum em 1945.

Vale a pena salientar aqui o caso da cidade de Wuppertal. Esta cidade é a mais "jovem" desse conjunto de zonas urbanas que há muito formam essa área fortemente industrializada que é o Rhur. A sua fundação data de 1929. Na verdade e na sua origem Wuppertal não era uma cidade no sentido correto do termo. Resultava antes da união de uma série de localidades já existentes, que tinham entre si em comum o facto de se localizarem ao longo do vale do Wupper. Este aglomerado habitacional tinha uma forma muito peculiar e distinta e integrava várias localidades das quais as maiores e mais importantes eram Barmen e Elberfeld, que formavam as duas zonas mais em destaque de Wuppertal. Partilhando a sua localização entre estes dois núcleos, vale a pena salientar ainda mais duas povoações: Cronenberg, RonsdorfVohwinkel. Como a sua importância do ponto de vista da industria de guerra era destacadamente importante, logo Wuppertal se constituiu como um alvo prioritário na já referida "Batalha do Rhur". Acontece que, devido à sua forma, as esquadrilhas aliadas, durante algum tempo, tiveram extrema dificuldade em acertar neste alvo de uma forma efetiva, para além das suas defesas antiaéreas estarem posicionadas de uma forma estratégica, que tornavam arriscada a aproximação ao referido vale do Wupper

Wuppertal.

Wuppertal-Barmen.

Wuppertal-Elberfeld.

O primeiro bombardeamento efetivo sobre Wuppertal acabaria por ocorrer em 29-30 de Maio de 1943, tendo atingido com fortes danos e 3800 vítimas a zona de Barmen, onde se conseguiu produzir um efeito semelhante ao que, mais tarde, viria a ser designado por "tempestade de fogo". Mais ou menos um mês depois, em 24-25 de Junho de 1943, foi a vez de acontecer o mesmo com  a parte onde se destacava Elberfeld, tendo aí perecido 1800 pessoas. Nestas duas ocasiões, também as partes referentes a Cronenberg, RonsdorfVohwinkel foram duramente atingidas. Desta forma, durante esta operação de bombardeamento sobre Wuppertal, atingiu-se, pela primeira vez, um número de vítimas então inédito. 
Wuppertal-Barmen.

Wuppertal-Elberfeld.

As graves destruições que se observaram, então, em Wuppertal, onde o fogo teve um grande destaque, tiveram um perfil muito semelhante a outras que, futuramente iriam ocorrer em diversas localidades germânicas. A utilização de uma grande concentração de engenhos incendiários foi feita a um nível então inédito. Segundo testemunhos da época, o facto destas zonas urbanas estarem situadas num vale, tornou-as mais permeáveis ao alastramento quase incontrolável dos diversos incêndios que ocorreram então. Pode-se afirmar que estas destruições anunciavam os "novos tempos" em matéria de bombardeamento em solo germânico.


Berlim, ca. 1943. Quarto de um hospital ou clínica, depois de mais um bombardeamento. Estar na "retaguarda", doente ou ferido, longe dos combates, não significava de maneira nenhuma ficar a salvo dos efeitos da Guerra.

Berlim, ca. 1943. Quando as sirenes de um eminente ataque aéreo começavam a soar ou logo que os bombardeiros inimigos se afastavam e os incêndios ainda não haviam atingido grandes proporções, havia que deslocar os doentes e feridos dos hospitais e clínicas, incluindo também os casos provenientes de casas particulares, para locais mais seguros. Não era uma operação nada fácil...

Em termos técnicos, as novas diretivas tanto apostavam nos novos progressos tecnológicos e científicos, como exigiriam a construção de diversos componentes que já existiam no papel. Por outro lado, o seu aperfeiçoamento dependeria muito dos resultados empíricos no terreno. As tácticas de ataque do inimigo germânico, bem como os diversos erros cometidos e a descoberta das suas múltiplas fragilidades, constituíram uma fonte de estudo muito importante na construção de novas aeronaves e no aproveitamento das existentes, sem esquecer o componente fundamental das bombas a utilizar e na forma de as lançar sobre o território inimigo. Neste último aspeto, houve mesmo uma perfeita aliança com a Ciência, que, durante aqueles anos, teria muito da sua “massa cinzenta” a colaborar no esforço de guerra.

Seria necessário ter à disposição uma força de bombardeiros progressivamente mais numerosa, investindo, preferencialmente, em aviões com capacidade de transportar cargas explosivas cada vez maiores, e reservatórios de combustível maiores, de forma a provocar num relativamente curto espaço de tempo uma maior e mais concentrada destruição e também a conseguirem aguentar viagens mais longas, de forma a alcançar alvos mais distantes. As novas séries de grandes aviões quadrimotores e de grossa blindagem, com destaque para os “Avro Lancasters”, eram os que melhor satisfaziam os requisitos exigidos. Basta referir que a Alemanha nazi, muito agarrada às linhas de montagem há muito seguidas, não chegou a fabricar aviões com quatro motores, apesar de estes e mais outros de maior calibre já existirem no papel.
O avião de transporte germânico Messerschmitt Me 323 "Gigant". Quando carregado na sua capacidade máxima, era necessário recorrer a um veículo para o auxiliar na descolagem, tal como mostra esta imagem.

Este avião da Luftwaffe podia transportar algo como: até à volta de 200 tropas equipadas ou um carro de combate e uma peça de artilharia. Também podia ser utilizado para o transporte de feridos.

Os seus aviões de bombardeamento eram bimotores e só alguns de transporte eram trimotores. Acima deste calibre, só foi utilizado pela Luftwaffe um avião de transporte de grande tamanho e com seis motores: o Messerschmitt Me 323 "Gigant". Era, literalmente, um caso à parte. O seu valor era indispensável para as tropas germânicas, devido à sua inédita capacidade de carga. Todavia, devido ao seu grande tamanho e pouca rapidez de vôo, logo se revelou um alvo fácil para as esquadrilhas de caças aliados, mais pequenos e rápidos, mesmo quando escoltado. De facto, nenhum "Gigant", dos quase 200 construídos para a Luftwaffe, sobreviveu intacto à Guerra. A determinada altura, o investimento da indústria aeronáutica alemã foi, em grande parte, canalizado para a construção de aeronaves sem piloto, a que, mais tarde, seria dado o nome de V.

Por outro lado, contrariamente ao que até então se pensava, entre uma carga maciça de bombas explosivas e a mesma quantidade de bombas incendiárias, descobriu-se que a destruição seria maior e mais medonha no segundo caso, principalmente em áreas urbanas. Estas já eram utilizadas em simultâneo, pelas duas fações beligerantes desde o começo da guerra, mas dava-se a primazia às bombas explosivas, como era clássico, surgindo as incendiárias como um complemento destruidor. A partir de agora, seria cada vez mais frequente uma nova proporção de bombas a transportar para os alvos selecionados, nomeadamente, 1/3 de explosivas e 2/3 de incendiárias.
Pormenor da parte inferior de um avião quadrimotor britânico Avro Lancaster, com a sua "bomb bay" aberta. Muitos dos aviões britânicos que participaram nas missões de bombardeamento, a partir de 1942, transportavam esta carga combinada de bombas. A grande bomba de formato cilíndrico colocada no centro da "bomb bay", era uma mina aérea, também conhecida pelo expressivo nome de "blockbuster". Este tipo de bomba maior, tinha uma cobertura metálica mais fina do que as clássicas bombas "G.P. (General-Purpose)", estas de formato pontiagudo, menor tamanho, mais precisas e que penetravam mais, mas aquele tipo de bomba, o "blockbuster", tinha um efeito explosivo, em termos de raio de ação, muito superior e continha (proporcionalmente à parte metálica) mais matéria explosiva (esta geralmente à base de "amatol"). Um "blockbuster" era suficiente para transformar um prédio de vários andares, por vezes incluindo os imediatamente próximos, numa massa de escombros, logo no primeiro impacto. À sua volta, são visíveis "packs" carregados de bombas incendiárias conhecidas pelo nome de "stick bombs". Estas últimas "choveriam" aos milhões sobre quase todos os alvos atingidos, ao longo da Guerra. Lançadas de grande altitude, estas bombas de formato esguio conseguiam atingir grandes velocidades, podendo penetrar os telhados dos edifícios. As bombas "blockbuster" e as "stick bombs", muitas vezes, complementavam-se nos seus efeitos. As primeiras provocavam uma larga onda de choque, suficiente para provocar uma imediata derrocada no ponto onde caiam, levantando os telhados dos edifícios circundantes facilitando, assim, o acesso aos interiores inflamáveis para as "stick bombs". As bombas "blockbuster" também podiam rebentar as portas e as janelas das áreas mais próximas ou apenas estilhaçar os vidros, facilitando a propagação dos incêndios. Outros aviões transportavam, complementarmente, outros tipos de bombas, nomeadamente incendiárias de maior calibre, que podiam penetrar vários pisos de seguida, e bombas de fósforo, estas extremamente difíceis de extinguir, bem como as clássicas "G.P.".


Um "biscoito" ("cookie") como "presente de Natal" para o Adolf Hitler. A parte humorística era fundamental na componente mediática do esforço de guerra e como forma de ajudar a manter o moral em alta do lado aliado, quando ainda subsistia a incerteza quanto à vitória final. Na foto acima, observa-se um blockbuster (também chamado de "cookie") a ser carregado na bomb bay de um caça-bombardeiro Mosquito. Estes aviões faziam parte de um destacamento da R.A.F. denominado Light Night Strike Force, destinado a executar os chamados "nuisance raids" ou "raids de perturbação", que incomodavam as defesas das cidades germânicas ao acaso, preferencialmente durante a noite, fazendo, tal como preconizavam os oficiais da R.A.F. "levantar da cama um número apreciável de alemães".  Quando uma formação pequena, ou mesmo apenas um simples avião Mosquito, aparecia sobre uma cidade ou as suas bombas isoladas caíam de surpresa, os alarmes soavam como se de um ataque aéreo "a sério" se tratasse. Estes aviões, devido à sua fuselagem ser constituída preferencialmente por componentes em madeira, eram muito mais leves do que os outros aviões e, por isso, mais rápidos do que qualquer caça germânico então existente. A grande velocidade era a sua maior arma de ataque e defesa. Muitas cidades da Alemanha, dos mais variados tamanhos, tiveram a "honra" de serem "visitadas" por estes caças-bombardeiros bimotores, chamados de "Wooden Wonder" ("maravilha de madeira"). Quando os caças defensivos e as antiaéreas germânicos entravam em ação para os "caçar", já eles estavam inalcançávelmente distantes... E o "estrago" feito...
É preciso não esquecer que, tal como a fotografia acima mostra, os aviões Mosquito tinham capacidade para carregar bombas de diversos calibres, incluindo o temível e destruidor blockbuster... De facto, os aviões Mosquito eram muito mais do que uma grande "dôr de cabeça" para a Luftwaffe... Só os caças a jato, produzidos pela Luftwaffe nos meses finais da Guerra, viriam a ultrapassar a sua velocidade de vôo. Mas, nesta altura, a vitória dos Aliados já era mais do que certa e o curso dos acontecimentos não poderia (felizmente!) ser revertido...
À direita, uma voluntária da secção feminina da R.A.F. ajuda no transporte do blockbuster. Desde o início da Guerra que havia sido solicitada a participação das mulheres no esforço de guerra, ainda que em serviços mais de bastidores, do que nas frentes de combate. As próprias princesas Isabel (futura rainha da Grã-Bretanha) e Margarida eram vistas fardadas. Na Alemanha nazi, houve, de início, uma relutância em incorporar mulheres no esforço de guerra. Segundo a "cartilha hitleriana" as mulheres deviam ficar em casa a cuidar das famílias e a "procriar" para gerar filhos, de preferência "arianos", os quais, mais tarde, iriam então ser destinados, nomeadamente, a combater. Estas só foram chamadas a participar, quando os dirigentes nazis perceberam que a guerra iria durar mais do que eles tinham previsto. Em breve começaria a haver necessidade de recrutar mais homens para a frente, e depois frentes, de guerra. Muitas mulheres foram trabalhar para sítios como as fábricas de armamento, os serviços de comunicação e de espionagem e o manuseamento de baterias antiaéreas, onde também, sobretudo a partir de 1943, foram incorporados adolescentes, alguns menores de 16 anos.

Nestes dois fotogramas, de um filme de um bombardeamento diurno, observa-se um avião quadrimotor Avro Lancaster, carregado de forma idêntica ao de uma fotografia anterior, a largar a sua carga mortífera de bombas principalmente incendiárias. No fotograma da esquerda, para além das já referidas "stick bombs" incendiárias, vê-se uma bomba "blockbuster" ou "cookie" a ser lançada. O filme a que pertencem os dois fotogramas, é o de um bombardeamento diurno sobre Duisburg, porto fluvial situado no extremo Oeste da zona industrial do Ruhr e um alvo de ataque prioritário. Este bombardeamento fora executado no contexto de mais uma curta, mas intensamente devastadora, campanha aérea denominada Operação "Hurricane", esta por sua vez, executada numa fase já muito avançada da Guerra, em 14-15 de Outubro de 1944. O seu objetivo principal era demonstrar, ao inimigo germânico, o verdadeiro poderio da força aérea aliada e, mais uma vez, incentivá-lo à rendição incondicional. Nesta fase da Guerra, já o Comando de Bombardeiros da R.A.F. havia deixado de bombardear exclusivamente à noite, acompanhando mesmo, em ações conjuntas, a sua congénere norte-americana. De referir que, nas noites de 14 e 15 de Outubro de 1944, o alvo principal seria a cidade de Braunschweig/Brunswick, situada na Baixa Saxónia (Niedersachsen). A isto se fará uma referência mais além.

Perspetiva sobre o centro histórico de Duisburg. À esquerda e ao centro surgem, destacadas, duas das igrejas mais importantes desta cidade: a Liebfrauenkirche e a Salvatorkirche. Mais à direita, vêem-se os telhados dos edifícios da Câmara Municipal (Rathaus). No canto superior esquerdo, descortina-se uma parte do seu porto fluvial.

A igreja Liebfrauenkirche de Duisburg, que surge ainda intacta noutra foto mais acima. Esta cidade foi das que ficaram mais destruídas, no final da Guerra. Ainda em 1944, esta cidade foi considerada "inabitável", tanto pelo seu grau de destruição que já apresentava, como pela frequência com que, a determinada altura, estava a ser alvo de ataques aéreos.

É preciso ainda não esquecer que, no que respeita à utilização de radares, a Grã-Bretanha, era já desde antes da 2ª Guerra pioneira nesta matéria, tanto a nível de meios à disposição no terreno, como de especialistas, os quais, desde o começo das hostilidades, haviam acelerado o ritmo das suas investigações, trabalhando dia e noite. Aliás, foi graças a este precioso avanço tecnológico, que a R.A.F. conseguiu sair vitoriosa da “Batalha de Inglaterra”. Era verdade que, do lado alemão também existia uma cobertura de estações de radar junto às zonas calculadas como estrategicamente importantes, algumas delas instaladas em ilhotas no Mar do Norte, como Helgoland, e muitas outras na zona Noroeste da Alemanha, que tinham a função de lançar os avisos prévios de ataque, de forma a dar tempo às defesas de se organizarem. Podia-se afirmar que, aparentemente, havia uma muito satisfatória cobertura de radar em solo germânico. O problema é que muitas das suas investigações neste campo, há pouco que tinham deixado a fase experimental. Comparado relativamente à Grã-Bretanha, o seu potencial de radar era, na verdade, muito fraco e facilmente ultrapassável. Mesmo assim, as autoridades alemãs tinham uma confiança absoluta nas informações que as suas estações de radar lhes forneciam. A linha de defesa aérea "Kammhuber", parecia preencher quase todos os requisitos necessários a uma boa cobertura do seu espaço aéreo, segundo os especialistas e estrategas da Luftwaffe. Não contavam era que fossem, ainda nesse ano de 1942, tão rapidamente ultrapassados pelos técnicos e cientistas britânicos.
Sir Arthur Harris.

Ao fim de mais ou menos um mês de ter tomado posse do seu novo cargo, Arthur Harris sentiu ter chegado a altura ideal para, senão pôr em prática as suas novas táticas de bombardeamento, pelo menos experimentá-las. É então que lança a missão de bombardear a cidade portuária de Lübeck, na zona de Holstein, no Norte da Alemanha, na noite de 28 para 29 de Março de 1942. Esta antiga cidade hanseática, não se podia considerar de grande valor estratégico, apesar de ser algo famosa e dotada de um porto bem situado. A sua fama residia no facto de ser uma cidade portuária, muito rica em monumentos datados da Idade Média e com um centro medieval muito bem conservado, pejado de habitações pitorescas, onde se utilizavam muitos elementos em madeira. Para além disto, o núcleo da sua cidade inseria-se numa rede de ruas estreitas, como era próprio das povoações construídas na época medieval. Esta descrição poder-se-ia aplicar como o paradigma da maioria das cidades velhas alemãs.
Vista geral do centro histórico de Lübeck, antes da Guerra. Três edifícios se destacam, por cima dos telhados, da esquerda para a direita: a igreja Marienkirche, a igreja St. Petrikirche e a Catedral (Dom).



A Igreja de Santa Maria de Lübeck (Marienkirche) no seu estado original, ex-libris desta cidade.

 A rica decoração original da nave central da igreja St. Marienkirche de Lübeck.


Perspetiva, a a partir do altar, sobre o órgão de tubos original do interior da Marienkirche de Lübeck.

Perspetiva idêntica, mas a cores, do interior da Marienkirche de Lübeck. Uma riqueza decorativa quase única, mas que hoje já não existe.


Perspetiva sobre a cabeceira da igreja Marienkirche de Lübeck, inserida no casario existente antes do bombardeamento de 28 de Março de 1942.


Lübeck. Próximo da igreja Marienkirche.


Lübeck. Próximo da igreja Marienkirche.

Estes edifícios pitorescos que existiam junto à igreja Marienkirche de Lübeck, foram todos pasto das chamas na noite de 28 de Março de 1942.

A Marienkirche, à esquerda, e a Igreja St. Petrikirche, à direita.

Rua da Cidade Velha de Lübeck antes da Guerra. Ao fundo, vislumbra-se parte da igreja St. Petrikirche.

Perspetiva sobre o também desaparecido interior da igreja St. Petrikirche de Lübeck. Era quase tão rico em decoração como a sua congénere St. Marienkirche

Vista sobre Lübeck, a partir da torre da igreja St. Petrikirche. Muito do que se observa nesta foto a cores, foi destruído na referida noite de 28 de Março de 1942.

A SandstraBe original.

Perspetiva sobre a grande praça de Klingenberg, Lübeck, pouco antes da Guerra. Por trás, são visíveis as torres das igrejas St. Petrikirche e St. Marienkirche, respetivamente.


Dois leões de bronze em Klingenberg, que hoje se encontram perto da Holstentor.

Os referidos leões de bronze encontravam-se, originalmente, à entrada do hoje desaparecido hotel Stadt Hamburg situado em Klingenberg, Lübeck.
Entrada do Hotel Stadt Hamburg numa noite de neve em Klingenberg, Lübeck.


O hotel Stadt Hamburg situado em KlingenbergLübeck, foi completamente destruído no bombardeamento de 28-29 de Março de 1942. Não foi reconstruído.


A zona de Klingenberg, em Lübeck, foi uma das mais destruídas no referido bombardeamento. 

A Catedral (Dom) de Lübeck, com o Museu em 1º plano.

A nave principal da Catedral (Dom) de Lübeck, antes da Guerra.

Pintura do interior da Catedral (Dom) de Lübeck, vendo-se em destaque o órgão Schnitger original.

Detalhe do órgão Schnitger original da Catedral (Dom) de Lübeck.

Detalhe do interior da Catedral (Dom) de Lübeck, antes de 1942.

Arthur Harris escolheu esta cidade em primeiro lugar, porque era mais fácil de localizar, dado encontrar-se junto à zona costeira, cujos contornos poderiam servir de orientação para o voo noturno das suas esquadrilhas de bombardeiros; em segundo lugar, por ser facilmente permeável aos incêndios e, por fim, dada a sua, teoricamente, pouca importância estratégica, era certo que estaria fracamente defendida. Arthur Harris tinha já exposto os seus planos estratégicos de bombardeamento por área aos seus superiores e ao Primeiro-Ministro Churchill. Muitos, no início mostraram-se céticos quanto ao sucesso destas novas táticas para o seu Comando de Bombardeiros. Desta forma, Sir Arthur Harris, tinha ainda sobre si a pressão de conseguir comprovar a validade das suas propostas, consideradas muito arrojadas.
O resultado foi um “sucesso” bem maior do que o esperado. A formação compacta de mais ou menos 200 bombardeiros, concentrou o seu ataque bem no coração da sua zona histórica, mais concretamente, numa área urbana situada entre dois braços de rio. Tratava-se de uma “ilha” urbana onde se situavam muitos dos principais monumentos e casas que eram a imagem de marca de Lübeck. As duas altas torres góticas da Marienkirche, também serviram como ponto de orientação para os bombardeiros. Logo no começo do bombardeamento, começaram a surgir aqui e ali incêndios isolados, que não pareciam gerar ainda grande problema. No entanto, as ligações de água tinham sido danificadas, a própria água chegaria, às vezes, a congelar com o frio e os acessos aos bombeiros foram muito dificultados pelos destroços que já então, se acumulavam em diversas ruas e vielas. O facto foi que no espaço de mais ou menos vinte minutos, os fogos começaram a unir-se uns aos outros, dando origem a uma conflagração que se espalhou, quase incontrolavelmente, pelas ruas estreitas da zona medieval de Lübeck.


                                                
A sequência de 4 fotos acima, mostra a Igreja de Santa Maria (Marienkirche) a ser atingida pelas violentas lebaredas dos incêndios que a cercavam. Segundo alguns testemunhos, conta-se que os sinos que existiam nas duas torres, chegaram a tocar por si só, uma última vez, num carrilhão desconcertado, devido à intensidade das chamas, antes de se despenharem no chão da igreja. Hoje em dia, permanecem no mesmo local onde caíram, à maneira de um memorial de guerra. As temperaturas eram tão elevadas que os sinos quase se derreteram...

Sinos originais destruídos da Marienkirche, na atualidade.

O interior da igreja St. Marienkirche de Lübeck, após o bombardeamento. Quase toda a decoração original perdida para sempre. 

A igreja Marienkirche (à esquerda) e a Câmara Municipal (Rathausde Lübeck (à direita), antes da Guerra.

A igreja Marienkirche, a Câmara Municipal (Rathaus) de Lübeck e a famosa rua central Breite StraBe a seguir ao bombardeamento de 28-29 de Março de 1942.

Perspetiva sobre a muito danificada igreja St. Petrikirche de Lübeck, através das ruínas da igreja Marienkirche a seguir ao bombardeamento de 28-29 de Março de 1942.

Igreja St. Petrikirche de Lübeck, a seguir ao bombardeamento de 28-29 de Março de 1942.

A famosa "Casa dos Buddenbrook" de Lübeck, imortalizada pelo escritor Thomas Mann, que também aqui nasceu em 1875.

Lübeck. Sala principal da casa dos Buddenbrook.

Lübeck. Outro aspeto do interior da "Buddenbrookhaus".

A rua MengstraBe, foi uma das ruas de Lübeck mais atingidas no bombardeamento de 28 de Março de 1942. Era aqui que se localizavam quer a "Casa dos Buddenbrook", quer diversas das outras referidas no famoso romance de Thomas Mann

A "Casa dos Buddenbrook" de Lübeck, foi destruída no bombardeamento de Março de 1942.

Catedral (Dom) de Lübeck, com o Museu, na manhã de 29 de Março de 1942.

Mesmo a Catedral de Lübeck não escaparia às chamas, que ainda lavravam no dia seguinte. Segundo testemunhas, o incêndio, nesta zona, começou no Museu e depois alastrou à Catedral.

 Na manhã de 29 de Março de 1942, as chamas emergem na torre Norte da Catedral (Dom) de Lübeck.

Sem que se pudesse controlar a progressão dos incêndios, o fogo alastra à torre Sul da Catedral (Dom) de Lübeck.

Perspetiva do lado oposto, sobre a Catedral (Dom) de Lübeck, já com as duas torres destruídas.

Transeuntes observam impotentes a Catedral (Dom) de Lübeck, a ser engolida pelas chamas.

Perspetiva sobre a Catedral (Dom) de Lübeck, horas depois de controlados os incêndios.

A zona arruinada à volta da muito danificada Catedral (Dom) de Lübeck.

O interior da Catedral (Dom) de Lübeck. após a extinção do incêndio. Não foi possível salvar uma parte significativa das peças originais. Mesmo assim, preservaram-se na Catedral mais mobiliário e decoração do que na igreja Marienkirche.

Ruínas do Museu em 1º plano com as duas torres calcinadas da Catedral (Dom)de Lübeck, visíveis por trás, após o controle do incêndio. Ao contrário do que aconteceu com a Catedral, este Museu, um exemplar de arquitetura em tijolo, não foi reconstruído.

Perspetiva sobre a igreja Marienkirche de Lübeck, na manhã de 29 de Março de 1942, a seguir ao bombardeamento. 

Lübeck.

Zona arrasada de Lübeck, com as ruínas da Marienkirche, ao fundo.

Lübeck.

Lübeck.

Zona muito danificada à beira do rio Trave. Por trás, vê-se a torre de uma das poucas igrejas que não foram destruídas neste centro histórico.

Prisioneiros de guerra (?) a remover os destroços de uma rua (Breite StraBe?) de Lübeck, nos dias posteriores ao bombardeamento de 28-29 de Março de 1942. Ao fundo, descortina-se a torre da igreja Jacobikirche, talvez a única igreja da "Cidade Velha" de Lübeck, que não sofreu qualquer dano.

Uma das zonas-limite da área destruída no bombardeamento de Março de 1942. A igreja que se vê por trás das ruínas, a Aegidienkirche, apenas sofreu danos superficiais, nomeadamente a nível dos vitrais e doutros elementos decorativos. Na cadeira, está sentado um artista a fazer um desenho.

Fotografia aérea de Lübeck, obtida pelos aviões de reconhecimento da R.A.F., onde se observam as zonas do seu centro histórico mais danificadas.

Mapa esquemático onde surge a zona danificada de Lübeck, no bombardeamento de 28-29 de Março de 1942.

Só no dia seguinte se conseguiu controlar e extinguir o grande incêndio. O resultado, segundo fotografias aéreas tiradas algum tempo depois, foi a destruição da maior parte da área urbana desse centro histórico de Lübeck
O escritor e Prémio Nobel Thomas Mann (1875-1955), em Lübeck, com a sua esposa, junto à "Casa dos Büddenbrook", que também foi a sua casa-natal, quando esta estava em reconstrução, em 1953.





Dias mais tarde, foi a vez de se executar uma missão idêntica em Rostock, cidade portuária situada na mesma linha costeira, mas mais a Leste. As razões de escolha deste alvo foram semelhantes ao anteriormente referido e os resultados do ataque aéreo foram similares, reforçados pela ocorrência de mais outros durante o mês de Abril de 1942. O alvo principal foi, tal como na anterior, a zona da Cidade Velha.
Rostock. Vista aérea da sua zona mais importante, anterior a 1940.

Três das, originalmente, quatro principais igrejas da Cidade Velha de Rostock. São elas, da esquerda para a direita e de Oriente para Ocidente: St. Petrikirche, St. MarienkircheSt. Jakobikirche.

Parte ocidental da "skyline" original de Rostock, tal com era antes da Guerra. Em grande destaque, vêm-se as silhuetas das igrejas St. Marienkirche (à esquerda) e da St. Jakobikirche (à direita).

A igreja St. Marienkirche. Rostock. Esta igreja conseguiu sair da Guerra praticamente intacta. Daí que foi a única principal igreja de Rostock a ter hoje a sua decoração original muito bem preservada e constitui um monumento a visitar não só pelos turistas, como também pelos estudiosos de Arte. Através do seu interior, consegue-se ter uma ideia, ainda que muito vaga, do que se terá perdido noutros locais, ao longo da 2ª Guerra Mundial.

Rostock na década de 1930. As partes Oeste e Norte originais da praça Neumarkt. A imponência da igreja Marienkirche, em pano de fundo.

Perspectiva sobre Rostock, com os telhados da Marienkirche em primeiro plano, antes de 1942.

A praça Neumarkt de Rostock, com um monumento, hoje desaparecido, em primeiro plano.

Perspetiva da praça Neumarkt de Rostock, à noite, com a Marienkirche em pano de fundo, antes de 1942.

                           A igreja St. Nikolaikirche. Rostock, tal como era, antes de 1942.

Bombardeamento noturno, onde se vê a silhueta da Nikolaikirche, em 1942. Muito danificada, esta igreja ficaria muitos anos em ruínas, depois da Guerra, antes de ser reconstruída, num estilo mais simplificado.

A igreja de St. Nikolaikirche, Rostock, provisoriamente reconstruída, depois da Guerra.

A igreja St. Nikolaikirche, Rostock, ficaria parcialmente reconstruída durante décadas. Na fotografia aérea, a zona da praça Neumarkt, tal como se encontrava no pós-guerra, na R.D.A.

A igreja St. Nikolaikirche, Rostock, tal como passou a ser depois da sua reconstrução, ocorrida em plena R.D.A. Deixou de ter a sua antiga função religiosa e foi destinada a diversas funções civis, como alojamento e auditório.

 Rostock. A igreja St. Petrikirche, junto a uma parte restante da zona oriental das antigas muralhas da cidade. À direita, está uma das "entradas", a Petritor

        Zona oriental da Cidade Velha de  Rostock, com a igreja St. Petrikirche em grande destaque (à esquerda).

         Aspeto exterior da igreja St. Petrikirche de Rostock. Destaque para parte da muralha oriental desta cidade.

                                        Aspeto do interior da igreja St. Petrikirche de Rostock.

Perspetiva sobre o altar da igreja St. Petrikirche de Rostock. Muita desta decoração ficou perdida para todo o sempre na sequência do bombardeamento e subsequente incêndio, na noite de 26 para 27 de Abril de 1942.

Vista da nave central da igreja St. Petrikirche de Rostock, a partir do altar. Destaque para o órgão de tubos original, logo por cima da entrada.

Pintura representando a destruição da St. Petrikirche de Rostock, no incêndio subsequente a mais um bombardeamento da R.A.F. na noite de 26 para 27 de Abril de 1942. É dado especial destaque ao desabamento da espiral que, até então, encimava a sua torre.

                                 Rostock. A igreja St. Petrikirche e a Petritor antes da sua destruição. 

Rostock. A igreja St. Petrikirche e a próxima Petritor, depois da campanha dos "Quatro Dias De Bombardeamento", empreendida pelo Comando de Bombardeiros da R.A.F. na última semana de Abril de 1942.

Vista aérea sobre a zona oriental de Rostock, onde é visível a igreja St. Petrikirche (à direita). Esta, durante décadas, permaneceu com um telhado provisório sobre a sua torre. A sua reconstrução e o seu restauro decorreram, muito lentamente, por fases.

Rostock, no decurso de importantes obras na sua zona oriental, durante o período da R.D.A. Ao fundo, surge destacada a igreja St. Petrikirche, tal como se apresentava no pós-guerra. Mais recentemente, foi lançada uma petição, que teve sucesso, no sentido de serem angariados fundos para a reconstrução da espiral da torre da igreja St. Petrikirche. Com esta última campanha, a igreja St. Petrikirche, voltou a ter novamente destaque no conjunto arquitetónico da Cidade Velha de Rostock.

                         A igreja St. Jakobikirche, vista da zona portuária de Rostock, nas primeiras décadas do séc. XX.

        A grande igreja St. Jakobikirche inserida na zona ocidental da Cidade Velha de Rostock.

Aspeto exterior da igreja St. Jakobikirche de Rostock. Aqui é possível observar os acrescentos de capelas existentes no lado Sul.

Aspeto do interior da igreja St. Jakobikirche de Rostock, a partir do altar. Destaque para o órgão de tubos existente por cima da entrada. Era uma igrejas das mais ricamente decoradas desta cidade.

Interior da igreja St. Jakobikirche de  Rostock, após os bombardeamentos da Guerra. Ao contrário do que acontecera com as outras congéneres St. Nikolaikirche e St. Petrikirche, a abóbada não abateu e, logo a partir de 1943, a sua estrutura foi alvo de obras de escoramento.

A igreja St. Jakobikirche tal como se encontrava em 1949Na sequência de obras realizadas em 1947 pela administração soviética, os telhados e uma boa parte das paredes que se mantinham de pé, ruíram. A sua reconstrução foi sendo sistematicamente adiada.

A igreja St. Jacobikirche de Rostock, tal como era vista da zona portuária, na década de 1950. Optou-se, por fim, pela sua não reconstrução. As suas ruínas foram sendo removidas aos poucos. A sua torre maciça foi a última coisa a desaparecer em 1960.

Em primeiro plano, vêem-se as ruínas da igreja Jakobikirche de Rostock. A sua eliminação estava relacionada com importantes obras de redesenhamento da parte ocidental desta cidade, com vista à sua modernização. Parte das obras projetadas não se realizou e o que hoje existe é um grande espaço aberto de lazer, onde foi criado, depois de 1989, uma espécie de memorial à desaparecida igreja.

Os incêndios provocados pelos bombardeamentos noturnos em Rostock, continuavam a lavrar durante o dia.

O Teatro da Cidade ("Stadttheater") de Rostock, foi um dos edifícios destruídos na campanha de Abril de 1942. Foi reconstruído num estilo completamente diferente.

Um recanto da cidade de Rostock, hoje inexistente.

Aspeto do centro de Rostock, após os bombardeamentos de Abril de 1942. À esquerda, por entre a névoa do fumo e da poeira, descortina-se a igreja St. Marienkirche.

Outro aspeto da destruição em Rostock, após Abril de 1942. Ao fundo, mais uma vez, a igreja St. Marienkirche.

A Câmara Municipal (Rathaus) de Rostock, situada no lado Este da praça Neumarkt, escapou quase por milagre às destruições dos bombardeamentos.

A Câmara Municipal (Rathaus) de Rostock, esteve, por mais do que uma vez, ameaçada pelos incêndios dos edifícios que a rodeavam.

Um aspeto da parte Sul da Cidade Velha de Rostock. No centro da foto, observa-se outra das antigas portas da muralha antiga, a Steintor. Também seria severamente danificada nos bombardeamentos da Guerra, tendo sido, logo que possível, reconstruída.


Outro aspeto do centro de Rostock, depois dos bombardeamentos. Reparar na capa do livro na imagem em cima. É este mesmo local que lá aparece, mas intacto. Correspondia ao lado Sul da praça Neumarkt. Ao fundo da rua, descortina-se a porta Steintor, pertencente à parte Sul da antiga muralha, também reduzida às paredes externas. Não são precisas mais palavras. As imagens falam por si.

              Planta da cidade velha de Rostock, mostrando os danos sofridos pelos bombardeamentos.

Rostock por volta de 1945. Vista geral da destruição.


Perspectiva sobre o Neumarkt de Rostock, onde é possível observar a Câmara Municipal (Rathaus), já com a presença de representantes das forças aliadas, em 1945.

Como outro argumento para a escolha destas localidades, Arthur Harris afirmou que era preferível ter sucesso a bombardear uma cidade de pouca importância estratégica, do que fracassar no ataque a uma de grande importância. A acrescentar, salientou a necessidade de treinar as suas esquadrilhas nestas novas táticas de incursão. Os resultados que se observaram comprovaram as suas teorias e deram-lhe coragem para empreender novas missões do mesmo género, para além de um forte apoio por parte de diversos sectores da sociedade inglesa. Afirmava-se, então, que o povo britânico, tal como os outros defensores da causa aliada, estava farto de tantos insucessos nesse começo de conflito e que qualquer resultado favorável ou, pelo menos, de consequências visíveis, teria um efeito muito positivo no seu moral. Nessa fase da guerra, era o que estava a acontecer, graças à nova política de bombardeamento, encabeçada por Arthur Harris que cumpria a promessa de uma resposta suficientemente dura para o inimigo, tal como os dirigentes haviam prometido para as suas nações. 

Como retaliação dos atrás descritos bombardeamentos sobre Lübeck e Rostock, Hermann Göering e a sua Luftwaffe, decidem empreender uma nova campanha de bombardeamentos sobre a Inglaterra, que ficou conhecida por "Baedeker Raids". Consistia isto no bombardeamento deliberadamente indiscriminado sobre cidades inglesas valiosas do ponto de vista patrimonial e turístico. Baseava-se, segundo o que se dizia, nos então famosos guias turísticos publicados pela editora Baedeker. Entre estas cidades incluíam-se ExeterBath, Canterbury, Norwich, YorkBristol e Canterbury.
Contrariamente ao esperado e ao efeito de terror causado às suas populações, o grau de destruição conseguido ficou muito aquém do que os alemães pretendiam provocar. Isto provava a já notória crescente eficácia dos meios de defesa antiaérea britânicos. A resposta do lado dos aliados revelou-se também cada vez mais eficaz. Aos "Baedeker Raids", Arthur "Bomber" Harris respondeu com golpes ainda mais ousados como a "Millennium Operation", ainda na primavera de 1942.




Sir Arthur Harris.

A primeira ajuda eletrónica efetiva de navegação aérea entrava agora em serviço. Chamava-se GEE. Três radiotransmissores em Inglaterra enviavam uma rede invisível de sinais através da Europa Ocidental. Monitorizando-se os sinais e representando-os num mapa, um navegador podia dizer onde estava o avião. O GEE foi utilizado pela primeira vez em Colónia. Harris enviou todos os bombardeiros disponíveis, incluindo os provenientes da chamada "Guarda Costeira", realizando um ataque aéreo de uma dimensão inédita, para os parâmetros de então.
(Arthur Harris:) "Tentava mostrar o que se podia alcançar com uma força adequada. E que seria alcançado sem baixas anormais".

Vista geral sobre Colónia, obtida a partir de Deutz, na margem direita do Reno, antes de 1940. Da esquerda para a direita, é possível descortinar a Torre da Câmara Municipal (Rathaus), a igreja Gross St. Martin, o Grande Armazém ("Stapelhaus"), a Catedral ("Dom"), a igreja St. Mariä Himmelfahrt, a Estação Central ("Hauptbahnhof") e o começo da Ponte de Hohenzollern (Hohenzollernbrücke), tal como eram antes até 1940.

Perspetiva sobre a "Cidade Velha" de Colónia, antes de 1940, com destaque para a igreja Gross St. Martin (à esquerda) e a Catedral (Dom) (à direita). Também à direita, logo à frente e mais abaixo da Catedral, surge Grande Armazém ("Stapelhaus").

A igreja Gross St. Martin (à esquerda) de Colónia e (à direita) Grande Armazém ("Stapelhaus").
Perspetiva de Colónia ("Köln-Altstadt"), obtida a partir de Deutz ("Köln-Deutz"), em 1936.

A Catedral de Colónia, antes da Guerra.

O interior da Catedral de Colónia antes da Guerra.


Perspetiva de Colónia, obtida já depois de 1940, mas antes dos bombardeamentos. A Catedral ("Dom") surge no centro, à direita. No extremo direito da imagem observa-se parte da linha férrea, ligava a Estação Central ("Hauptbahnhof") à Ponte Hohenzollern (Hohenzollernbrücke).


 A principal sucursal de uma marca de produtos de pastelaria famosa de Colónia, a Stollwerk (à esquerda) e o desaparecido hotel de luxo "Dom - Hotel" (à direita), situado então logo ao lado da Catedral.

Todavia, era este o aspeto que o "Dom - Hotel" apresentava quando começaram os primeiros bombardeamentos sobre Colónia, ainda em 1940, devido a umas obras de manutenção e modernização, feitas algures entre o final da década de 1920 e o começo da de 1930, e que povoa as memórias daqueles que ainda se lembram da última Guerra Mundial.

A Estação Central ("Hauptbahnhof") de Colónia original.


Outra perspectiva da Estação Central ("Hauptbahnhof") de Colónia. À esquerda, observa-se parte da igreja  St. Mariä Himmelfahrt.

Detalhe da fachada principal da igreja barroca St. Mariä Himmelfahrt, por volta de 1936-1940, durante o período nazi. Este monumento religioso era a segunda maior igreja de Colónia, a seguir à Catedral ("Dom"), cujas torres se conseguem descortinar no canto superior direito da imagem.


Outra perspetiva da fachada principal da igreja barroca St. Mariä Himmelfahrt, obtida durante um desfile carnavalesco.

 O interior da igreja  St. Mariä Himmelfahrt de Colónia.


Igreja St. Ursulakirche. Uma das doze basílicas românicas originalmente existentes em Colónia, e uma das mais antigas, fotografada em 1939.

Perspetiva sobre a Catedral de Colónia e a Ponte de Hohenzollern (Hohenzollernbrücke), tal como era originalmente, antes da Guerra.

                          
Perspetiva sobre a Ponte de Hohenzollern (Hohenzollernbrücke) e a Catedral de Colónia, à noite, antes da Guerra. À esquerda, surge também iluminada a igreja Gross St. Martin. No extremo direito da imagem, surge parte de um grande e importante edifício relacionado com os Caminhos de Ferro da região de Colónia, também iluminado, mas hoje desaparecido.

Conjunto dos edifícios da Câmara Municipal ("Rathaus") de Colónia, pouco antes da Guerra.

Câmara Municipal ("Rathaus") de Colónia, em 1940.

                            
 A Câmara Municipal ("Rathaus") de Colónia, juntamente com a sua torre, à esquerda, antes da Guerra.

               
         A Câmara Municipal ("Rathaus") de Colónia, fotografada à noite, em 1940.



Centro de Colónia, antes de 1940.

Colónia.


Uma rua central de Colónia em 1938.


Colónia, em 1938.


O primeiro arranha-céus de Colónia, a Hansa Haus, em 1939.

              
                  A antiga Ópera de Colónia (Opernhaus) e o Restaurante anexo, antes da Guerra.

Aspeto do palco da antiga Ópera (Opernhaus) de Colónia.


A igreja Gross St. Martin, vista a partir da "Cidade Velha" de Colónia, antes da Guerra.



Duas fotografias artísticas da igreja Gross St. Martin, obtidas já depois de 1940, mas antes de sofrer os primeiros danos dos bombardeamentos. É possível perceber a antiguidade das pedras que compunham originalmente este monumento de Colónia e que o que hoje lá se encontra não é mais do que uma réplica muito bem feita, tal como tem acontecido com muitos outros "landmarks" por esse Mundo fora.

O Neumarkt de Colónia, antes da Guerra.

Neumarkt de Colónia, antes da Guerra, visto do ângulo contrário. À esquerda, descortina-se a imponente igreja St. Apostelnkirche, outra das doze igrejas românicas originalmente existentes nesta cidade.

A praça Heumarkt, com a estátua equestre de Friedrich Wilhelm III, em 1939.


Um dos muitos bombardeamentos noturnos sobre Colónia.

Depois de ser alvo de diversos ataques aéreos, de pequena e média dimensão, muitos com grande falta de precisão, desde 1940, a cidade de Colónia é alvo de um bombardeamento, então, inédito na história da aviação, na noite de 30 para 31 de Maio de 1942. O Marechal Arthur Harris consegue, num muito curto espaço de tempo, reunir mais de 1000 aviões para realizar um ataque aéreo monumental sobre Colónia. O nome pelo qual ficou conhecida esta manobra muito ousada e, logo à partida, extremamente arriscada, foi o de "Operação Millennium".  Nesta fase da Guerra (Maio de 1942), os Aliados ainda não estavam seguros quanto à possibilidade de não serem derrotados pelo Eixo. Aliás, devido ao grande número de reveses que haviam sofrido nos primeiros anos do conflito mundial, havia mesmo, em solo britânico, um grande pessimismo, senão derrotismo. Havia necessidade de, ao fim de tantas dúvidas, derrotas e maus pressentimentos, se poder provar o "sabor" do sucesso. O Blitz já tinha passado, mas a Luftwaffe continuava a "visitar" as Ilhas Britânicas, de quando em quando. Havia ainda sempre no ar o receio de uma ou mais possíveis repetições daqueles tão horríveis tempos das longas noites do Blitz. Podia-se dizer que o povo britânico "precisava urgentemente de um bombardeamento". A "Operação Millennium" revelou-se um sucesso, junto dos Aliados, contra todas as (dominantes) piores expectativas. O nível de destruição conseguido na cidade de Colónia sobre o inimigo germânico foi, então, inédito. Muitos pilotos britânicos que haviam participado naquela missão, onde ainda havia o receio de possíveis colisões entre os aparelhos utilizados, tal era a sua quantidade, falavam num "lago de chamas" quase "de uma ponta a outra" no alvo atingido. As fotografias tiradas nos posteriores voos de reconhecimento, sempre muito arriscados, sobre aquela cidade, só confirmaram o que já se pensava entre as tripulações da R.A.F. Isto ajudou a consolidar ainda mais a confiança do governo britânico, nomeadamente do Primeiro Ministro Winston Churchill, relativamente à competência de Arthur Harris no seu, então, novo cargo. Se os ataques aéreos sobre Lübeck e Rostock, meses antes, já haviam sido a confirmação da maior eficácia das novas táticas de bombardeamento, pode-se dizer que foi devido a sucessos como este, que o "Bomber" Harris adquiriu "carta branca" e autonomia para tomar todas as decisões, iniciativas e planeamentos que melhor achasse. Esta fotografia é bastante expressiva dos danos que, nesta fase da Guerra (1942-1943), a cidade de Colónia já apresentava.

Albert Speer que, nesse ano de 1942, ocuparia o lugar de Ministro dos Armamentos do 3º Reich, sucedendo a Fritz Todt, que tinha morrido num desastre de aviação, anos depois de cumprir a sua pena de 20 anos em Spandau, afirmaria numa entrevista: "Foi um ataque de uma dimensão inesperada. Quando nos disseram que 1000 bombardeiros tinham atacado Colónia, não queríamos acreditar!".

Frau Lore Thran, enfermeira num hospital de Colónia deu, numa entrevista realizada décadas depois, o seu testemunho na primeira pessoa dessa noite dos 1000 bombardeiros sobre essa cidade do Reno: "Ouvimos o ruído dos bombardeiros e adivinhávamos que eram muitos. Pouco depois, as primeiras bombas caíram. Todos nós tremíamos de medo. Algumas pessoas quase desmaiavam. Muitos dos doentes choravam. O ruído e as explosões aproximavam-se cada vez mais. Pensámos que era um pandemónio! A nossa parte da cidade estava a arder. As pessoas saíam a correr das caves e das casas. Algumas ficaram enterradas nos destroços. Outras foram apanhadas pelos edifícios que caíam. Muitas pessoas estavam em chamas e corriam por todo o lado como archotes vivos!"

A operação "Millennium", naquele tempo (1942), foi considerada um grande feito e uma fabulosa conquista por parte dos Aliados. Este desenho, mais parecendo retirado de um livro de banda desenhada de guerra, é mais do que expressivo acerca da mentalidade que dominava as consciências do lado aliado, quanto aos bombardeamentos aéreos sobre os inimigos. Sir Arthur Harris e todos os que lhe estavam associados eram vistos como "heróis incontestados" e a sua popularidade roçava o mítico.













Arthur "Bomber" Harris: "Let THEM have it! RIGHT ON THE CHIN!"


Tripulações de bombardeiros da "R.A.F." a festejarem o sucesso da "Operação Millennium". O que eles festejavam, na verdade, era o facto de estarem vivos. O Comando de Bombardeiros da R.A.F. foi o departamento onde houve maior taxa de mortalidade ao longo da Guerra.

Sir Arthur Harris: "Cologne, Lübeck, Rostock, those were just the beginning. We cannot send a 1000 bombers a time over Germany every time as yet, but the time will come when we can do so. Let the nazis take good note of the Western horizon. There they will see a cloud, as yet, no bigger than a man's hand. But behind that cloud lies the whole massive power of the United States of America. When the storm bursts over Germany, they will look back to the days of Lübeck and Rostock and Cologne as a man, caught in the blasts of a hurricane, will look back to the gentle zithers(?) (days?) of last Summer. It may take a year, it may take two, but, for the nazis, the writing is on the wall. Let them look out for themselves. The cure is in their own hand. (...) There are a lot of people who say that bombing can never win a war. Well, my answer to that is it has never been tried yet and we shall see...".


A partir da "Operação Millennium" da noite de 30 - 31 de Maio de 1942, Colónia tornou-se uma das cidades mais danificadas da Alemanha. Mesmo assim, até Março de 1945, foi "visitada" inúmeras vezes, também porque era um alvo fácil de detetar, quer por causa da sua situação junto do Reno, quer devido às torres gémeas da Catedral ("Dom"), que serviam de "marcador" para as esquadrilhas de bombardeiros. Há quem diga que, por ser fácil de detetar, a Catedral, por seu turno, se salvou de ter ficado completamente destruída. 

         A igreja Gross St. Martin de Colónia depois da Guerra. É difícil acreditar no que isto era originalmente...

Igreja St. Ursulakirche em ruínas, a ser alvo de restauro depois de 1945. Foi logo atingida na noite da já referida "Operação Millenium" de Maio de 1942. Quase todas as originais doze igrejas românicas de Colónia ficaram seriamente danificadas. Muitas ainda hoje não se encontram completamente restauradas e, em boa parte delas, uma série de detalhes nunca serão recuperados.

A antiga Ópera de Colónia (Opernhaus) e o que restava do Restaurante anexo logo depois da Guerra.

A cidade de Colónia no final da Guerra, em 1945. A Catedral de Colónia parece ser o único edifício intacto. Logo abaixo do rio, à direita, as ruínas da igreja Gross St. Martin, são quase invisíveis no meio da devastação geral.
 


O interior da Catedral de Colónia logo depois da Guerra.  Apesar de permanecer estruturalmente intacta, sofreu alguns danos provocados por explosões ocorridas nas imediações. O chão estava coberto de fragmentos de pedras.

Outra perspetiva da vasta zona muito destruída de Colónia, em 1945. A ponte que se vê destruída era, então, denominada de Hindenburgbrücke. Hoje é conhecida pelo nome de Deutzer Brücke. Logo abaixo, do lado de cá, surgem as quase indistintas ruínas da também muito destruída igreja Gross St. Martin.

 Os edifícios da Câmara Municipal de Colónia severamente danificados, em 1943.

Colónia.

Colónia-Mülheim

Colónia-Mülheim

Colónia-Mülheim/Ponte "Mülheimer Hängebrücke"

As fotos acima documentam os bombardeamentos diurnos, cada vez mais frequentes, sobre a cidade de Colónia, nos últimos meses da Guerra. Inicialmente era a Força Aérea Americana que os executava mas, sobretudo no período 1944-1945, a RAF também passaria executar bombardeamentos diurnos.

Imagem dos combates de rua em Colónia, aquando da conquista da cidade pelas tropas americanas, em 1945.

Colónia.

Colónia.

Colónia.

Colónia.

Colónia.

Colónia.

Soldados americanos em frente da antiga Estação Central ("Hauptbahnhof") de Colónia, quando conquistaram a cidade, em 1945.

Colónia.

Colónia.

Colónia.

Colónia.

    Foi na sequência disto que, com cada vez maior regularidade, as principais cidades da Alemanha, entre estas Colónia (em cima) e Frankfurt (em baixo), foram sujeitas a bombardeamentos cada vez mais destruidores, que arrasaram quase por completo os seus centros históricos. Inicialmente, os bombardeamentos eram preferencialmente noturnos, mas com a progressiva conquista do domínio aéreo, sobretudo a partir de 1944, estes começam a não ter uma fase do dia definida, complicando ainda mais as táticas defensivas das zonas atacadas. Para além disto, é preciso não esquecer o apoio cada vez mais regular, já a partir de 1942, por parte da força aérea dos E.U.A. Inicialmente, esta encarregou-se de efetuar os bombardeamentos diurnos, mais precisos, sobre alvos exclusivamente militares e industriais, enquanto a R.A.F. concentrava os seus esforços no bombardeamento noturno dos principais centros urbanos. No último ano de guerra, com a Luftwaffe alemã desorganizada e em clara desvantagem, ambas as forças aéreas atacavam de dia e de noite, por vezes associadas. Por outro lado, os bombardeamentos que, no início da Guerra, eram algo imprecisos, duravam por vezes mais do que uma hora, eram executados em vagas sucessivas e, muitas vezes, chegavam a falhar os alvos, foram-se tornando cada vez mais precisos e de curta duração. Isto deveu-se, em simultâneo, à utilização do radar para orientar os aviões em direção  aos alvos e à constituição, a partir de Agosto de 1942, de uma força avançada de aviões ligeiros "Mosquito", denominada "Pathfinders", que iluminavam os alvos, aumentando a capacidade de deteção dos bombardeiros que vinham logo atrás.
Perspetiva sobre Frankfurt, a partir do rio, antes da Guerra. A Catedral, à direita, era o edifício mais alto. No extremo esquerdo, vê-se a torre da "Nova" Câmara Municipal ("Neues Rathaus").

Perspetiva sobre a "Cidade Velha" (Altstadt) de Frankfurt, tal como era antes de 1944. Obtida a partir da Catedral. À direita, é possível observar um dos muitos recantos históricos dessa "Cidade Velha", neste caso, uma praceta conhecida pelo nome de "Roseneck", onde havia vários restaurantes pitorescos. Mais acima, vê-se um pedaço do rio.

                                       O Roseneck em 1938.

A "Cidade Velha" (Altstadt) de Frankfurt, destruída durante um bombardeamento em Março de 1944.

 Roseneck destruído e em chamas, na sequência dos bombardeamentos de Março de 1944.

O Roseneck, visto da Catedral (Dom), depois dos bombardeamentos de 1944. 

O centro histórico de Frankfurt por volta de 1942-1944.

A "Cidade Velha" ("Altstadt") de Frankfurt, com o Römerberg no centro, vista a partir da Catedral, antes de 1944. Ao fundo, à direita, surge em destaque a torre da "Nova" Câmara Municipal ("Neues Rathaus").

Ao fundo, à esquerda, destaca-se a torre da Catedral de Frankfurt, a partir da qual se obteve a perspetiva anterior sobre a Cidade Velha (Altstadt), por volta de 1935/1940.

           Perspectiva do Römerberg por volta de 1935/1940.

Perspetiva do Römerberg, antes da Guerra. Destaque para os três edifícios da Antiga Câmara Municipal de Frankfurt ("Altes Rathaus"), à direita, e a "Casa Lichtenstein" ("Haus Lichtenstein"), à esquerda. No extremo direito da fotografia e ligeiramente cortada, observa-se a "Casa Frauenstein" ("Haus Frauenstein").

Perspetiva do Römerberg, de um outro ângulo, antes da Guerra. No seguimento das duas casas, mais à esquerda, estavam os três edifícios da "Altes Rathaus" de Frankfurt. A primeira casa, a contar da esquerda, era a "Casa Frauenstein" ("Haus Frauenstein"), cuja fachada era guarnecida de elementos decorativos coloridos.  A segunda casa, a contar da esquerda, era a "Salzhaus" original, cuja fachada tinha elementos em madeira talhada.

O Römerberg visto a partir da esquina da "Salzhaus" original, antes da Guerra. Ao fundo, à esquerda a "Haus Lichtenstein" e, bem no centro, os três edifícios da "Altes Rathaus" de Frankfurt, em parte não visíveis nesta perspetiva.

Perspetiva do mesmo local, numa imagem a cores, obtida por volta de 1935/1940.

                              Detalhe da fachada da Salzhaus original.



Um recanto da "Cidade Velha" ("Altstadt") de Frankfurt, antes de 1944. Até então, esta continha a maior área de "cidade medieval" bem conservada da Alemanha. Talvez até da Europa...

Outra foto do mesmo recanto que aparece na imagem anterior. Ao contrário do que se possa julgar, esta fotografia é mais recente do que a anterior e, desta forma, presume-se que era este o aspeto que esta praceta apresentava antes da sua posterior destruição nos bombardeamentos de 1943-1945. Este engano resulta da mudança de aspeto do edifício mais em destaque, à direita, na imagem. Segundo me parece, durante o regime nazi, na sequência de se valorizar a cultura germânica sobre todas as outras ("Deustchland Über Alles") houve uma espécie de onda "revivalista", em matéria da decoração exterior de diversos edifícios, nomeadamente ao se recuperar o aspeto "fachwerk" original (ou não...). Mais adiante farei uma revisitação deste aspeto curioso.
Por outro lado, se se reparar na rua mais à direita, que tinha o nome de "Flösser Gasse", o edifício visível ao fundo desta surge mais "iluminado". Isto resultou de um conjunto de obras de demolição, isoladas e cirurgicamente efetuadas, na "Cidade Velha" ("Alstadt") de Frankfurt nas décadas de 1920 e 1930, com o intuito de melhorar os acessos para os transportes públicos e, assim, "modernizar" esta vasta zona sem, todavia, a descaracterizar.
O nome desta praceta. hoje desaparecida, também era muito original: "Fünffinger Plätzchen", algo como "Praceta dos Cinco Dedos", pois parece que, na planta medieval da cidade, as ruelas estreitas que aqui vinham desembocar formavam algo parecido com uma mão humana. Estarei errado?

A zona central do pequeno mapa acima, talvez ajude a esclarecer. A zona verde, representava um conjunto de construções cuja demolição havia sido concluída em 1938. Estará talvez aqui a explicação para o aspeto mais "iluminado" que a rua "Flösser Gasse" apresentava na foto mais recente.

A praceta "Fünffinger Plätzchen" deixou de existir na 2ª Guerra Mundial. Só Deus sabe para onde foram a estatueta e o respetivo plinto que constituíam o seu centro...

Vista aérea sobre uma parte da, então, "Cidade Nova" ("Neustadt") de Frankfurt, antes da Guerra. Destaque para o "Hauptwache" (ao centro) e para a igreja Katharinenkirche (à direita). À direita da foto, observa-se o começo da antiga avenida do "Zeil", zona comercial histórica, tal como era originalmente.

Perspetiva, de inícios do Século XX, sobre a zona  do "Hauptwache" (ao centro) e os edifícios próximos, com destaque para o "Alemannia Haus", onde existia um cineteatro, um estúdio fotográfico e alguns restaurantes, (à esquerda) antes da Guerra. Ao fundo, à direita, observa-se o começo de outra zona central, conhecida há muito por "Zeil", onde se destacava a Estação Central dos Correios (Hauptpost), cujo telhado é possível descortinar.

Estação Central dos Correios (Hauptpost), situada no "Zeil".

Perspetiva rara e única sobre o largo do "Hauptwache", numa fotografia muito desfocada, em 1943. No centro, logo à esquerda do "Hauptwache", é possível descortinar o edifício "Alemannia Haus" com a sua cúpula característica.

Outra perspetiva, no ângulo oposto, do largo do "Hauptwache", que surge bem destacado. À direita, logo atrás, vê-se o edifício singular "Alemannia Haus" e à esquerda, destaca-se a fachada de um edifício desconhecido.
Pormenores do "Hauptwache", uma antiga "casa da guarda" depois convertida num café emblemático de Frankfurt e, ao fundo, do edifício comercial "Alemannia Haus", numa fotografia a cores, obtida pouco antes da Guerra.

Fotografia colorida, onde se observa outra parte da antiga "Cidade Nova" ( Neustadt ) de Frankfurt, antes de 1944. No centro da imagem destaca-se a praça do Rossmarkt. À direita, a cúpula e parte do edifício comercial "Germania".

Perspetiva abrangente da praça do Rossmarkt, de um outro ângulo, por volta de 1935-1940. À esquerda, vê-se a esquina do edifício comercial "Germania", com a sua cúpula característica. No centro, vê-se a torre da igreja Katharinenkirche e uma abertura para o largo do "Hauptwache".

A praça do Rossmarkt, no mesmo local, em 1945, depois das destruições da Guerra. À esquerda, o edifício comercial "Germania" praticamente desapareceu. Ao centro, do lado direito, vê-se a torre da igreja Katharinenkirche, agora muito danificada.

A praça Goetheplatz, por volta de 1935/1940. No centro da imagem, o monumento dedicado a Goethe e Schiller.

O mesmo local anterior (Goetheplatz) em 1945, depois das graves destruições da Guerra.

A casa do escritor Johann Wolfgang von Goethe, nascido em Frankfurt no ano de 1749, situada no Große Hirschgraben, tal como era antes da Guerra.

Na noite de 22 de Março de 1944, a cidade de Frankfurt é alvo de um devastador bombardeamento, onde são utilizados maioritariamente engenhos incendiários, auxiliados pelo número recorde de 500 blockbusters, especialmente centrado na sua Cidade Velha. A casa de Goethe é um dos edifícios atingidos. A área atingida nessa trágica noite é tão vasta e diversificada, que os serviços de defesa civil, nomeadamente os bombeiros, não conseguem acudir atempadamente a todos os locais críticos. Nesse bombardeamento, a casa de Goethe ardeu completamente, apesar de poder ter sido salva, caso os acessos a esse local não estivessem bloqueados por outros incêndios em curso, juntamente com a quantidade de destroços que já se acumulavam nas ruas e vielas próximas. Diz-se que este edifício ardeu lentamente durante quase dois dias e, quando os elementos de defesa civil o puderam alcançar, já pouco restava, para além das paredes exteriores. Como se isto não bastasse, num bombardeamento posterior, a parte fronteira é atingida diretamente por uma bomba de tipo blockbuster, que transformou o local numa autêntica cratera. Nesta fotografia vê-se um dos pedaços que apenas restavam da fachada original, ainda em 1944. A sua reconstrução iniciar-se-ia no final da década de 1940, com especial rigor e respeito pelo original, nos mínimos detalhes, coisa que, claro está, não aconteceu com quase todos os outros edifícios circundantes. Desta forma a Goethe-Haus, tornou-se numa peça arquitetónica única em Frankfurt.

Uma fotografia da marginal de Frankfurt, datada de 1944. Pode-se afirmar, sem estar muito longe da verdade, que se estará perante uma das últimas imagens da Velha Frankfurt, tal como era originalmente, pouco antes do seu desaparecimento na Primavera de 1944.

A capa deste livro sobre fotografias a cores de Frankfurt naquele tempo é mais do que elucidativo das diferenças relativamente à sua skyline atual. Nesta imagem, apenas 3  torres se evidenciam: a torre da "Nova Câmara Municipal" ("Neues Rathaus"), a torre da Igreja de S. Paulo ("Paulskirche") e, sobretudo, a torre da Catedral ("Dom"). No extremo direito, vê-se parte da casa "Schopenhauerhaus", ou seja, a casa onde o filósofo Arthur Schopenhauer faleceu, sentado no seu cadeirão preferido, em 1860, hoje desaparecida.

Eis a referida casa onde Arthur Schopenhauer faleceu, sentado no seu cadeirão preferido, em 1860, bem no centro da fotografia, mas hoje desaparecida na  sequência dos bombardeamentos ocorridos durante a 2ª Guerra Mundial, com destaque para o mês de Março de 1944.

Bombardeamento noturno de Frankfurt, com os holofotes em baixo e os "marcadores de alvo", lançados pelos "Pathfinders", a cair por cima. Os bombardeamentos começaram a ganhar especial ferocidade a partir do Outono de 1943.

A praça do Römerberg, não era mais do que um monte de destroços, a partir de 1944. Em destaque as fachadas dos três edifícios da Antiga Câmara Municipal (Altes Rathaus) de Frankfurt em ruínas. Por trás destas, em cima e ao centro, emerge a torre da muito arruinada Igreja de S. Paulo ("Paulskirche"). À esquerda, no centro da imagem, observa-se algo parecido com uma "piscina" improvisada na praça. Isto não era mais do que um dos diversos reservatórios de água construídos, tal como os abrigos antiaéreos, a partir do rebentar da Guerra em 1939. A sua função era fornecer água extra às brigadas de incêndios, em caso de bombardeamento inimigo, sobretudo em zonas em que se soubesse haver o maior risco de conflagrações. Houve, no início, quem criticasse tal medida pois, tal como os bunkers, "não ficavam bem" e "estragavam a paisagem dos centros históricos". A prática mostrou que eles eram, afinal, insuficientes para as situações que vieram a ocorrer... É verdade que, quando aquela Guerra começou, havia uma confiança quase desmedida numa rápida vitória do Eixo, pelo menos, assim os principais dirigentes germânicos queriam dar a entender ao seu povo. Na verdade, muitos deles, no seu íntimo, já haviam começado a perceber que as coisas "não seriam bem assim"... Dessa forma, mais tardiamente do que antecipadamente, eles decidiram empreender uma política de obras no sentido de prevenir ou, pelo menos, tentar minimizar as consequências de eventuais ataques aéreos.

O Römerberg em 1944. No centro da imagem, vêm-se os três edifícios da Antiga Câmara Municipal (Altes Rathaus) de Frankfurt em ruínas. À esquerda, vê-se parte da fachada da "Haus Lichtenstein" em ruínas. Mais atrás e à esquerda, observa-se a torre da igreja Paulskirche, igualmente arruinada.

Perspectiva sobre parte do Römerberg em 1944, vendo-se, em grande plano, o que então restava da "Salzhaus".

Ruínas do "Hauptwache", à esquerda e da Katharinenkirche, à direita, em 1945. Posteriormente, só foram reconstruídos estes dois edifícios originais nesta zona da antiga "Cidade Nova" ( Neustadt ) de Frankfurt.


Outra perspetiva sobre o "Hauptwache", depois do fim da Guerra.

O edifício do "Alemannia Haus", por trás do "Hauptwache" em 1945.

Perspetiva sobre a desaparecida "Kaiserstraße", situada na zona da então denominada "Cidade Nova" ("Neustadt") antes de 1940. Através desta rua monumental, é possível descortinar a fachada do corpo principal da Estação Central ("Hauptbahnhof") de Frankfurt.

A Estação Central ("Hauptbahnhof") de Frankfurt, por volta de 1900.

Estação Central ("Hauptbahnhof") de Frankfurt, em 1945. É possível verificar que não sofreu muitos danos durante a Guerra. De referir que, este edifício constituiu uma das razões principais para se bombardear esta cidade da forma como isso foi feito. Por isso, o facto de estar de pé, quando os Aliados conquistaram Frankfurt, simboliza o falhanço e a imprecisão que os chamados "bombardeamentos por área" muitas vezes cometiam. É por isso que ainda hoje lá se encontra, tal como era originalmente. O mesmo não se pode dizer dos edifícios da praça fronteira à Estação...

Perspetiva sobre a Praça da Estação ("Bahnhofplatz"), quando, então, se denominava de Hindenburgplatz. Estes edifícios dentro dos estilos "Gründerzeit" e "Jugendstilconstituíam uma espécie de "cartão de visita" da cidade de Frankfurt para quem chegava de comboio, pela primeira, vez a esta cidade. 

Outra perspetiva sobre a Praça da Estação ("Bahnhofplatz"), quando, então, se denominava de Hindenburgplatz, só que agora por volta de 1945-1946. Como é possível observar, este edifícios encontravam-se muito danificados, contrariamente à Estação Central a que eram fronteiros. Hoje, quando se chega de comboio a Frankfurt, observa-se uma paliçada de edifícios muito menos interessantes.

Vista aérea da grande devastação de Frankfurt, em 1945, com destaque para a zona da "Cidade Velha" ( Altstadt ), que havia sido obliterada em 1944.  Em destaque e de cor escura, as ruínas da Catedral. 

De referir que, depois da rendição da Itália e da sua passagem para o lado aliado, em 1943, a aviação aliada ocidental passou a dispor de aeródromos adicionais, para além dos já existentes na Grã-Bretanha. Desta forma, as zonas da Alemanha nazi e dos seus aliados do Eixo, que antes haviam estado situados a uma distância proibitiva das esquadrilhas de bombardeiros aliados ocidentais, fazendo com que as missões de bombardeamento, destas forças aéreas para essas zonas tivessem sido, até então, muito esporádicas, ineficazes, para não dizer inexistentes, passariam agora a estar a um muito fácil alcance. Por outras palavras, deixaria de haver zonas consideradas "mais ao abrigo" dos ataques aéreos aliados, não só em solo germânico.
Cidades como Koenigsberg, na Prússia Oriental, passaram a estar mais ao alcance das esquadrilhas aéreas aliadas.

Koenigsberg. Foi nesta cidade que nasceu, viveu e faleceu o filósofo alemão Immanuel Kant. Há quem diga que ele nunca saiu dela... Nem sequer por umas breves horas... Muitos ainda hoje se perguntam onde seria a tal mítica "cidade de Kant". Compreendo... não é localizável na Alemanha... e Kant era alemão...

Koenigsberg em ruínas, depois de conquistada pelo Exército Vermelho soviético, em 1945. Depois da Guerra, Koenigsberg passaria a chamar-se Kaliningrad, tornando-se território da Rússia, tal como é hoje.

Com o passar do tempo, apesar das criticas que, mais para o final do conflito, foram chegando da parte de alguns sectores da sociedade, como, por exemplo, a Igreja, Arthur Harris, em face dos resultados e da conjuntura já claramente favorável para os aliados, manteve uma crescente convicção nos seus métodos de ataque aéreo. Chegava mesmo a protestar com veemência, quando lhe era pedido que a sua força de bombardeiros, se desviasse das áreas urbanas inimigas, para ir apoiar outras missões essenciais para o avanço dos Aliados. Exemplo disto, foram os bombardeamentos tanto diurnos como nocturnos, das vias de comunicação necessárias à deslocação da Wehrmacht e suas linhas de abastecimento, quer na fase preparatória do “Dia D”, quer no posterior apoio aéreo necessário para uma mais rápida progressão no terreno.

Estugarda (Stuttgart) por volta de 1940. Não será exato afirmar que, quando o Comando de Bombardeiros da R.A.F. foi requisitado quer para o apoio aéreo à Operação "Overlord", que se traduziria no desembarque bem sucedido nas praias da Normandia, quer para a consolidação das forças aliadas no continente europeu e ao seu avanço, o bombardeamento das cidades germânicas tivesse ficado em suspenso durante esses meses cruciais. A sua frequência de facto diminuiu, mas continuaram a empreender-se aqui e ali, salientando-se a decrescente eficácia dos das defesas germânicas e o aumento da eficácia das formações de bombardeiros, nomeadamente quanto às interferências nos radares germânicos. A cidade de Estugarda que, desde o início das hostilidades, havia sido um alvo "duro de roer", pelas mais diversas razões, foi particularmente visada durante esse ano de 1944, com destaque para o período de Verão.

Estugarda (Stuttgart), no final da 2ª Guerra Mundial. Durante vezes sucessivas, o Comando de Bombardeiros tentou conseguir, com custos muito elevados em aviões e tripulações, provocar uma "tempestade de fogo" nesta cidade. Havia já tentado, durante uma série seguida de ataques aéreos pesados entre 25 e 29 de Julho de 1944, onde, apesar de tudo, se conseguiu um nível muito elevado de destruição. Mas as características geográficas da área metropolitana de Estugarda, bem como as muito fortes defesas antiaéreas, tornavam difícil a "produção" de uma "tempestade de fogo" ("firestorm"). Acabou por conseguir esse objetivo na noite de 12 de Setembro de 1944, quando Estugarda sofreu o seu mais "pesado" bombardeamento. Basta referir que nesse ataque foram lançados sobre esta cidade 75 blockbusters, para além de uma muito densa carga de engenhos incendiários, maioritariamente centrada numa zona muito circunscrita da "Cidade Velha" ("Altstadt"). No final da Guerra, os destroços que existiam pela cidade (1.500.000 de metros cúbicos), foram todos reunidos num monte artificial, localizado nos arredores de Estugarda, denominado "Birkenkopf".


Nesta fotografia a cores, obtida por volta de 1930, observa-se uma das partes mais emblemáticas do Marktplatz, situado bem no centro da desaparecida "Cidade Velha" (Altstadt) de Estugarda. À direita e por detrás do casario, surge a igreja Stiftskirche, a igreja mais importante de Stuttgart. Na fotografia anterior, do final da Guerra, todo este conjunto de edifícios visíveis, à exceção da igreja Stiftskirche, tinha literalmente desaparecido. Hoje, a única coisa que este lugar herdou da sua versão original foi apenas o nome "Marktplatz". A arquitetura atualmente dominante não tem nada a ver com a original, a começar pela atual Câmara Municipal (Rathaus), e o lugar perdeu a centralidade histórica que tinha antes, que transitou para a atual praça SchloBplatz. À esquerda, não visível na foto, estava a fachada principal da Câmara Municipal (Rathaus), construída em 1905 e que arderia por completo em 1944.  

Estugarda (Stuttgart). A fachada da referida Câmara Municipal (Rathaus), pouco depois da sua inauguração, em 1905.

Estugarda (Stuttgart). A Câmara Municipal (Rathaus) depois de 1944. O edifício que lá existe atualmente, não tem nada a ver com o estilo deste.


Arthur Harris acompanhado de outros oficiais do Comando de Bombardeiros da R.A.F., com destaque para Sir Robert Saundby (ao centro). Este último ocupava o cargo de "Comandante-Em-Chefe Adjunto" desde 1943 e foi um dos mais próximos e incondicionais apoiantes das principais estratégias de bombardeamento preconizadas por Sir Arthur Harris.

Arthur Harris acompanhado de outros oficiais do Comando de Bombardeiros da R.A.F., com destaque para Sir Robert Saundby (à direita) a estudarem um mapa da Alemanha. Este último era um ávido pescador nos seus tempos livres. Foi a partir do seu passatempo que, a determinada altura da Guerra, sobretudo nos dois últimos anos, se pôs em prática a ideia de atribuir nomes de código especiais a partir de nomes de peixes ("fish codes") para nomear 94 cidades germânicas consideradas alvos prioritários de futuros bombardeamentos, como forma de dificultar a eventual identificação dos alvos a ser atacados pelos serviços secretos germânicos. Eis a lista dos referidos "códigos":




Logo a partir de Setembro de 1944, com o seu Comando de Bombardeiros a ser menos requisitado para missões de apoio aos avanços no terreno, Arthur Harris retomou a sua política de ataques aéreos maciços e sistemáticos, sobre cidades germânicas. Uma das primeiras a ser alvo dessa nova vaga de bombardeamentos, foi a cidade de Darmstadt. Na noite de 11 para 12 de Setembro de 1944, esta cidade é alvo de um concentrado e muito preciso ataque aéreo. As bombas utilizadas eram maioritariamente incendiárias e de vários formatos, tendo-se originado um fenómeno denominado "tempestade de fogo", resultante de uma grande concentração de incêndios simultâneos numa vasta área. Só nessa noite houve 12.000 vítimas. Já tinham ocorrido outras "tempestades de fogo" antes e depois de Darmstadt, com destaque para o que havia acontecido em Hamburgo e Kassel em 1943. As técnicas de bombardeamento do Comando de Bombardeiros da R.A.F. estavam a atingir o seu zénite em termos de precisão e eficácia. Por outro lado, a Força Aérea Alemã (Luftwaffe), estava com escassez de caças defensivos e a entrar em queda livre. Os aliados, em 1944, dominavam os céus sobre a Alemanha Nazi.

Darmstadt em 1936.


Quatro perspetivas da, então, parte mais antiga de Darmstadt, hoje inexistente, obtidas por volta de 1938.

O centro de Darmstadt antes de Setembro de 1944.

O centro de Darmstadt depois de Setembro de 1944.

Darmstadt depois de Setembro de 1944. Este bombardeamento originou uma das mais violentas (se não mesmo a mais violenta) "tempestades de fogo" de toda a Guerra. Testemunhos de sobreviventes falavam em "chamas assopradas" a surgirem "por todo o lado", dias depois do bombardeamento da R.A.F. ter ocorrido. Há quem tenha visto neste bombardeamento uma "preparação para os bombardeamentos de Dresden", a serem efetuados em meados de Fevereiro de 1945.

Darmstadt no final da Guerra. O centro da cidade transformado numa "terra-de-ninguém".




Hamburgo - A primeira "tempestade de fogo" de sempre.


Perspetiva sobre o centro de Hamburgo, antes da Guerra. Ao longe, à direita, é possível descortinar a torre da sua igreja mais emblemática, a Hauptkirche Sankt Michaelis, vulgarmente chamada de "Michel".

Perspetiva sobre a zona antiga e mais pitoresca de Hamburgo. Esta cidade é, ainda hoje, dominada pelos cursos de água ou "canais" que atravessam muito da sua "Cidade Velha" (Altstadt). Daí que, em tempos, Hamburgo tenha sido conhecida por "Veneza do Norte". Ao fundo, no centro da imagem, observa-se a torre central da Câmara Municipal (Rathaus).

Um exemplo da moderna arquitetura que, já antes da Guerra, existia um pouco por toda a cidade de Hamburgo.

Bombeiros de Hamburgo, em ação depois de mais um dos frequentes bombardeamentos sobre esta cidade. Até aos últimos dias de Julho de 1943, podia-se afirmar, com aparente segurança, que Hamburgo constituía um exemplo e modelo a seguir pelas outras cidades. Para começar, o seu sistema de defesa aérea era o melhor e mais sofisticado que existia na Alemanha. Rivalizava de perto com a capital Berlim, sendo esta, desde logo, uma cidade onde se fez grandes investimentos em matéria de defesa aérea, mesmo antes da Guerra começar. Acontece que, durante a maior parte da Guerra, Berlim fora um alvo algo distante para o Comando de Bombardeiros britânico. A cidade de Hamburgo, pelo contrário, situa-se no extremo Oeste da Alemanha e, devido à grande embocadura do rio Elba e ao seu grande porto, não era um alvo difícil de detetar, mesmo em vôos noturnos. Desta forma, era mais que provável Hamburgo vir a ser muito "visitada" pelas esquadrilhas aéreas aliadas, mais ainda do que Berlim o que, durante grande parte da Guerra, veio de facto a acontecer. Pode-se afirmar, sem correr o risco de ficar longe da verdade, que Hamburgo, até certo ponto, superou Berlim em matéria de sistemas defensivos antiaéreos. O próprio Comando de Bombardeiros da R.A.F., desde logo, ficou consciente da perigosidade deste alvo. A determinada altura, quando as tripulações dos aviões se reuniam para receber instruções acerca do alvo a atacar na missão seguinte e quando este era Hamburgo, percebia-se logo um mal-estar muito evidente por entre os pilotos. Sobrevoar Hamburgo era sinónimo de missão quase suicida. O seu sistema de radar trabalhava numa coordenação perfeita com as bases de caças defensivos que cobriam os pontos considerados mais importantes da zona de Hamburgo, e também com as suas bases de antiaéreas que eram o que de melhor havia em todo o 3ºReich. Para além disto, as brigadas antifogo existentes em Hamburgo tinham uma organização ao nível da excelência e a sua rede de comunicações havia sido reforçada e modernizada num curto espaço de tempo, com destaque para a rede telefónica. Havia inclusive o recurso adicional a estafetas motorizados, que auxiliavam na deteção dos diversos focos de incêndio que surgiam aqui e ali e permitiam uma quase perfeita coordenação entre as brigadas disponíveis nas várias freguesias de Hamburgo. A Operação "Gomorrah" iria alterar e desorganizar este cenário por completo.

Cenário noturno muito frequente em Hamburgo, durante os anos da Guerra. Podia-se dizer que os habitantes desta cidade se acabariam por adaptar a esta realidade feita de "blackouts", o barulho sinistro das sirenes a ecoar pelas ruas, descidas frequentes e a contragosto para os abrigos, muitas vezes improvisados nas caves dos edifícios, apesar de haver também os chamados "abrigos públicos" e, acima de tudo, noites mal dormidas. Todavia, apesar de já trazerem no seu "currículo" três anos de incursões aéreas aliadas, nada havia preparado os habitantes de Hamburgo para o que se sucederia no verão de 1943.



Hamburgo em chamas no verão de 1943. Isto foi na sequência do primeiro bombardeamento da Operação "Gomorrah", empreendida pela R.A.F.ocorrido na noite de 24 para 25 de Julho de 1943. Até então, era o bombardeamento mais destruidor que Hamburgo havia sofrido durante toda a Guerra. A zona Ocidental de Hamburgo foi, então, a mais diretamente visada. A operação estender-se-ia até o começo de Agosto de 1943. Até lá Hamburgo ainda iria ser alvo de bombardeamentos mais destruidores, com destaque para o da noite de 27 para 28 de Julho de 1943, onde ocorreria a referida "tempestade de fogo", resultante não só de uma grande concentração de incêndios numa vasta área, mas também de um tempo anormalmente quente e seco.

Horst Westephal, então um adolescente voluntário de Hamburgo, relata a sua experiência do momento da chegada da imensa formação de bombardeiros (mais ou menos 700 e maioritariamente quadrimotores), sobre a sua cidade, nos momentos imediatamente anteriores à queda das primeiras bombas: "O zumbido dos aviões enchia os céus! O ruído dos motores era tão alto que tudo vibrava! Por isso, percebemos que estávamos em maus lençóis!". 


A casa onde nasceu o compositor Brahms, foi um dos edifícios destruídos durante a Operação "Gomorrah". Não foi reconstruída.

Outra perspetiva sobre a fachada da desaparecida casa de Brahms em Hamburgo.

Fotogramas provenientes de filmes onde é possível vislumbrar a "tempestade de fogo".

O bombardeamento britânico causou um incêndio de enormes proporções, com ventos superiores a 190 Km por hora. 
                                                        Hans  Brunswig (1908 - 2004).
Um bombeiro, Hans Brunswig, tinha consigo uma câmara de filmar. (Hans Brunswig:) "Ali é a tabacaria, ao lado do quartel dos bombeiros. Podem ver a força incrível que impele as chamas. O incêndio era invulgar por progredir tão depressa. Todas as nossas experiências anteriores de nada serviram. A maneira como o fogo se propagava de umas ruas para as outras... Nunca tinha havido nada assim!".

A temperatura atingiu os mil graus centígrados. 20 quilómetros quadrados ficaram em chamas.

A então jovem voluntária Margarette Zettel foi apanhada no meio do incêndio.

                                                              Margarette Zettel

(Margarette Zettel:) "Era um inferno, um verdadeiro caos, um incêndio incrível!!! Depois notávamos um cheiro nauseabundo... Ainda hoje o tenho no nariz! Sangue, argamassa, tudo estava a arder e a mistura era absolutamente medonha!" Margarette Zettel salvou seis bebés dos últimos andares de um prédio em chamas. (Margarette Zettel:) "Tirei de lá a última criança, graças a Deus, e imediatamente as escadas que ardiam atrás de mim ruíram!" Posteriormente, Margarette Zettel foi condecorada em Berlim pela sua bravura. (Margarette Zettel:) "O meu cabelo ardeu até à orla do capacete de aço que tinha na cabeça!".

Era este o cenário diurno que se observava quando se olhava de longe para Hamburgo, durante os dias em que decorreu a referida Operação "Gomorrah", cujo objetivo principal, tal como Sir Arthur Harris muito explicitamente havia dito, era a "aniquilação" de Hamburgo.

                Esquema científico explicativo do fenómeno "tempestade de fogo". Esta ocorrência, inicialmente, não havia sido deliberadamente provocada pela força aérea aliada. Foi, portanto o resultado de várias circunstâncias já aqui referidas. Para o lado germânico, foi uma situação inacreditável, que gerou ondas de choque, para não dizer de pânico, um pouco por toda a Alemanha; para os Aliados foi uma surpresa feliz, que aumentou ainda mais a sua confiança na eficácia das suas forças aéreas e os incentivou ainda mais a continuar a sua política de bombardeamentos sobre os seus inimigos. Os Aliados ainda dedicariam uma boa parte do seu tempo a estudar esse fenómeno, então tão enigmático, da "tempestade de fogo". Recorreriam mesmo a uma perfeita aliança com a Ciência, tendo como objetivo final, conseguirem delinear métodos de bombardeamento que o pudessem desencadear deliberadamente, como viria a acontecer muitas vezes até ao fim da Guerra.

Aspeto de muitas ruas de Hamburgo, após a ocorrência da "tempestade de fogo". A operação "Gomorrah" resultou num número rondando as 40 mil vítimas civis. Na sequência disto, houve diversas ruas de Hamburgo que foram encerradas ao público como forma de evitar a propagação de epidemias, resultantes da grande acumulação de cadáveres. Grande parte das vítimas, se não a maior parte, ocorreram nas caves de edifícios improvisadas como abrigos antiaéreos. Desde logo, a derrocada dos edifícios por cima, podia soterrar ou mesmo esmagar quem houvesse buscado refúgio nessas divisões subterrâneas, mais feitas para guardar coisas tão básicas, como o carvão e o vinho. No caso das caves com suportes reforçados e que não cedessem aos destroços acumulados, nem ao impacto das bombas, podia acontecer que as saídas ficassem bloqueadas e as equipas de resgate desconhecessem a sua existência, ao ponto de não serem retirados em tempo útil. Sobretudo, a "tempestade de fogo", a deflagrar por cima, provocava uma série de fenómenos atmosféricos e térmicos, que transformavam as caves mais vulgares em autênticas ratoeiras humanas. Consumia todo o oxigénio existente, substituindo-o por monóxido de carbono, que é um gás inodoro e mortal, cujas vítimas pareciam "adormecer para sempre", ou provocava um tal aumento de temperatura no interior dessas caves, que se transformavam em verdadeiros fornos crematórios, e onde não se podia entrar durante dias seguidos.

        
Imagem de uma das muitas caves improvisadas como abrigos antiaéreos em Hamburgo, após a ocorrência da "tempestade de fogo". Por acaso, esta cave situava-se na rua da fotografia anterior, GothenstraBe, situada no bairro de Hammerbrook. Olhando para as duas fotos, fica-se bastante elucidado quanto à dita "proteção" que estas caves ofereciam...

Hamburgo.

Hamburgo.

O bairro Hammerbrook terá sido a zona de Hamburgo onde a "tempestade de fogo" fez mais vítimas.





Vítimas que se aventuravam a fugir dos abrigos, quando estes se tornavam insuportáveis, durante a chamada "tempestade de fogo". Só em Hamburgo se obtiveram milhares de imagens deste tipo. Muitas outras existiriam de várias povoações envolvidas em ambos os lados do conflito. Muitas delas encontram-se reunidas no polémico livro "Brandstätten" do historiador e escritor Jörg Friedrich, publicado em 2003. O autor, de nacionalidade alemã, só conseguiu ter acesso aos arquivos fotográficos do seu país, onde abundam documentos fotográficos deste género. Quando ele tentou estender a sua investigação para outros países, como a Inglaterra e a Polónia, foi-lhe negado o acesso, alegando-se a "confidencialidade" dos arquivos fotográficos e o facto de ele "ser estrangeiro"...



Duas capas alternativas do referido livro de Jörg Friedrich.

Os incêndios a deflagrarem no bairro de Hammerbrook, tal como se viam da zona de Berliner Tor.

A zona portuária de Hamburgo, como era de prever, foi especialmente visada, sobretudo pelos bombardeamentos diurnos que, nesta fase, eram sobretudo executados pela força aérea americana.

Bombardeamento da zona portuária de Hamburgo, visto da perspetiva dos bombardeiros.


No centro da imagem acima, destaca-se um edifício do Karstadt, situado na rua HamburgerstraBe, localizada no centro de Barmbek, bairro da zona oriental de Hamburgo. Havia então vários edifícios deste género um pouco por toda a Alemanha, que eram os "antepassados" dos atuais e muito disseminados "Centros Comerciais". Havia "centros comerciais" de diversas empresas que competiam entre si. Entre os principais estavam Karstadt e Tietz. De referir que, este último exemplo era propriedade de uma famosa família abastada judaica. Desta forma, após a ascenção de Hitler ao poder em 1933, houve uma política de expropriação das propriedades antes pertencentes aos judeus. Associada a isto, houve uma campanha de "arianização" de nomes de empresas antes associadas à comunidade hebraica. Desta forma, os departamentos de lojas antes reunidos sob a marca "Tietz", passaram a ter nomes como "Hertie" e "Kaufhof".

Este edifício do Karstadt, localizado na rua HamburgerstraBe, via central de Barmbek, bairro da zona oriental de Hamburgo, foi palco de uma tragédia no final de Julho de 1943, durante a Operação "Gomorrah", quando 370 civis morreram soterrados nas suas espaçosas caves, onde havia sido criado um abrigo antiaéreo público. As autoridades de Hamburgo decidiram criar aqui mais um dos vários abrigos públicos então disponíveis, devido ao facto do edifício ser moderno e parecer oferecer solidez suficiente. O problema era que, na prática, não existia qualquer abrigo que oferecesse 100% de proteção para as todas bombas que foram sendo criadas ao longo da Guerra. Houve episódios, aqui e ali, de bunkers, aparentemente impenetráveis, que acabariam por ceder ao impacto direto de bombas de maior calibre. No caso deste Karstadt, o seu edifício terá sofrido o impacto direto de um blockbuster, tendo dois terços da construção original entrado em derrocada, soterrando e esmagando quem por lá se encontrasse abrigado.




A igreja St. Katharinenkirche de Hamburgo, na década de 1930. O bairro onde este edifício se localiza foi um dos mais destruídos durante a Guerra.

O interior da igreja St. Katharinenkirche de Hamburgo em 1943 e após a Operação "Gomorrah", com os seus sinos caídos em destaque.


A igreja St. Nikolaikirche por volta de 1930. Era a mais importante de Hamburgo. Foi também destruída em 1943. Hoje só resta dela a sua torre, que era a mais alta de Hamburgo, como um memorial de guerra. À esquerda, um pouco mais afastada, descortina-se a Câmara Municipal (Rathaus) de Hamburgo.

Na imagem de cima, observa-se uma perspetiva sobre Altona, bairro da zona ocidental de Hamburgo, durante a ocorrência da referida campanha de bombardeamentos, no verão de 1943, empreendida pela R.A.F.. Refira-se que esta zona foi a mais duramente atingida logo durante o primeiro bombardeamento da operação "Gomorrah", empreendida pela R.A.F.ocorrido na noite de 24 para 25 de Julho de 1943. Nesse bombardeamento, até então o mais violento a que a cidade de Hamburgo havia sido sujeita desde o início da guerra, foram destruídas, entre outras coisas, diversas linhas telefónicas vitais para a comunicação entre as várias zonas de Hamburgo. As linhas que ligavam o departamento central de defesa civil, localizado no centro de Hamburgo, a Altona, estavam entre as que mais foram danificadas. A consequência mais direta disso foi Altona ter ficado, literalmente, entregue aos incêndios que aí deflagravam sem controle. Quando se conseguiu, finalmente, fazer chegar aos serviços centrais de defesa civil, informações de "viva voz" acerca da situação desesperada que se estava a viver em Altona, já pouco ou nada se podia fazer para remediar a situação. O grande bairro de Altona foi, dessa forma, o que mais sofreu logo na primeira noite de bombardeamento da Operação "Gomorrah". Se não tivesse sido tremenda a destruição em Hamburgo, logo nessa noite de "abertura", provavelmente nunca teria ocorrido a referida "tempestade de fogo" nos bairros mais a Oriente. De facto, entre os dias 24 e 27 de Julho de 1943, os serviços de defesa civil, incluindo os bombeiros, investiram grande parte do seu tempo a extinguir os incêndios provocados logo por aquele primeiro bombardeamento, o que se revelou desde logo uma tarefa já, por si só, hercúlea. Para além do risco de esses muitos focos poderem dar ainda origem a novas conflagrações, o facto de haver zonas com pequenos fogos, interferia com o "blackout" obrigatório e, desta forma, tornava a cidade mais fácil de detetar para as esquadrilhas aéreas aliadas, o que era real. A juntar a este trabalho de sapa, estavam as posteriores incursões aéreas dos americanos durante as horas diurnas, maioritariamente sobre a zona portuária e alguns ataques menores da parte de reduzidas formações da R.A.F., que acabavam por atrasar todo o trabalho de extinção a fazer. Na prática, isto significava que, para além de outros problemas, as brigadas antifogo estavam todas concentradas na parte ocidental de Hamburgo, tendo ficado a parte oriental como que esquecida. Para além disto, já havia danos e muito entulho acumulado em diversas ruas que faziam a ligação com os bairros da zona oriental, onde a densidade de habitações era muito superior à parte ocidental. Foi precisamente aqui que, orientada pelos pequenos focos de incêndio que ainda estavam ativos na zona Noroeste da cidade, uma formação de 787 bombardeiros da R.A.F. fez uma incursão muito concentrada na noite de 27 de Julho de 1943, utilizando uma carga de bombas maioritariamente incendiária. Não houve tempo de reorganizar as brigadas de defesa civil de forma a conseguir enviá-las em tempo útil para a vasta zona oriental de Hamburgo. Os incêndios como que se uniram num só, dando origem à já referida "tempestade de fogo". 

Câmara Municipal (Rathaus) de Hamburgo, a seguir a um bombardeamento em 1943. Apesar das destruições à sua volta, este edifício atravessou a Guerra sem sofrer qualquer dano de assinalar.

Aspeto da zona fronteira à Câmara Municipal (Rathausde Hamburgo, com destaque para a rua HermannstraBe, na manhã seguinte a mais uma noite de bombardeamentos, em 1943.

Ao longo da sua história, a cidade de Hamburgo teve algumas "afinidades" com Londres. Chegou-se mesmo a dizer que Hamburgo era "a mais inglesa" de todas as suas cidades. Sintomaticamente, nesta rua, hoje completamente modificada, existiu uma importante sala de espetáculos e eventos públicos com o nome de "Conventgarten". Este enorme edifício público foi parte integrante da vida social, incluindo a "alta sociedade", de Hamburgo, entre o dia 24 de Julho de 1853 e a noite de 24 de Julho de 1943, data da sua destruição total. Não foi reconstruído. Ainda dentro desse "paralelismo" entre Londres e Hamburgo, tal como o facto da Catedral de St. Paul, ter permanecido de pé, emergindo no meio dos bombardeamentos da Luftwaffe, como um símbolo da resistência do povo britânico ao invasor germânico, também os cidadãos de Hamburgo, olhavam da mesma forma para a sua igreja St. Michaeliskirche ("Michel"). Costumavam dizer: "enquanto a "Michel" estivesse de pé, Hamburgo não tinha caído".

A igreja St. Michaeliskirche ("Michel") antes da Guerra.

A igreja St. Michaeliskirche ("Michel"), no meio do respetivo bairro completamente arruinado.

Depois de ter permanecido, durante quase toda a Guerra, quase intacta, tendo inclusive sobrevivido à referida "Operação Gomorrah", a igreja St. Michaeliskirche ("Michel"), acabou por ser destruída pelo fogo, na sequência de um dos últimos bombardeamentos sobre Hamburgo.

Naquela semana (finais de Julho/começo de Agosto de 1943), morreram mais de 42 mil civis em Hamburgo, um número superior ao conjunto das baixas britânicas durante a "Guerra Relâmpago". Os sobreviventes, sem casa e ainda aturdidos, reuniam-se em qualquer espaço aberto. (Margarette Zettel:) "Estavam desesperados, a gritar pelas famílias. Era um caos de sentimentos e dor, dor física e espiritual. É compreensível... Estávamos de rastos!".
Como muitas outras, a casa do jovem estudante Horst Westephal também havia sido destruída: "Andávamos 10 Km, pelo meio do entulho, ruínas e um mar de chamas. Havia uma torrente de refugiados. Olhámos para Hamburgo e estava tudo negro. O céu estava totalmente negro. O sol não conseguia romper as trevas e chovia fulígem a 25 Km de distância".
Na sequência da Operação "Gomorrah", houve uma fuga em massa de habitantes em pânico, muitos deles feridos, da cidade de Hamburgo. Segundo algumas fontes, deu-se a evacuação de pelo menos um milhão de refugiados. A passagem destes por outras localidades, contribuiria para espalhar um pânico nunca antes visto. 
Nesse mesmo ano (1943), Joseph Goebbels, o chefe da propaganda nazi, havia tentado galvanizar os alemães a embarcarem na "aventura" de fazer uma "Guerra Total" contra os seus inimigos, como forma de o Reich alcançar mais rapidamente uma vitória em todas as frentes.
                          
                                         Hans Brunswig (1908 - 2004).

(Hans Brunswig:) "O que a "
Guerra Total" significava realmente, Goebbels não nos disse. Sentimos na pele o que queria dizer em Julho de 1943, em Hamburgo. Aquilo era a "Guerra Total", mas não como Goebbels imaginara!...".

Por entre os dirigentes da Alemanha nazi, circulava, entre os bastidores, a sensação de que se houvesse mais cinco ou seis cidades a serem alvo de uma destruição similar e num curto espaço de tempo, poderiam não ter mais condições de continuar a Guerra, ou seja, pela primeira vez, a possibilidade de uma derrota surgiu mais certa do que nunca. Todavia, os Aliados só ficariam a saber deste receio já a circular por entre as fileiras do inimigo germânico, só depois da Guerra ter terminado, a partir dos depoimentos dos oficiais seus prisioneiros... 


Até ao final da Guerra, continuaram a haver bombardeamentos aliados, tanto noturnos como diurnos, sobre Hamburgo. Normalmente, e desde o começo, de dia atacava a força aérea americana, sobre alvos preferencialmente industriais, com destaque para a zona portuária, enquanto à noite o Comando de Bombardeiros da R.A.F., centrava os seus ataques na zona urbana de Hamburgo.

No final da Guerra, em 1945, ainda havia em Hamburgo, ruas com acesso vedado ao público, devido ao risco de epidemias, provocado pela existência de um grande número cadáveres, ainda não desenterrados, entre as ruínas. A rua que aparece na imagem, GothenstraBe, foi uma rua que terá permanecido nessa condição durante quase 2 anos seguidos, visto que Hammerbrook, o bairro a que pertencia, já havia sido destruído durante a referida Operação "Gomorrah", levada a cabo pela aviação aliada no verão de 1943.

A avenida Grindelallee, aqui completamente arruinada, era, originalmente, caracterizada por edifícios de estilo "gründerzeit", "jugendstil" e neo-barroco.

Zona oriental de Hamburgo, onde deflagrou a "tempestade de fogo" em 1944-1945.

Hamburgo, bairro Dulsberg, em 1945.

Altona no começo do século XX.

Vista aérea sobre Altona em 1930, quando ainda era uma povoação autónoma, convertida em bairro do extremo Oeste de Hamburgo, a partir de 1937. O edifício da sua Câmara Municipal (Rathaus), surge destacado no centro da imagem.

Perspetiva sobre o edifício da Câmara Municipal (Rathaus) de Altona, em Hamburgo, no final da Guerra. As comunicações com este bairro, nunca foram devidamente reparadas e, desta forma, Altona foi dos bairros de Hamburgo mais severamente danificados durante a Guerra. A fotografia acima é mais do que elucidativa disso.

Hamburgo. Os bunkers ofereciam uma boa proteção... mas, claro está, nunca a 100%.

Hamburgo. Um "simples" buraco destes, poderia significar várias dezenas de vítimas no seu interior.

 Memorial dedicado às vítimas dos bombardeamentos sobre Hamburgo, inaugurado em 1985 junto à HamburgerstraBe, na zona onde antes era o centro do bairro de Barmbek, um dos mais afetados pelos bombardeamentos, em especial durante a Operação "Gomorrah". Era também aqui que se localizava o atrás referido centro comercial "Karstadt", onde ocorreu a morte de 370 civis, quando dois terços do edifício ruíram de uma só vez, na sequência do provável impacto direto de uma bomba "blockbuster".

Hamburgo, 1943.

"Estávamos de rastos". Esta é uma das imagens mais emblemáticas dos bombardeamentos aéreos sobre a Alemanha. Onde ela foi  obtida? Aparece muitas vezes associada à "Operação Gomorra", ocorrida de 24 de Julho a 3 de Agosto de 1943, sobre Hamburgo, mas onde eu a vi pela primeira vez, foi associada ao seguimento de um bombardeamento sobre Dessau. No texto dessa imagem, aparecia a informação de que, mesmo pequenos bombardeamentos provocavam, nas populações, efeitos de pânico e terror, e consequentes traumas, quase tão intensos como os maiores. A foto em cima é paradigmática. Nela vemos, supostamente, uma família a ser resgatada por um jovem (ou uma jovem ?) voluntário (mais à direita) proveniente, decerto, da "Juventude Hitleriana". É impossível ter a plena certeza de qual o grau de parentesco (se é que havia algum) que unia aqueles três seres humanos... Mas uma coisa é certa: existe um ponto central naquela foto que diz tudo. É o rosto da mulher. Aquilo é um misto de puro terror e incredulidade, a que é difícil ficar indiferente! Parece o facies de uma assombração saída de um pesadelo... Ao longo dos tempos, e até à atualidade, nos cenários de guerra, tem surgido uma infinitude de quadros daquele género. E hão-de continuar a surgir, por muitos e bons anos...

Bombardeamento e "tempestade de fogo" ("feuersturm") (Dresden? Hamburgo? Talvez Pforzheim?).

Capa do livro "Tod Über Hamburg" (algo como "Morte Sobre Hamburgo"). Seleção de um conjunto de fotografias obtidas durante o período, e meses depois, da Operação "Gomorrah". Quase uma perfeita reportagem de cariz jornalístico, feita in loco e um tanto quanto ao acaso, por Erich Andres, então (1943) um soldado, com formação jornalística, que integrava a defesa civil de Hamburgo, com imagens que não apareciam, simplesmente, nos meios de comunicação e os líderes nazis de então proibiram e não queriam que fossem divulgadas, com receio de que a sua visualização afetasse negativamente o "moral" das populações e provocasse uma onda de "derrotismo" por entre a população germânica e as forças que constituíam o denominado "Eixo".



As tropas britânicas entram em Hamburgo.






Vista aérea da "Cidade Velha" ("Altstadt") de Kassel. Destaque para a grande igreja Martinskirche, no centro. Antes da Guerra, esta cidade situada na região do Hesse, era mais importante e central do que Frankfurt é na atualidade. Kassel chegou a ser considerada a capital do Hesse e foi residência real. O centro histórico de Kassel era quase tão valioso e interessante como o de Frankfurt. 

St. Martinskirche. Kassel. Esta igreja era, no seu estado original, uma verdadeira "irmã" da Igreja de Nossa Senhora de Týn ("Kostel Matky Boží před Týnem") de Praga.

St. Martinskirche. Kassel.

St. MartinskircheKassel.

St. MartinskircheAltstadt. Kassel.

               
St. MartinskircheAltstadt. Kassel.

St. MartinskircheAltstadt. Kassel.

St. MartinskircheAltstadt. Kassel.

Kassel.

            
Edifício típico da desaparecida "Cidade Velha" ("Altstadt") de Kassel.

               
Outro local emblemático da "Cidade Velha" ("Altstadt") de Kassel. A "Druselturm" uma torre pertencente às antigas muralhas da cidade, demolidas a partir do século XVIII. É o único elemento arquitetónico medieval sobrevivente desta área, não muito longe da igreja "Martinskirche". Reparar no seu telhado, que lá foi colocado em 1906, após ter ardido no ano anterior (1905).

Altstadt. Kassel.

Altstadt. Kassel.

Altstadt. Kassel.

             
Perspetiva sobre a "Cidade Velha" ("Altstadt") de Kassel, em 1939.

         
A praça central Koenigsplatz, antes da 2ª Guerra Mundial.

Koenigsplatz. Kassel.

Koenigsplatz. Kassel.

Koenigsplatz. Kassel.

Koenigsplatz Kassel.

Friedrichsplatz, Kassel.
























As fotos anteriores referem -se ao Museu Friedricianum e à sua destruição ocorrida ainda em 1941. Este Museu de Kassel havia sido um dos primeiros museus públicos do Mundo, tendo sido  inaugurado logo depois do British Museum de Londres que era o primeiro.


O Presidente Theodor Heuss na reconstrução do Museu Friedricianum em 1953.

                                                                   Kassel.

                                                              Kassel.

Fachada principal da Câmara Municipal ("Rathaus") de Kassel. Reparar na fonte que existia nesse local.

A fonte que antes existia em frente da Câmara Municipal ("Rathaus") de Kassel.

A referida fonte aquando da sua destruição.
              
Desenho do lugar onde antes existia a referida fonte.

Vista aérea sobre a Cidade Velha ("Altstadt") de Kassel antes da Guerra. É possível discernir, pela evidente grande concentração urbana, a permeabilidade a incêndios que uma zona destas apresentava. Foi precisamente este aspeto que o Comando de Bombardeiros da R.A.F. procurou explorar nos diversos e cada vez mais frequentes "bombardeamentos por área", que foram efetuados sobretudo nos últimos dois anos e meio de guerra.



Fotografia da Cidade Velha ("Altstadt") a ser atingida por vários incêndios em simultâneo, num dos mais graves bombardeamentos noturnos sobre Kassel.
                          
O centro da cidade de Kassel depois dos bombardeamentos da Guerra. O mais grave de todos ocorreu na noite de 22 para 23 de Outubro de 1943. Este raid havia sido precedido de um outro, no começo desse mês de Outubro, mas que havia fracassado, quer devido à presença de caças defensivos em número apreciável, quer devido a uma marcação de alvo mal conseguida. Era uma cidade bem defendida, devido à sua importância, mas desta vez foi possível iludir a sua defesa aérea. Uma força pequena destacada de aviões caças "Mosquito", lançou uma série de iluminadores de alvo e algumas pequenas bombas em Frankfurt. Desta forma, a "Hessicher Luftwaffe", responsável pela cobertura aérea da região, decidiu concentrar as suas esquadrilhas defensivas na zona de Frankfurt que, por esta altura, estava a ser um dos alvos preferenciais da R.A.F.. Ao tomar esta medida, deixou desprotegida a zona de Kassel, que era o verdadeiro alvo dessa noite. Os aviões "Pathfinders" "Mosquito" que precediam sempre a força principal de bombardeiros, conseguiram desta vez uma marcação de alvo bem precisa e bem concentrada no alvo selecionado que era à volta da Martinsplatz, localizada bem no centro da Cidade Velha de Kassel. A formação de bombardeiros quadrimotores, que vinha atrás não teve grande dificuldade em chegar ao alvo, que havia ficado bem iluminado. Por outro lado, as formações de bombardeiros da R.A.F., já há algum tempo que adoptavam uma disposição preferencialmente compacta, para além de conseguirem reunir um número de bombardeiros superior a 500, que foi o que aconteceu nesta ocasião. A forma de bombardear era também, cada vez mais, lançar a maior quantidade de bombas possível, no menor espaço de tempo e, como já foi referido atrás, as bombas incendiárias eram a carga predominante. Mas as bombas explosivas, apesar de minoritárias, também "cumpriam" a sua função, principalmente porque agora se estava a utilizar, em quantidade crescente, um tipo de bomba a que também já atrás se fez uma referência mais detalhada, o "blockbuster" cilíndrico. Este bombardeamento de Kassel seguiu a mesma "cartilha" de muitos outros: no início são largadas preferencialmente cargas explosivas, que provocam uma, inicialmente maior, destruição material e têm também um efeito desencorajador quanto à preparação das brigadas de defesa civil, onde surgem à cabeça os bombeiros. Em Kassel, esta "abertura" foi particularmente "feroz". Conta-se que alguns daqueles referidos "cilindros", ao caírem nas partes mais baixas do rio Fulda, provocaram tais deslocações de água, que houve aqui e ali episódios de inundações. Estas inundações eram particularmente gravosas para quem havia buscado refúgio nas caves dos edifícios. Depois, apesar de continuarem a cair bombas explosivas de vários calibres, a carga foi sobretudo incendiária e começaram a gerar-se pequenos focos em diversos sítios, mas dentro de uma área algo circunscrita. O facto do bombardeamento ainda estar em curso, devido à acumulação de destroços nas ruas e às cada vez mais numerosas crateras, não foi possível acudir em tempo útil a zona dos incêndios. Desta forma, estes diversos focos uniram-se, no espaço de mais ou menos um quarto de hora, formando-se uma larga conflagração que acabou por degenerar na tão temida "tempestade de fogo". Aliás, historicamente, esta é referida como a "2ª tempestade de fogo depois de Hamburgo". Aliás, muito daquilo que se havia observado em Hamburgo, três meses antes, também aconteceu em Kassel em diferentes graus. O sistema de abrigos antiaéreos "improvisado" para esta cidade, em especial na zona da Cidade Velha, não evitou um grande número de fatalidades ocorridas, em especial nas caves. Como acontecera noutras localidades, estas foram como que "ligadas" entre si, de forma a se poderem constituir "corredores de fuga" quando necessário. Basicamente, abria-se um buraco na parede que separava uma cave de outra. Acontece que, não se abriram passagens ou túneis para fora dos núcleos urbanos onde se concentravam estas caves, quase todas muito antigas. Isto levou a que, numa conflagração daquela natureza, ainda que se possa compreender que nunca é uma situação previsível, a única fuga possível era andar em "circuito fechado" naqueles subterrâneos, sabendo-se que, quer para onde se fosse, corria-se sempre o risco de encontrar fogo e derrocadas. Estas aberturas entre-caves, acabaram por se revelar, em mais do que uma situação, como facilitadoras, quer da propagação de incêndios, ao quebrar-se uma importante barreira antifogo entre os edifícios, quer da entrada de fumos e gases eventualmente tóxicos, resultantes da combustão, com destaque para o monóxido de carbono. Houve locais em que continuou a haver incêndios por vários dias. O número total de vítimas rondou as 7.000. Os alvos industriais, considerados como "oficialmente" a razão deste ataque, também sofreram importantes danos. Aliás, depois da Guerra, esta cidade perdeu muito da sua original importância, quer pela destruição sofrida, quer pelo facto de ter ficado perto da dita "Cortina de Ferro" que dividiu a Alemanha até 1989 e provocaria o êxodo gradual de muita da sua população original. Houve casos em a sua "secundarização" foi tal, que chegava a não aparecer nos mapas, deixando de ser uma das cidades emblemáticas da R.F.A., para vantagem de outras como Frankfurt e Wiesbaden. Repare-se que, antes da Guerra, Kassel era a capital original da região do Hesse, ou seja, era esta cidade a denominada "Hessicher Hauptstadt", sendo inclusive dotada de edifícios e monumentos reveladores da sua centralidade e associados à sua realeza, como acontecia com outras, com destaque para Hanôver, Munique ("München"), Braunschweig/Brunswick, DresdenPotsdam.
Reparar na torre 
"Druselturm", à direita, sem o telhado que lhe havia sido posto em 1906, isolada no meio da destruição geral.

Kassel, 1943.

Kassel, 1943.

St. MartinskircheKassel.

St. MartinskircheKassel.


                            
                      A grande igreja Martinskirche, Kassel, destruída principalmente pelo fogo, em 1945 A "irmã" da Igreja de Nossa Senhora de Týn ("Kostel Matky Boží před Týnem") de Praga, havia deixado de o ser...

Kassel.

Orangerie, Kassel.

Orangerie, Kassel, após a noite de 22 para 23 de Outubro de 1943.






Leipzig. Ao centro, a "Nova Câmara Municipal" ("Neues Rathaus") e a sua emblemática torre central.


Leipzig. Perspetiva do centro da cidade ("Markt Platz"), onde se vê a "Antiga Câmara Municipal" ("Altes Rathaus"), ao centro, à direita.


Leipzig. Pormenor do centro da cidade. Dois grandes hotéis em destaque, até ao grande bombardeamento noturno de 3/4 de Dezembro de 1943.

Leipzig. Monumento dedicado à Guerra que ficou conhecida como "A Batalha das Nações".

Leipzig. A "Antiga Câmara Municipal" ("Altes Rathaus").




Leipzig. O grande teatro "Neues Theater", antes situado na praça central Augustusplatz. Destruído na noite de 4 de Dezembro de 1943, não foi reconstruído.


Pintura representando a destruição grande teatro "Neues Theater", antes situado na praça central Augustusplatz, na noite de 4 de Dezembro de 1943.

















Leipzig. A Universidade e a respetiva Igreja na praça central Augustusplatz. Destruída na noite de 4 de Dezembro de 1943, a parte do edifício da Universidade não foi reconstruída e ficaria em ruínas durante 25 anos. A parte da Igreja, que havia sofrido poucos danos, acabaria por ser também demolida em 1968, apesar dos protestos.


Leipzig. Praça Augustusplatz.



Leipzig. Praça Augustusplatz. O desaparecido museu "Bildermuseum". Ardeu completamente no grande bombardeamento noturno de 3/4 de Dezembro de 1943.


Leipzig. A grande Estação Central ("Hauptbahnhof").






Leipzig. O edifício do "Reichsgericht".













Leipzig. O edifício da "Gewandhaus". Danificado em 1944, não foi reconstruído.


Leipzig. Edifício universitário.


Leipzig. Aspeto da rua central BurgstraBe, onde existia o muito afamado Restaurante "Thüringer Hof". A igreja que se vê ao fundo é a "Thomaskirche". Esta zona foi uma das mais danificadas em 4 de Dezembro de 1943.

Leipzig. O Grande Hotel "Sachsenhof" foi muito destruído, a sua magnífica fachada desapareceu completamente.

Leipzig. O Grande Hotel "Sachsenhof". Pormenor da fachada central.

Leipzig.  O Grande Hotel "Sachsenhof". Pormenor da escadaria principal.

Leipzig. A Igreja de S.Tomás ("Thomaskirche") foi da mais danificadas.

Leipzig. A grande "Biblioteca Alemã" ("Deutsche Bücherei") também foi muito danificada.

Leipzig. A "igreja russa", antes de 1943. Foi reconstruída depois da Guerra.

Leipzig. A grande Estação dos Correios ("HauptPostamt") que, até 1943, existia na praça central Augustusplatz.





Leipzig. A mesmo edifício da imagem anterior ("HauptPostamt"), depois da destruição.


Leipzig. A igreja Johanniskirche na sua construção original.

Leipzig. A igreja Johanniskirche na sua construção final em estilo Neo-barroco, até Dezembro de 1943.

Leipzig. A igreja Johanniskirche, tal como outros edifícios desta cidade, ficaria em ruínas durante vários anos.

Leipzig. A igreja Johanniskirche durante o pós-guerra.

Leipzig. Vista geral da igreja Johanniskirche em ruínas.

Leipzig. O interior arruinado da igreja Johanniskirche.

Leipzig. Anos depois, a igreja Johanniskirche foi sendo gradualmente demolida. A sua torre principal foi a última parte a desaparecer.

A cidade de Leipzig, começou a tomar medidas preventivas contra uma eventual guerra ainda na década de 1930. Começar-se-ia a planear, então, a construção de futuros abrigos para a população civil. O problema das "bocas de incêndio", que não estavam feitas para veículos anti-fogo de brigadas exteriores a Leipzig, dificultaria o combate aos incêndios ocorridos durante a Guerra.  
As medidas tomadas, todavia, não livrariam Leipzig de vir a ser  palco da 3ª "tempestade de fogo" ocorrida na 2ª Grande Guerra Mundial no dia 4 de Dezembro de 1943. Não é dado grande destaque a esta ocorrência, mas um inspetor de incêndios de Hamburgo, que se encontrava na ocasião em Leipzig, diria que esta "tempestade de fogo" lhe pareceu "ainda mais violenta do que a de Hamburgo", ocorrida meses antes. Apesar de tudo, o número de vítimas não foi tão elevado como inicialmente se chegou a pensar. O facto das brigadas anti-fogo, provenientes de outras localidades não poderem encaixar as suas mangueiras nas "bocas de incêndio" existentes em Leipzig, bem como o rápido esgotamento das reservas de água disponíveis, revelaram-se decisivos no rápido alastrar da conflagração. A maior parte da destruição que Leipzig apresentava no final da Guerra foi causada precisamente nesta noite. 

De facto, o ataque aéreo mais pesado foi realizado pela RAF nas primeiras horas de 4 de dezembro de 1943 e ceifou mais de 1800 vidas. O centro da cidade foi em grande parte destruído, enquanto as plantas industriais sofreram apenas perdas temporárias de produção e foram posteriormente parcialmente realocadas ou descentralizadas.

Cerca de 6.000 pessoas perderam a vida em Leipzig durante os bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial.


Mapa de parte do centro da cidade de Leipzig, posterior a 4 de Dezembro de 1943, mostrando "a escuro" a área destruída no bombardeamento dessa madrugada.


Mapas da época mostram a grande área destruída no centro desta cidade. Apesar de tudo, o seu nível de destruição total, não chegou ao de outras como Hamburgo, Dresden, Essen, Düsseldorf, Colónia, Frankfurt ou Würzburg.









Leipzig.


Leipzig.

Leipzig.

Leipzig.

Leipzig.

Leipzig.

Leipzig.

Leipzig. Detalhe das ruínas do "Neues Theather", antes situado na praça Augustusplatz.

Leipzig. Detalhe do interior das ruínas do "Neues Theather", antes situado na praça Augustusplatz.

Leipzig.







Muitos consideraram, e ainda mais hoje consideram, a continuação desta política de bombardeamentos por área nesta fase do conflito como algo discutível. Isto porque a Alemanha estava numa situação de eminente derrota, já não tinha praticamente condições de executar contra-ataques, estava apenas na defensiva, com muito das suas linhas de comunicação inoperacionais e a sua produção industrial havia caído para níveis mínimos. Para além disto havia falta de combustível e, também associado a isto, a sua força aérea estava desorganizada e derrotada pelas esquadrilhas aliadas que podiam alcançar qualquer ponto do seu território. Para além disto, os aliados haviam conseguido aperfeiçoar as suas técnicas de interferência nos radares germânicos, quer simulando "falsos bombardeamentos" fora dos alvos reais, quer recorrendo a uma contramedida muito eficaz, conhecida pelo nome "Window". Esta contramedida, consistia em lançar películas de alumínio e papel brilhante, quando se aproximavam dos alvos a bombardear. Nos radares alemães, modelo "Würzburg", essas nuvens de "Window", eram detetadas como se fossem formações reais de bombardeiros. Os caças defensivos eram orientados para essas localizações... e nada encontravam, sendo assim desviados das formações reais dos bombardeiros, que podiam sobrevoar os seus alvos sofrendo menos baixas.

Nos meses subsequentes aos desembarques na Normandia e aproveitando esta descoordenação generalizada das defesas germânicas, as forças aéreas britânica e americana, começaram a apoiar diretamente os avanços das tropas no terreno. Tinham agora a possibilidade de utilizar os aeródromos existentes em França e as suas linhas de abastecimento estavam cada vez mais próximas e consolidadas. Várias operações em zonas estratégicas, que podiam implicar o bombardeamento de diversas localidades, num único dia e mesmo em simultâneo, eram organizadas para facilitar o avanço das tropas aliadas no terreno. Um exemplo paradigmático destas cidades bombardeadas de forma simultânea e muito concentrada, foi a cidade de Düren, no dia 16 de Novembro de 1944. Esta cidade ficou destruída a 97%. Não foi a única. Quase toda a sua população foi evacuada nos dias seguintes.
Vista aérea de Düren, na zona da Wasserturm, antes da Guerra.

Vista sobre a Wasserturm, depois dos bombardeamentos.

Exemplo de uma rua de Düren, antes da Guerra.

Aspeto paradigmático de uma rua de Düren, depois da Guerra.

Um recanto de Düren, antes de Novembro de 1944. À direita, surge a igreja Marienkirche. Destaque para a estátua em bronze, dedicada ao chefe militar Moltke à esquerda.

Düren. A referida estátua dedicada ao chefe militar Moltke.

O mesmo recanto da imagem anterior, após Novembro de 1944.

A estátua de bronze, dedicada a Moltke, que existia no recanto acima referido, após os bombardeamentos de Novembro de 1944.

A zona do Markt de Düren, com a fachada da Câmara Municipal (Rathaus) à esquerda, antes da Guerra.

A zona do Markt de Düren depois da Guerra. Presume-se que a ruína mais à direita, seja da Câmara Municipal (Rathaus). No amontoado informe de destroços, na metade esquerda da foto, surgem os poucos restos reconhecíveis da igreja Annakirche.

O centro de Düren, transformado em "terra de ninguém". Diversas cidades, inicialmente de "média importância" enquanto alvos estratégicos, ficariam neste estado durante esse período final de 1944-45. Os seus habitantes, durante algum tempo, julgavam que nunca iriam ser bombardeados. Logo depois, a ideia passou a ser exatamente a oposta, isto é, qualquer localidade na Alemanha, incluindo vilas e aldeias, poderia ser alvo de bombardeamentos, de um momento para o outro e sem nenhuma hora específica.

Perspectiva original do Markt, de Düren até 1944. No centro da imagem surge destacada a fachada da antiga Câmara Municipal (Rathaus). É de destacar também a fachada do edifício logo à direita. À esquerda, por detrás dos telhados, descortina-se a torre da Annakirche, a mais importante igreja de Düren. No extremo esquerdo da imagem e mais próximo do observador, surge a forma original de um monumento à Virgem Maria, que existia ao fundo deste largo.

Perspetiva do mesmo local na década de 1970. No centro da imagem surge, de novo por cima dos telhados, a torre da "moderna" Annakirche. À esquerda, é possível descortinar o plinto da forma atual do monumento à Virgem Maria. 

A igreja Annakirche da santa padroeira de Düren, em três fases distintas da sua existência. A forma original, onde se combinavam estilos como o Neo-Gótico e o Barroco; as ruínas irreconhecíveis depois do grande bombardeamento de 16 de Novembro de 1944; a forma "moderna" e atual.

Outra cidade, localizada no distrito de Düren, e de menor extensão, a ser bombardeada exatamente no mesmo dia (16 de Novembro de 1944) foi Jülich, que ficou destruída de igual forma (98%), como é possível observar nas imagens seguintes. 
Vista geral de Jülich, tal como era até 1944. Ligeiramente à esquerda do centro da imagem, é possível descortinar a fachada da Câmara Municipal (Rathaus).

O edifício da Câmara Municipal (Rathaus) de Jülich, anterior a Novembro de 1944.


A rua "WilhelmstraBe" de Jülich anterior a 1944.










O Hotel Hermes, situado junto à porta denominada "Hexenturm" (algo como "Torre das Bruxas"), em 1932.

O mesmo local da imagem anterior, após a quase total destruição de Jülich em 16 de Novembro de 1944.

Vista geral da cidade de Jülich destruída, no final da Guerra. Um aspeto nada diferente de outras localidades, como a já referida Düren. Houve quem afirmasse, sem estar longe da verdade, que Jülich foi a cidade germânica mais destruída durante a última Guerra Mundial. Olhando para o que restou do seu centro urbano, é esta a impressão mais imediata...

Ao contrário do que se julgava, estes bombardeamentos prévios "de preparação do terreno", muitas vezes se revelavam, afinal, dispensáveis quanto ao avanço mais rápido das tropas terrestres aliadas. No caso de Jülich, até criariam uma zona de impasse, com as tropas inimigas entrincheiradas nas suas ruínas e só permitindo a conquista desta cidade (ou do que dela restava...) ao fim de vários meses de intensos combates. O bombardeamento intenso, devastador e num curto espaço de tempo de uma vasta série de cidades localizadas nesta região da Alemanha, onde se incluíam Jülich, Düren, Emmerich, GießenKleve, DülmenGochHeinsberg, Xanten, SiegenRees e Wesel, tinha, segundo se afirmava, o objetivo principal de facilitar a travessia do Reno. Houve casos em que as coisas não se processaram como o previsto...

Ao observar-se a quantidade de povoações germânicas que vinham sendo bombardeadas consoante se ia avançando no terreno, pode-se ficar com a mera impressão de que havia um desejo intenso e insaciável de pura e simples vingança da parte das forças militares aliadas envolvidas no terreno, para não dizer um gostinho especial em provocar o máximo de destruição possível ao inimigo germânico. Na realidade, para um número apreciável de militares, incluindo oficiais de alta patente, a decisão de bombardear centros populacionais que se sabia estarem, por esta altura (1944-1945), virtualmente desprotegidos de força aérea suficiente e eficaz, dado que, na prática os aliados dominavam crescente e quase ilimitadamente o espaço aéreo sobre a Alemanha era, por vezes, uma decisão muito difícil de tomar, com muitos dilemas de natureza moral à mistura. Muitos conseguiram levar as suas missões até ao fim, completamente focados nos objetivos militares e estratégicos, abstraindo-se de quaisquer pensamentos relativamente ao que isso podia implicar do ponto de vista humano. Mas houve outros, em número crescente, que vivenciaram fortes sentimentos de culpa, por vezes insuportáveis, sobretudo com o fim das hostilidades no terreno. Um desses oficiais, para quem o cumprimento do dever não foi sempre conseguido de ânimo leve e cujas palavras podem ser vistas como um paradigma do que se passou com outros, foi o então Tenente-General Sir Brian Horrocks. Ele foi o principal responsável pelo bombardeamento que destruiu a cidade de Kleve a um nível muito similar ao das já aqui exemplificadas Düren e Jülich. Ele foi bem claro ao explicar que tal medida, no meio de tantas outras que houve que tomar durante a Guerra, não foi mais do que uma inadiável e irrefutável necessidade militar. Mas acabou por se revelar um bombardeamento em vão: Kleve foi reduzida a um monte informe de escombros, mas em vez de apoiar a 15ª Divisão escocesa, o mar de detritos, afinal, dificultou ainda mais o progresso no terreno daquela. Cruel ironia... Foi um dos veteranos de guerra que mais mágoas guardou da Guerra, até ao fim da sua longa vida de quase 90 anos.
Sir Brian Horrocks nos primeiros anos da 2ª Guerra Mundial, antes de ser gravemente ferido em 1943, em África, e ficar mais de um ano em recuperação, antes de regressar ao serviço, já no final de 1944. Teria ainda um papel muito importante até ao final da Guerra. As sequelas dos seus ferimentos acabariam, poucos anos depois, por antecipar a sua passagem à reserva.

Sir Brian Horrocks, em 1945, dando instruções às suas tropas, no centro da cidade de Rees, também muito destruída.

Rees. Vista sobre a igreja St. Maria Himmelfahrtkirch e a Câmara Municipal (Rathaus).

Vista aérea sobre o centro (Altmarkt) da cidade de Rees, em 1936.

Rees, igreja St. Maria Himmelfahrtkirch, antes de 1944.


Rees. Aspeto do interior da igreja St. Maria Himmelfahrtkirch antes de 1940.


Sir Brian Horrocks (1895-1985) , ao fazer o seu depoimento pessoal, no começo da década de 1970, para o programa televisivo "World At War", um dos melhores, senão o melhor, alguma vez realizado sobre a 2ª Guerra Mundial.

"I had been asked by them (canadian Commander-General Crear) whether I wanted Kleve to be taken out. By 'taking out' he meant, of course, 'totally destroyed'. This is the the sort of problem with which a general in a war is constantly faced and from which there is no escape. I knew Kleve was a lovely old historic Rhineland town. Anne of Cleves, Henry's VIII's fourth wife, came from there. No doubt a lot of civilians, old men, women and children, were still living there. Their fate depended on how I answered Crear's question and I simply hated the thought of Kleve being 'taken out'. If I said 'No' they would live; if I said 'Yes' they would die. But everything depended on getting a high piece of ground. All the same, if we were going to break out of the bottleneck into the german plain it was a race between the german reserves and the 15th (Scottish) Division and the german reserves would have to come through Kleve. If I could delay them by bombing, it might make all the difference to the battle and, after all, the lives of my own troops must come firstWe would have to breach the Siegfried Line and get there.  So I said 'Yes' - the most terrible decision I had ever had to take  in my life, and I can assure you that I felt almost physically sick when I saw the bombers flying overhead on their deadly mission. I felt a murderer!... And yet people sometimes say to me 'As a general, surely you must like war'. But then, possibly, I have too much imagination and it was fortunate for the British Army that I never rose above corps commander. 
After the war I used to suffer from nightmares and literally for years these always concerned Kleve. Unfortunately, it was even worse than I had imagined. I had specifically asked for incendiaries to be used but, through some error, 1,384 tons of high explosive had been dropped, and the huge craters in Kleve not only held up the german reserves but our own troops as well."  
Kleve (Clèves).

Um aspeto da cidade de Kleve, no final do século XIX.




Aspetos do centro da cidade de Kleve nos primeiros anos do século XX, no seu auge enquanto estância termal.

A cidade de Kleve, antes dos bombardeamentos de 1944-1945.

Fotografia famosa da cidade de Kleve, depois dos bombardeamentos de 1944-1945. Praticamente não existe um único edifício intacto.

Kleve.

Tropas britânicas a atravessarem as ruas de Kleve, em 1945.

Tanques britânicos, modelo "Churchill", a atravessar uma das ruas da muito destruída Kleve, em 1945.



Precisamente no mesmo dia (7 de Outubro de 1944) em que é lançado este primeiro e muito destruidor bombardeamento sobre Kleve, é efetuado outro sobre a não muito distante cidade de Emmerich, localizada perto da fronteira com a Holanda. O nível de destruição resultante de (apenas) esse único bombardeamento é de 91% ou 97%, segundo fontes diversas. Quando acabou a Guerra, tal era o nível de devastação, que chegou a ser lançada a sugestão de se reconstruir, de raiz, a cidade de Emmerich noutro local... Coisa que acabou por não acontecer.

















Emmerich em 1945.


Começava a ser uma prática cada vez mais comum o bombardeio de várias localidades em simultâneo. Entre nos meses de Fevereiro e Março de 1945, esta simultaneidade atingiu o seu auge, na sequência da grande empresa que foi atravessar o Reno, estando quase todas as suas pontes, à exceção de uma em Remagen, destruídas pelos técnicos germânicos.

Por outro lado, na maior parte das cidades mais importantes, já estava destruída a maior parte das suas áreas centrais e limítrofes. Isto produziu a estranha situação de o Comando de Bombardeiros, já escoltado por formações adicionais de caças, começasse a ter escassez de alvos importantes intactos, ou seja, cidades importantes em tamanho e situação estratégica. Foi desta forma que, com mais vigor do que nunca, cidades de tamanho médio ou pequeno, antes não consideradas alvos selecionáveis, começam a ser bombardeadas num relativamente pequeno espaço de tempo.

Paralelamente, sobretudo ao longo do período crucial de 1943 a 1945, diversas cidades de tamanho cada vez mais variável haviam sido alvo de sucessivas e cada vez mais destruidoras "campanhas" de bombardeamento. Seguem-se alguns exemplos das onde houve maior destruição. 

Berlim, por volta de 1940.

Berlim nos anos 1940, antes dos bombardeamentos.


A cidade de Berlim, a capital do "3º Reich", que era o alvo mais importante a atingir pelos bombardeiros aliados e que sofrerá o grosso da sua destruição neste período (1943-1945), será referida num artigo autónomo, a elaborar mais tarde. O mesmo se aplicará outras, como Nuremberga


Ter bem presente que, em primeiro lugar, o que acontecia noutras cidades germânicas, ajudará a compreender melhor a posição das que forem individualmente analisadas.

Vamos ver a cidade de Hanôver...

Maquete da cidade de Hanôver em 1939, existente na Câmara Municipal ("Neues Rathaus").

                    Pormenor do centro da cidade de Hanôver, em 1939, existente na maquete anteriormente referida. Esta cidade, muito importante do ponto de vista estratégico e industrial, tornou-se uma das relativamente mais fáceis de detetar pelos radares das esquadrilhas de bombardeiros aliadas. Desta forma, logo em 1943, com o planeado incremento dos bombardeamentos sobre os países do Eixo, Hanôver sofreu ataques aéreos com alguma regularidade e com resultados devastadores, apesar das técnicas de camuflamento utilizadas pelas equipas de defesa antiaérea e do blackout ("verdunklung") obrigatório. Logo em finais de Julho de 1943, o centro da cidade é mais atingido do que havia, até então, sido habitual.

Zona típica do centro da cidade de Hanôver, no começo do Século XX.


A igreja Aegidienkirche de Hanôver, tal como era originalmente. Esta igreja ficaria para sempre em ruínas como um memorial de guerra.

A igreja Aegidienkirche de Hanôver, tal como era originalmente, inserida na Cidade Velha.

Outro aspeto de uma rua da Cidade Velha de Hanôver, já no século XX, antes da Guerra.

Recanto, hoje inexistente, da Cidade Velha de Hanôver, antes de 1943. Por cima dos telhados, emerge a torre da igreja Kreuzkirche.

Hanôver. Fachada da "Leibnizhaus" original, que antigamente se situava na desaparecida rua SchmiedenstraBe. Nesta casa viveu e morreu o filósofo Leibniz, daí o seu nome. Foi destruída durante os bombardeamentos, em 1943, com especial destaque para o ocorrido na noite de 9 para 10 de Outubro desse ano, que ficou para a posteridade como "o dia negro de Hanôver", quando sofreu a sua maior destruição da Guerra. O que hoje existe é uma réplica da fachada original, reconstruída entre 1981 e 1983, agora situada na na praça Holzmarkt, encostada a outra casa com fachada emblemática, esta última também reconstruída, mas no seu local original.

Hanôver. Interior da casa "Leibnizhaus" original, tal como era antes da sua destruição.

Hanôver. Interior da casa "Leibnizhaus"

Hanôver. Interior da casa "Leibnizhaus".

Hanôver. O edifício "Leibnizhaus" original, localizado na desaparecida rua Schmiedestraße.

Hanôver. O edifício "Leibnizhaus"original, localizado na desaparecida rua Schmiedestraße, nos seus últimos tempos .
 .
Hanôver. O que restava do edifício "Leibnizhaus"original, localizado na desaparecida rua Schmiedestraße, no final da Guerra.

Hanôver.

Hanôver.

Centro da cidade de Hanôver. No centro vê-se a torre da igreja Marktkirche.

A Câmara Municipal Antiga ("Altes Rathaus")de Hanôver.

O interior da Câmara Municipal Antiga ("Altes Rathaus")de Hanôver, tal como já se encontrava em finais de 1943.

Bombardeamento diurno sobre Hanôver.

O centro da cidade de Hanôver, depois dos bombardeamentos.



Hanôver, 1945.

O centro da cidade de Hanôver, em 1945. À esquerda, vêm-se as ruínas da igreja Kreuzkirche.

Outro aspeto do centro de Hanôver, logo a seguir à Guerra.

Maquete da cidade de Hanôver em 1945, existente na Câmara Municipal ("Neues Rathaus"). Numa vasta área, não se vislumbra quase um único telhado... Grande parte deste "resultado" deve-se à utilização das minas aéreas, também conhecidas por "blockbusters" ou "cookies". As bombas incendiárias (com destaque para as "stick bombs") faziam quase todo o resto...

Pormenor do centro da cidade de Hanôver, em 1945, existente na maquete anteriormente referida. Ao centro, vê-se a igreja Marktkirche, tal como se encontrava no final da Guerra.







Planta antiga da Cidade Velha ("Altstadt") de Braunschweig/Brunswick.

Vista aérea da atrás referida  Cidade Velha ("Altstadt")  de Braunschweig/Brunswick, tal como era antes da Guerra.

Vista aérea sobre o centro da cidade de Braunschweig/Brunswick, por volta de 1935. Esta cidade, atualmente, localiza-se no estado da Baixa Saxónia, cuja capital é Hanôver. No centro da imagem observam-se a Catedral ("Dom") e a Câmara Municipal ("Rathaus").

Vista aérea, a cores, sobre a mesma zona de Braunschweig/Brunswick, mas a partir de um ângulo diferente. No centro da imagem, destacam-se, à esquerda, a Câmara Municipal ("Rathaus") tendo, logo por trás, o Palácio de Braunschweig/Brunswick, e, à direita, a Catedral ("Dom").

Braunschweig/Brunswick.


Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.


Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Um exemplo de edifício típico de Braunschweig/Brunswick, existente antes da Guerra.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.



Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

 O Palácio de Braunschweig/Brunswick, antes da Guerra.

O mesmo edifício da imagem anterior, após os bombardeamentos sobre Braunschweig/Brunswick.

O teatro Staatstheater de Braunschweig/Brunswick.

Fotografia do bombardeamento noturno de Braunschweig/Brunswick mais devastador, na mesma área onde se situava, entre outros, o edifício da imagem anterior, aqui em destaque, à esquerda, na foto. Este bombardeamento foi executado no contexto de mais uma curta, mas intensamente devastadora, campanha aérea denominada Operação "Hurricane", já referida atrás, esta por sua vez, executada numa fase já muito avançada da Guerra, em 14-15 de Outubro de 1944.

Pintura representando a "tempestade de fogo" que destruiu Braunschweig/Brunswick, em 15 de Outubro de 1944, na sequência da já referida Operação "Hurricane".

Vista noturna sobre os incêndios de Braunschweig/Brunswick, de meados de Outubro de 1944.

Perspetiva diurna obtida no mesmo local da imagem anterior de Braunschweig/Brunswick.

Braunschweig/Brunswick.

A mesma rua da imagem anterior, após os bombardeamentos sobre Braunschweig/Brunswick.

O centro histórico de Braunschweig/Brunswick, após os bombardeamentos. À esquerda, destaca-se a indicação de um abrigo antiaéreo público.

Perspetiva sobre o centro histórico de Braunschweig/Brunswick, depois da Guerra.

O resultado final da Guerra em Braunschweig/Brunswick.


Braunschweig/Brunswick.








Postal turístico de Freiburg, antes da Guerra.

                                                               Vista aérea sobre Freiburg, antes da Guerra.

Freiburg.

Freiburg.

Freiburg.

Freiburg.

Freiburg.

Freiburg.

Freiburg.

A torre Schwabentor de Freiburg, tal como era originalmente, antes dos acrescentos decorativos feitos no começo do Século XX. Aquando da reconstrução de Freiburg, após a Guerra, reverteu-se a Schwabentor para o seu estilo original, mais simplificado, de acordo com o que surge nesta foto e que é a sua imagem atual.

A zona da torre Schwabentor de Freiburg, por volta de 1935-1940. Destaque para os elementos arquitetónicos adicionais e temporários desta torre que lhe aumentaram muito o tamanho original.

Conjunto de edifícios de Freiburg, junto à Schwabentor, visível à esquerda, antes da Guerra.

A torre Schwabentor de Freiburg, tal como era durante a primeira metade do Século XX.

Catedral/Mosteiro (Dom/Münster) de Freiburg, em dia de feira(?), antes da Guerra.
                                                                           

                                                                 Freiburg.

A rua Kaiser-Joseph-StraBe ou KaisestraBe, ponto nevrálgico do centro de Freiburg. Ao fundo, observa-se a porta Martinstor, que marca o extremo Sul desta autêntica avenida.

Pormenor da rua Kaiser-Joseph-StraBe ou KaisestraBe, em Freiburg, antes dos bombardeamentos da Guerra.

Pormenor de edifícios antes existentes na rua Kaiser-Joseph-StraBe ou KaisestraBe, em Freiburg.

Perspetiva da rua Kaiser-Joseph-StraBe ou KaisestraBe, em Freiburg. Reparar na fonte visível no meio da imagem.

Perspetiva sobre a praça Münsterplatz e a Catedral de Freiburg ("Münster"), partir da mesma fonte da imagem anterior, existente na rua Kaiser-Joseph-StraBe ou KaisestraBe, em Freiburg.

Perspetiva sobre o lado Norte da praça Münsterplatz junto à Catedral de Freiburg.

Este edifício histórico, Kornhaus, localizado no lado Norte do largo Münsterplatz, junto à Catedral de Freiburg, desapareceu literalmente no bombardeamento de 27 de Outubro de 1944. O que lá hoje se encontra é uma réplica, mais ou menos fiel, do original.

Esta característica pitoresca de Freiburg, a existência aqui e ali de ruas estreitas e vielas, acabaria, ironicamente, por facilitar a propagação dos incêndios posteriores ao bombardeamento, nesse entardecer de 27 de Novembro de 1944.

Freiburg.

Freiburg.

Freiburg.

A antiga Câmara Municipal (Altes Rathaus) de Freiburg. Arderia completamente na sequência do bombardeamento de 27 de Novembro de 1944.

FreiburgKaiser-Joseph-StraBe. Imagem a cores onde é possível descortinar um edifício de esquina em estilo "fachwerk". Não era o estilo original deste edifício. Este edifício, desaparecido na Guerra, era essencialmente de pedra ou alvenaria, ainda que com muitos elementos em madeira no seu interior, tal como eram a generalidade dos edifícios de Freiburg, e outras cidades germânicas, antes da Guerra. Não era o que acontecia em outros sítios, como a Cidade Velha ("Altstadt") de Frankfurt. Nesta (Frankfurt), muitos dos edifícios eram, de facto, em "fachwerk". Em Freiburg não era o caso. Este edifício de esquina ganhou este aspeto já na década de 1920, ou mesmo na de 1930, por causa da tabacaria que nele se instalou e que era um dos ex-libris, pelo menos, da rua Kaiser-Joseph-StraBe, até aos bombardeamentos do Outono de 1944.

A fonte original Bertoldsbrunnen na Kaiser-Joseph-StraBe, no centro de Freiburg. À frente, o edifício da tabacaria, mencionado na foto anterior. Este edifício foi um dos muitos exemplos, se não nos enganamos, de uma vaga verdadeiramente "historicista", que percorreu muitas cidades germânicas nos anos imediatamente anteriores à Guerra. Tratou-se de reproduzir o aspeto "fachwerk" na fachada exterior de diversos edifícios, mesmo em alguns, como este, que não o eram de raiz. Aliás, em Frankfurt, por exemplo, surgem muitos exemplos de edifícios cujo aspeto mais recente, antes da sua destruição, parece "mais antigo" em relação ao que apresentavam as durante décadas seguidas da sua existência. Qual a razão desta "moda"? Não nos foi possível apurar...

Freiburg. Kaiser-Joseph-StraBe.

O extremo Norte da rua Kaiser-Joseph-StraBe, via central de Freiburg.

O extremo Norte da rua Kaiser-Joseph-StraBe, via central de Freiburg, visto de um ângulo oposto.

A igreja Ludwigskirche localizada nesta zona da Rua Kaiser-Joseph-StraBe em Freiburg.

A Rua Kaiser-Joseph-StraBe, durante o período nazi, por volta de 1936-1940, em Freiburg. Por esta altura, esta rua designava-se então "Adolf Hitler StraBe". 

                               No topo do pináculo da Catedral/Mosteiro ("Dom/Münster") de Freiburg.

Freiburg. Após o devastador bombardeamento da "Tigerfish Operation", efetuado em 27 de Novembro de 1944.

Perspetiva sobre o lado Sul da praça central Münsterplatz, onde se localiza a Catedral de Freiburg. Um pequeno núcleo de casas, visível ao fundo, escapou quase por milagre, quer ao bombardeamento, quer aos incêndios que se geraram posteriormente. Entre estes poucos edifícios originais sobreviventes da praça Münsterplatz, está o Historische Kaufhaus, de cor mais escura.

Perspetiva sobre o completamente arrasado lado Norte da praça Münsterplatz, a partir do telhado da Catedral de Freiburg. Entre os edifícios aqui antes existentes, estava a versão original do atrás referido Kornhaus.

Perspetiva sobre o lado Oeste da praça Münsterplatz a partir dos telhados da Catedral de Freiburg. Apesar de essencialmente preservado, este edifício acabou por sofrer efeitos das deslocações de ar provocadas pelas explosões ocorridas nas proximidades, que lhe levantaram a maior parte das telhas originais e lhe estilhaçaram os vitrais.

                                                                            Freiburg.

                                                                             Freiburg.

À esquerda, vêem-se as ruínas dos edifícios da Universidade de Freiburg, situada na rua BertoldstraBe, depois de 1944.

Freiburg.

Freiburg.

Regressando à vida dita "quotidiana" em Freiburg, após os bombardeamentos de Novembro de 1944 e do começo de 1945.

Da, então, "Adolf Hitler StraBe", de Freiburg, não restava um único edifício intacto, em 1945. Ao fundo, à esquerda, surge o telhado da torre Martinstor, que havia escapado, por pouco, à destruição.

A torre Martinstor de Freiburg, vista do lado contrário. Por este arco entrava-se na Rua Kaiser-Joseph-StraBe.

Entrada do Exército Americano, em Freiburg, de passagem pela Martinsntor.

O centro de Freiburg, em 1945. A Catedral surge quase intacta, isolada no meio de um cenário de destruição quase total, salvo uns restos de casas visíveis no canto inferior direito da imagem. À esquerda, bem delineada, a , então, Adolf Hitler StraBe não era mais do que uma longa avenida bordejada de restos de edifícios. Acabou por ser o epicentro da Operação "Tigerfish".
                                                                             

Freiburg. A vermelho está indicada a zona destruída na Operação "Tigerfish", de 27 de Novembro de 1944. Percebe-se que foi um bombardeamento muito concentrado, resultante de uma eficaz marcação do alvo.  
                                                                      
Perspetiva sobre a reconstrução do centro da cidade de Freiburg no pós-Guerra, por volta de 1994. Ao contrário do que aconteceu com diversas outras cidades destruídas, houve aqui um maior rigor quanto à altura média dos edifícios, pelo menos no que respeita ao núcleo denominado "centro histórico". Mesmo relativamente ao estilo arquitetónico dos novos edifícios então construídos, tentou seguir-se uma linha que não chocasse demasiado com os agrupamentos de edifícios que sobreviveram à Guerra mais ou menos intactos. Olhando para a fotografia de 1945, há que reconhecer que foi um trabalho notável, apesar das réplicas do que existia antes serem, de facto, uma minoria, por razões de tempo e dinheiro. Efetivamente, é como alguns têm comentado: "Freiburg does look old, but the real old parts are scarce".




                                             Maquete da "Cidade Velha" de Heilbronn.

Heilbronn. Ponte sobre o rio Neckar e começo da rua KaiserstraBe.


A Câmara Municipal (Rathausde Heilbronn, antes do incêndio, na sequência de um bombardeamento, que a destruiria durante a Guerra.

Heilbronn. Perspetiva sobre a rua KaiserstraBe a praça Marktplatz. Destaque para o edifício de esquina, à esquerda, conhecido pelo nome de "Käthchenhaus". À direita, vê-se parte da Câmara Municipal (Rathaus).

À esquerda a Käthchenhaus e à direita a Câmara Municipal (Rathaus), os dois edifícios mais emblemáticos da praça Marktplatz de Heilbronn, em 1939.

A Câmara Municipal (Rathaus) de Heilbronn, depois de 1944.

Perspetiva sobre a rua KaiserstraBe obtida a partir da torre principal da Catedral de St. Kilian de Heilbronn, no final da década de 1930.

A Catedral ("St. Kiliansdom") de Heilbronn, por volta de 1900-1910.

Livro sobre Heilbronn, onde aparece uma fotografia obtida junto à praça St. Kiliansplatz e no cruzamento de várias ruas, sendo a mais importante a já referida KaiserstraBe .
 
O mesmo local de Heilbronn, que aparece na capa de livro anterior, depois de 1945.


Visão dos incêndios subsequentes ao grande bombardeamento de Heilbronn, ocorrido na noite de 4 de Dezembro de 1944. A igreja, cuja silhueta se observa na imagem destacada no clarão dos fogos, foi a única da "Cidade Velha" de Heilbronn, que escapou intacta.


Na noite de 4 de Dezembro de 1944Heilbronn foi palco de uma violenta e devastadora"tempestade de fogo" ("firestorm").


Vista aérea sobre o centro de Heilbronn, depois dos bombardeamentos.


Perspectiva de uma rua junto à Catedral ("St. Kiliansdom") de Heilbronn, depois dos bombardeamentos.


O centro histórico de Heilbronn, em 1945.


A zona da cidade de Heilbronn, junto ao rio Neckar, após 1945.


Chegada do exército americano a Heilbronn.


Batalha pela cidade de Heilbronn.


A batalha por Heilbronn, chegou a durar 10 dias.

                                       Maquete da destruição em Heilbronn, após 1945.




Ulm. Vista sobre a sua igreja mais importante: Ulmer Münster. 

Ulm. Esta cidade é famosa no mundo inteiro por nela existir a igreja mais alta do Mundo.


O centro histórico de Ulm e o rio que atravessa esta cidade do Sul da Alemanha: o Danúbio ("Donau"). 


Ulm. Esta cidade tinha um dos centros históricos mais pitorescos da Alemanha.

Ulm. Câmara Municipal ("Rathaus").

Ulm. Pormenor da Câmara Municipal ("Rathaus").

Ulm.

Ulm.

Ulm.

Ulm.

Ulm. Câmara Municipal ("Rathaus").

Ulm em 1939.

Ulm. Aspeto da casa onde nasceu Albert Einstein (1879-1955). Desapareceu no bombardeamento noturno de 17 de Dezembro de1944.

Ulm. Na noite de 17 de Dezembro de 1944, esta cidade foi alvo de um bombardeamento particularmente destruidor, que lhe destruiu mais de 80% do seu centro histórico original.


Ulm. Mapa da destruição sofrida em 1944/1945.







Neumarkt in der Oberpfalz, localizada na Baviera, foi o exemplo paradigmático de diversas localidades de menor tamanho que não aparecem no mapa e, por isso, raramente mencionadas que, durante o avanço dos Aliados em território germânico, foram destruídas no decurso das diversas batalhas no terreno.

Neumarkt in der Oberpfalz.

Neumarkt in der Oberpfalz.

Neumarkt in der Oberpfalz.

Neumarkt in der Oberpfalz.

Neumarkt in der Oberpfalz.

Neumarkt in der Oberpfalz.

Neumarkt in der Oberpfalz.

A Câmara Municipal ("Rathaus") de Neumarkt in der Oberpfalz.

Aspeto do interior da Câmara Municipal ("Rathaus") de Neumarkt in der Oberpfalz, antes de 1945.

A Câmara Municipal ("Rathaus") de Neumarkt in der Oberpfalz, depois de 1945.

Neumarkt in der Oberpfalz depois de 1945.

Neumarkt in der Oberpfalz, depois de 1945.

Neumarkt in der Oberpfalz.
 Esta pequena cidade foi, sobretudo, destruída já em 1945, pouco antes das forças aliadas nela entrarem e a muito poucas semanas do final da Guerra, quando já era mais do que evidente a próxima derrota final da Alemanha nazi. Nessa fase, a sua destruição foi o resultado de uma combinação de bombardeamento aéreo com fogo de artilharia. Os incêndios subsequentes, fizeram o resto.







Hildesheim, foi um dos diversos exemplos de cidades germânicas que, inicialmente, não era previsto bombardear. Todavia, no último ano da Guerra, como consequência da progressiva escassez de alvos intactos para a aviação aliada bombardear e da "necessidade" de forçar o inimigo germânico à rendição, para apressar o final do conflito, esta cidade foi também incluída na "lista" de alvos a bombardear. O maior bombardeamento que esta cidade sofreu foi em 22 de Março de 1945. Só décadas depois, esta cidade teria parte do seu património original restaurado, após a sua quase completa descaracterização a partir de 1945, derivada da necessidade de recuperar o parque habitacional que, tal como noutras cidades germânicas, era muito escasso. O edifício mais em destaque no centro desta imagem é a igreja St. Andreaskirche.


Hildesheim.


Perspetiva sobre os telhados do centro histórico original de Hildesheim, tal como era antes de 1944-1945, obtida dos telhados da St. Andreaskirche.


Hildesheim.


Hildesheim.


Hildesheim.



Rua central de Hildesheim, tendo, ao fundo a torre da igreja St. Andreaskircheantes de 1945.


Hildesheim.


A Câmara Municipal (Rathaus) de Hildesheim.


Hildesheim.


À esquerda, a Tempelhaus de Hildesheim.


Hildesheim.


Hildesheim.


Um aspeto da emblemática praça Marktplatz de Hildesheim, no começo do Século XX.



Hildesheim.

Hildesheim.


A Catedral (Dom) de Hildesheim, antes de 1945.


Segundo a lenda, encostada à cabeceira da Catedral de Hildesheim, existe uma roseira com aproximadamente 1000 anos. Aquando do bombardeamento de 1945, esta parte da Catedral ruiu, afetando seriamente a planta. Chegou a julgar-se que a lendária planta tinha morrido. No entanto, a raiz estava bem preservada, e a roseira voltou a crescer. Segundo a lenda, enquanto a roseira sobreviver, a cidade de Hildesheim irá prosperando.


Aspeto da nave central da Catedral (Dom) de Hildesheim, antes de 1945.


Órgão original da Catedral de Hildesheim.


Cadeiral original da Catedral de Hildesheim, antes da Guerra.


Elemento de decoração barroco da Catedral de Hildesheim, antes de 1945.


A cripta da Catedral (Dom) de Hildesheim. Não escaparia à destruição em 1945.


Ruínas da Catedral (Dom) de Hildesheim, depois de 1945. Seria uma das catedrais germânicas mais destruídas durante a Guerra.


 A igreja St. Andreaskirche de Hildesheim, no meio do casario original, antes da Guerra.


Interior da igreja St. Andreaskirche de Hildesheim.


Outra perspetiva do interior da igreja St. Andreaskirche de Hildesheim, com destaque para o órgão de tubos original.


Aspeto exterior da igreja St. Andreaskirche de Hildesheim, depois dos bombardeamentos da Guerra.


Nave central e altar da igreja St. Andreaskirche de Hildesheim, depois da Guerra. Ficaria assim durante alguns anos.


Vista aérea sobre Hildesheim, depois dos bombardeamentos.


Vista aérea sobre o centro de Hildesheim, em 1945.


Hildesheim em 1945.


À esquerda, a Tempelhaus e, à direita, a torre da igreja St. Andreaskirche de Hildesheim, tal como se encontravam em 1945.


 O centro da cidade de Hildesheim, em ruínas, depois de 1945.

Nesta fase do conflito, a Alemanha só ripostava através das recentemente desenvolvidas armas V1 e V2, o que já não tinha qualquer impacto na mudança do curso dos acontecimentos. Muitas falham os alvos pretendidos, mas as que acertam, principalmente no que se refere às V2, precursoras dos futuros foguetões balísticos, causam estragos de salientar. Dentro da Alemanha circulava ainda a promessa da criação de "novas armas" ainda mais destruidoras. Estas absurdas retaliações associadas à descoberta sucessiva dos campos de concentração, constituirão, para todos aqueles que, por múltiplas razões, incentivavam a política de bombardeamentos maciços de Arthur Harris, uma motivação para se continuar a proceder assim quase até ao final da guerra.

Em 1944, era muito frequente as principais cidades alemãs serem bombardeadas dia e noite de uma forma cada vez mais sistemática e certeira. Não era invulgar haver esta quase permanente "névoa" quase a tapar a luz solar.

Esta imagem da cidade de Hagen pode ser considerada um paradigma crescente de diversas cidades germânicas, nesse ano de 1944.

No entanto, será necessário também frisar que toda aquela vaga inédita de bombardeamentos, quase incessantes, sobre a Alemanha entre o Verão de 1944 e a rendição desta em Maio de 1945, foi uma consequência também da ideia desesperada de transformar diversas cidades ou aglomerados populacionais próximos, de menor dimensão, em "fortalezas" que deveriam resistir "até ao último homem", preconizada por Hitler e seguida por diversos chefes militares, muitas vezes com fanatismo evidente. Esta medida revelou-se 100% fútil e só contribuiu para a sua transformação em vastas áreas de destroços, onde não se via um único edifício de pé. Por outro lado, quaisquer tentativas de negociar uma rendição, ainda que local, com as forças aliadas, que progrediam invencíveis, mostrando bandeiras brancas, eram consideradas actos de deserção, derrotismo e traição, que eram quase sempre punidos pelo regime nazi com execução sumária. Foram, por isso, actos de grande coragem as diversas rendições que houve aqui e ali em solo germânico e que evitaram mais mortes e destruições de património desnecessárias. Daí se poderá, sem dúvida, atribuir a culpa de muito do sofrimento do povo alemão, nesses longos e penosos meses finais da guerra, ao próprio Hitler e seus subalternos e seguidores.

Vista sobre o centro histórico de Dresden, antes de 1945. Destaque para os edifícios do Palácio Real ("ResidenzschloB") e a igreja Hofkirche, à esquerda e ao centro, e a igreja Frauenkirche, ao longe, à direita. 

Vista aérea sobre o mesmo local da foto anterior, mas a partir de outro ângulo, antes da Guerra.

    Vista aérea sobre outra parte do centro histórico ("Altstadt") de Dresden, antes da Guerra. 

Vista sobre o centro histórico de Dresden, após os bombardeamentos de Fevereiro de 1945.

Dresden. Perspetiva sobre o Altmarkt, em dia de feira, por volta de 1900.


Dresden. Perspetiva sobre o Altmarkt de um outro ângulo, por volta de 1900.


Dresden. Aspeto do Altmarkt pouco antes da Guerra.


Dresden. Imagem famosa e chocante do Altmarkt, para onde foram transportados grande parte dos corpos das vítimas dos grandes bombardeamentos de meados de Fevereiro de 1945.





Hauptbahnhof. Dresden.

Vista sobre a Altstadt de Dresden, antes de Fevereiro de 1945. Em destaque, à direita, a igreja Frauenkirche.


Vista sobre Dresden, com a Frauenkirche, ao centro.

A Frauenkirche original de Dresden, antes de 1945. Percebe-se a antiguidade das pedras que a constituíam originalmente.


Interior da igreja Frauenkirche de Dresden, antes de 1945. Reparar nos tubos do órgão.


A cúpula original da igreja Frauenkirche de Dresden, antes de 1945.

A Frauenkirche ficaria em ruínas durante décadas, como um memorial de guerra. Seria reconstruída já neste século XXI.
 

Dresden. A estátua de Lutero, em frente da igreja Frauenkirche, foi literalmente atirada para longe do seu pedestal, com a força das explosões dos bombardeamentos de Fevereiro de 1945.

Dresden. Edifício da Ópera "Semper" antes da Guerra.

Dresden. Aspeto do interior do edifício da Ópera "Semper", antes da Guerra.

Dresden. Perspetiva sobre o Zwinger, visível na metade esquerda da imagem, e a igreja Sophienkirche e parte do complexo de edifícios que constituíam o Palácio Real ("ResidenzschloB"), à direita, antes da Guerra.

 Em primeiro plano, o Zwinger e, à direita, por trás, a igreja Sophienkirche de Dresden.

 O interior da igreja Sophienkirche de Dresden, antes da Guerra.

Uma das alas do Zwinger, com destaque para a sua entrada principal, tal como hoje existe, mas com a presença, à direita, da igreja Sophienkirche de Dresden.

Depois dos bombardeamentos de meados de Fevereiro de 1945 sobre Dresden, a igreja Sophienkirche ficaria em ruínas durante muitos anos, até estas serem definitivamente removidas em 1962. Esta igreja podia ter sido restaurada, mas isso não se verificou, devido desinteresse manifestado pelos poderes locais de então. Um dos argumentos, então, para a sua eliminação foi a de que "uma cidade socialista não precisa de igrejas góticas".



Os habitantes de Dresden, retomando a vida quotidiana, durante a denominada "Stunde Null" ("Hora Zero").

Dresden, mais uma "cidade morta".

Dresden. Escadaria de Nenhures para Nenhum Lado ("Stairway from Nowhere to Nowhere").

Filme sobre a cidade de Dresden antes da Guerra (1935).

Filme, provavelmente, gravado na noite de 13 de Fevereiro de 1945. A perspetiva dos bombardeiros. 

No entanto, principalmente depois da destruição da cidade de Dresden, entre 13 e 15 de Fevereiro, sem defesas aéreas e submergida em refugiados vindos do Leste, para escapar ao Exército Vermelho soviético, e também por outros que a julgavam segura por, nesse começo de 1945, ser a maior cidade alemã virtualmente intocada, as atitudes começaram a mudar radicalmente, tanto da parte dos dirigentes aliados como de muita imprensa mundial. 



Mas as destruições de cidades alemãs, apesar do seu menor tamanho, ainda continuariam a suceder-se. Pouco mais de uma semana depois de Dresden, a 23 de Fevereiro, foi a vez da cidade de Pforzheim (em baixo) ficar destruída em mais de 80%, num único bombardeamento, que durou à volta de 20 minutos. A cidade de Würzburg (em baixo, ao centro), originalmente um pequeno aglomerado de edifícios barrocos e religiosos, foi detectada com precisão graças ao radar, ao entardecer do dia 16 de Março, pouco mais de um mês depois de Dresden, tendo ficado destruída a mais de 90%, com um bombardeamento também de muito curta duração, onde foram utilizadas, maioritariamente, bombas incendiárias. Potsdam (mais em baixo) também seria "visitada" a 14 de Abril, ou seja, menos de um mês antes da rendição da Alemanha Nazi. Houve muitos outros bombardeamentos nestes últimos meses que precederam a queda do 3º Reich de Hitler.

Aliás, a carga de bombas lançadas sobre a Alemanha em 1945 até ao começo de Maio (rendição do 3º Reich), praticamente igualou o total de 1944, o qual, por sua vez, quase chegava à totalidade do que havia sido lançado no conjunto dos anos precedentes. De facto, só em 1945, e um pouco na linha do que já vinha acontecendo desde o final do Verão de 1944, diversas localidades, até então quase ou praticamente intactas, que antes nem sequer estavam na lista de prioridades estratégicas dos Aliados, sofreram bombardeamentos devastadores, por vezes diurnos e com formações de aviões menores do que tinha sido muitas vezes habitual. Basta referir também que a precisão no ataque aos alvos, havia atingido o seu zénite exactamente nesses últimos oito meses de guerra.
Ao observar-se a diversidade dos alvos atingidos nessa fase final de bombardeamento da Alemanha, fica-se com algo não muito distante de uma perfeita "lição de geografia alemã". Havia quase a sensação de que qualquer localidade existente em solo alemão seria o próximo alvo a bombardear...



A Praça do Mercado ("Marktplatz") de Pforzheim, antes da Guerra. Destaque para o interessante edifício original da Câmara Municipal ("Rathaus"), desaparecido no bombardeamento de 23 de Fevereiro de 1945, onde ocorreu uma "tempestade de fogo" ("firestorm/Feuersturm"), onde pereceram 17.600 pessoas.


Outra perspetiva, do lado oposto, do "Marktplatz" de Pforzheim, por volta de 1928-1935. Logo à direita, surge o edifício original de uma cervejaria famosa na Europa de então: a "Brauerei Gebrüder Beckh". Aquando da sua inauguração, havia quem reclamasse do facto de ser mais alto do que a Câmara Municipal ("Rathaus") próxima...

Perspetiva sobre a fachada principal da antiga Câmara Municipal ("Rathaus") de Pforzheim, a partir de uma rua perpendicular ao "Marktplatz", hoje inexistente.








Dois aspetos da Câmara Municipal ("Rathaus") de Pforzheim, na sua versão original. Destaque para o desenho do telhado. Repare-se no segundo postal, onde é visível o lateral original do edifício, completamente alterado em remodelações posteriores.


Pormenor da fachada principal da Câmara Municipal ("Rathaus") de Pforzheim, destruída, depois de 1945. O seu famoso relógio de três frentes tinha desaparecido...

Esta parte da Câmara Municipal ("Rathaus") de Pforzheim, ainda que fosse a sua parte mais interessante e emblemática, não foi reconstruída. Pelo menos, se houvesse alguém que pudesse reconstruir este edifício tão interessante em LEGO e apresentasse o resultado final numa exposição... 

Aspeto exterior da atual Câmara Municipal ("Rathaus") de Pforzheim. À esquerda, na foto, vê-se uma parte do antigo edifício que foi preservada até à atualidade.

Reprodução do famoso quadro do pintor espanhol Pablo Picasso, "Guernica", que existe no foyer da Câmara Municipal ("Rathaus") de Pforzheim. Aliás, a cidade de Guernica, em Espanha, na região do País Basco, é uma das diversas municipalidades com as quais a cidade de Pforzheim tem parceria.

Perspetiva de outra zona de Pforzheim, antes de 1945, onde surge bem visível o rio que a atravessa, o Rio Enz.

Outro ângulo de visão desta zona de Pforzheim, junto ao rio Enz, onde surge mais destacada a "Igreja Evangelista", conhecida também pelo nome de "Stadtkirche".


Aspeto do centro da cidade de Pforzheim, antes de 1945.

Pforzheim antes.


Pforzheim depois.


Fotografia aérea do grande bombardeamento de Pforzheim, na noite de 23 de Fevereiro de 1945.

Filme acerca do bombardeamento de Pforzheim e que pode servir de paradigma relativamente ao que acontecia, por aquela altura (1944-1945), a diversas localidades da Alemanha.

Pforzheim, 1945.



Würzburg.

Würzburg antes da Guerra.

Würzburg em 1945.

Perspetiva de uma rua central da Cidade Velha de Würzburg, antes de 1945, a "Domstrasse". À direita, vê-se parte do edifício que lhe dá o nome: a Catedral ("Dom") de St. Kilian.

A Catedral de Würzburg, na primeira metade do Século XX. Rivaliza em altura com outros edifícios religiosos da Alemanha, nomeadamente a Catedral de Colónia ("Kölner Dom") e a Principal Igreja de Ulm ("Ulmer Münster"), esta última situada na cidade de Ulm, junto ao rio Danúbio ("Donau") e que é a igreja mais alta do mundo.

Perspetiva da nave central da Catedral ("Dom") de Würzburg, tal como era antes de 1945. A sua altura, ainda hoje, impressiona quem lá entra.

Perspetiva do altar da Catedral de Würzburg, tal como era originalmente, antes de 1945. 

Perspetiva da nave central da Catedral de Würzburg, desta vez do altar para a entrada principal. Reparar no relógio e, logo por cima, de elementos pertencentes ao órgão de tubos original.

Perspetiva sobre o transepto e uma das naves e altares laterais da Catedral de Würzburg, tal como eram antes de 1945.

Perspetiva sobre o altar principal da Catedral de Würzburg e seus elementos decorativos originais, antes de 1945.

Perspetiva do interior da Catedral de Würzburg, por volta de 1946, já quando se iniciavam os trabalhos de reconstrução. Aquando dos bombardeamentos de 1945, este edifício foi, sobretudo, destruído pelo fogo, não pelo impacto direto de bombas explosivas, como aconteceu com a generalidade dos outros edifícios religiosos desta cidade (e doutras...). Acontece que, pouco tempo depois, houve uma inesperada derrocada de uma das suas principais paredes laterais, quer como consequência de rachas provenientes de outras explosões ocorridas nas proximidades, quer devido a uma fragilização da sua estrutura provocada pelo facto de ter ardido completamente.

Aspeto do interior original, ricamente decorado, da igreja católica "St. Peterskirche", antes dos bombardeamentos da Guerra.

O mesmo local da foto anterior ("St. Peterskirche"), depois dos graves estragos provocados pelo bombardeamento de Março de 1945.

O exterior da St. Peterskirche, gravemente danificado, pelo impacto direto de bombas explosivas, depois de 1945.

Cúpula central do Neumünster de Würzburg, elemento arquitetónico em grande destaque no centro histórico desta cidade. Esta fotografia terá sido obtida após um bombardeamento anterior ao de 16 de Março de 1945, visto que, como comprovam as diversas imagens de Würzburg dos efeitos deste, a referida cúpula, então, tinha quase desaparecido. É verdade que, tal como aconteceu com diversas outras localidades, a cidade de Würzburg havia sido "visitada", mais do que uma vez, como "alvo falso" de operações destinadas a outros alvos reais como Nuremberga, Munique e mesmo Augsburg. Pouco tempo antes de sofrer o dito bombardeamento incendiário de 16 de Março de 1945, Würzburg foi alvo de dois ou três bombardeamentos "ligeiros", que lhe provocaram alguns danos muito circunscritos. Isto podia também acontecer quando uma cidade era alvo de um "nuisance raid" por parte de uma pequena formação de bombardeiros rápidos "Mosquito". Alguns destes podiam carregar no seu interior, uma "simples" bomba de "blockbuster". Mesmo assim, as defesas antiaéreas nunca previam que que Würzburg alguma vez viesse a ser o alvo principal de uma operação de bombardeamento. Daí que, mesmo quando os marcadores de alvo dos "pathfinders" começaram a cair sobre esta cidade, ao entardecer de 16 de Março de 1945, era ideia generalizada de que o alvo real seria Nuremberga, localizada mais a Sul, e que Würzburg seria, mais uma vez, um "alvo falso". O que aconteceu foi exatamente o contrário... Daí se explica porque o 5º Grupo da R.A.F. teve tanta facilidade em marcar e atacar Würzburg, quase sem oposição, um bocado à maneira do que acontecera, um mês antes em Dresden. Aliás, há quem afirme que este bombardeamento sobre Würzburg, foi ainda mais destruidor do que o que havia acontecido em Dresden, em termos de área urbana destruída. Repare-se que estamos a falar em cidades de tamanho completamente diferente. A extensão da destruição em Dresden era, de facto e em si, mais vasta do que a de Würzburg, mas esta última era uma cidade de muito menor tamanho, logo, a percentagem de área destruída em Würzburg foi claramente superior. Em contrapartida, a formação mais pequena e, afinal, secundária, que foi atacar Nuremberga, foi recebida por uma defesa de caças muito bem preparada e foi uma das últimas vezes que o Comando de Bombardeiros da R.A.F., sofreu baixas assinaláveis.

A praça Marktplatz de Würzburg, entre 1935 e 1940.

Würzburg.

Würzburg.

Würzburg.

Würzburg.

Würzburg.

Würzburg.

Würzburg.

Würzburg.

Würzburg.

Perspetiva sobre Würzburg antes de 1945. No monte, acima da outra margem do rio, vê-se a Fortaleza de Marienberg.

Perspetiva a cores sobre a cidade de Würzburg, em 1945. O bombardeamento de 16 de Março também atingiu a outra margem do rio, incluindo a Fortaleza de Marienberg.

Mapa da destruição sofrida por Würzburg no final da Guerra.


    Potsdam com a igreja St. Nikolaikirche, ao centro, e o Palácio da Cidade, à direita, antes da Guerra. No canto inferior esquerdo da imagem, observa-se um pedaço daquilo a que se chamava "o Canal da Cidade de Potsdam ("Stadtkanal")" que atravessava uma das áreas mais povoadas desta cidade.  Criado em 1673 como uma vala de drenagem para o rio Havel, o rei prussiano Friedrich Wilhelm I mandou expandi-lo a partir de 1722 com base no modelo dos canais holandeses. Após a morte daquele "Rei Eleitor", o seu filho Friedrich II (conhecido por "Frederico, o Grande"), continuaria a sua obra, fazendo importantes e inovadores acrescentos, no contexto de um projeto mais vasto de grandes obras, não só arquitetónicas, na cidade de Potsdam, muitas das quais ainda hoje perduram e têm grande valor patrimonial. Muita da área que esse "canal" atravessava foi alvo de destruição no referido bombardeamento de 14 de Abril de 1945 ("Nacht von Potsdam"). O estado, então, arruinado de zonas que o bordejavam, foi um perfeito pretexto para se efetuar a sua drenagem e posterior enchimento de terra, entre 1962 e 1965, o que levou ao seu completo desaparecimento da paisagem urbana por décadas. A última das nove pontes originais que atravessavam esse "canal", a "Breiten Brücke", foi demolida em 1971. Apesar de tudo, segundo alguns dados apurados, este "Canal da Cidade", tem sido alvo de uma lenta mas gradual reconstrução desde 1999.

  
Planta do centro histórico de Potsdam, onde surge, destacado a azul, a zona onde existia o chamado "Stadtkanal". Aqui é possível ficar-se, entre outras coisas, com uma ideia muito clara da localização original dos diversos "landmarks" desta cidade, antes das destruições provocadas, quer pelo bombardeamento de 14 para 15 de Abril de 1945, quer pelo cerco de Potsdam, dez dias depois.

Outra perspetiva aérea de Potsdam, num posicionamento idêntico à planta anterior, com destaque para a praça do Centro ("Altmarkt"). Logo em primeiro plano, vê-se, à esquerda, a parte posterior do Palácio da Cidade ("Stadtschloss") e, à direita, o desaparecido "Palast-Hotel".

Potsdam.

Perspetiva sobre a praça do Centro ("Altmarkt") de Potsdam, antes de 1945, onde se pode observar, da esquerda para a direita, a esquina do Palácio da Cidade ("Stadtschloss"), a igreja "St. Nikolaikirche", à frente de cujo pórtico e no centro da praça se encontra o Obelisco, e a Antiga Câmara Municipal ("Altes Rathaus").

O mesmo local da foto anterior ("Altmarkt"), depois da Guerra, por volta de 1946, quando se iniciavam os trabalhos de reconstrução e restauro, que se arrastariam por muitos anos. Entre a igreja "St Nikolaikirche" e a Antiga Câmara Municipal ("Altes Rathaus"), é possível observar, ao longe, a fachada do também muito danificado Edifício Central dos Correios ("Hauptpost"), este situado do lado oposto do denominado "Canal da Cidade de Potsdam" ("Stadtkanal"). O facto de ser possível vislumbrar este último edifício, comprova o desaparecimento de todo um conjunto de quarteirões (então muito arruinados) deste lado do "Canal" e que seriam substituídos por conjuntos de edifícios "modernos", sem terem nada a ver com a arquitetura histórica original, e meramente funcionais. Mesmo em ruínas, os edifícios conservavam muito da sua monumentalidade.

Pormenor do Centro ("Altmarkt"), de Potsdam, onde é possível observar, à direita, parte do Palácio da Cidade, com destaque para o seu emblemático portal, o "Fortunaportal" e a ala Este. Ao fundo, à esquerda, surge a parte central da fachada principal do Palácio Barberini, um dos muitos edifícios históricos de Potsdam antes de 1945.

O Palácio da Cidade ("Stadtschloss") de Potsdam, numa perspetiva obtida a partir da igreja "St. Nikolaikirche", antes de 1945. À frente, o "Fortunaportal"; ao fundo, o corpo central.

Perspetiva do interior do "Marmorsaal" ("Salão de Mármore"), situado no corpo central do Palácio da Cidade ("Stadtschloss") de Potsdam.



Exemplos de alguns dos enormes frescos que adornavam o "Marmorsaal" do "Stadtschloss" de Potsdam.













Uma das raras imagens a cores do interior original do Palácio da Cidade ("Stadtschloss") de Potsdam. Reparar no elemento decorativo existente na parte inferior do canto deste gabinete designado de "Schreibkabinett/Zimmer".

Pormenor de cabeça de dragão dourada de bronze, visível na parte inferior do canto da divisão anterior ("Schreibkabinett/Zimmer") . Para que serviria?

Estes aposentos situavam-se todos na ala Oeste do Palácio da Cidade de Potsdam, que era a mais interessante do ponto de vista patrimonial.

Escadaria situada no corpo central do "Stadtschloss" de Potsdam.

Imagem muito elucidativa do interior do corpo central do Palácio da Cidade ("Stadtschloss") de Potsdam, onde se localizava o "Marmorsaal" ("Salão de Mármore"), depois do grande bombardeamento da noite de 14 de Abril de 1945. 

Aspeto das ruínas do Palácio da Cidade ("Stadtschloss") de Potsdam, a seguir à Guerra, em 1945. Na imagem é visível o "Fortunaportal", que estava irreconhecível e a ala Oeste, onde antes se situavam, precisamente, os aposentos mais famosos e que era a parte mais danificada deste edifício.

O que restava da referida ala Oeste do Palácio da Cidade ("Stadtschloss") de Potsdam, depois da Guerra.

As ruínas do Palácio da Cidade de Potsdam ("Stadtschloss") acabariam por ser removidas entre 1959 e 1960. A sua eliminação nunca foi consensual. Durante décadas ficou aqui um espaço vazio. Chegou a iniciar-se para este local, em 1989, a construção de um teatro, que seria suspensa em 1991, precisamente devido à pressão de um lobby crescente no sentido de se fazer algo relativamente à "memória" do Palácio da Cidade ("Stadtschloss"). Começaram a fazer-se no local escavações onde se descobriram muitos elementos com grande valor arqueológico. Finalmente, o "Stadtschloss" de Potsdam foi reconstruído, apenas a nível exterior, já neste século. Tudo começaria com a providencial reconstrução do "Fortunaportal" e sua inauguração em 12 de Outubro de 2002...

Pormenor da frontaria da ala Este do Palácio da Cidade ("Stadtschloss"), de Potsdam, depois de 1945.

Aspeto de uma rua de Potsdam, que passava junto a uma das fachadas laterais (ala Este) do Palácio da Cidade, antes de 1945. Ao fundo, por cima do Palácio da Cidade ("Stadtschloss"), a alta cúpula da igreja St. Nicolaikirche.
                
A mesma rua da imagem anterior, depois da Guerra. À esquerda, surge o Palácio da Cidade  ("Stadtschloss") destruído. Ao fundo, à direita, é possível descortinar parte do edifício da Antiga Câmara Municipal (Altes Rathaus) de Potsdam, que também ficou muito danificado.
 
Exemplo de uma rua de Potsdam antes de 1945. A cúpula da igreja St. Nicolaikirche surge em pano de fundo. Atualmente, estes edifícios já não existirão.

Potsdam no final da Guerra. Ruínas do Palácio da Cidade em primeiro plano. À direita, por trás do que restava do "Fortunaportal", surge a igreja St. Nicolaikirche, que sofreu grandes danos. As ruínas da generalidade dos edifícios destruídos na fase final do conflito seriam removidas, sem qualquer critério, nas décadas seguintes. A maioria deles não foi reconstruída.

Um edifício de Potsdam , localizado próximo do Centro ("Altmarkt") antes de 1945.

O mesmo edifício anterior depois de 1945. Havia sobrevivido ao bombardeamento de 14 de Abril, salvo alguns vidros estilhaçados. Todavia, acabaria por ser destruído dez dias depois, a 24 de Abril, atingido pela artilharia do Exército Vermelho, que conquistou rapidamente a cidade de Potsdam. Não seria reconstruído.
   
O mesmo edifício anterior, visto de um outro ângulo, depois de 1945. À esquerda, vê-se a frontaria da ala mais arruinada (a Oeste) do Palácio da Cidade, situado no Centro ("Altmarkt") de Potsdam. No meio da imagem, mais ao longe, vê-se a torre, muito danificada, de outro edifício emblemático desta cidade, capital do Estado de Brademburgo: a igreja Garnisonkirche. 

Potsdam em 1938. Este recanto foi dos que ficaram mais arruinados na sequência do bombardeamento de 14 de Abril de 1945.
      
Um aspecto de Potsdam, após o bombardeamento de 14 de Abril de 1945. Ao fundo, emerge a cúpula da Antiga Câmara Municipal ("Altes Rathaus").

Outra vista geral das ruínas de Potsdam, após o final da Guerra. À esquerda, reconhece-se parte do edifício da Antiga Câmara Municipal ("Altes Rathaus"). Ao centro, numa cota mais elevada, vêem-se as ruínas do desaparecido "Palast-Hotel".

Ao fundo desta rua, já desaparecida, existia a igreja Heilig-Geist-Kirche.

Outra perspetiva sobre a igreja Heilig-Geist-Kirche.

A igreja Heilig-Geist-Kirche, escapou quase intacta ao grande bombardeamento de 14 de Abril de 1945. Todavia, dez dias depois, a 24 de Abril de 1945, quando o Exército Vermelho soviético conquistou Potsdam, acabou por ser completamente consumida pelo fogo, após ser atingida pela artilharia. Ficaria em ruínas durante década e meia, quase esquecida pelas autoridades locais e centrais, até que, em 1960, estas decidem demolir a nave da igreja. A torre sobrevivente da Heilig-Geist-Kirche seria, por fim, demolida em 1974. Este edifício religioso não seria reconstruido, apesar da sua memória, sobretudo a partir da década de 1990, ser aqui e ali evocada, tal como tem acontecido com outros monumentos desaparecidos, um pouco por toda a Alemanha.

Uma das diversas "portas" da cidade de Potsdam: a Neustädter Tor. Ao fundo observa-se outro edifício emblemático de Potsdam, já desaparecido: a igreja Garnisonkirche.

Quando cessaram os últimos combates pela cidade de Potsdam, no final de Abril de 1945, a Neustädter Tor encontrava-se neste estado. As autoridades locais optaram pela sua posterior eliminação, a pretexto de obras projetadas para o redesenho e modernização desta zona que se encontrava, então, muito arruinada.

Da desaparecida Neustädter Tor, apenas foi preservado um dos seus obeliscos laterais. Agora é o elemento central de uma praceta construída no pós-guerra, planificada e edificada como uma versão mais simplificada do mais antigo e já referido atrás Altmarkt desta cidade de Potsdam, onde também existe um obelisco, mas de maior tamanho.

A igreja Garnisonkirche vista da zona da Neustädter Tor. Era, na verdade, a igreja mais importante de Potsdam, até à sua destruição no bombardeamento de 14 de Abril de 1945

Estátua de Frederico, "o Grande", diante da desaparecida Garnisonkirche.

Garnisonkirche de Potsdam.

A torre da igreja Garnisonkirche (algo como "Igreja da Guarnição"), visível por cima dos telhados de Potsdam, antes de 1945.

Perspetiva do interior da Garnisonkirche. Este edifício, até à sua destruição, na noite de 14 para 15 de Abril de 1945, foi utilizado como espaço de diversos eventos públicos de natureza diversa, com destaque para cerimónias de cariz militar, inclusive do regime nazi, o que não abonaria muito à sua eventual reconstrução.


Outra imagem do interior da igreja Garnisonkirche, com destaque para o mausoléu de homenagem aos soldados germânicos caídos nas diversas guerras. Uma espécie de "túmulo ao soldado desconhecido".

Detalhe do conjunto dos sinos da igreja Garnisonkirche, antes da Guerra.

A igreja Garnisonkirche ardeu completamente na sequência do bombardeamento de 14 de Abril de 1945. Ficou em ruínas durante mais de 20 anos, tendo sido praticamente esquecida pelas autoridades. Duas opiniões existiam quanto ao destino a dar a este edifício: a sua reconstrução, que era possível; a sua demolição, dado que a sua reconstrução seria muito dispendiosa e, por outro lado, este edifício surgia, como o seu próprio nome indica, muito associado a um passado dito "militarista". Acabou por ganhar esta segunda opinião, que era fortemente secundada pelo poder central de então e que já havia levado à eliminação de um número apreciável de monumentos e outras construções um pouco por toda a Alemanha. A demolição definitiva da Garnisonkirche, ocorreria em 1968, através de uma operação, afinal, quase tão dispendiosa, quanto seria a sua reconstrução num modelo mais simplificado. Foi uma operação algo mediática, ainda que a nível local, talvez mais do que o poder central de então gostaria. Houve aqui e ali alguns protestos contra a implosão das ruínas da Garnisonkirche, mas foram logo minimizados pelas autoridades. Mais recentemente, sobretudo depois de 1989, tem surgido um lobby, cada vez mais poderoso, no sentido da sua reconstrução, tal como houve relativamente ao Palácio da Cidade ("Stadtschloss") de Potsdam e outros edifícios. Aqui e ali têm sido feitos "memoriais" relativamente à igreja Garnisonkirche. Um dos mais bem conseguidos, foi a reconstrução detalhada e rigorosa do conjunto dos sinos que constituíam o seu carrilhão. Parece que tocavam uma música que fazia parte da antiga "atmosfera" de Potsdam.

Reconstituição do carrilhão original da desaparecida igreja Garnisonkirche. É possível ouvi-lo tocar de tempos a tempos.

As ruínas da igreja Garnisonkirche. Permaneceriam quase esquecidas durante mais de 20 anos, deteriorando-se gradualmente, até serem removidas em 1968.

O interior da igreja Garnisonkirche de Potsdam, depois do bombardeamento de 14 de Abril de 1945.

Interior da igreja Garnisonkirche de Potsdam, depois do bombardeamento de Abril de 1945. Destaque para o que restava do altar com o atrás referido mausoléu.

A igreja Garnisonkirche, vista a partir da denominada "Breiten Brücke", uma das pontes que atravessavam o denominado "Stadtkanal" de Potsdam.

Elemento decorativo da ponte "Breiten Brücke". Esta era a mais emblemática das 9 pontes que atravessavam o "Stadtkanal" de Potsdam. Foi também a última a ser removida, em 1971, na sequência do longo processo de drenagem e enchimento de terra do "Kanal". De referir que, desde a sua construção, este elemento fundamental da cidade de Potsdam, nunca foi consensual. A sua eliminação terá sido bem-vinda por muitos habitantes das proximidades... Tal como o seu, ainda tímido mas já iniciado, processo de reconstrução não estar a agradar a todos...

Outra perspetiva da ponte "Breiten Brücke". Do outro lado do "Stadtkanal", à direita, vê-se parte de um dos edifícios mais emblemáticos da história urbana de Potsdam e, como muitos outros, já desaparecido.
Por trás, à esquerda, descortina-se a torre da também desaparecida igreja Garnisonkirche.

Este edifício, situado junto ao denominado "Stadtkanal" de Potsdam, era também conhecida pelo muito sugestivo nome de "Ochsenkopfhaus".
A razão deste edifício emblemático de Potsdam, ser denominado de "Ochsenkopfhaus", residia nos elementos decorativos bem visíveis na cornija.
"Ochsenkopfhaus". Potsdam.

A "Ochsenkopfhaus", ficou quase completamente destruída em 1945. Não foi reconstruída, como muitos outros edifícios de Potsdam. Houve alguns que sobreviveram à Guerra e que foram posteriormente demolidos, por questões meramente utilitárias, com o argumento de estarem "muito degradados".

Modelo em miniatura da "Ochsenkopfhaus".

Homenagem à antiga "Ochsenkopfhaus", num edifício que foi construído no mesmo sítio.

Uma das zonas mais danificadas de Potsdam, numa imagem obtida em 1947.

A desaparecida "Gloriette", antes situada na Bassinplatz. Foi demolida em 1945, para dar lugar a um cemitério de soldados soviéticos do Exército Vermelho, aproveitando a existência de uma igreja nas proximidades. Lembre-se que a cidade de Potsdam ficou situada na antiga R.D.A.

Capa de livro relativo ao bombardeamento de Potsdam, em 14 de Abril de 1945, muito sugestivamente titulado de"A Noite De Potsdam".

Em 1944-1945, para além de haver novas localidades na Alemanha a serem atingidas,  os "alvos do costume" foram "visitados" adicionalmente.


Nesta fase da Guerra (1944-1945), diversas cidades da Alemanha debatiam-se com o número crescente de desalojados e refugiados. Muita gente andava pelas ruas sem destino nem um local fixo para pernoitarem.

Muitos, para além das suas residências e de parentes próximos, haviam perdido tudo ou quase tudo, encontrando sérias dificuldades em satisfazer as necessidades mais básicas. Todos eram obrigados a mostrar confiança na vitória do 3º Reich e a participar ativamente na sua defesa, em especial quando os Aliados já haviam penetrado dentro das fronteiras da Alemanha. A verdade é que, durante este período (1944-1945) o povo germânico estava exausto e farto da Guerra e, no fundo, mais não queriam do que o fim rápido desta. Estas três imagens da cidade de Hagen em 1945, mostram bem como a nação germânica havia literalmente batido no fundo e não era mais do que um "cadáver adiado". Todavia, até ao fim, os seus governantes nazis recusaram admitir publicamente que a Guerra já estava perdida há um tempo apreciável, apesar de muitos, na sua intimidade, não resistirem a reconhecer o inevitável.

Nesses primeiros meses de 1945, o ritmo de destruições de cidades germânicas foi superior ao que havia acontecido em qualquer outra fase da Guerra. Eis mais alguns exemplos dessas cidades que ainda estavam praticamente intactas, ou mesmo intactas, quando este ano final da guerra (1945) começou:

Magdeburg.

Magdeburg sofreu o seu pior bombardeamento da Guerra em 16 de Janeiro de 1945.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.


Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.

Magdeburg.



Wesel.


A quase total destruição de Wesel (97%), resultou de uma sequência de ataques aéreos, seguidos de artilharia, executados entre 7 e 22 de Fevereiro de 1945.


Wesel.



Wesel.


Wesel.



Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.



Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.



Wesel.

Wesel.


Wesel.



Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel.


Wesel. A fachada original da Câmara Municipal ("Rathaus") reconstruída já neste século.




Chemnitz (entre 1953 e 1990 teve o nome de "Karl-Marx-Stadt").







Chemnitz.

Chemnitz sofreu o seu mais destruidor bombardeamento na noite de 14 para 15 de Fevereiro de 1945. Aliás, toda a devastação que esta cidade apresentava no final da Guerra, resultaria simplesmente de uma pequena, mas muito concentrada sequência de bombardeamentos executados até 11 de Abril desse mesmo ano.


Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.


Chemnitz.


Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.

Chemnitz.


Dessau.

Dessau, a cidade onde foi criado o movimento artístico que ficou conhecido pelo nome de "Bauhaus", sofreu o seu pior bombardeamento a 7 de Março de 1945. Nessa noite aconteceu uma das maiores "tempestades de fogo" de toda a Guerra.

Dessau.

Dessau.

Dessau.

Dessau.

Dessau.

Dessau

Dessau. A "tempestade de fogo" a que me refiro.

Dessau. Os incêndios continuaram a lavrar durante o dia.

Dessau.

Dessau.

Dessau.

Dessau

Dessau. Esta fotografia diz tudo...


Worms.

A cidade de Worms sofreu os seus piores bombardeamentos a 21 de Fevereiro e, sobretudo, a 18 de Março de 1945.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.
Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.

Worms.


Worms.

Worms.

Worms.


Hanau.

Hanau, a cidade onde nasceram os famosos escritores Irmãos Grimm, sofreu os seus piores bombardeamentos a 6 de Janeiro e, sobretudo, a 19 de Março de 1945.

Hanau. A casa original onde nasceram os Irmãos Grimm, numa imagem da década de 1930. Não terá sobrevivido à Guerra.


Hanau.
Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.


Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau.

Hanau. Maquete da Cidade Velha ("Altstadt").

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Paderborn. Vista geral sobre o centro histórico antes da 2ª Guerra Mundial.

Paderborn. Esta cidade sofreu o seu 1º grande bombardeamento em 17 de Janeiro de 1945. O seu último e mais destruidor bombardeamento ocorreu em 27 de Março de 1945. Muitas das fotos que se seguem mostram o grande contraste entre o "antes" e o "depois".

Paderborn. Esta cidade havia permanecido, como outras, intacta durante a maior parte do conflito. Passou a ser selecionada para bombardeamento, na sequência do facto das forças aéreas aliadas terem "falta de alvos importantes intactos" e da necessidade de "pressionar" o inimigo à rendição incondicional. Claro está, foi um mais um "exemplo" entre muitos outros...

Paderborn.

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Nordhausen.


Nordhausen. Em 3 e 4 de Abril de 1945, esta cidade é atingida por dois grandes bombardeamentos.

Nordhausen. Vista aérea anterior a 1940.

Nordhausen.

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Nordhausen. Fotografia aérea da zona desta cidade, obtida ainda em 1944.

Nordhausen. Câmara Municipal ("Rathaus").

Nordhausen. Câmara Municipal ("Rathaus") em 1945.

                                            
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Nordhausen. Aspetos da destruição por volta de 1945.




Nordhausen. Nesta cidade existiu, durante a 2ª Guerra Mundial, um campo de prisioneiros. Nos dois referidos bombardeamentos (3 e 4 de Abril de 1945), este centro de detenção é atingido, não intencionalmente, pelo Comando de Bombardeiros da R.A.F. Danos colaterais acidentais deste género poderiam acontecer na sequência de operações de bombardeamento... O que aconteceu, neste e noutros casos, foi o facto da Alemanha nazi ter tirado partido destas situações como forma de incriminar as forças aéreas aliadas, alegando que estas "bombardeavam civis indiscriminadamente e independentemente da sua nacionalidade"... 


A cidade de Halberstadt sofreu o seu pior bombardeamento no dia 8 de Abril de 1945. Diferentemente dos anteriores exemplos referidos, este bombardeamento foi executado pela Força Aérea dos Estados Unidos da América.

Halberstadt.

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Halberstadt.

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Halberstadt. A igreja "Garnisonkirche" hoje desaparecida.

Halberstadt.

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HalberstadtA igreja "Garnisonkirche" apesar de ter sido parcialmente reconstruída depois da Guerra, acabou por ser demolida.



Halberstadt.


Halberstadt.

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Halberstadt. Apesar de ter sido danificada e perdida a maior parte dos seus edifícios históricos originais, houve, aqui e ali, vários aglomerados que sobreviveram à Guerra

Halberstadt. Acontece que, nesta cidade e noutras, muito do seu património histórico foi negligenciado. Deixou-se diversos edifícios antigos chegar a um tal estado de degradação, que a melhor solução acabou por ser a sua demolição. Isto aconteceu tanto durante o período da R.D.A., como após a reunificação de 1989.

Halberstadt. Nesta imagem, obtida por volta de 1985, a negligência relativamente aos edifícios antigos é bem visível e paradigmática. 







Começou-se a considerar como excessiva a destruição sistemática das povoações germânicas, senão desnecessária. Mesmo o próprio Primeiro-Ministro Winston Churchill que havia dado carta branca e toda a liberdade de acção ao seu fiel amigo Arthur Harris, começou a mostrar preocupação relativamente às dificuldades que se iriam encontrar na tentativa de gerir uma nação virtualmente reduzida a escombros e com a sua população atingida pela miséria e pela doença. Desta forma, muitos dos que, assumida ou secretamente, haviam apoiado a política de desmoralizar o inimigo germânico através dos bombardeamentos aéreos sistemáticos e cada vez mais frequentes, começaram a tentar desligar-se dessa questão. No entanto, as consequências estavam bem à vista, no final do conflito bélico na Europa. Começava-se a olhar com compaixão para os alemães agora libertos do jugo nazi, ao mesmo tempo que se começava a iniciar uma política de aproximação dos aliados ocidentais aos seus anteriores inimigos, contrariamente ao que ao que estava a acontecer ao seu antigo aliado soviético, encarado agora como uma ameaça para o resto do Mundo. A nova Alemanha deveria servir de “nação-escudo” para deter o “avanço do Comunismo”, por isso, logo após 1945, a Alemanha seria também incluída no “Plano Marshall” de recuperação e ajuda económica.





   Foi nesta conjuntura que houve a necessidade dos países aliados, em especial a Grã-Bretanha, limparem a sua imagem perante o resto do Mundo. Era quase urgente encontrar um “bode expiatório”, para as consequências dramáticas da guerra aérea contra a Alemanha e seus aliados. Não foi difícil fazer cair a quase totalidade das eventuais culpas sobre Sir Arthur Harris e o seu antes considerado tão heróico e sacrificado Comando de Bombardeiros. A consequência imediata desta autêntica campanha de desacreditação de Arthur Harris foi nem ele nem ninguém do seu comando receberem, no final da guerra, qualquer condecoração, ao contrário de todas as outras secções e respectivos oficiais. Podia-se dizer que Arthur Harris havia caído em desgraça e havia mesmo quem o considerasse um criminoso de guerra com direito a julgamento em Tribunal.
Reportagem acerca da saída de Sir Arthur Harris do Comando de Bombardeiros da R.A.F.

Contrariamente ao que muitos possam pensar, Sir Arthur Harris continuou a ser uma figura muito estimada no seio dos antigos combatentes do Comando de Bombardeiros da R.A.F. Mesmo aqueles que, até certo ponto, poderiam tê-lo criticado, inclusive nos seus "métodos" de estratégia, acabariam por se sentir unidos por essa injustiça de não terem sido condecorados, depois de terem dado a vida pela vitória dos Aliados durante a 2ª Grande Guerra. Sir Arthur Harris, entre os seus "rapazes" do Comando de Bombardeiros chegou a ter o estatuto de autêntica "estrela". Sintomático desta "veneração" por parte das tripulações sobreviventes da última guerra, foi uma receção que estes veteranos lhe fizeram muitos anos depois do final do conflito bélico 1939-1945. Foi numa grande sala, tipo anfiteatro, uma noite, já depois do jantar. A sala estava toda composta por antigos veteranos do Comando de Bombardeiros da R.A.F.. Logo que se soube que Sir Arthur Harris estava prestes a entrar, começou um burburinho crescente entre os presentes. O "Bomber" Harris chegaria a hesitar entrar, tal foi a comoção que o atingiu. Um entrechoque de emoções percorria aquela grande assistência, havendo alguns quase às beiras das lágrimas. Logo que entrou, Sir Arthur Harris, no seu modo de falar muito peculiar, fazendo um quase incontido sorriso maroto, não hesita a lançar a sugestão:"Onde é que vamos esta noite, rapazes?". As respostas não se fizeram esperar, numa explosão autêntica: "Para Berlim!"; "Vamos dar cabo dos boches!"; "Vamos a Dresden!", "Ainda me lembro de quando vi aquele meu amigo ser atingido e a morrer à minha frente!"; "Vamos dar-lhes na pinha!"; etc.
 

Sir Arthur Harris.
    Até ao fim da vida, como comprovam alguns escritos pessoais e entrevistas que lhe foram feitas quando já tinha passado a barreira dos 80 anos, Sir Arthur Harris nunca mostrou quaisquer sinais de eventual arrependimento por acções bélicas cometidas no seu passado de oficial da R.A.F
    
Sir Arthur Harris.
    Com um poder de argumentação quase imbatível, sempre encontrou razões para ter tomado as medidas que tomou. Apesar de ter sido apenas a ponta de lança de um grande, poderoso, multifacetado, transnacional e bem colocado lobby que defendia a utilização sem limites de todos os meios possíveis, mesmo que injustificáveis, para levar à derrota absoluta o seu inimigo bélico de 1939-45, Sir Arthur Harris, apesar de não se considerar o único a quem se poderá apontar o dedo, procurou nunca implicar ninguém. Isto porque ele, até ao fim, nunca admitiu que, durante a sua liderança do Comando de Bombardeiros da R.A.F., alguma vez se tivesse cometido algum erro de assinalar, quanto mais algum crime de guerra

Sir Arthur Harris.
    Apesar de tudo, foi coerente na sua conduta pessoal: estava-se em guerra, o inimigo tinha de ser combatido até ao fim, sem dó nem piedade. Não existem “guerras limpas”, ponto final.

Sir Arthur Harris.

Sir Arthur Harris

Sir Arthur Harris. O momento do descerramento da estátua em sua homenagem (1992).


Veteranos de guerra que assistiam à cerimónia.


A Rainha-Mãe a fazer do uso da palavra.


Imagem dos manifestantes e da intervenção da polícia.

Reportagem da inauguração da estátua de Sir Arthur Harris no ano do centenário do seu nascimento (1992). Entre a assistência estão antigos veteranos de guerra, muitos deles antigos elementos do Comando de Bombardeiros. Um deles era Leonard Cheshire, um dos mais condecorados pilotos da R.A.F. e um dos que mais se bateu pelo "bom nome" de Sir Arthur Harris


Leonard Cheshire (1917-1992).

A cerimónia é perturbada por manifestantes que consideravam o homenageado como um "criminoso de guerra". É visível a perturbação da Rainha-Mãe. A polícia intervém fazendo algumas detenções. Apesar destes contratempos, a cerimónia decorre sem interrupções e a estátua é descerrada. Nesse momento, a câmara foca por breves instantes o referido veterano Leonard Cheshire, confinado a uma cadeira de rodas devido a uma doença degenerativa. O seu estado físico era quase terminal, mas ele fez questão de assistir à cerimónia que homenageava uma personalidade que ele sempre estimou. Ele próprio afirmaria, relativamente à sua resiliência: "Eu tinha de vir assistir a este acontecimento... Nem que tivesse de vir de maca!". Leonard Cheshire faleceria da sua doença meses depois, a 31 de Julho de 1992.

Sir Arthur Harris.

Sir Arthur Harris.

Sir Arthur Harris.

Depois do seu falecimento, em 1984, foi-lhe erigida uma estátua em bronze na década de 1990. De diversos locais, não só na Alemanha ou da parte de muitos dos seus residentes em terras de Sua Majestade, levantaram-se vozes indignadas contra esta última homenagem a esta figura da história bélica do Séc. XX, tão polémica quanto interessante. A verdade é que nos tempos que se seguiram à sua inauguração, com relativa frequência, o memorial do “Bomber” Harris, foi pichado e coberto de tinta vermelha. Na sequência disto, a estátua passou a ter “segurança pessoal” 24 horas por dia.

Em 2012 foi erigido um monumento em homenagem aos mortos do Comando de Bombardeiros da Royal Air Force. Como era de esperar, esta iniciativa esteve longe de ser consensual. Todavia, no vídeo acima, encontramos a porta-voz da Câmara Municipal de Dresden e alguns habitantes desta cidade alemã a negarem qualquer ressentimento relativamente à inauguração deste memorial de guerra. No vídeo em baixo, surge um dos últimos veteranos sobreviventes do referido Comando de Bombardeiros a mostrar simultâneamente satisfação e comoção por este "tardio" reconhecimento.